Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos
Contemporâneos e Demandas Populares
Conhecer a pessoa com deficiência intelectual
para promover sua autonomia e independência
Márcia Denise Pletsch
[email protected]
Algumas premissas iniciais....
“O adulto é um organizador das condições para que o conteúdo (conceitos científicos) sejam
apropriados pela criança”.
‘Só ocorre aprendizagem quando o conteúdo produz na criança uma experiência interior positiva”
.
“Se não conheço o aluno, não é possível educá-lo” (BEATÓN, 2013)
O estudo da deficiência na perspectiva da teoria histórico-cultural defende “ o auxílio na criação
de instrumentos culturais especiais e adaptados à estrutura psicológica da criança com
deficiência, bem como a utilização de procedimentos pedagógicos especiais que levem esta
mesma criança a dominar o uso dos instrumentos” (NETTO & LEAL, 2013, p. 77-78).
OBJETIVOS

refletir sobre os processos de ensino e aprendizagem de alunos com deficiência
intelectual e que práticas educacionais podem favorecer a autonomia e
independência desses sujeitos.

analisar o uso de diferentes estratégias e instrumentos avaliativos e ferramentas
externas da tecnologia assistiva ou/não para promover aos sujeitos a aprendizagem
de conceitos científicos necessários para o desenvolvimento dos mesmos.
A avaliação de pessoas com DI na contemporaneidade....
algumas reflexões....
 Os dados evidenciaram que os alunos com deficiência intelectual tem sido os mais
prejudicados nas avaliações escolares. Muitas vezes os alunos são avaliados de forma
restritiva no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem.
 Com frequência, enfatizam-se aspectos relacionados ao desenvolvimento de
atividades como recortar, pintar, colar e outras, que não envolvem conhecimentos
abstratos e generalização, próprios da construção de conceitos científicos para usar
um termo de Vigotski.
 Inúmeros alunos sem qualquer deficiência foram avaliados como DI e registrados no
sistema do EDUCACENSO, camuflando assim as estatísticas oficiais.
 Os dados revelaram também que muitas redes em decorrência de contradições na
avaliação pedagógica acabaram formando turmas denominadas de “EJA especial”,
majoritariamente compostas por alunos com deficiência mental.
 Ainda não está claro por que tais turmas foram constituídas. Uma hipótese é a de
que esses alunos sempre estudaram em escolas e/ou classes especiais, mas para
atender diretrizes oficiais pró-inclusão escolar, as redes formaram turmas de EJA.
Outra hipótese é a de que esses alunos estavam incluídos, mas por não
acompanharem as turmas regulares no ensino fundamental ou médio acabaram
sendo encaminhados para a “EJA especial”. Outra questão que verificamos é que
esse alunado acaba sendo registrado nos dados oficiais como estudantes de EJA, e
não como alunos da Educação Especial.
Obs: O crescimento de matriculas de alunos com deficiência, particularmente com
deficiência mental/intelectual, foi destacado também na pesquisa de Campos & Duarte
(2011), Meletti & Bueno (2011) e Gonçalves (2012).
 Na prática, e maior parte das redes de ensino, continua mantendo escolas e/ou
espaços especiais que são, na maioria das vezes, responsáveis pela avaliação
pedagógica e, em alguns casos com apoio de profissionais da saúde, pela confecção
do laudo de identificação da deficiência, que continua sendo usado largamente como
parâmetro para o encaminhamento dos alunos com DI aos diferentes atendimentos
educacionais.
 Focado em concepções terapêuticas, o laudo tende a prejudicar o trabalho
pedagógico/intervenção com esses sujeitos, uma vez que muitos profissionais
privilegiam o déficit e as características biológicas da deficiência em detrimento das
possibilidades de desenvolvimento dessa pessoas.
 Essa concepção acaba reproduzindo modelos históricos de avaliação em que o erro é
visto de forma negativa, como resultado do não conhecimento, do não saber dos alunos.
Nessa mesma linha de raciocínio os alunos são comparados entre si sem levar em
consideração as singularidades de cada um.
Obs: As conclusões da pesquisa ratificam o que diversos trabalhos já mostraram (KASSAR,
1995; PLETSCH, 2010, 2012; OLIVEIRA, 2011; ANACHE, 2011, GLAT & PLETSCH, 2013; entre
outros).
 Outro aspecto constante nas entrevistas é a falta de clareza sobre como realizar a
avaliação e a identificação dos alunos com deficiência, especialmente os deficientes
mentais.
