O PRÉ-MODERNISMO 1902 - 1922 IMOBILISMO x MODERNIZAÇÃO PRÉ-MODERNISMO • ORIGENS: • Mudanças políticas (Abolição da Escravatura e a Proclamação da República) não provocam alterações significativas na estrutura econômica do país = café = base da economia brasileira = política do café com leite (SP + MG). PRÉ-MODERNISMO • ORIGENS: • Mudanças que começavam a modificar a fisionomia da sociedade brasileira: urbanização das metrópoles + a imigração + o crescimento industrial + a emergência de uma classe média reformista e uma nova geração de militares influenciados pelo ideário positivista + massa popular insatisfeita. PRÉ-MODERNISMO • CONCLUSÃO: • CONTEXTO = CONFLITO ENTRE AS FORÇAS CONSERVADORAS (O PASSADO) E AS NOVAS FORÇAS SOCIAIS (NECESSIDADE DE MUDANÇA) A denominação do período • Pré-modernismo = época eclética (de mistura de tendências, estilos e visões) = chocam-se várias correntes e estilos, indefinidos entre o academicismo e a inovação. Características do período • Imobilismo x modernização. • Resquícios culturais do século XIX x busca de novas formas de expressão. • Desejo de uma redescoberta crítica do Brasil. Escritores do período • Parnasianos = influentes, com idéias formalistas e uma concepção da literatura como “sorriso da sociedade” (estilo artificial). Destaques: Olavo Bilac (na poesia) – Coelho Neto (na prosa). Escritores do período • Simbolistas = Inexpressivos, pouca ressonância de sua arte, fortemente vinculados à matriz européia do movimento. Destaques = Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens. Escritores do período • Realistas = Utilizam uma técnica literária marcada pela objetividade, verossimilhança, crítica social, análise psicológica. Destaques: Monteiro Lobato = com a reabilitação do caboclo paulista – Lima Barreto = fixação do universo suburbano carioca – Simões Lopes Neto = incorporou à ficção brasileira o vaqueano sul-rio-grandense, além de registrar-lhe a fala regional. Escritores do período • Intérpretes do Brasil = Euclides da Cunha e Graça Aranha = Ambos valem-se da literatura, o primeiro, com uma linguagem literária refinada, e o segundo, com a utilização da estrutura ficcional do romance, para questionar a realidade brasileira e debater o futuro da nação. Suas obras estão muito perto do ensaio. Escritores do período • Intérpretes do Brasil = Especialmente Os sertões , de Euclides da Cunha, tornou-se um divisor de águas na imagem que a intelectualidade nacional tinha a respeito de país e de seu povo. Escritores do período • Pré-Modernista = o único pré-modernista propriamente dito, no sentido de empregar recursos técnicos ou temas inovadores, antes da Semana de Arte Moderna é, até certo ponto, o poeta Augusto dos Anjos = em sua obra, apesar das influências cientificistas, parnasianas e simbolistas, há também um inesperado gosto pelo coloquial e pela “sujeira da vida”, o que permite incluí-lo entre os precursores de uma das correntes da poesia moderna. Euclides da Cunha & Canudos Euclides da Cunha (1866-1909) • Principais obras: Os sertões (1902); Contrastes e confrontos (1907); À margem da história (1909). O repórter da guerra • Em 1897, graças a artigos publicados no jornal O Estado de São Paulo, recebe um convite para ir ao front de Canudos (no sertão baiano), como correspondente de guerra. Assistiu aos últimos dias da resistência do arraial sertanejo e escreveu suas reportagens ainda dentro de uma ótica republicana radical. Nos anos seguintes, refletiu melhor sobre o que havia presenciado e o resultado = um livro monumental cheio de paixão, ciência e amargura: Os sertões (1902). Os sertões • • • • “Quem volta da região assustadora De onde eu venho, revendo inda na mente, Muitas cenas do drama comovente Da guerra despiedada e aterradora.” [Euclides da Cunha] A composição de Os sertões • Proposta: explicar racionalmente a “grande tragédia nacional” que observara. Pede ajuda à ciência da época. Estuda geografia, botânica, antropologia, sociologia, etc. Fontes exclusivamente européias, impregnadas da perspectiva colonialista (Europa imperialista). Resultado = erros