Conatus e Processo Sucessório: Limites e Possibilidades à Continuidade da Empresa Familiar Autoria: Roseane Grossi Silva, Vivian Duarte Couto Fernandes, Marcia Freire de Oliveira, Cristiano Camargo, Guilherme Menegatto Rodrigues, Lenise Marques Garcia Resumo Este artigo tem como objetivo analisar como o conatus interfere na continuidade da empresa familiar. O conatus é um termo utilizado por Bourdieu (1997) para se referir a um projeto do pai transmitido para o filho, usado neste artigo para designar o projeto familiar estabelecido pelo fundador da organização visando a sua perpetuação. A pesquisa é aplicada e qualitativa, sendo um estudo multicasos. Os resultados apontam que o conatus interfere na continuidade das empresas familiares. As quatro empresas pesquisadas apresentaram aspectos associados à limites e possibilidades para a continuidade, sendo que tais aspectos se diferenciaram de uma organização para outra. 1 INTRODUÇÃO A sociedade passa por transformações em âmbito econômico e social, gerando condições associadas à constituição da empresa de base familiar. Transformações econômicas, que levam à geração de desemprego, promovem oportunidades para a abertura de empresas familiares. No âmbito social, a empresa familiar representa fonte de emprego e melhoria da distribuição de renda (CRAIDE, 2005; CRAIDE et al.2008). O fundador da empresa familiar é quem teve uma ideia e a colocou em prática, envolvido por um desejo de empreender aquilo que representa um sonho. A empresa se constitui pela realização de um projeto que envolve a família e, também, a necessidade de sobrevivência, implicando na realização familiar (GRZYBOVSKI; TEDESCO, 1998). De acordo com Grossi (2010), no negócio de família, o dono é quem desempenha as funções administrativas, muitas vezes amparado pelos familiares. A empresa inicia o processo de crescimento e surgem múltiplos fatores que instigam e que limitam a continuidade da empresa. Os fatores que instigam podem ser competitividade; inovação; demanda de mercado favorável, sucesso no processo sucessório. Já os que limitam podem compreender, dificuldade do dono em delegar tarefas; falta de pessoal capacitado; ausência de recursos; falta de conhecimento do proprietário e, complicações na sucessão. Dentre os aspectos quem impactam a continuidade da organização familiar, a sucessão tem merecido discussões envolvendo a herança, desde o ponto de vista financeiro, até as motivações relacionadas às emoções e valores da família (LESCURA et al., 2010; CATER III; JUSTIS, 2010; LEONE; 1992; ESTOL; FERREIRA, 2006; LOZANO; URBANO, 2010; ROSSATO NETO; 2003; SHARMA; RAO, 2000). Há uma herança, que ocorre por meio de um projeto do pai que é transmitido para o filho. Este projeto é tratado por Bourdieu (1997) como conatus. De acordo com o autor, herdar é perpetuar o conatus, “aceitar fazer-se instrumento dócil desse ‘projeto’ de reprodução” (BOURDIEU, 1997, p. 9). Assim, o conatus pode ser usado para designar o projeto familiar estabelecido pelo fundador da organização visando a sua perpetuação, sendo transmitido aos herdeiros desde a infância (LESCURA et al., 2010). Conhecer os fatores que são possibilidades e que são limites ao desenvolvimento do ‘projeto’ da empresa familiar é fundamental para que os proprietários/gerentes e pesquisadores possam buscar uma melhor compreensão da realidade organizacional, a fim de possibilitar a continuidade dessas empresas. Com este propósito o objetivo desde artigo é analisar como o conatus interfere na continuidade da empresa familiar. Além desta introdução, o presente artigo é composto por mais quatro partes. Na primeira parte, que constitui o referencial teórico do artigo é abordado o processo sucessório, o conatus e as possibilidades e limites à continuidade da empresa familiar; na segunda parte é apresentada a metodologia. Na terceira parte é feita a análise e a discussão dos dados e por fim, na quarta parte, as considerações finais. REFERENCIAL TEÓRICO Processo sucessório e a continuidade da empresa familiar A empresa familiar tem recebido crescente interesse nas pesquisas acadêmicas, buscando compreender sua dinâmica – constituição, existência e legado (FERNANDES et al. 2012). A atenção dada a este tipo de organização é respaldada pela complexidade das relações estabelecidas, pois estão inseridos num mesmo ambiente os valores e crenças familiares, aspectos organizacionais (gestão), assim como a própria continuidade da empresa como parte de um projeto familiar e de vida, remetendo à sua origem. 