A importância da Comunicação Interpessoal na Cultura Empresarial Paulo Jorge da Silva Vieira (Licenciado em Línguas e Secretariado – Ramo Tradução e Interpretação Especializadas pelo ISCAP) [email protected] Sumário Na busca de um tema abrangente e de extrema actualidade nas organizações, decidi debruçar-me sobre a Importância Interpessoal na Cultura Empresarial. Estes dois temas interligam-se, sendo cada vez mais parte da chave do sucesso, a par da inovação e da tecnologia das organizações. Engane-se quem julga que os preços baixos são a porta para alcançar o sucesso, são sim uma ferramenta de que nada vale quando não existe valor acrescentado. No mercado cada vez mais competitivo a chave inicia-se com o cultivo de uma boa Cultura Empresarial. Introdução A imagem transmitida por uma organização é parte da chave do sucesso da mesma. Esta imagem é criada pelo seu produto mas também pela sua estrutura na comunicação entre clientes, fornecedores e também dentro da organização. O sucesso da imagem da empresa começa internamente com a valorização da comunicação interna. Esta estreita os laços de confiança da equipa de gestão e promove o compromisso com o sucesso do negócio. Neste sentido e conjugando a experiência profissional à pesquisa que fiz acerca da importância da comunicação interpessoal na cultura empresarial, pode-se afirmar que uma boa cultura empresarial permite criar nos membros de uma organização um sentido de harmonia em que todos comungam os mesmos valores e partilham as mesmas ideias no contexto da sua empresa procurando cada um individualmente a inovação e a criação de valor acrescentando o valor acrescentado na organização, que com a conjugação de esforços alcançam o sucesso desejado. 1. A comunicação Interpessoal A comunicação interpessoal define-se pela criação de relações sociais entre pelo menos duas pessoas que participam num processo de interacção. Pode-se estabelecer que um processo de comunicação acontece, quando duas pessoas interagem reciprocamente, colocando-se uma no lugar da outra. Os objectivos da interacção passam pela interligação de um com o outro, conseguindo antecipar, prever e comportar-se de acordo com as necessidades recíprocas de ambos. As comunicações são muito mais do que palavras ditas entre indivíduos pelo que qualquer comportamento transmite uma mensagem. Falar com um objecto é um processo estático, pois um objecto não reage mas falar com outra pessoa é um processo dinâmico, pois esta reage conduzindo a que tal reacção influencie as nossas reacções subsequentes. O desenvolvimento das relações envolve também o seu desenvolvimento no que se incluem as situações de conflito e a criação de estratégias para a resolução desses conflitos. A comunicação interpessoal pode-se resumir como um processo de interacção social recíproca entre duas ou mais pessoas, cuja relação poderá influenciar o comportamento, a motivação e o estado emocional do emissor e do receptor. Tal processo ocorre nas relações das pessoas como sujeitos membros de um determinado grupo social e cultural onde se incluem as organizações. Este processo, pelo qual ideias e sentimentos se transmitem de indivíduo para indivíduo, tornando possível a interacção social, é sem dúvida fundamental para o homem, enquanto ser social e cultural. Um bom planeamento da comunicação deve focar-se na clareza, transparência e simplicidade da linguagem para alcançar a compreensão dos colaboradores e por seu turno estabelecer um compromisso de equipa. Actualmente, uma das principais preocupações dos gestores é a comunicação interna nas empresas. De pouco ou nada valem as estratégias modernas e sofisticadas de construção de imagem organizacional de uma empresa se elas não envolverem os colaboradores da organização. A confiança entre gestores e colaboradores é a base para uma comunicação eficaz, pois nesta, a confiança dá consistência às mensagens. As empresas melhores classificadas pela Revista Exame – “As melhores empresas para trabalhar” valorizam a comunicação interna nas organizações e acreditam que ela estreita os laços de confiança da equipa no estabelecimento de um compromisso com o sucesso do negócio. A comunicação transformou-se no indicador de desempenho dos colaboradores e das organizações. Uma comunicação eficaz requer habilidades para interpretar, ouvir, usar e aceitar estilos diferentes de comunicação, que tendem a proporcionar atitudes mais adequadas em diferentes situações na rotina da empresa. A comunicação é utilizada para preservar ou impulsionar as transformações desejadas na empresa podendo ser considerada uma grande aliada na consolidação da imagem corporativa quando esta trabalha valores como missão, visão, identidade, parceria, cooperação e cidadania empresarial. Conclui-se, então, que a comunicação empresarial não pode mais ser encarada pelos gestores apenas como uma ferramenta técnica, mas sim como uma ferramenta de utilização permanente. 