interpretativos do autor, sobretudo nas duas primeiras partes de sua obra. Visão de Os sertões • • • • VISÃO DETERMINISTA: Determinismo geográfico: O homem é produto do meio natural. O clima desempenha papel preponderante na formação do meio. • Existe a impossibilidade de se constituir uma verdadeira civilização em zonas tórridas como o sertão. Visão de Os sertões • Determinismo racial: • Os cruzamentos raciais enfraquecem a espécie. • O sertanejo é caso típico de hibridismo racial (composto de elementos de origem diversa). • A miscigenação induz os homens à bestialidade e a toda espécie de impulsos criminosos. Visão de Os sertões • Conclusão = Contradição: as observações eram justas e brilhantes ; as teorias, medíocres (teorismo vazio – digressão subjetiva – tese desprovida de demonstração). Classificação de Os sertões • Situa-se entre o ensaio, a narração e a poesia lírica. • Obedecendo a um típico esquema determinista divide-se a obra em três partes: • A TERRA – O HOMEM – A LUTA A TERRA – 1ª Parte • Predominância da visão cientificista e naturalista. • Leitura difícil = informação científica & estilo barroco. • Descrição do meio físico opressivo feita com detalhes: a vegetação pobre, o chão calcinado, a imobilidade e a repetição da paisagem árida. A TERRA – 1ª Parte • A linguagem é poderosamente retórica e transforma a natureza em elemento dramático: • “Ajusta-se sobre os sertões o cautério das secas; esterilizam-se os ares urentes, empedra-se o chão, gretado, recrestado; ruge o Nordeste nos ermos; e, como um cilício dilacerador, a caatinga estende sobre a terra as ramagens de espinhos...” O HOMEM - 2ª Parte • Visão determinista = formação racial do sertanejo e os males da mestiçagem. • Mistura de raças = retrocesso: • “De sorte que o mestiço – traço de união entre as raças – é quase sempre um desequilibrado (...) sem a energia física dos ascendentes selvagens, sem a altitude intelectual dos ancestrais superiores.” O HOMEM - 2ª Parte • Entretanto, contrastando com essa incapacidade do mestiço para a civilização moderna, os sertanejos nordestinos seriam diferentes por ter há muito se isolado no amplo interior do país. Abandonados há três séculos, sem contatos maiores com o litoral desenvolvido, os sertanejos – ao contrário do que ocorrera com os mestiços urbanos – não haviam sido corrompidos. O HOMEM - 2ª Parte • Por isso, apesar de seu atraso mental, o sertanejo surge como um titã: • “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista revela o contrário. (...) É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo.” O HOMEM - 2ª Parte • O isolamento do sertanejo o mantém preso a valores arcaicos como o messianismo. A “tutela do sobrenatural” rege a vida cotidiana, e as vicissitudes do meio intensificam a religiosidade e a consciência mágica do mundo. Um mundo de profetas, de iluminados, de místicos que se tornam líderes naturais, expressando os valores da comunidade. O HOMEM - 2ª Parte • Antônio Conselheiro = “A sua biografia compendia e resume a existência da sociedade sertaneja”. O chefe dos fanáticos é um personagem-síntese: figura bizarra para os padrões urbanos, com uma oratória impressionante. Para Euclides, Canudos era apenas o produto previsível do fanatismo religioso e do arcaísmo do pensamento sertanejo, que o Conselheiro traduzia. A LUTA – 3ª Parte • É a parte mais importante e dramática da obra. Euclides não esconde a comoção diante da violência de parte a parte, que gera banhos diários de sangue. Não consegue deixar de admirar a tenaz resistência de uma cidade (“Jerusalém de taipa”), que logo se transforma em uma “Tróia de taipa”. Passa a ver os “titãs de cobre” que a defendem o “cerne rijo da nacionalidade”. A LUTA – 3ª Parte • Percebe que o meio é o principal aliado do sertanejo: “As caatingas não o escondem apenas, amparam-no”. Compreende a inutilidade dos métodos clássicos de combate, usados pelo Exército, diante da mobilidade e da luta não-convencional dos inimigos. Espanta-se diante da guerrilha sertaneja e das sucessivas derrotas que ela impõe às tropas legais, superiormente armadas. A LUTA – 