2 Dentre os estudos acerca do tema, a análise das empresas familiares é vista pela relação com a sucessão e os processos desencadeados a partir desta perspectiva, sendo este um dos assuntos mais tratados por pesquisadores brasileiros (DAVEL; COLBARI, 2001, 2003; GRZYBOVSKI, 2007, MACHADO, 2005) e internacionais (AGUILERA; CRESPICLADERA, 2012; BROCKHAUS, 2004; LAM, 2011; PYROMALIS; VOZIKIS, 2009). A particularidade existente no processo de gestão das empresas familiares caracterizase pelas interferências que as representações da família têm sob as práticas de gestão, da mesma forma com que a história da organização se confunde com a história da família (DAVEL; COLBARI, 2003; GARCIA; MOREIRA, 2008). Grzybovski (2007) argumenta que cada empresa familiar possui um modelo próprio de gestão, baseado em valores da família proprietária e na dinâmica do sistema de sucessão da empresa, influenciados por elementos de desenvolvimento econômico local. A identificação do gestor na complexa relação empresa-família-propriedade norteia a condução da organização. Neste sentido, flexibilidade, o resultado da gestão e o processo de sucessão estão diretamente relacionados à capacidade de diálogo e confiança da família, observando o objetivo comum entre fundador e sucessor, que é o sucesso da empresa – onde um quer passar o que sabe e construiu até o momento, e o outro quer se preparar para o que está por vir (FREIRE et al., 2010). No contexto da empresa familiar o processo sucessório é uma questão de grande preocupação, pois relaciona-se à sobrevivência e continuidade da empresa. De acordo com Gersick et. al. (1997) e Duh, Tominc e Rebernik (2009), tal processo originado seja pela morte do fundador, seja pela transferência de poder do sucedido ao sucessor, é um processo bastante peculiar na existência da organização familiar, sendo caracterizado pela transferência de poder na empresa entre uma geração da família e outra. O processo sucessório demanda análise tanto das perspectivas gerenciais quanto familiares (BROCKAUS, 2004), implicando ainda numa mudança estrutural no poder da organização, gerando novos arranjos organizacionais. Segundo Lodi (1987), a sucessão pode acontecer gradativamente, de forma planejada, ou repentinamente, como em casos de morte, acidente ou doença do fundador. Ressalta-se ainda, que o processo de sucessão envolve, além dos sujeitos familiares, os empregados que não são da família (LAM, 2011). Além disso, é considerado, muitas vezes, uma questão emocional que pode acarretar sérios conflitos no negócio (MERWE; VENTER; ELLIS, 2009; LAAKONEN; KANSIKAS, 2011). Objetivando a redução destes conflitos, Van Der Merwe, Venter e Ellis (2009), e Agullera e Crespi-Cladera (2009) argumentam que é preciso planejar a sucessão tão logo a geração mais jovem adentre ao negócio. Neste sentido, é fundamental que as questões acerca do processo sucessório sejam tratadas da forma mais racional e confortável possível, permitindo uma administração proveitosa do seu caráter pessoal e emocional. As mudanças ocorridas nos ambientes organizacionais, fruto da crescente dinâmica do mercado, são vistas também na empresa familiar, dada as alterações na composição da família e a distribuição de poder. A preparação para o processo sucessório acontece tanto de pai para filho(s), como de pai para filha(s), mãe para filha (s) ou filho (s), inexistindo uma regra que represente o preparo de sucessores (MACHADO, 2005). A partir de estudo realizado em organizações familiares brasileiras, Scheffer (2005) identificou cinco dificuldades em se proceder à sucessão nestas organizações, quais sejam: 1. Quando falta capacitação do herdeiro; 2. Quando as interações familiares são interpostas ao processo; 3. Quando o sucedido se recusa a deixar a organização; 4. Quando a rejeição advém dos funcionários mais antigos da organização; e 5. Quando o sucessor não se interessa por assumir a organização. 