• Programa Qualidade de Vida
• Grupo de Pesquisa Informação
e Inclusão Social
SOBRE A
COMPETÊNCIA ÉTICA
por
Isa Maria Freire
Doutora em Ciência da Informação
IBICT
A ÉTICA NA PROFISSÃO
• Ética como construção histórica
– Na evolução humana
– Na Grécia Antiga
– Na Idade Média
• A dimensão ética na sociedade
moderna
– A competência ética
ÉTICA
[Do latim ethica do grego ethiké]
Substantivo feminino
1. Filos. Estudo dos juízos de
apreciação referentes à conduta
humana suscetível de qualificação
do ponto de vista do bem e do
mal, seja relativamente a
determinada sociedade, seja de
modo absoluto.
Dicionário Aurélio eletrônico
Ética como
construção histórica
CRONOLOGIA DA EVOLUÇÃO HUMANA
LEAKEY, Richard. E. A origem da espécie humana. RJ:Rocco, 1995
Final do século XX – Revolução tecnológica
Século XVIII
Século XVII
– Revolução Industrial
– Revolução Científica
5 mil anos atrás
10 mil anos atrás
30 mil anos atrás
– Primeiras cidades
– Revolução agrícola
– Primeiros indícios de arte na África e na Europa
200 mil anos atrás – Origem dos humanos modernos na África
Importantes avanços na manufatura
500 mil anos atrás – Primeira utilização do fogo
2,1 a 4 milhões... – Homo erectus expande-se da África para a Ásia
Artefatos de pedra mais antigos conhecidos
Origem da expansão do cérebro
Fósseis mais antigos conhecidos (A. afarensis)
www.wikipedia.org
CRONOLOGIA DA EVOLUÇÃO HUMANA
LEAKEY, Richard. E. A origem da espécie humana. RJ:Rocco, 1995
Final do século XX – Revolução tecnológica
Século XVIII
Século XVII
– Revolução Industrial
– Revolução Científica
5 mil anos atrás
10 mil anos atrás
30 mil anos atrás
– Primeiras cidades
– Revolução agrícola
– Primeiros indícios de arte na África e na Europa
200 mil anos atrás – Origem dos humanos modernos na África
Importantes avanços na manufatura
500 mil anos atrás – Primeira utilização do fogo
2,1 a 4 milhões... – Homo erectus expande-se da África para a Ásia
Artefatos de pedra mais antigos conhecidos
Origem da expansão do cérebro
Fósseis mais antigos conhecidos (A. afarensis)
CRONOLOGIA DA EVOLUÇÃO HUMANA
LEAKEY, Richard. E. A origem da espécie humana. RJ:Rocco, 1995
Final do século XX – Revolução tecnológica
Século XVIII
– Revolução Industrial
Século XVII
– Revolução Científica
5 mil anos atrás – Primeiras cidades
10 mil anos atrás – Revolução agrícola
200 mil anos atrás – Origem dos humanos modernos na África
Importantes avanços na manufatura
500 mil anos atrás – Primeira utilização do fogo
2,1 a 4 milhões... – Homo erectus expande-se da África para a Ásia
Artefatos de pedra mais antigos conhecidos
Origem da expansão do cérebro
Fósseis mais antigos conhecidos (A. afarensis)
Entre 5 e 10 milhões de anos – Origem do bipedismo na África
http://www.novomilenio.inf.br/humor/0004h009.jpg
MATURANA, H.; REZEPKA, S.N. de. Formação
humana e capacitação. Petrópolis: Ed. Vozes, 2001
“Quando começou o humano?
Afirmamos que nós, os seres
humanos, existimos na
linguagem, ou melhor, nas
conversações...”
Somos biologicamente
diferentes dos chimpanzés
... porque pertencemos a
uma história de conservação
do amor como fundamento
de nosso conviver, ao passo
que eles, não.
Temos preocupações éticas
porque somos animais de
linguagem e amorosos. ...
O amor é nossa base, a
proximidade é nosso
fundamento ...”
TOMASELLO, M. Origens culturais da aquisição do
conhecimento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2003
O enigma básico é este:
apenas seis milhões de
anos separam os seres
humanos de outros grandes
macacos. É um tempo muito
curto do ponto de vista da
evolução biológica ...
Os seres humanos têm modos
de transmissão cultural
únicos da espécie.
As tradições e artefatos
culturais dos seres humanos
acumulam modificações ao
longo do tempo de uma
maneira que não ocorre nas
outras espécies animais.
É a chamada
evolução cultural
cumulativa.
Crescer num mundo
cultural serve para criar
certas formas únicas de
representação cognitiva.
Nesse processo, as crianças
humanas usam suas
habilidades de
aprendizagem cultural
para adquirir símbolos
lingüísticos e outros
símbolos comunicativos.
Os símbolos lingüísticos
libertam a cognição humana
da situação perceptual
imediata, por permitirem
várias representações
simultâneas de cada uma e
de todas as situações
perceptuais possíveis.
A capacidade de confabulação propiciada
pela linguagem simbólica está no cerne da
evolução cultural cumulativa.
