SAÚDE NO BRASIL: Paradoxo entre Teoria e Prática Francisco Júnior* 1 Debate conceitual Lei 8.080/90 “O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.” 2 LEI 8.080 Art.3º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País. 3 continuação Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem estar físico, mental e social. 4 Quadro Pós regulamentação Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE/ 2003 • Média de consultas per capita: 2,4; Entre 1998 e 2003: • Consultas no PSF variaram de 6.918.985 para 72.834.885; • Número de Unidades de Saúde da Família: de 3.147 para 19.182; • Número de equipes evoluiu de 8.600 em 2000 para 26.000 em junho de 2006, cobrindo uma população aproximada de 84 milhões de pessoas. 5 Continuação Procura por serviços • Por doença: 51.9 %; • Vacinações e atividades preventivas: 28.6 %; • Problemas odontológicos: 8.5 %; • Acidentes e lesões: 5.2 %; 6 Continuação – Problema crônico de saúde: 43 % das pessoas; – Nos últimos 12 meses, 63 % dos brasileiros haviam procurado um médico; Queda da mortalidade materna entre 1997 e 2005, de 12.7 %; – De 61.2 para 53.4 óbitos por 100.000 nascidos vivos; Mortalidade materna por câncer entre 2002 e 2005, por 100.000 mulheres; – Câncer de mama: aumento de 17.7 para 19.7; – Câncer de colo de útero: aumento de 9 para 9.3; Taxa de cesarianas entre 2002 e 2005: Aumentou de 38.6 para 43.3 % ; 7 Continuação • Queda da mortalidade infantil entre 2002/2004, de 81.847 a 73.769, 9.9 %; Melhores condições de vida e de trabalho; Menos infecções – vacinas; Redução de diarréias – saneamento e ações de prevenção 8 Continuação Menor taxa de fecundidade; Mais e melhor alimentação - menos fome; Tuberculose: estimativa de 100.000 novos casos por ano; Malária: Com 407 mil casos em 2003, alcançou 593 mil casos em 2005; Dengue: 217.406 casos em 2005, com 447 casos de febre hemorrágica e 43 óbitos; 9 Continuação • Hanseníase: produz mais de 40.000 casos novos por ano. Internações • Sete internações por 100 habitantes em 2003, total de 12,3 milhões; • 20 % foram de reinternações; • 67,6 % foram totalmente financiadas pelo SUS; • Apenas 24,3 % financiadas total ou parcialmente por planos de saúde. 10 Evolução da Pobreza Extrema, menos de R$ 40,00 per capita por mês Ano de 1990: 12,2 milhões • Ano de 1995: 9,2 milhões; • Ano de 2001: 10,7 milhões; • Ano de 2005: 7,5 milhões Brancos: 2.5 % e Negros/pardos: 6 % Urbanos: 3 % e rurais: 10,9 % Sudeste: 2 % e nordeste: 9,5 %. 11 Acesso à água potável • Urbana: 82,3 % em 1992 e 89,8 % em 2005; • Rural: 12,4 % em 1992 e 27,9 % em 2005. 12 Serviço de Esgotamento Sanitário • Urbano: 65,9 % em 1992 e 77,3 % em 2005 • Rural: 10,3 % em 1992 e 18,2 % em 2005 13 Desmatamento da Amazônia Legal (quilômetros quadrados ano) 1988/1989: 17.770 1994/1995: 29.059 1999/2000: 18.226 2003/2004: 27.429 2005/2006: 13.100 14 Subfinanciamento x desfinanciamento Entre 2001 e 2002, o gasto per capita caiu de US$ 109,67 para US$ 91,07,subindo para US$ 152,97 no ano de 2005. No mesmo período, os valores no plano federal caíram de US$ 65,52 para US$ 48,37 subindo em 2005 para US$ 77,47, No plano estadual US$ 20,32, US$ 19,71 e US$ 37,45 No plano municipal, US$ 23,38, US$ 22,99 e US$ 38,06. 15 Continuação • Pagamentos indevidos - Pagamento de aposentados - Despesas com saneamento - Merenda escolar - Limpeza urbana - Asfaltamento de vias urbanas - Restaurantes populares 16 Continuação • Gastos com medicamentos 1. Evoluíram de R$ 1,29 bilhões em 2002 (5,8 % do orçamento) para R$ 4,14 bilhões em 2005 (11,2 % do orçamento) 2. DST/AIDS com R$ 2,4 bilhões, Alto Custo com R$ 1,21 bilhões e Assistência Básica com R$ 290 milhões. 3. Gasto total com medicamentos no Brasil em 2006: R$ 26,25 bilhões num gasto total com saúde de R$ 166,45 bilhões. 4. Em 2004, 23.700 casos de intoxicação com medicamentos no país, correspondentes a 29 % do total de casos registrados. 17 Continuação • OMS e medicamentos Da população mundial, 15 % consome mais de 90 % da produção farmacêutica; Gasto nos países em desenvolvimento é de 25 a 70 % do gasto em saúde; Gasto nos países desenvolvidos é de 15 % do gasto em saúde; Das consultas médicas, medicamentosa; 50 a 70 % geram prescrição 18 Continuação • OMS e medicamentos De todos os medicamentos, 50 % são dispensados ou usados inadequadamente; Somente 50 % dos pacientes, em média, tomam corretamente os medicamentos; Os hospitais gastam de 15 a 20 % de seus orçamentos para lidar com as complicações causadas pelo mau uso de medicamentos; De todos os pacientes que dão entrada em pronto socorros com intoxicação, 40 % são vítimas dos medicamentos. 