3 Portanto, a sobrevivência de uma organização familiar está diretamente relacionada ao seu processo sucessório, que não só reflete a continuidade da gestão, mas também da sua efetividade organizacional. Para Miller et al. (2003), a falta de alinhamento entre o passado e o futuro da organização reflete no fracasso de muitas destas organizações. Assim, o processo de sucessão é fundamental na vida da organização familiar, pois, além de transmitir a gestão e o patrimônio da organização, há ainda a transferência ideológica (LESCURA et al., 2010). Processo Sucessório e Conatus O processo sucessório na empresa familiar abrange uma série de questionamentos quanto à perpetuação do projeto familiar, na continuidade da empresa, nas perspectivas de herança ou do legado do fundador a ser sucedido – pai/antecessor – e do sucessor. Portanto, existe uma diversidade de fatores relacionados ao processo sucessório que variam desde aqueles que compreendem a herança, do ponto de vista financeiro, até as motivações familiares que envolvem as emoções e valores da família. É natural a participação dos filhos dos fundadores no dia a dia da organização, pois, geralmente, eles estão envolvidos desde a sua infância nas atividades do negócio (LESCURA et al., 2010; CATER III; JUSTIS, 2010). Assim, o início da construção da identificação com o negócio e a transmissão do projeto de vida, se dão também nesta fase. A empresa influencia na formação dos valores e identidade dos membros da família. Neste sentido, o fundador cumpre, conscientemente ou não, a função de perpetuar o projeto familiar, ao mesmo tempo em que busca despertar interesse no seu filho para a continuidade do negócio. Os filhos, por sua vez, são incentivados durante a infância a conhecer e aprender sobre o negócio, ainda que não tenham maturidade, ou consciência, para entender qual carreira profissional seguir (LEONE, 1992; LESCURA et al., 2010; CATER III; JUSTIS, 2010). A literatura deixa evidente a importância do acompanhamento do processo sucessório nas organizações, já que a sucessão é fundamental e complexa para as empresas pautadas no familiar, podendo gerar traumas de acordo com a maneira em que é conduzido e aceito pelos envolvidos (ESTOL; FERREIRA, 2006). O processo de sucessão é iniciado antes mesmo que o sucessor esteja na direção da organização, e o sentimento de pertencimento nasce no momento em que o sucessor cumpre um trabalho em tempo integral dentro da organização (LOZANO; URBANO, 2010). É na fase de pertencimento que se tem os primeiros indícios de que o sucessor cumprirá o processo de sucessão ou não, pois, se nesta fase ele mostrar-se satisfeito e executar responsavelmente as suas funções, provavelmente ele continuará na empresa. De acordo com Rossato Neto (2003) é natural que ocorra uma pressão sobre o herdeiro para que ele escolha a mesma carreira desenvolvida pelo pai. Permanecer por muito tempo junto ao pai reflete um sentimento de seguir o que já está determinado, como uma missão, e estes herdeiros podem se sentir em frustrados por não terem opção diferente daquela de seguir o projeto familiar (LODI, 1987; ROSSATO NETO, 2003). Se por um lado há o desejo do sucedido em perpetuar o projeto familiar na empresa, outro aspecto diz respeito ao herdeiro. Analisar o processo de sucessão a partir do ponto de vista do herdeiro é fundamental, pois ele é a peça chave para a continuação, ou não, da organização familiar, e para que a transição sucessória seja bem sucedida. Por isso, é preciso analisar as questões que envolvem a habilidade técnica e gerencial do sucessor, a sua vontade em dar continuidade ao negócio, o seu relacionamento com o sucedido e a sua ocupação nos contextos familiar e organizacional (BERNHOEFT, 1989; SHARMA; RAO, 2000). É possível verificar que em alguns casos, para que o sucessor seja aceito dentro do grupo, ele renega seus próprios valores, relega sua liberdade e anseios (BOURDIEU, 1997). 4 Isto ocorre porque o herdeiro sente a necessidade de continuar o projeto familiar, sentindo-se obrigado a suceder vitoriosamente o legado construído pela sua família. Por outro lado, o próprio fundador pode se considerar insubstituível na organização (VOZIKIS et al., 2009), menosprezando o sucessor, fazendo-o acreditar que é incompetente para assumir a gestão. Todos esses aspectos retratam como as “contradições da herança” resultam em uma infinidade de conflitos durante todo o processo de sucessão em organizações familiares (LESCURA et al., 2010). Na transmissão do legado familiar e perpetuação do projeto familiar que desencadeia a sucessão, o pai transmite aos filhos suas crenças e valores. Neste sentido, há uma transmissão, que é realizada por meio de um ‘projeto’ do pai para o filho. Este ‘projeto’ é tratado por Bourdieu (1997) como conatus. De acordo com o autor, herdar é perpetuar o conatus, “aceitar fazer-se instrumento