ÉTICA NA GREGA ANTIGA
• O período áureo do pensamento grego: 500
a 300 a.C.
• Sócrates, Platão, Aristóteles:
pesquisa sobre a natureza do bem moral
• A reflexão grega procede do contexto
religioso: “nada em excesso” e
“conhece-te a ti mesmo” [Santuário do
Oráculo de Delfos, do deus Apolo]
Sócrates
(470-399 a.C.)
O primeiro
pensador da
subjetividade
• O método da maiêutica:
interrogando o interlocutor até
que este chegue por si mesmo
à verdade [“parteiro” de
idéias”]
• Condenação: seduzir a juventude,
não honrar os deuses da cidade e
desprezar as leis [as leis são
justas? quem faz as leis? para
que se faz?]
Sócrates
O primeiro pensador da subjetividade
É considerado “o fundador da
moral” porque sua ética não
se baseava nos costumes ou
nas leis, mas na convicção
pessoal, adquirida através
de um processo de consulta
ao seu “espírito interior”
[daimónion].
Platão:
sistematizador
das idéias de
Sócrates
• Diálogos: partindo da idéia de
felicidade, a questão é “onde está
o Sumo Bem”?
• República: condenação à vida
voltada exclusivamente para os
prazeres
• Fédon: contando com a
imortalidade da alma, coerente
com sua pré-existência, espera a
felicidade para depois da morte
Platão:
sistematizador das idéias de Sócrates
Para Platão, os seres
humanos deveriam
procurar nesta vida a
contemplação das idéias,
em especial a mais
importante: a idéia do
Bem.
• O sábio é um homem
virtuoso, que busca o Bem
Superior, a vida virtuosa
para estabelecer, em sua
própria vida, a ordem, a
harmonia e o equilíbrio.
Por isso a prática da virtude
[areté] é a coisa mais
preciosa para o homem:
harmonia, medida [métron]
e proporção [individual e
social] — uma imitação do
cosmos.
Aristóteles:
pensador
especulativo e
profundo
psicólogo,
foi um grande
observador
Partindo da correlação entre o
Ser e o Bem, insiste sobre a
variedade dos seres e conclui
que os bens [no plural]
também devem variar.
Para cada ser deve haver um
bem: conforme a natureza ou
a essência do respectivo ser,
haverá um respectivo bem,
ou o que é bom para o ser.
O argumento é que o
homem tem o bem do
seu ser no viver, no
sentir e na razão: ele
não pode apenas viver
mas precisa viver
racionalmente, i.e., viver
de acordo com a razão.
Aristóteles valoriza, mais do que
Platão, a vontade humana, a
deliberação e o esforço em
busca de bons hábitos.
Para ele, o homem precisa
converter suas melhores
disposições naturais em
hábitos, de acordo com a
razão: virtudes intelectuais.
Esta auto-educação supõe um
esforço voluntário, de modo
que a virtude provém da
liberdade, que delibera e
elege inteligentemente.
Virtude é uma espécie de
segunda natureza, adquirida
pela razão livre.
Santo
Agostinho de
Hipona
São Tomas de
Aquino
Entre a fé
e a razão
Agostinho (séc. IV) foi importante para o
batismo do pensamento grego e sua
entrada na tradição cristã — e
posteriormente na tradição intelectual
européia.
A partir de Tomaz de Aquino (séc. XIII) a
Igreja tem uma teologia (fundada na
revelação) e uma filosofia (baseada no
exercício da razão humana) que se fundem
numa síntese definitiva: fé e razão,
unidas em sua orientação comum rumo
a Deus.
NA IDADE MÉDIA
Sendo a Idade Média européia
o período cristão de
formação do Ocidente, o
pensamento ético que
conhecemos está muito
ligado à religião, à
interpretação da Bíblia e à
teologia. Mas foi além.
A busca de uma ética laica,
racional, baseada numa lei
natural ou numa estrutura
transcendental da
subjetividade humana,
comum a todos os homens:
síntese entre o pensamento
ético-filosófico e a doutrina
da Revelação Cristã.
OS IDEAIS ÉTICOS
Para os gregos: busca teórica e
prática da idéia do Bem [Platão]
ou na felicidade, entendida
como uma vida virtuosa
[Aristóteles]
No cristianismo, esses ideais se
identificaram com os ideais
religiosos: espírito, amor,
fraternidade.
Com o Renascimento e o
Iluminismo, o ideal seria
viver de acordo com a
própria liberdade
pessoal, ou, em termos
coletivos: liberdade,
igualdade, fraternidade.
Kant, pensador da
burguesia,
identificou o ideal
ético com o ideal
da autonomia
individual: o
homem que age
segundo a razão e
a liberdade
[usando o critério da
moralidade].
Para Hegel, o ideal
ético estava numa
vida livre dentro de
um estado livre,
onde a consciência
moral e as leis do
direito não
estivessem nem
separadas nem em
contradição.
Assim, o pensamento social e
dialético buscou como ideal ético
uma vida social com a superação
das injustiças econômicas.
