TM175 Tópicos Especiais em Engenharia Mecânica IV: Ética Parte I – Ética e Sociedade Noções básicas de moral e ética O que é a ética? • A CIÊNCIA QUE ESTUDA o comportamento consciente do homem. • conduta escolhida de acordo com uma razão equilibrada. • leva à máxima perfeição. O que é a ética? Ética é a doutrina sobre o que o homem é e está chamado a ser ( ... ) Note-se que para caracterizar a ética, estamos falando de realização (no singular), e não das realizações (plural) nos diversos aspectos da vida: financeiro, saúde, status etc., pois a moral diz respeito precisamente à realização; realização não deste ou daquele aspecto parcial, mas afeta a totalidade, o que se é enquanto homem. O que pretende a ética? • realização profunda da pessoa. A que leva a falta de ética? • caotização da vida pessoal. • desordem no entorno social. • ineficácia. Ética das aparências • falta da convicção do que é certo e do que é errado. • agir pelo medo de ser flagrado em alguma ilegalidade ou transgressão. • qualidade aparente Ética da mediocridade • Mediocridade: apontar o fim da ação para um nível médio. • Evitar o mal é o suficiente. Ética normativa • Ética Kantiana: preocupação de formular as normas • • éticas. Imperativo categórico: formulações tais que pudessem ser elevadas ao nível de uma exigência universal. Bentham (utilitarismo): teoria do mínimo ético. Direito e ética como realidades semelhantes (conjunto de normas), mas de extensões distintas. Positivismo lógico-lingüístico (fortemente anglo-saxão). Ética como conjunto de proposições de dever-ser (as quais, contudo, não teriam nenhum valor científico). Limitações de uma ética normativa • Torna-se logo uma moral negativa, uma moral de • • • limites. Ajuda pouco a resolver os casos difíceis. Torna-se um saber para especialistas, e não do homem da rua, quando, na verdade, todos os homens estão e devem estar implicados pela ética. Tende a tornar a ética algo externo ao homem. A ética a moral - seria algo necessário, mas externo ao homem e que o limita; algo desvinculado do seu ser, ou que a sociedade impõe, ou que a natureza ou a divindade determinam. Problemas éticos na visão normativa • É lícito ou não trabalhar em um hospital que faz • • • abortos? Devo denunciar ou não um colega médico que prescreve medicamentos porque recebe dinheiro da indústria farmacêutica? Preciso tirar o passaporte porque tenho uma viagem importante em dois dias e a única forma é pagar uma “taxa de urgência”. Devo ou posso sujeitar-me a isso ou não? Uma “coladinha” que ninguém perceba: posso ou não? Não estou prejudicando ninguém. Ética de virtudes ou ética da excelência • Busca do melhor e mais perfeito. Ciência da indagação • • • do que o homem está chamado a ser, do que é a realização integral e plena do homem. “Torna-te o que és” poderia ser o lema dessa compreensão da ética. O que se busca é conhecer a excelência humana “Fazer triunfar o Homem dentro do homem” (Platão, A República) Uma orientação diferente: fim último do homem, virtudes. Apresenta-se o modelo: a isso deve apontar a conduta humana. A descoberta da Ética • O homem capta o que está à sua volta. Conhece que as coisas têm suas leis e suas necessidades. • O homem contempla o mundo e capta uma gama ampla de valores, sendo assim capaz de apreciar o que o cerca e escolher para além dos determinismos biológicos ou instintos. A descoberta da Ética • Duas vozes chamam pela conduta do homem: – A interna: a das suas próprias necessidades – A externa: a voz das coisas que o rodeiam • Exigem do homem uma tomada de posição frente aos deveres A descoberta da Ética • A inteligência abre os olhos para valores como: – – – – – o trabalho; o bem da família; a realização pessoal; o serviço prestado aos outros; a contribuição à sociedade por meio de um trabalho bem feito – etc. Os Princípios Éticos Fundamentais Utilizamos nossa experiência para entender as demais coisas e as compreendemos a partir do uso da razão. Deduzimos que o que é bom para nós deve ser bom para os outros e ao contrário, o que é mau para nós, deve ser mau para os demais. Os Princípios Éticos Fundamentais • Fazer o bem e evitar o mal • Querer o bem dos outros como se quer o próprio bem • O fim não justifica os meios Os Princípios Éticos