dócil desse ‘projeto’ de reprodução” (BOURDIEU, 1997, p. 9). Assim, o conatus pode ser usado para designar o projeto familiar estabelecido pelo fundador da organização visando a sua perpetuação, sendo transmitido aos herdeiros desde a infância (LESCURA et al., 2010). A perpetuação do conatus surge a partir do interesse do sucessor em dar continuidade ao negócio familiar, que é o projeto dos pais, uma vez que em contatos iniciais com a empresa e a vida profissional de seus pais, ele se sente motivado para isso. A preparação ocorre quando os indivíduos ainda são crianças, como parte de uma “brincadeira”, e permanece durante a adolescência e vida adulta. Conforme Lescura et al. (2010) a perpetuação do conatus não significa apenas a continuidade da organização, mas a continuidade dos valores familiares No entanto, quando não ocorre a identificação do herdeiro pelo projeto dos pais, herdar este projeto familiar pode acarretar um processo que leva a contradições e sofrimentos de ambos os lados. E neste caso, o herdeiro, por não compartilhar os mesmos anseios, se vê numa situação em que não pode perpetuar o conatus. Conatus: limites e possibilidades à continuidade da empresa familiar A transmissão do conatus pode acontecer de maneira inconsciente, quando a própria maneira de ser do fundador é repassada ao herdeiro, ou de forma explícita, quando são realizadas ações educativas com o propósito de perpetuar a linhagem (BOURDIEU, 1997). O processo sucessório representa a transposição de um sonho, de um projeto de vida construído pelo fundador, que deposita no futuro herdeiro a responsabilidade de perpetuar o conatus (LESCURA et al., 2010). Entretanto, pode acontecer de o herdeiro possuir interesses e perspectivas diferentes deste projeto, capazes de interferir na continuação da organização. Segundo Bourdieu (1997) muitas pessoas sofrem por haver um descompasso entre as suas conquistas e as expectativas parentais que não podem nem satisfazer, nem repudiar. Os conflitos advindos do processo de sucessão não são incomuns, uma vez que este processo é delicado. Constantemente as organizações enfrentam diferenças no modelo de gestão entre o sucessor e o sucedido (GRZYBOVSKI, 2007). É recorrente, ainda, o fato de que o reflexo das questões emocionais não resolvidas no âmbito familiar seja transmitido ao processo sucessório sob a forma de vaidades, chantagens e disputas (BERNHOEFT, 1989). Para Lescura et al. (2010), estas disputas relacionam-se às diferentes características existentes entre o sucessor e o sucedido. Por vezes, o fundador caracteriza-se por uma figura menos profissionalizada e mais empreendedora, enquanto o sucessor tem uma identidade mais empresarial, profissional, flexível e descentralizadora (GRZYBOVSKI, 2007). Handler (1989) identificou duas dimensões do processo de sucessão fundamentais para se identificar sua eficácia: a satisfação com o processo de sucessão e a sua efetividade em si. Neste sentido, pesquisadores tem se esforçado para classificar os fatores que influenciam 5 potencialmente algumas ou ambas as dimensões, em um processo de sucessão (PYROMALIS; VOZIKIS, 2009). Pyromalis et al. (2006) desenvolveram uma proposta que sintetiza a literatura existente acerca destas duas dimensões. Para os autores, são cinco os fatores críticos de sucesso que podem influenciar o êxito do processo de sucessão em organizações familiares: (1) a propensão do fundador em se afastar da organização; (2) a disponibilidade do sucessor para assumir a organização; (3) as boas relações familiares e de comunicação; (4) o planejamento da sucessão e (5) a preparação e adequação do sucessor. Grande parte das pesquisas sobre o processo de sucessão nas organizações familiares trata de questões econômicas, como o crescimento da organização e fatores de sucesso, amparadas por uma natureza funcionalista. No entanto, “essas abordagens impedem uma melhor compreensão sobre a interação da família na relação cotidiana da organização e suas implicações no processo sucessório” (LESCURA et al., 2010, p. 5). Neste sentido, este trabalho parte de uma abordagem diferente da funcionalista para a discussão dos limites e possibilidades à continuidade da empresa familiar, identificadas no Quadro 1, relacionados ao processo sucessório. Considera-se um conjunto de intervenientes que emergem nesse processo, ligados à transmissão do conatus pelo fundador e a identificação do herdeiro ao conatus, como