 Essa falta de clareza pode comprometer significativamente o trabalho com essas pessoas
como foi mostrado no caso do aluno João.
 A participação de alunos com deficiência intelectual em avaliações como IDEB.
Quem é o aluno com deficiência intelectual?
De acordo com a Associação Americana de Deficiência
Intelectual e desenvolvimento (AADID, 2010):
“a deficiência intelectual se caracteriza por limitações
significativas tanto no funcionamento intelectual como na
conduta adaptativa, assim como
nas habilidades
adaptativas, conceituais, sociais e práticas. Esta
deficiência tem inicio antes dos 18 anos (p. 25)”.
AADID 2010
AARM 2002
AADID 2010
Versão em Espanhol
Como ocorre o desenvolvimento do aluno com DI?
na perspectiva histórico-cultural.....
Origem histórico-cultural
Origem biológica
Estruturas elementares são:
(reflexos, reações automáticas,
associações simples, entre
outros) condicionadas
principalmente por
determinantes biológicos.
Processos psicológicos
superiores
Referem-se
aos
processos
que
caracterizam
o
funcionamento
psicológico tipicamente humano, como,
por exemplo, atenção, memorização,
pensamento abstrato, resolução de
problemas,
etc).
São
aqueles
relacionados
ao
processo
de
internalização de conceitos científicos.
Isto é....
Para esse autor o ser humano nasce apenas com recursos biológicos, mas
com a convivência social, com seus valores e sua cultura, esses recursos
concretizam o processo de humanização (de desenvolvimento humano),
essencialmente possível por meio do processo ensino-aprendizagem.
Essas estruturas por sua vez são construídas e (re)construídas com
base no uso de instrumentos e de signos ao longo de toda a vida do
sujeito.
Os instrumentos são elementos externos ao
indivíduo usados para alcançar objetivos
Por exemplo, o uso do material dourado pela criança na resolução de problemas
matemáticos constitui um instrumento que mediará o processo de apreensão das
operações matemáticas.
Os signos são representações internas sobre objetos, por
exemplo, os números são signos usados para representar
quantidades. Podemos citar também a linguagem (oral, gestual,
escrita), o desenho, etc.
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CONCEITO DE
COMPENSAÇÃO DA
DEFICIÊNCIA
DESENVOLVIMENTO HUMANO NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL – Essa estrutura produz o
desenvolvimento em movimento como espiral
SOCIAL/CULTURAL
BIOLÓGICO
PSICOLÓGICO
Compensação e correção
Ex. uso do óculos
O sistema Braille – por meio dele é possível
uma nova forma de desenvolvimento.
DIFERENTES INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
 Testes padronizados (aqueles citados no Manual da AADID).
 O Referencial sobre Avaliação da Aprendizagem na área da Deficiência
Intelectual/Ensino Fundamental I (SÃO PAULO, 2008) (OLIVEIRA, 2008; VALENTIM,
2011; OLIVEIRA et al, 2012).
 Inventário de habilidades (PLETSCH, 2009).
EIXOS QUE ENVOLVEM A
AVALIAÇÃO DA PESSOA COM DI
Avaliação
pedagógica/
diagnóstica
Impactos da
avaliação na
organização do
suporte
educacional
Impactos da
avaliação na
organização do
suporte laboral
Triangulação
dos dados
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 Em síntese, para superarmos as implicações das diferentes esferas que envolvem a
avaliação, seja ela pedagógica ou diagnóstica, é preciso investir na formação de
professores e de profissionais de saúde. Assim, como fomentar o diálogo entre os
mesmos.
 Ademais, é preciso garantir aos nossos profissionais conhecimentos teóricos sólidos que
possibilitem aos mesmos a elaboração de instrumentos/práticas avaliativas coerentes com
as demandas individuais de cada sujeito com DI. Isto é, para avaliar pessoas com
deficiência intelectual é preciso avaliar o seu processo a partir dela mesmo e não
comparando com outros sujeitos com a mesma deficiência ou não.
 Por fim, entendemos que as avaliações pedagógicas/diagnósticas
sistematizadas devem fundamentar a elaboração de objetivos a serem
alcançados pelas pessoas com deficiência intelectual e quais os recursos
(tecnológicos ou humanos) serão necessários para atingi-los nos diferentes níveis
educacionais, sociais e/ou laborais. Ou seja, a avaliação é empregada como um
recurso para fornecer elementos para planejar a intervenção com vistas a
responder as singularidades e possibilidades de cada sujeito.
Para finalizar algumas reflexões......
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Márcia Plestch - Uniapae-MG