Fundamentais Assim o reconheceram já todos os grandes espíritos, um Sócrates e um Platão, insistindo sempre em que é melhor sofrer uma injustiça do que cometê-la. (...) Um homem é incapaz de ser moralmente bom se estiver cego ao valor moral das outras pessoas, se não distinguir o valor inerente à verdade do não-valor inerente ao erro, se não entender o valor que há numa vida humana ou o não-valor de uma injustiça. Os Princípios Éticos Fundamentais "A moral que é a arte de viver bem, é também a arte de conjugar bens e deveres, pôr cada coisa no seu lugar, pôr ordem nos amores." Consequência de uma vida fundamentada em princípios éticos • veracidade, imparcialidade, lealdade, solidariedade, etc • conformidade da atuação com os princípios • estruturação harmônica da personalidade • trabalho de qualidade A vivência ética O homem, no interior de sua consciência, pode escolher livremente suas ações e torna-se responsável pela edificação do seu próprio ser. A vivência ética • Como desenvolver o comportamento ético pessoal? – assimilando os valores humanos – aplicando os princípios fundamentais – praticando a arte de viver bem ou a arte da aplicação dos princípios fundamentais às situações que se apresentam A vivência ética • A educação orienta na busca do bem e dos • valores Exemplos: – os bens que têm a ver com a realização de habilidades, destrezas e conhecimentos; – prestígio social, boa fama e êxito profissional; – as relações pessoais de amizade e amor; – os bens estéticos; – os costumes morais - as virtudes - que tornam o homem honrado e honesto. A vivência ética • Aprender a desejar os bens próprios da excelência humana exige: – educação dos sentimentos – aplicação dos princípios morais – ordem nas escolhas pessoais • No sentido contrário: acaba-se dominado • unicamente pela satisfação dos bens primários A educação moral leva a distinguir e a possuir os bens que realizam a pessoa em plenitude A vivência ética Junto à sua natureza biológica, recebida por nascimento, o homem é capaz de adquirir uma segunda natureza: repetindo ações livres, vai tecendo seu próprio estilo de conduta, seu modo de ser melhor ou pior. Através dos atos que repetimos e esquecemos, decanta-se em nós uma forma de ser que permanece. Mas a liberdade oferece a possibilidade permanente de atingir tanto uma conduta digna do homem como uma conduta indigna e patológica. Assim, alguns se fazem justos e outros injustos, uns trabalhadores e outros preguiçosos, responsáveis ou irresponsáveis, amáveis ou violentos, verazes ou mentirosos, reflexivos ou precipitados, constantes ou inconstantes. Aretê e virtude • Para os gregos, a idéia de excelência, contida na palavra Aretê, é dos tempos mais remotos. Seu sentido exato foi variando ao longo da história: “A palavra virtude não expressa o sentido original do grego aretê. Mas sim conserva algo do significado da palavra latina vírtus. Aretê significa excelência, capacidade, valia. Vírtus é originário de vir (varão) e alude em seu sentido original a virilidade, mas também simplesmente a excelência, a perfeição moral. Aretê e vírtus designavam a excelência do homem enquanto homem” Virtude • Existe uma excelência para o homem. • Qualidades como a coragem, a honestidade, a veracidade, a prudência, a sinceridade, a fortaleza são características que se adquirem, que se forjam, e que, em todas as épocas, foram admiradas O homem cabal é sobretudo o homem virtuoso, ainda quando seus dotes intelectuais ou sua formação cultural não sejam os melhores ou mais completos Virtude “(...) virtuoso no sentido clássico é não quem leva uma vida incensurável porque não fez nada mal, que é amável e bondoso, embora de resto não valha muito, mas quem sempre usa suas capacidades humanas para o bem, faz o bem de modo soberano, constante e alegre, é competente e engenhoso, sabe o que fazer e é capaz de avaliar toda situação rápida e corretamente; em suma: quem realiza o que Aristóteles denomina “vida boa”, eupraxia”. (Rhonheimer) Virtude • “Muitas coisas dependem por inteiro de ti: a sinceridade, a dignidade, a resistência à dor, (...), a aceitação do destino, (...), a benevolência, a liberalidade, a simplicidade, a seriedade, a magnanimidade. Observa quantas coisas podes já conseguir sem que