condições fundamentais para o êxito do processo de sucessão das organizações familiares. Quadro 1 – Limites e possibilidades à continuidade da empresa familiar LIMITES Falta de alinhamento entre o passado e o futuro da organização AUTORES Miller et al. (2003) POSSIBILIDADES Capacidade do sucedido em dialogar e ter a confiança da família AUTORES Pyromalis et al. (2006) Freire et al. (2010) Entender a sucessão como uma questão emocional Bernhoeft (1989) Grzybovski (2007) Merwe; Venter; Ellis (2009) Laakonen; Kansikas (2011) Planejamento da sucessão Pyromalis et al. (2006) Merwe; Venter; Ellis (2009) Aguillera; Crespi-Cladera (2009) Sucessão repentina, como nos casos de morte do sucedido Lodi (1987) Transmissão da gestão, patrimônio e ideologia Lescura et al. (2010) Falta de capacitação do herdeiro Interações familiares interpostas ao processo de sucessão Recusa do sucedido em deixar a organização; sentimento de ser insubstituível. Rejeição ao sucessor por parte dos funcionários mais antigos Falta de interesse do sucessor em assumir a organização Pressão familiar para que o filho assuma o negócio Scheffer (2005) Scheffer (2005) Atenção ao interesse pessoal, relacionamento com o sucedido e a ocupação do sucessor dentro da família e da organização Participação dos filhos na organização desde a sua infância Bernhoeft (1989) Sharma; Rao (2000) Lescuraet al. (2010) Cater III; Justis (2010) Bourdieu (1997) Scheffer (2005) Vozikiset al. (2009) Lescuraet al. (2010) Perpetuação dos valores familiares Bourdieu (1997) Lescura et al. (2010) Fernandes et al. (2012) Scheffer (2005) Satisfação e disposição em assumir por parte do herdeiro Handler (1989) Pyromaliset al. (2006) Lodi (1987) Scheffer (2005) Propensão do fundador a se afastar da organização Pyromaliset al. (2006) Lodi (1987) Rossato Neto (2003) Capacitação do sucessor Pyromaliset al. (2006) 6 Divergência de ideias entre sucessor e sucedido Grzybovski (2007) Lescuraet al. (2010) Fonte: Elaboração própria a partir da revisão de literatura METODOLOGIA Esta é uma pesquisa de natureza aplicada, pois, de acordo com Barros e Lehfeld (2000) tem como finalidade contribuir, de forma prática, para a solução de problemas concretos. Quanto à forma, trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo (MINAYO; SANCHES, 1993). O estudo multicasos foi utilizado como uma estratégia para alcançar o objetivo proposto. Triviños (1987, p. 133, destaque do autor), conceitua que “o estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente”, em que nem as hipóteses e os esquemas de inquisição estão inicialmente estabelecidos, o que torna as análises mais complexas na medida em que se aprofunda no assunto. O estudo multicasos (TRIVIÑOS, 1987, p. 136) consiste em “estudar dois ou mais sujeitos, organizações [...] sem necessidade de perseguir objetivos de natureza comparativa”. Os dados foram coletados por meio de entrevistas em profundidade, semiestruturadas, em quatro pequenas empresas da cidade de Uberlândia, compreendendo um restaurante (Empresa A), uma indústria e comércio de ressolagem de pneus (Empresa B), uma concessionária de motos (Empresa C) e uma fábrica de móveis para escritórios (Empresa D). As entrevistas, realizadas entre fevereiro e julho de 2012, foram gravadas e transcritas na íntegra. Na Empresa A, as entrevistas foram obtidas por depoimentos de seis pessoas: filho mais velho, filho do meio, esposa do filho, um garçom e dois cozinheiros. A empresa foi fundada pelos pais em 1990, que já tinha outro restaurante desde 1983. Os pais deixaram a empresa em 2000 para se dedicarem as atividades da fazenda da família e o restaurante passou a ser administrado pelos filhos, mais velho e o mais novo. Os pais ainda têm uma filha, mais nova, que não atua na empresa. Hoje a mãe vai com mais frequência ao restaurante que o pai, mas ambos não participam da tomada de decisão. Já na Empresa B, as entrevistas foram obtidas por depoimentos de quatro pessoas: filho mais novo, filho do meio, gerente de contas e gerente financeira. A empresa foi fundada em 1949 por um empresário que trabalhava junto com dois filhos. Em meados de 1985 a empresa entrou em dificuldade e mais dois sócios, que não têm grau de parentesco, entraram na empresa visando recuperar a organização. Em 1995 o fundador saiu da empresa e da sociedade, permanecendo os dois sócios que entraram em 1985. Atualmente os sócios não atuam diretamente na empresa e passaram a