Biblioteca para crianças
e mediação da
informação
Paula Azevedo Macedo
Orientação: Ivete Pieruccini
ECA-USP
Biblioteca para crianças e
mediação da informação
 Relações entre Biblioteconomia e
Educação
 Interesse: vivência familiar com
professoras de educação infantil.
 Desinteresse pela leitura/escassez de
leitores na realidade brasileira
 Crise de leitura
Biblioteca para crianças e
mediação da informação
 Área da Pedagogia e Psicologia –
desenvolvimento – Vigotsky e Paulo
Freire
 Biblioteca como local de difusão/acesso
= modelo de ensino preocupado em
fornecer conteúdos.
Educação Bancária – Paulo
Freire
 A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os
educandos à memorização mecânica do conteúdo
narrado. Mais ainda, a narração os transforma em
“vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo
educador. Quanto mais vá “enchendo” os recipientes
com seus “depósitos”, tanto melhor educador será.
Quanto mais se deixem docilmente “encher”, tanto
melhores educandos serão.
 Desta maneira, a educação se torna um ato de
depositar, em que os educandos são os depositários e
o educador o depositante.(FREIRE, 1987, p.33)
Educação Dialógica –
Martin Buber
 o objetivo primordial da Educação é
tornar presente a essência da nossa
existência: a relação é um momento
mais que cognitivo e racional, pois
engloba dimensões outras, como a
afetividade, a sensibilidade, a
espiritualidade, a intuitividade
Educação Dialógica –
Martin Buber
 Para auxiliar a realização das melhores
possibilidades existenciais do aluno, o
professor deve apreendê-lo como esta pessoa
bem determinada em sua potencialidade e
atualidade, mas explicitamente, ele não deve
ver nele uma simples soma de qualidades, de
tendências e obstáculos, ele deve
compreendê-lo como uma totalidade e afirmálo nesta sua totalidade.
(BUBER, 1979, p.150-151, apud MOTA NETO e BARBOSA, 2005, p.8).
OBJETIVOS
 Geral: Conhecer o papel das bibliotecas para
crianças nos processos de mediação da
informação tendo em vista a apropriação
simbólica.
 Específicos: Levantamento de referência sobre
mediação da informação em bibliotecas com crianças
em educação infantil.
 Específicos: Conhecer novas propostas voltadas à
mediação da informação em bibliotecas para crianças
que favoreçam a apropriação simbólica.
Metodologia
Foram realizadas pesquisas em fontes informacionais:
 a)- base de dados Dedalus, em especial no acervo da
Escola de Comunicações e Artes (ECA) e da Faculdade de
Educação (FE) da Universidade de São Paulo, tendo em
vista identificar os títulos de livros pertinentes à temática em
causa;
 b)- base Scielo, buscando fontes atuais acerca da questão
discutida
 c)- Banco de Teses e Dissertações da USP, com vistas a
conhecer a existência de pesquisas de interesse, ligadas ao
atem;
 d)- Sites de busca da internet, em especial o “Google”,
visando capturar produções em circulação num circuito, não
necessariamente acadêmico, eventualmente mais focado em
experiências profissionais de interesse.
Fundamentos Teóricos:
1. Mediação
 Segundo o dicionário Houaiss (2001,
p.1876) da língua portuguesa, o termo
mediação vem do latim mediatione que
significa intercessão, interposição,
intervenção.
Fundamentos Teóricos:
1. Mediação
 O processo de mediação pode ser
tomado, como capaz de gerar um
produto diferente daquele emitido,
pressupondo uma ação entre dois
vetores, nem fruto de uma ação passiva,
nem de transmissão.
Fundamentos Teóricos:
1. Mediação
 Para Marx a essência humana está intimamente
ligada no conjunto das relações sociais em que
cada pessoa se insere. Essas relações são
mediadas pelas relações que o homem mantém
com a natureza, designada como “lugar da
prática humana”. Nessa perspectiva, a situação
de mediação seria responsável pela atribuição de
sentido ao Mundo, de modo que “a expressão
de mediação é, pois, uma dimensão de
interação de Homem e Realidade”. (MEIER e
GARCIA, 2007, p.51-52).
Fundamentos Teóricos: 1.
Mediação – Apropriação simbólica
 Entendemos, apropriação simbólica como a
internalização, por parte do indivíduo, do
aparato simbólico dos elementos que
constituem a marca cultural específica do
espaço social do qual ele faz parte. É o ato de
tornar seu aquilo que é de domínio também de
outros indivíduos da comunidade da qual se
faz parte, um bem público. (AUGEL, 2007, p.183).