A ética se volta para as relações
sociais, esquece o céu e se
preocupa com a terra,
procurando apressar a
construção de um mundo mais
humano.
Marx: a história da
humanidade como uma
luta constante com a
natureza.
A ação humana se define
como trabalho, como
técnica: ao tentar
transformar a natureza,
o homem também se
transforma; ao
trabalhar, se faz
trabalhador, se produz.
Atualmente, pensadores
marxistas, como Habermas,
preferem falar de duas
dimensões do agir humano:
técnica [trabalho produtivo] e
prática [ética, no sentido grego]
representada pelo amor e por
ideais de comunicação, além
de valores como fraternidade
entre os homens.
Mas no pensamento de
esquerda a relação entre os
meios e os fins não parece
um problema resolvido.
A reflexão ético-social do
século XX trouxe uma
massificação que desafia o
sujeito livre ao saber-fazer
ético.
É nesse contexto que
VARELA propõe sua visão
de uma competência ética,
ao mesmo tempo pessoal
e social, individual e
coletiva, biológica e
cultural.
FRANCISCO VARELA
Sobre a
competência ética
Lisboa: Ed. 70, 1995
A tese fundamental de
Varela baseia-se na visão
do observador como
sistema vivo, autopoiético
(isto é, auto-organizador) ...
integrado num contexto
histórico e social — o qual,
por sua vez, deve-se olhar
como resposta à pressão do
devir biológico da espécie,
no seu longo esforço de
adaptação [evolução] às
variações do ambiente.
Sendo o nosso cérebro o
resultado dessa evolução,
supõe-se que exista um
diálogo com o meio ambiente,
com a conseqüente
configuração neuronal,
constituindo-se um sistema
auto-referente, autônomo,
determinista e relativista,
gerando múltiplas
narrativas, sucessivos
domínios de descrições ou
quadros de referência,
mediados pela linguagem e
alimentados pela interação
social.
Varela destaca a diferença
entre como fazer e o que
fazer, a diferença entre a
habilidade de confronto
imediato (savoir faire) e o
conhecimento intencional ou
juízo racional.
E [se] pergunta:
• Qual o melhor modo de
compreender o saberfazer ético?
• Como este saber se
desenvolve e progride nos
seres humanos?
Qual o melhor modo de compreender o saber-fazer ético?
É necessário, antes de
responder à última questão,
constatar que tem sido dada
a pouca atenção à
compreensão da habilidade
de confronto imediato nas
ciências que estudam a
mente e o conhecimento.
Qual o melhor modo de compreender o saber-fazer ético?
Para Varela, no centro de um
ponto de vista emergente
nas ciências cognitivas
reside a convicção de que as
unidades apropriadas de
conhecimento são, antes de
mais nada, concretas,
corporificadas, vividas.
Qual o melhor modo de compreender o saber-fazer ético?
Pois o mundo não é algo
que nos é “dado”, mas
é alguma coisa em que
temos parte graças ao
modo como nos
movemos, tocamos,
respiramos e comemos.
Qual o melhor modo de compreender o saber-fazer ético?
Assim, a cognição não é
formada por representações,
mas por ações corporizadas.
E a habilidade de confronto
imediato se coloca, aqui,
em contraposição com à
reflexão e à análise.
Como este saber se desenvolve e progride nos seres humanos?
Devemos nos dar conta
de que passamos só
uma pequena parte da
nossa vida na análise
deliberada, explícita,
que é peculiar ao saber
intencional.
Como este saber se desenvolve e progride nos seres humanos?
Uma enorme parte da nossa
vida ― trabalhar, moverse, falar, comer — se
manifesta como saberfazer e não nos damos
conta do que fazemos
Como este saber se desenvolve e progride nos seres humanos?
Na lista precedente do
saber-fazer [trabalhar,
mover-se, falar, comer]
Varela acrescenta:
responder às necessidades
dos outros, definida como
o autêntico cuidar de si.
Como este saber se desenvolve e progride nos seres humanos?
Concluímos, então, que o
autêntico cuidar de si
representa o verdadeiro
fundamento do Ser e pode
se tornar plenamente
manifesto através de uma
bem sucedida prática ética.
Assim, o ponto central na
competência da ética
consiste no
reconhecimento da
exigência, na vida
humana, de uma prática
transformadora
que pode colocar em
ação a afirmação
científica da espécie
humana como gregária,
solidária e consciente.
Deficiências [Mário Quintana]
“Deficiente” é aquele que não
consegue modificar sua vida,
aceitando as imposições de
outras pessoas ou da
sociedade em que vive, sem
ter consciência de que é dono
do seu destino.
“Louco” é quem não procura ser
feliz com o que possui.
“Paralítico” é quem não consegue
andar na direção daqueles que
precisam de sua ajuda.
“Diabético” é quem não consegue
ser doce.
E finalmente, a pior das
deficiências é ser
miserável, pois
“Miseráveis” são todos
que não conseguem falar
com Deus.
Grata pela atenção!
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Palestra ética IBICT agosto 2007