2. Cultura Organizacional e Empresarial A cultura organizacional é também conhecida como comunicação organizacional. Segundo Baldissera, especialista em comunicação, a cultura organizacional “é o conjunto de crenças e valores específicos de uma determinada organização”. As crenças e valores que ao autor se refere são os hábitos, mentalidade, tipo de liderança, comportamentos e padrões adoptados pela organização e que criam uma identidade única na sociedade. Pode-se afirmar que a cultura organizacional é facilmente construída e reforçada a partir de uma comunicação interna eficaz, com metas e objectivos comuns e que motivem os colaboradores. É de extrema importância assegurar que a cultura organizacional e empresarial sejam recebidas e compreendidas pelos colaboradores das organizações. As empresas modernas, criam e utilizam a cultura empresarial como uma ferramenta estratégica, onde a sua gestão pode transformar-se em vantagem competitiva. Quando falamos em cultura organizacional teremos de falar em comunicação que está associada. Por exemplo, os problemas de comunicação podem produzir uma modificação negativa na atitude dos colaboradores, quer em relação ao seu próprio trabalho como em relação à empresa. Quando não existe uma comunicação clara, a tendência é que os funcionários desenvolvam uma sensação de abandono, podendo criar desmotivação e desinteresse. A cultura organizacional assume-se como um conceito essencial à compreensão das empresas. A cultura de uma organização será pois um conjunto de características que a individualiza e a torna única perante qualquer outra. Assume-se como um sistema de valores, expressos através de rituais, mitos, hábitos e crenças comuns aos membros de uma instituição, que assim produzem normas de comportamento genericamente aceites por todos. A essência cultural de uma organização traduz-se em vários aspectos tais como a identificação do colaborador com a organização no seu todo, do que com a sua profissão; a colocação de ênfase no grupo, organizando-se o trabalho essencialmente com base em equipas, e não numa base individual; a focalização nas pessoas; o controlo, analisando de que forma as regras e a supervisão directa determinam a verificação do comportamento dos colaboradores; a tolerância de conflitos com maior ou menor espírito de abertura; a orientação para fins ou meios, em que se procura descobrir se as preocupações essenciais da gestão dizem respeito aos resultados, ou aos meios utilizados para os atingir; por último, a concepção de sistema aberto, ou seja, a medida em que a organização está atenta às modificações no mercado que a rodeia e cada vez mais global, e actua em resposta às suas necessidades. O conceito de cultura organizacional (explicativo de atitudes e comportamentos) é conhecido e aplicado no segundo quartel deste século, embora relembre a este propósito Infestas Gil (1991) que já Elton Mayo, com as suas experiências na Western Electric - iniciadas em 1924 - havia referenciado a presença e a importância das culturas informais na empresa. Todavia, a análise do tema desenvolveu-se fortemente apenas nos anos mais recentes. Segundo Duarte Gomes, na génese da contínua preocupação com a temática da cultura organizacional, encontra-se a ineficácia demonstrada pelos tradicionais modelos de gestão. O facto de ocorrerem transformações profundas nos planos tecnológico ou económico, como as que se verificaram com a globalização da economia, o poderio no mercado dos novos países industrializados ou a crescente competitividade internacional, obriga à reorganização da gestão do trabalho nas sociedades contemporâneas. Efectivamente, a vertiginosa introdução de novas tecnologias aplicadas aos mais diversos sectores de actividade parece-nos digna de destaque; gradualmente, um cada vez maior número de pessoas trabalha com o processamento de números, símbolos ou palavras, ao invés de trabalhar com materiais e produzir bens. Desta forma, o sector industrial e a produção de bens propriamente ditos perderam terreno face ao sector terciário, pelo que novas linhas de orientação laboral devem ser consideradas, nesta era em que o trabalho exige conhecimentos cada vez mais específicos, e trabalhadores com maior grau de autonomia na tomada de decisões. Também num plano social a evolução dos modos de vida, a alteração das mentalidades que advém de mais elevados níveis de escolarização e de conhecimentos, traduzem inevitavelmente novas expectativas face ao trabalho. Vivendo em melhores condições económicas e sociais, os indivíduos exigem, paralelamente, maior qualidade de vida no interior das organizações. Assiste-se assim, na década de 70, a uma progressiva tendência para a integração social e a polivalência, possibilitando simultaneamente aos funcionários formação adicional, e atribuindo-lhes maiores responsabilidades. Surgem propostas de gestão com vista à humanização do trabalho ou ao aumento da qualidade de vida em situações laborais, em contraponto ao "taylorismo", o que vem aumentar os intervalos de liberdade e possibilitar uma participação mais crítica por parte de todos os envolvidos. O interesse pela cultura interna traduz assim novas atitudes face ao fenómeno organizacional. A crise ideológica dos anos 60 e energética dos anos 70 obrigaram as empresas a assumirem nova identidade, privilegiando a Qualidade e excelência como forma de assegurar a sua sobrevivência. Desta forma, e em contraponto à visão da empresa que, há algumas décadas, a reduzia a um maquinismo que impunha a única maneira (the best way) de executar uma tarefa, alienando o indivíduo preso a tarefas repetitivas, surge o maquinismo da sociedade da informação: uma nova identidade para as instituições, dotadas de responsabilidades sociais acrescidas. Na primeira metade do século as organizações eram vistas sob critérios puramente