sociedade para o nome dos filhos, porém apenas o filho do meio atua na empresa. Não houve envolvimento dos filhos quando crianças na organização, pois eles passaram a participar das atividadesquando o fundador saiu, época em que já estavam adolescentes/adultos. O Filho mais novo é formado em Economia e atuou na empresa de 1998 a 2002. Ele assumiu a empresa por um pedido e necessidade do pai, que tinha uma fazenda em Mato Grosso e sentia dificuldades em gerenciar os dois negócios devido à distância. O filho mais novo não tinha intenção de continuar na empresa, pois estava envolvido com outras atividades. Assim, em 2003 o filho mais velho assumiu a empresa, permanecendo de 2003 a 2005. Ele não se interessava muito pela atividade e saiu para trabalhar com o filho mais novo. O Filho do meio, que possui ensino médio completo, assumiu a direção da empresa em 2005, cargo que ocupa até hoje. O pai, apesar de não atuar diretamente na empresa, sempre está presente e continua influenciando nas decisões. 7 Na Empresa C, as entrevistas foram obtidas por depoimentos de quatro sujeitos: pai, filho, filha e uma funcionária da empresa. O pai fundou a empresa em 1977 e após 35 anos na direção, resolveu que estava na hora de parar. Hoje ainda frequenta a empresa e eventualmente participa da tomada de decisões. A filha mais velha é formada em jornalismo e, a princípio, havia seguido essa profissão. No entanto, em 2007 iniciou suas atividades na empresa, após seu pai ter ameaçado vender a empresa caso os filhos não assumissem os negócios da família. O filho esteve presente na empresa desde a juventude, iniciando seu trabalho como operário na oficina. Atualmente, ambos atuam na gerência da concessionária, sendo a filha responsável pela supervisão da área de vendas e o filho pela parte de treinamentos e administração de pessoal. Na Empresa D, foram entrevistados três sujeitos: o pai, o filho e um funcionário. A empresa foi fundada em 1975 e, assim como na concessionária, o processo sucessório não foi algo planejado. O fundador tem três filhos (dois engenheiros e uma publicitária), porém foi o filho do meio quem assumiu os negócios espontaneamente. Hoje é ele quem está sob o controle total da organização. A interpretação dos dados coletados foi feita pela técnica de análise de conteúdo. Segundo Bauer (2002), a análise de conteúdo busca reduzir a complexidade dos textos e falas, pois trabalha no sentido de filtrar a classificação sistemática e a contagem de extensos volumes de texto, em uma descrição curta de características representativas do que se pretende descobrir. Para tanto, definiu-se duas categorias de análise, a partir da revisão da literatura, objetivando focar o olhar do pesquisador para pontos específicos, capazes de melhor revelar sobre o objetivo que se pretende atender, sendo elas: limites à continuidade da empresa familiar e; possibilidades à continuidade da empresa familiar. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS A partir da revisão de literatura e da coleta de dados foi possível conhecer como o conatus, segundo Bourdieu (1997), interfere na continuidade das empresas familiares analisadas. De acordo com o autor há no pai, o desejo de transmitir um “projeto” para o filho, que deverá dar continuidade ao que foi construído. Isso ocorre na medida em que o filho reproduz e aceita a perpetuação daquilo que está associado ao negócio da família. Este desejo pôde ser verificado nas 4 empresas analisadas. Na fala do fundador da empresa C e na fala de um dos filhos da empresa B, por exemplo, mostram como o desejo de perpetuar a empresa é um ‘projeto’ do pai, que precisa ser transmitido: Meus filhos não quiseram ainda me arrumar um neto. Minha filha também não. Então é uma preocupação que eu tenho, eu até brinquei com eles, falei “vocês começam a escolher um primo, tio, que vocês tem mais simpatia pra poder deixar pros parentes”... Falei de brincadeira pra ver se eles tomam a iniciativa (FUNDADOR – Empresa C). “[...] então ele sempre quis alguém é logico, ele queria uma sucessão” (FILHO 2 – Empresa B). Considerando a revisão de literatura e os aspectos associados aos limites e possibilidades para a empresa familiar, que estão associados ao conatus, pôde ser observado nas empresas analisadas os seguintes aspectos. Na empresa A foram encontrados os limites, tais como, Interações familiares interpostas ao processo de sucessão; Falta de interesse do sucessor em assumir