É no interior do coração
que se encontram os caminhos...
Recentemente,
a agência espacial
norte-americana,
NASA,
enviou ao espaço
a sonda Phoenix.
O envio, como de
costume, foi
precedido por
longas décadas de
dedicação de uma
numerosa equipe
formada por muitos dos
melhores cientistas da
humanidade.
A sonda ganhou o nome Phoenix,
pois, assim como a ave mitológica
que surge das cinzas,
foi montada unindo as melhores peças de
diversas sondas anteriormente construídas.
No dia do seu
lançamento,
Peter Smith, o
cientista que
comanda a missão,
comemorou:
“A Phoenix voou.
Estamos a caminho
de Marte!”
A cápsula percorrerá 679 milhões de quilômetros
a uma velocidade de 20.300 km/h.
Ela deverá aterrissar no planeta vermelho no dia
25 de maio de 2008, com a missão de estudar
características do solo marciano.
A sonda utilizará um braço robótico para recolher
amostras de solo da superfície marciana.
Uma câmera enviará aos cientistas
imagens de alta resolução.
O laboratório da Phoenix inclui oito fornos para
assar as amostras, de modo que um dispositivo
possa analisar os gases vaporizados.
Que grandes maravilhas
é capaz de realizar
a mente humana...
Quanta coisa há
para se ver,
para se reparar.
Seja no espaço,
seja no chão firme
em que pisamos.
Enquanto a sonda
Phoenix flutua pelo
espaço...
...numa ruela de
uma favela,
este pequenino
garoto toma seu
banho.
No mundo,
2,4 bilhões de
pessoas não
têm acesso ao
saneamento básico.
Esgotos que
correm a céu aberto.
Falta de água
potável.
1,2 bilhão vivem
com menos de um
dólar por dia.
Dor, sofrimento,
doenças e mortes.
Preciosas vidas
ceifadas pela
miséria.
Triste banho,
tristes tempos.
Estes são
dias desleais...
Enquanto a sonda
Phoenix segue seu
caminho...
...o mundo nega a
multidões de excluídos
o mínimo de justiça
e dignidade.
Garoto palestino.
Campo de refugiados
de Khan Younis,
na Faixa de Gaza.
Na Faixa de Gaza,
assim como em
inúmeros outros lugares
do mundo, impera a
pobreza extrema.
A maioria das famílias
tem apenas uma única
refeição diária,
reduzida, não raramente,
a um pouco de chá e
uma fatia de pão.
A vida pode ser cruel.
A vida pode ser dura.
A sonda Phoenix
flutua suavemente...
...enquanto esta menina
africana, debilitada pela fome,
recebe alimentação
terapêutica das mãos de
sua sofrida mãe.
A cada ano,
meio milhão
de crianças
ficam cegas ou
parcialmente cegas
devido à deficiência
de vitamina A.
A cada
quatro segundos
uma pessoa morre de
fome no mundo.
1, 2, 3, 4.
Mais um adeus,
outra triste despedida.
A vida é frágil.
A vida pode ser dura.
E Phoenix segue, abrindo
seu caminho pelo
espaço...
...enquanto multidões de
crianças, vítimas do
descaso e das guerras,
se esforçam para
aprender a ler,
a escrever.
As nações ricas zelam pelas suas crianças,
valorizando o conhecimento e a educação.
E, assim, se tornam cada vez mais ricas.
Enquanto que as guerras e
a corrupção política
impedem o acesso
universal a uma
educação de qualidade
em tantos tristes países.
Phoenix segue sua
jornada no silêncio
da noite.
Meninas e meninos
dormem na calçada,
ignorados e abandonados
pela sua pátria,
pela sua sociedade.
Quão triste deve ser
fazer da calçada cama,
e de pedaços de cartolina,
travesseiros,
cobertores e lençóis...
Que sorte grande
tiramos nós,
- os abençoados
pelo destino -,
contemplados com
um teto, paredes,
cama, cobertores,
travesseiros, lençóis...
Algum dia ainda
aprenderemos
que a calçada não
é um lar digno,
que a rua não é
uma boa escola,
e que, dentre todas
as coisas, a mais
primordial é
proteger a infância.