3ª Parte • Emociona-se ao ouvir as rezas e os cânticos que emergem do arraial bombardeado, ao anoitecer, quando todo o Alto-Comando julgava Canudos já sem resistência. A obra adquire então uma grandeza sombria e os últimos momentos do confronto apresentam uma terrível dramaticidade. Com dinamite, os soldados atacam os casebres ainda em pé, explodindo e queimando seus moradores. A LUTA – 3ª Parte • “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a História, resistiu até o esgotamento completo. (...) caiu no dia cinco, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.” A LUTA – 3ª Parte A interpretação da guerra • Conjunto de equívocos, demências e crueldades. Uma pungente (dolorosa) guerra civil e não um conflito entre a reação e o progresso, entre a Monarquia e a República, como as elites intelectuais, políticas e militares, bem como a opinião pública do país, acreditavam. A interpretação da guerra • Tragédia de erros resultantes de uma profunda cegueira de ambos os lados. Para os adeptos de Conselheiro, os soldados eram agentes do demônio e deveriam ser destruídos. Para o Exército, os sertanejos eram jagunços primitivos a serviço da causa monárquica e tinham de ser exterminados. A interpretação da guerra • Na verdade, os guerrilheiros de Canudos eram uns pobres-diabos, filhos da ignorância e das crendices de uma civilização parada no tempo há três séculos. Precisavam de professores, não de tiros de canhão. Já as tropas do governo, que representavam a civilização moderna do país, foram incapazes de perceber a verdadeira natureza dos inimigos e trataram de destruí-los com barbárie e horror. A interpretação da guerra • Os sertões adquire, assim, um caráter de denúncia. Trata-se de um “grito de aviso à consciência nacional”. Tal perspectiva é anunciada na nota preliminar que abre o livro: • “Aquela campanha lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo.” A interpretação do Brasil • Contradição: • Fervor patriótico com a vitória do Exército x Trágico fim do povoado de Canudos. • Confronto = divisão estrutural do país. A interpretação do Brasil • Conclusão: • Há dois Brasis completamente estranhos entre si, o do litoral e o do sertão. • O Brasil do sertão jazia ignorado ou esquecido pela consciência culta nacional. A interpretação do Brasil • Ponto de vista: • Para a civilização litorânea, os jagunços (o povo de Canudos) eram facínoras (bandidos). • Para Euclides, eram irmãos (compatriotas) que deveriam ser integrados à nacionalidade. A interpretação do Brasil • Para Euclides, as duas sociedades brasileiras, separadas pela raça, pelo meio e pela história, deveriam se aproximar e se integrar pacífica e lentamente. Sob esse prisma, a perspectiva de aproximação entre os dois Brasis, defendida pelo escritor na sua obra-prima, se tornaria, depois de 1930, o projeto político nuclear da nação. Gênero Literário • Os sertões é uma combinação única de ensaio sociológico, estudo científico, reabilitação histórica, panfleto, reportagem de guerra e literatura, o que torna impossível enquadrá-lo nos limites de um gênero qualquer. O estilo literário de Os sertões • Senso do dramático. • Confere às ações uma plasticidade vigorosa e assustadora, buscando sempre o contraste violento, o êxtase e a agonia, a situação-limite do ser humano. • Efeito persuasivo (exemplos individuais para reforçar uma idéia geral). • Traduz o horror da guerra, a exemplo de Tolstói e Stendhal. A linguagem barroca • Gosto pelo ornamental e pelo excesso vocabular. • Léxico (vocabulário) arcaico. • Presença contínua de antíteses, paradoxos, comparações e metáforas. • Jogo binário entre períodos extensos e períodos curtíssimos e a insistência na frase de efeito, sentenciosa e escultural. • Linguagem com ritmo poético. A importância de Os sertões • “Escrevi este livro para o futuro” (Euclides da Cunha) = Pôs em xeque todas as concepções que a intelectualidade brasileira tinha a respeito de seu próprio país, passando a influenciar decisivamente a discussão política sobre os destinos da nação. Influencia, de forma marcante, o chamado “Romance de 30”.