a organização; 8 Divergência de ideias entre sucessor e sucedido; e Pressão familiar para que o filho assuma o negócio. Aí, um belo dia, assim, foi literalmente isso, eles chegaram e falaram “a partir de amanhã você vai continuar com o restaurante [...]” (FILHO 2). “[...] eu fico só como sócio, né, da empresa, mas não tomo iniciativa. [...] Não tem afinidade com a área, assim nunca teve [se referindo ao filho 1, que não se envolve ativamente no negócio da família] (FUNCIONÁRIO 3). “[...] então muitas coisas que [o pai] não concordava... [o pai] é muito sabe... eu acho que eles não se batiam muito bem não” [funcionário se referindo a relação entre o pai e o cônjuge de um dos herdeiros] (FUNCIONÁRIO 4). Já para as possibilidades, as falas remetem à Capacidade do sucedido em dialogar e ter a confiança da família; Planejamento da sucessão; Participação dos filhos na organização desde a sua infância; Satisfação e disposição em assumir por parte do herdeiro; Propensão do fundador a se afastar da organização; e Capacitação do sucessor. [...] eu tinha 5 anos e ajudava meus pais em algumas atividades, e aquilo começou como uma brincadeira né,.. Como eu te falei não foi uma coisa imposta, mas uma brincadeira, uma vontade que a gente tinha de as vezes de brincar mexer com comida...” (FILHO 2). “[...] já era uma coisa que eu queria fazer... [...] Exatamente, porque a... eu sempre gostei de trabalhar com isso. Tanto que desde pequeno e mesmo na adolescência minha eu ajudava os meus pais. Isso era uma característica minha. Então acho que foi juntar a fome com a vontade de comer. Acho que foi isso (FILHO 2). [...] o meu pai, por exemplo, depois que ele saiu, ele continuou com os negócios dele na fazenda (FILHO 2). O Filho 2 tem essa afinidade, sempre teve. [...] então ele tem muita finidade com o ramo [competência, capacitação], é por isso que ficou pra ele mesmo(FUNCIONÁRIO 3). Na empresa B foram encontrados os seguintes limites: Falta de interesse do sucessor em assumir a organização; Pressão familiar para que o filho assuma o negócio; Divergência de ideias entre sucessor e sucedido; e Rejeição ao sucessor por parte dos funcionários mais antigos. [...] que ele voltou a ficar aqui e eu vi que eu dava conta de sair nunca tinha expectativa de ficar, não era a minha praia (FILHO1). Divergência de visão. Ele tinha uma visão muito conservadora que é o estilo dele, e eu uma visão muita agressiva (FILHO1). E ele falou ‘’não você esta ficando muito longe de mim, esse trem não vai dá certo não, o que ele tá te pagando lá eu te pago aqui, pode vim trabalhar comigo.’’ (FILHO 2). [...] foi problema com o nosso gerente hoje, eles não coincidiram (FILHO 2). Em se tratando das possibilidades, as falas remetem à Capacitação do sucessor; Transmissão da gestão, patrimônio e ideologia; Propensão do fundador a se afastar da organização; e Satisfação e disposição em assumir por parte do herdeiro. 9 O Filho 1 possuía um conhecimento de gestão aprimorado (FUNCIONÁRIO). [...] quando o Filho 3 chegou já tava bem preparado, e meu pai ficou com ele na época. Então meu pai fez uma base de transição junto com ele, e até hoje meu pai vai lá (FILHO 1). Não, ele só dá uma assistência pra gente aqui, ele não tem mais nada aqui no contrato social, nada, apesar de que hoje ele assina cheques quando estou viajando [...] (FILHO 2). Na empresa C foram encontrados como limites, Divergência de ideias entre sucessor e sucedido; Interações familiares interpostas ao processo de sucessão; Pressão familiar para que o filho assuma o negócio; Falta de interesse do sucessor em assumir a organização; e Recusa do sucedido em deixar a organização, sentimento de ser insubstituível. Por exemplo, algumas coisas que precisavam ser mudadas na empresa, por exemplo, a gerência...os filhos não concordavam com a gerência que estava e precisou ser colocado, que precisava mudar a gerência, processos também... (FUNCIONÁRIA). [...] mas a gente percebe esse tipo de conflito sim...uma coisa pessoal deles trazidos para a empresa (FUNCIONÁRIA). Assim, foi muito difícil. Quando eu tomei a decisão foi meio na pressão por causa da família, mas era uma coisa mais segura. Daí eu vim contrariada porque eu estava deixando o que eu estava construindo lá há um tempo (FILHO 1). Meu filho [filho 1] tem um conceito que eu não apoio, que ela mora no Rio e acha que pode administrar a empresa pela internet. Ela tem esse ponto de vista, eu não concordo