UM JORNAL A SERVIÇO DA CULTURA *** WWW.JC.COM.BR Segunda-feira, 14 de abril de 2008 Edição escolar, concluída às 19H13 Diretores de redação: Renê Grotolli Siqueira / Vanessa dos Santos M oacyr Jaime Scliar, mais conhecido como Moacyr Scliar, nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde vive até hoje, com 71 anos. Moacyr cursou a faculdade de medicina. Essa profissão não o impediu de dedicar a sua carreira de escritor. Moacyr Scliar escreveu mais de 60 livros, entre romances, crônicas, contos, literaturas infantis e ensaios. Ele já recebeu muitos prêmios literários. Vários de seus textos já foram adaptados para o rádio, a televisão, o cinema e o teatro. Em 2003 foi eleito, por 35 dos 36 acadêmicos com direito a voto, para a Academia Brasileira de Letras. Moacyr tem obras traduzidas para o inglês, alemão, hebraico, francês, espanhol e outros idiomas. Agora o jornalista Machado de Bittencourt fará uma entrevista com Moacyr Scliar com base no livro “O Sertão Vai Virar Mar”. Machado de Bittencourt: Por que você escreveu o livro O Sertão Vai Virar Mar? Moacyr Scliar: Na verdade quis refazer a história de Antônio Conselheiro e de Canudos, mas nos tempos atuais e de uma forma mais fácil de se entender do que o livro Os Sertões, em que Euclides da Cunha escreve de forma culta e intelectual. MB: De onde surgiu à idéia de criar o personagem Jesuíno Pregador no livro? MS: Jesuíno Pregador surgiu a partir do momento em que li Os Sertões, onde Euclides da Cunha retrata Antônio Conselheiro como um louco e fanático religioso, procurei saber mais sobre sua história, então criei Jesuíno Pregador, um fanático religioso que tem as mesmas idéias de Antônio Conselheiro. MB: Porque você escreveu em seu livro que Jesuíno Pregador morava na região de Mar-de-Dentro, no interior do sertão da Bahia? MS: Pois nessa região foi construída a represa de Mar-de-Dentro que acabou dando nome à região inundada por ela, neste período muitas famílias tiveram de abandonar suas casas por causa da represa, quem resistia, no fim acabava acordando com a casa inundada, e tinha de sair às pressas, o que foi o caso de Jesuíno. A represa serviria de “praia” para a região, tanto que a empresa até colocara coqueiros em sua volta para enfeitar e dar um “ar” mais tropical, muitas pessoas iam ao local para se divertir andando de barco, pedalinho, nadando, etc. Essa represa foi um dos marcos históricos da época. MB: Você acredita em inspiração? MS: Acredito sim em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que “baixa” no escritor, mas simplesmente como um resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas – o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente. MB: Como surgiu a idéia de fazer esse romance? MS: O livro faz parte de uma coleção da Ed.Ática, cuja proposta aos autores é escrever uma história em que um clássico desempenhe papel importante. Pois, "Os Sertões" é obra fundamental para se entender o Brasil, mas, ao mesmo tempo, redigida em uma linguagem complexa, como era a linguagem literária da época. Assim como meus jovens personagens descobrem Euclides, eu gostaria que os jovens leitores também o fizessem. E uclides Rodrigues Pimenta da Cunha, também conhecido com Euclides da Cunha nasceu em Cantagalo, no Rio de Janeiro em 1866. Foi escritor, professor, sociólogo, repórter jornalístico e engenheiro, tendo se tornado famoso internacionalmente por sua obra-prima, “Os Sertões”, que retrata a Guerra dos Canudos, a qual escreveu três anos após ir ao local. Em 1909 ele morreu assassinado pelo cadete Dilermando de Assis, que mantinha ligações com sua esposa. Por trágica coincidência, seus dois filhos tiveram a mesma sorte: Solon morreu assassinado no Acre, quando realizava diligência policial contra alguns bandidos, e Euclides da Cunha Filho, no Rio de Janeiro, numa troca de tiros com o padrasto (Dilermando de Assis). Agora o jornalista Julio Mesquita fará uma entrevista com Euclides da Cunha com base em sua viagem para Canudos (Euclides não morreu). Julio Mesquita: Como era o espaço geográfico de Canudos? Euclides da Cunha: Canudos tinha uma localização estratégica: o lugar era cercado de serras e morros, Cambaio, Cocorobó, Angico e outros, o que dificultava o acesso de possíveis inimigos. Mas essa localização não impediu a chegada de peregrinos, que iam cada vez em maior número. Hoje nas estiagens longas, o açude de Cocorobó seca e aparecem as ruínas do arraial de Canudos. JM: O que você descobriu sobre Antônio Conselheiro em sua viagem para Canudos? EC: Antônio Conselheiro era uma espécie de grande homem pelo avesso, ele reunia no misticismo doentio todos os erros e superstições que formam o coeficiente doentio da nossa nacionalidade. Arrastava o povo sertanejo não porque dominasse, mas porque o dominavam as aberrações daquele. Favorecia-o o meio e ele realizava, às vezes, como vimos, o absurdo de ser útil. JM: Essa viagem afetou sua vida pessoal? EC: Na verdade afetou, pois descobri que, enquanto viajava, não apenas para Canudos, mas também para outros lugares, minha esposa, Ana Ribeiro, traia-me com seu amasio: Dilermando de Assis. Descobri quando cheguei de uma de minhas viagens e Ana estava em casa sozinha com ele, ela disse que ele estava me procurando, mas nunca o havia visto, perguntei à senhora que trabalhava em minha casa se o cadete Dilermando sempre aparecia em casa, segundo ela, sim... NOTÍCIA URGENTE Dilermando de Assis acaba de invadir a sala onde Euclides da Cunha da uma entrevista para o nosso jornal, Dilermando saca uma arma e dá sete tiros em Euclides, que morre em poucos minutos. Sétima Série / Oitavo Ano FEITO POR: Renê Grotolli Siqueira, 16 Vanessa dos Santos, 18