Algum dia finalmente
descobriremos
a diferença entre olhar e ver,
e entre ver e reparar.
“Se podes olhar, vê.
Se podes ver, repara.”
Livro dos Conselhos
Se podes olhar, vê.
Se podes ver, repara.
Phoenix já vai bem longe,
e finalmente pousará
suavemente em Marte.
Enquanto isso,
aqui em baixo,
na Terra...
Frágeis mãos
pedem,
pequeninos olhares
imploram,
sofridos corações
se desesperam.
Humanidade
Bondade
Justiça
Comida
Amor
Dignidade
Será que
estão a pedir
demais?
Que mundo é
este que
construímos?
Estes são
dias desleais...
Qual o significado
da palavra
humanidade?
Em 1948, foi assinada a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, um dos
documentos básicos das Nações Unidas.
Em 1998, cinqüenta anos após a
assinatura, o escritor José Saramago
lembrava que nem os governos,
nem nós, cidadãos que somos,
temos cumprido o nosso dever.
“Neste meio século não parece que
os Governos tenham feito pelos
direitos humanos tudo aquilo a que
moralmente estavam obrigados.
As injustiças multiplicam-se,
as desigualdades agravam-se,
a ignorância cresce,
a miséria se alastra.”
“A mesma esquizofrênica humanidade, capaz
de enviar instrumentos a um planeta para
estudar a composição das suas rochas,
assiste indiferente à morte de milhões de
pessoas pela fome.
Chega-se mais
facilmente a Marte
do que ao nosso próprio
semelhante.”
José Saramago
Enquanto isso, muitos
dos mais brilhantes
cientistas da humanidade
gastam suas vidas
e despendem
incalculáveis fortunas
para alcançar
as estrelas.
O primo rico
dentre as nações,
- que melhor poderia
buscar meios de
minimizar o sofrimento
no planeta -,
fecha os olhos,
recusando-se a enxergar
que um laço de
parentesco une a todos
os homens.
Porém, existem,
ainda bem, aqueles
que estão atentos,
aqueles que têm
olhos que enxergam,
corações que sentem...
Recentemente, um
turista europeu esteve
visitando a Índia.
Ele nos conta que, dentre as
diversas cenas que testemunhou
durante a viagem,
uma em particular chamou sua
atenção de modo especial...
Estas duas crianças na calçada
manifestando uma alegria sem igual,
uma incontrolável euforia.
Para matar a sua curiosidade,
o turista se dirigiu à senhora
que estava na entrada da casa,
a mãe das crianças.
À pergunta sobre a razão de
tamanha alegria, ela respondeu:
“É que hoje é dia de arroz
branco. E é tão raro termos um
pouco de arroz por aqui...”
Para aqueles acostumados a se alimentar
com um punhado de farinha e água,
uma mão-cheia de arroz é tida como
um verdadeiro banquete...,
...motivo de
incomensurável
alegria.
“Ama e faz o que quiseres.
Se tiveres o amor enraizado em ti,
nenhuma coisa senão o amor serão
os teus frutos.”
Santo Agostinho
Existem estrelas,
e existem corações.
A nós não compete
zelar pelas estrelas,
mas sim
pelos corações.
É no interior
dos corações
que os caminhos
se encontram...
Lembre-se do ensinamento
bíblico que diz:
É preciso mudar
o coração de pedra
em coração de carne.
E o que significa
mudar o coração de pedra em
coração de carne?
“Ó amigo, o coração é a morada
de mistérios eternos;
não o faças lar de fantasias fugazes.
Não dissipes o tesouro da
tua vida preciosa
com as ocupações deste
mundo efêmero...”
“Vens do mundo da santidade,
não prendas à terra teu coração.
És habitante da
corte da proximidade,
não escolhas o pó
para tua pátria.”
Bahá’u’lláh
(em ‘Os Sete Vales’)
“Sobre tudo o que se deve guardar,
guarda o teu coração,
porque dele procedem
as fontes da vida.”
Provérbios, 4-23
Formatação: [email protected]
Música: Meditation, opera Thais (J. Massenet)
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É no interior do coração que se encontram os caminhos