caiba alegar pretextos de incapacidade natural ou inaptidão, e por desgraça permaneces voluntariamente por baixo das tuas possibilidades. Por acaso te vês obrigado a murmurar, a ser avaro, a adular, a culpar o teu corpo, a dar-lhe satisfações, a ser frívolo e a submeter a tua alma a tanta agitação, porque estás defeituosamente constituído? Não, pelos deuses! Faz tempo que podias haverte afastado desses defeitos” Meditações – Marco Aurélio Virtude “Pois bem... Sou assim. É natural. Herdei isso de mamãe. Todos os Kröger têm inclinação para o luxo. Com a mesma calma teria declarado que era leviana, irascível ou vingativa. O seu senso de família, fortemente desenvolvido, como que a tornava alheia às idéias de vontade própria e de autonomia, a ponto de ela constatar e confessar, com uma estoicidade quase fatalista, os traços do seu caráter... sem fazer diferenças entre eles, nem esforços para corrigi-los. Sem o notar, era da opinião de que todos eles, quaisquer que fossem, significavam um legado, uma tradição da família, sendo por isso veneráveis e merecedores, em todo o caso, de serem tratados com respeito” Thomas Mann, Os Buddenbrook Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981, p. 199 Ética, qualidade, responsabilidade social • Não são realidades substancialmente diversas. As duas últimas são conseqüências ou aspectos da primeira; • Ética no seu sentido originário e completo é a busca da excelência; • A excelência e a responsabilidade social nada mais são do que uma conseqüência de um atuar ético Processo de melhoria contínua • identificar fatos, atitudes que correspondem a problemas éticos, pessoais e coletivos. • conhecer as causas destes problemas. • definir os meios e procedimentos para atacar os problemas nas causas. Lei moral/normas éticas •Formulações das exigências da realização humana; •Não configuram restrições à liberdade humana corretamente entendida “Dentro de um avião, o espaço é bastante reduzido e há pouca liberdade de movimentos. Contudo, quem compra uma passagem para Roma e entra no avião não afirma a sua liberdade saindo da aeronave em pleno vôo. A liberdade que lhe interessa é a que lhe permitirá chegar a Roma, e as restrições que lhe são impostas dentro do avião – pressurização, altura, velocidade, etc. – são formas de tirar o máximo partido do exercício da sua liberdade” Normas proibitivas •As normas proibitivas são condiçõeslimite da conservação da identidade humana. “Os raciocínios precedentes demonstram que as normas proibitivas não são outra coisa que a formulação dos limites do agir humano" (M. Rhonheimer, p. 295) Critério para o juízo ético Éticas normativas Conteúdo Intenção Circunstâncias Ações de duplo efeito • É lícito realizar uma ação em si boa ou indiferente, que tem um duplo efeito, um bom e outro mau, se: – o efeito bom é imediato – o fim do agente é honesto – existe uma causa proporcionada para permitir o efeito mau SISTEMA ESPONTÂNEO • Não é possível “formalizar” todos os aspectos de • • • um comportamento amistoso! Atuação tendo como base critérios e princípios: fazem o papel de bússola para as decisões. É “algo” que faz funcionar bem a empresa. A organização requer muito mais do que está previsto no sistema operativo. OS BENS E OS DEVERES • O desenvolvimento da inteligência amplia enormemente a possibilidade de descobrir bens, isto é, a possibilidade de descobrir coisas que convêm. O instinto busca localizadamente os bens que garantem a sobrevivência, mas a inteligência vai muito mais além. Logo se aprende a desejar como bem aquelas coisas que servem para conseguir os bens primários. Por exemplo, o dinheiro não é comestível, mas pode proporcionar comestíveis; nessa medida é um bem. Para descobri-lo, necessita de um raciocínio elementar: um animal é incapaz de captar a relação entre dinheiro e comida, por isso não deseja o dinheiro; por outro lado, a criança muito cedo é capaz de entender essa relação e começa a querer o dinheiro como um bem, ainda que não possa comê-lo. Essa relação não consegue descobrir o instinto, é captada pela inteligência. Linguagem • a mãe deve cuidar dos filhos. • o ser humano é um ser tal que necessita para seu completo desenvolvimento da atenção não apenas material mas espiritual dos seus pais.