Fundamentos Teóricos:
1. Mediação – Linguagem
 Nesse quadro, como processo cultural e
histórico, a mediação é constituída pelo
conjunto de elementos, de ordem
material e/ou simbólica, acumulado pela
sociedade que atua nas relações sujeitomeio, com especial destaque para a
linguagem:
Fundamentos Teóricos:
2. Infância, mediação e significação
 O desenvolvimento da mente humana,
segundo Bruner (1997) está ligado à
construção de significados construídos
pelos seres humanos na relação em que
estabelecem com o meio. Os significados,
na infância, são construídos, assim, a partir
dessa interação, da relação com o outro. É
por meio do contato com seu grupo que a
criança faz as associações e compartilha
com o mundo seus significados.
Fundamentos Teóricos:
2. Infância, mediação e significação
Mediação Cultural
 Mediação cultural é forma essencial e
imprescindível às relações entre produtores e
receptores culturais, cujos circuitos respectivos
encontram-se distanciados. (Coelho 2004, p.248)
 Importância dos serviços de informação e cultura
na contemporaneidade - “quando formas de
relação ‘espontânea’ com a cultura são cada vez
mais substituídas por forma intermediada por
organizações como museus, bibliotecas, meios
de comunicação de massa, entre outros.”
(Pieruccini 1999, p.64)
Fundamentos Teóricos:
2. Infância, mediação e significação
Mediação Cultural
 Para Martin-Barbero, os serviços
culturais devem abranger mais que um
simples fator intermediário entre a cultura
e as pessoas, tendo em vista superarem
a condição de meros espaços difusores
de conteúdo.
Fundamentos Teóricos:
2. Infância, mediação e significação
Mediação Cultural
 Nesse momento a comunicação cultural deixa de
assumir a figura do intermediário entre criadores e
consumidores para assumir a tarefa do mediador que
atua na abolição das barreiras e das exclusões
sociais e simbólicas, no deslocamento do horizonte
informativo das obras para as experiências e as
práticas e na desterritorialidade das múltiplas
possibilidades da produção cultural. É óbvio que a
nossa proposta não é a de uma política que
abandone a ação de difundir ou dar acesso às obras
e, sim, a de crítica a uma política que faz da sua
difusão o seu modelo e a sua forma. (Martin-Barbero, 1993
apud ALMEIDA, 2007, p.7)
Fundamentos Teóricos:
2. Infância, mediação e significação
Mediação Cultural
 Biblioteca como dispositivo de informação e
cultura, cuja forma de atuar, caracterizada pelo
paradigma de mediação cultural, tornará possível
a queda das barreiras entre o ambiente
culturalmente estruturado e a formação do
indivíduo.
 Proposta dialógica - bibliotecas escolares/infantis
demandam características capazes do
estabelecimento de relações entre os quadros
culturais dos grupos envolvidos e os repertórios ali
disponibilizados, como condição à compreensão
do significado e à apropriação da biblioteca pelas
crianças.
Fundamentos Teóricos:
3. Educação de crianças e biblioteca
 Diretrizes para serviços de biblioteca
para crianças - International Federation
of Library Associations (IFLA).
 Manifesto para a Biblioteca Escolar
(1999) – IFLA/UNESCO
Fundamentos Teóricos:
3. Educação de crianças e biblioteca –
Manifesto IFLA/UNESCO da Biblioteca Escolar
 Apoiar e intensificar a consecução dos objetivos
educacionais definidos na missão e no currículo da
escola
 Desenvolver e manter nas crianças o hábito e o
prazer da leitura e aprendizagem, bem como o uso
dos recursos da biblioteca, ao longo da vida.
 Oferecer oportunidades de vivências destinadas à
produção e ao uso da informação voltado ao
conhecimento, à compreensão, à imaginação e ao
entretenimento
Fundamentos Teóricos:
3. Educação de crianças e biblioteca –
Manifesto IFLA/UNESCO da Biblioteca Escolar
 Apoiar os estudantes na aprendizagem e prática
de habilidades para avaliar e usar a informação,
em suas variadas formas, suportes ou meios.
Incluindo a sensibilidade para utilizar
adequadamente as formas de comunicação com a
comunidade onde estão inseridos
 Prover acesso em nível local, regional, nacional e
global aos recursos existentes e às oportunidades
que expõem os aprendizes a diversas idéias,
experiências e opiniões.
 Organizar atividades que incentivem a tomada de
consciência cultural e social, bem como de
sensibilidade.