19 Continuação • Distribuição das despesas com assistência à saúde – IBGE, Brasil, 2003, Pesquisa de Orçamentos Familiares, 10 % mais ricos com renda acima de R$ 3.876,00 e 40 % mais pobres, com renda até R$ 758,00. 20 Medicamentos Dez por cento mais ricos: 24.2 %; Quarenta por cento mais pobres: 42.9 %; Planos de Saúde; Dez por cento mais ricos: 34.7 %; Quarenta por cento mais pobres: 4.3 %; Tratamento dentário; Dez por cento mais ricos: 12.6 %; Quarenta por cento mais pobres: 4.4 %; Tratamento ambulatorial; Dez por cento mais ricos: 1.7 %; Quarenta por cento mais pobres: 3.1 %; 21 Continuação • Serviços de cirurgia Dez por cento mais ricos: 9.3 % Quarenta por cento mais pobres: 7.6 % • Hospitalização Dez por cento mais ricos: 1.9 % Quarenta por cento mais pobres: 8.0 % 22 Continuação • Exames diversos Dez por cento mais ricos: 3.4 % Quarenta por cento mais pobres: 6.4 % • Material de tratamento Dez por cento mais ricos: 4.8 % Quarenta por cento mais pobres: 2.6% • Total Geral Gasto total no orçamento: 6.49 %, e de 11.7 % com 70 anos ou mais. Gasto familiar em saúde é 68.2 % privado – Nos países europeus, 20 %. 23 Modelo de atenção • Privatização do sistema Compra de serviços, convênios e contratos. Terceirizações de “áreas meio” Terceirização de Gerência de serviços Incremento e culto à lógica curativista, hospitalocêntrica, da especialização e de alto custo. • Transplantes Com 548 estabelecimentos de saúde credenciados e 1.349 equipes médicas autorizadas, está presente em 25 estados e evoluiu de 10.000 em 2001 para 15.527 transplantes em 2005. 24 Principais causas de morte no Brasil – 2004 1º Cérebro vasculares(acidente vasculares cerebrais/isquêmicos/ hemorrágicos); 2º Infarto agudo do miocárdio e doenças isquêmicas do coração; 3º Agressões; 4º Diabetes mellitus; 5º Pneumonias; 6º Acidentes de transporte; 7º Doenças hipertensivas. 25 Relações de trabalho • Desresponsabilização dos entes federal e estaduais; • Mercantilização via estímulo à múltipla militância; Desvinculação profissional do local de exercício e com o cliente; • Política voltada para gratificações contra Planos de Cargos e Carreiras 26 Relações de trabalho • Precarização das relações de trabalho - Terceirizações - Contratos temporários - “Cooperativas” - Programa de Agentes Comunitários de Saúde - Programa de Saúde da Família - Código 7 27 Desafios Politização do tema Saúde enquanto dever do estado e direito do cidadão, bem como a abrangência do seu conceito e sua característica intersetorial, em contraposição à lógica dominante. Saúde não é comércio, não é mercado. Criação da Lei de Responsabilidade Sanitária. 28 Desafios • Fortalecimento do Setor Público Estatal via incentivos financeiros e legislação específica. Combate à privatização. • Mudança do Modelo de Atenção vigente, promovendo investimentos na prevenção e na atenção básica, com estímulo e definição clara de atuação da equipe multiprofissional em saúde na perspectiva da superação do modelo uniprofissional vigente. • Definição da carreira de saúde como Carreira de Estado com Plano de Cargos Único que contemple incentivos à Dedicação Exclusiva, Qualificação e Interiorização. 29 Desafios • Reestruturação da grade curricular dos cursos universitários da área de saúde, promovendo a sintonia com o Sistema Único de Saúde e suas reais necessidades. Debater proposta do serviço civil em saúde. • Promover a profissionalização da gestão do sistema e da gerência dos serviços, à partir do estímulo à qualificação, autonomia administrativa, gerencial, política e orçamentária, e inserção dos cargos e das funções na carreira de saúde. 30 Desafios • Regulamentação da Emenda Constitucional 29 • Democratização do Sistema com a implantação de mecanismos que propiciem a implantação da Gestão Participativa e Democrática dos Serviços. • Fortalecimento dos Conselhos de Saúde com incentivo a mais ampla participação popular nos destinos do SUS. 31 Conselho Nacional de Saúde *Farmacêutico Presidente do Conselho Nacional de Saúde www.conselho.saude.gov.br [email protected] 061 – 3315 2150/2151 32