económicos. O seu reconhecimento como realidade social vem possibilitar uma nova política de relações humanas, e os estudos decorrentes nesta área levam à aceitação posterior da existência de uma cultura própria em cada organização. É igualmente importante na medida em que, expressa através do comportamento de um indivíduo, possibilita a sua integração no conjunto humano com o qual se identifica. Progressivamente, os locais de emprego têm-se vindo a tornar cada vez mais comunidades de vida, assumindo a função de preencher o espaço deixado vazio por outras instituições, como a escola, a igreja, as associações ou grupos de residência. A Empresa surge cada vez mais ao lado da família e da Escola como ponto-chave da socialização. É na cultura da organização e no grupo que ela forma, que o indivíduo vai reforçar a sua identidade social, contrapondo-a aos grupos externos. Referem ainda vários especialistas que a cultura organizacional permite criar nos membros de uma organização um sentimento de harmonia, onde é possível a partilha de ideias claras. De um modo mais abrangente e global pode-se afirmar com base na informação de vários especialistas que toda a investigação e produção teóricas sobre cultura organizacional assentam invariavelmente em duas perspectivas, que se entende por bem referenciar, a existência de uma cultura forte e única que domina toda a estrutura de forma coesa e outra, diferenciadora que enfatiza a heterogeneidade existente no seio de qualquer instituição, propondo a existência de um conjunto de subculturas que se entrecruzam no quotidiano organizacional. Gomes (2000) entende que o estudo da cultura nas organizações pressupõe a definição de uma concepção predominante que é claramente diferenciadora e pluralista, a cultura de grupos. Na realidade, estas perspectivas claramente distintas alicerçam-se em diferentes realidades visíveis nas estruturas institucionais, o que torna pertinente a questão de saber se se revela desejável a existência nas organizações de uma cultura forte, única, integradora e homogeneizadora, ou, inversamente, de uma cultura mais difusa, plural e heterogénea. Naturalmente, a exigência de resolução de conflitos, e de gestão quotidiana, implicam a existência de uma cultura forte, mas não eliminatória de estratégias particulares dos diversos grupos internos, que se apoiam, isso sim, na cultura geral da organização, naquilo que é a essência da sua identidade. "A cultura dominante expressa as normas, valores e crenças essenciais a toda a organização e que são partilhados por um número maior ou menor de membros. Não será então correcto, segundo Camara, fazer a apologia da existência de uma cultura única no seio de uma organização, mas sim de "um mosaico cultural", particularidades que têm a sua origem em objectivos específicos de cada sector, grupos profissionais ou distintos tipos de relação com o trabalho. Defendem os autores que estas distinções culturais, ao invés de desintegrarem ou fragmentarem a instituição, poderão actuar em seu favor. O sucesso das instituições não se relaciona directamente com a prevalência de culturas singulares ou diferenciadoras, mas sim com a capacidade de resposta rápida e adequada às exigências constantes do meio envolvente. Uma cultura da empresa implica a existência de projectos colectivos, sentimento de pertença, e a aquisição, transmissão e partilha de uma mesma cultura por todos os envolvidos. O papel da cultura de empresa pode ser sinergético na optimização de recursos, no âmbito de uma estratégia de desenvolvimento da instituição. Em Psicossociologia das Organizações, os autores estabelecem distinções entre clima e cultura organizacionais. Perspectivam para o primeiro uma aplicação prática, apresentando-o como uma parte da cultura que, essa sim, configura os pressupostos fundamentais desenvolvidos por grupos humanos no âmbito das organizações, de forma a enfrentar os problemas de adaptação ao meio exterior e de integração interna. Esses pressupostos, testados em diversas situações e considerados válidos, irão então ser indicados aos novos membros, como modelos gerais a seguir perante aqueles problemas. Conclusão Após este desenvolvimento e em jeito de conclusão podemos concluir que os dois aspectos centralizados nesta apresentação focalizam que a inovação dentro da empresa é uma função de todos e que cada vez mais a comunicação e cultura organizacional são factores a ter em conta. Esta conclusão transmite-nos que para que as pessoas se tornem pensadores activos precisam de alargar a sua experiência e ter capacidade para desenvolver experiências combinatórias de pensamento. Tudo isto é algo que devemos ter presente na nossa carreira profissional e como itens muito importantes, tais como: - Definição de objectivos mensuráveis onde nunca se deve desistir antes de os alcançar; - Definição da Inovação como meta pois ela é parte integrante do sucesso; - Estabelecer como parte integrante do trabalho a Colaboração, o trabalho em equipa e a discussão de ideias em equipa (brainstorming); Concluindo podemos afirmar que aceitando a verdade, preparamo-nos para o sucesso com os objectivos bem traçados e focalizados na vitória. Bibliografia www.catho.com.br consultado em 03.03.2010 NASSAR, Paulo. Comunicação Interna – A força das empresas. Aberje Editorial, São Paulo, 2003. 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