Fundamentos Teóricos:
3. Educação de crianças e biblioteca –
Manifesto IFLA/UNESCO da Biblioteca Escolar
 Trabalhar em conjunto com estudantes,
professores, administradores e pais, para o
alcance final da missão e dos objetivos da escola
 Proclamar o conceito de que a liberdade
intelectual e o acesso à informação são pontos
fundamentais à formação de cidadania
responsável e ao exercício da democracia.
 Promover leitura, recursos e serviços da biblioteca
escolar na comunidade escolar e ao derredor
Fundamentos Teóricos:
4. Infoeducação
 Na chamada Sociedade da Informação a marca
característica é o excesso, a velocidade, a fragmentação e a
mediatização da informação.
 Recebemos quantidades imensas de informação, ao mesmo
tempo que produzimos e disseminamos doses significativas
de dados, em períodos cada vez mais curtos, com poucas
possibilidades de reflexão, ou seja, de “ruminação”, de poder
parar para pensar sobre o que as informações significam.
 Da mesma forma, ao estarmos conectados ao mundo virtual,
somos bombardeados por informações produzidas em
contextos que desconhecemos, recebendo conteúdos em
tempo real, sobre diferentes questões e eventos, muitas
vezes sem elementos para significar o que estamos vendo
ou ouvindo
Fundamentos Teóricos:
4. Infoeducação
 Em consequência, é preciso ter acesso e
apropriar-se de ferramentas e referências que
ajudem o indivíduo a buscar as informações
relevantes dentro do excesso de informações de
forma eficaz, bem como a reelaborá-las, como
condição de transformação do “cru em cozido”,
ou seja, de transformar a informação em
conhecimento, “uma vez que a apropriação dos
bens simbólicos não é ato simplesmente natural,
mas culturalmente construído.” (PERROTTI e
PIERUCCINI, 2007, p.53).
Fundamentos Teóricos:
4. Infoeducação - Definição
 Área de estudo, situada nos desvãos das Ciências
da Informação e da Educação, voltada à
compreensão das conexões existentes entre
apropriação simbólica e dispositivos culturais,
como condição à sistematização de referências
teóricas e metodológicas necessárias ao
desenvolvimento dinâmico e articulado de
aprendizagens e de dispositivos informacionais,
compatíveis com demandas crescentes de
protagonismo cultural, bem como de produção
científica, constituída sob novas óticas, nas
chamadas Sociedades do Conhecimento. (PERROTTI
e PIERUCCINI, 2007, p.91 )
Fundamentos Teóricos:
4. Infoeducação – Estação do Conhecimento
 A Estação do Conhecimento atua
como dispositivo voltado à apropriação
simbólica, condição de protagonismo
cultural, de afirmação e criação e não
simplesmente de consumo dos bens
culturais, situada nos campos teóricos e
práticos da informação e educação.
Fundamentos Teóricos:
4. Infoeducação – Estação do Conhecimento
 As Estações de Conhecimento abarcam funções
informacionais e educativas atentando-se para os
novos saberes e fazeres próprios da Era da
Informação. Podem estar sob a forma de
bibliotecas escolares, salas de leituras, cantos de
leitura, sala de aula, laboratório de informática,
mas que estão desenvolvidos de forma
sistemática e organiza com projetos voltados para
aprendizagem informacional.
Fundamentos Teóricos:
4. Infoeducação – Infoeducador
 Esse profissional não vem, para substituir
professores ou bibliotecários, ele tem outras
funções no processo educativo que se enquadra
nas características próprias de nosso tempo, da
Sociedade da Informação, ele é “mediador de
processos de apropriação cultural, envolvendo
conceitos, práticas, organização e mobilização de
processos e recursos informacionais que são de
seu domínio exclusivo.” (PERROTTI e VERDINI, 2008,
p.25).
Considerações Finais
 Este trabalho buscou problematizar o
processo de construção de
conhecimento, sobretudo nas bibliotecas
infantis, sob o paradigma da apropriação
simbólica.
Considerações Finais
 As bibliotecas para criança precisariam
superar o papel de instâncias voltadas
apenas à disponibilização de
informações, em geral livros, para se
constituírem como dispositivos capazes
de educar para a informação.
Considerações Finais
 Na Infoeducação encontramos proposta
compatível e pertinente com as novas
necessidades informacionais
contemporâneas – o aprender a informar
e informar-se, tendo em vista o
protagonismo cultural
Considerações Finais
 Estação do Conhecimento - materializa
os objetivos da Infoeducação,
propiciando espaços para a apropriação
simbólica da cultura humana.
Referências
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VYGOTSKY, Lev Semenovich. Formação social da mente. 7.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
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