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Marília De Nardin Budó
medos, como, por exemplo, o medo do crime, o bode expiatório natural
foi a figura do mendigo, na identificação entre marginalidade e criminalidade. Observa o autor que, quando os mendigos excediam os 10% dos
habitantes de uma cidade, eles se tornavam constante fonte de ameaça
aos demais, sendo temidos como se capazes de quaisquer atos. Vistos
como monstros, eram representados como formadores de uma contrassociedade que punha em risco a ordem estabelecida (DELUMEAU, 1989).
Isso pode ser percebido na legislação inglesa dirigida a esse grupo social
e produzida entre os séculos XV e XVIII, com o objetivo de persegui-los,
torturá-los, escravizá-los, tomar seus filhos como aprendizes, açoitá-los
publicamente. Conjuga-se, nas políticas adotadas pelas autoridades contra a mendicância, a assistência com a repressão, e, especialmente a partir do século XVII, as casas de trabalho e de correção passam a ser o seu
destino mais comum. Na França do século XVIII, a ideia de que todo mendigo é um candidato ao crime já era uma ideia comumente difundida
(DELUMEAU, 1989).
O medo das bruxas, contudo, tem algo de mais impressionante: a
adoção do processo inquisitorial, a difusão do uso da tortura para obtenção de provas e as condenações à fogueira se tornaram corriqueiras em
várias partes da Europa baseados apenas em uma crença incutida pela
Igreja e, é claro, na percepção social especialmente sobre a mulher nessas
sociedades.
A história cultural do medo é fundamental para se entender o momento de pânico difuso que vivem as sociedades ocidentais. Desde os
aparatos de proteção, que variaram de altas muralhas ao redor das cidades aos mais modernos dispositivos produzidos pela lucrativa indústria
do controle do crime da atualidade, não foram poucos os esforços para se
buscar conter as ameaças, desde aquelas reais até aquelas completamente infundadas. O medo é o que orienta boa parte das atividades dos indivíduos comuns, passando pelos políticos profissionais e chegando a limites gravíssimos de legitimação do extermínio daqueles portadores do
rótulo de perigosos.
Assim como as bruxas, o juízo final ou o diabo, os medos da atualidade têm muito de fictício: Glassner (2001) nota que o medo do crime
aumenta no mesmo passo em que os índices de homicídio diminuem nos
Estados Unidos; que a guerra às drogas e a identificação popular das drogas como um dos maiores males do país aumentam no mesmo passo em
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