com ela... (FUNDADOR). E aí mais os discursos de ter que tomar conta da empresa, trabalhar na empresa da família...aí eu fui sendo assediado por esse tipo de coisa e fui ficando, acabei ficando... (FILHO 2). A natureza humana dos meus filhos me preocupa muito, se eles vão ou não se entender quando eu não estiver aqui...Acredito que hoje eles se entendem porque eu to aqui para apaziguar né, mas eu tenho essa preocupação... (FUNDADOR). Já para as possibilidades, as falas remetem à Propensão do fundador a se afastar da organização; Capacidade do sucedido em dialogar e ter a confiança da família; Capacitação do sucessor; e Participação dos filhos na organização desde a sua infância. Ele realmente tá nesse processo de sucessão mesmo, com os filhos tomando mais conta (FUNCIONÁRIA). Sim, se for preciso tomar uma decisão eles se reúnem [para conversarem] (FUNCIONÁRIA). Então eu saía da escola e subia a pé pra empresa e ficava lá a tarde toda, eu gostava de ficar lá. Então aprendi a andar de moto com o funcionário da empresa, eu aprendi muita coisa com os funcionários daquela época (FILHO 2). Na empresa D foram encontrados limites associados à Rejeição ao sucessor por parte dos funcionários mais antigos. [...] tivemos uma certa dificuldade, quando começamos a trabalhar na empresa, que tinha funcionários que nos viu criança e depois talvez pensassem ‘’nossa aquele 10 rapaz, ficava aqui na empresa quando criança e agora já vai começa a trabalhar, talvez até a dar ordem né, e tal.. (FILHO 1). Em relação às possibilidades, as falas estão associadas à Capacidade do sucedido em dialogar e ter a confiança da família; Satisfação e disposição em assumir por parte do herdeiro; Capacitação do sucessor; Transmissão da gestão, patrimônio e ideologia; Participação dos filhos na organização desde a sua infância; e Planejamento da sucessão. [...] agente sempre conversou, eu e meu pai, sempre procurei aprender com ele, agente sempre teve um relacionamento muito bom, e essa troca de conhecimento sempre me ajudou a somar (FILHO 1). [...] e daí que eu comecei realmente a trabalhar na empresa, e tem uns 12 a 13 anos que nós estamos aqui, e esse é um período que eu tô realmente focado na empresa (FILHO 1). Sim, tive uma preparação aos poucos né, e assim eu sempre tive uma responsabilidade de eu mesmo ir assumindo (FILHO 1). Assim, para as empresas analisadas foram encontrados como limites, Interações familiares interpostas ao processo de sucessão: empresas A e C; Falta de interesse do sucessor em assumir a organização: empresas A, B, e C; Divergência de ideias entre sucessor e sucedido: empresas A, B e C; Pressão familiar para que o filho assuma o negócio na empresa: empresas A, B e C; Recusa do sucedido em deixar a organização, sentimento de ser insubstituível: empresa C; Rejeição ao sucessor por parte dos funcionários mais antigos: empresas B e D. Já como possibilidade, foram encontrados, Capacidade do sucedido em dialogar e ter a confiança da família: empresa A; Planejamento da sucessão: empresas A e D; Participação dos filhos na organização desde a sua infância: empresas A, C e D; Satisfação e disposição em assumir por parte do herdeiro: empresas A, B e D; Propensão do fundador a se afastar da organização: empresas A, B e C; Capacitação do sucessor: empresas A, B, C e D; Capacidade do sucedido em dialogar e ter a confiança da família: empresas empresa C e D; Transmissão da gestão, patrimônio e ideologia: empresas B e D. O único aspecto identificado em todas as empresas foi a possibilidade Capacitação do sucessor, na qual as falas dos entrevistados mostraram que os sucessores, uma vez inseridos na empresa, desenvolveram seus conhecimentos e habilidades profissionais, permitindo um desempenho capaz de contribuir com o sucesso da empresa e sua continuidade. Não foram encontrados associações a limites para os seguintes aspectos: Entender a sucessão como uma questão emocional; Sucessão repentina, como nos casos de morte do sucedido; Falta de capacitação do herdeiro; Falta de alinhamento entre o passado e o futuro da organização. Em nenhuma das falas dos entrevistados, para nenhuma das empresas analisadas, ficou evidente que há o entendimento do processo sucessório, por parte daqueles que vivenciaram a sucessão, como uma questão emocional. Apesar de a literatura entender que isso é um limite à continuidade da empresa familiar (BERNHOEFT, 1989; GRZYBOVSKI, 2007; MERWE; VENTER; ELLIS, 2009; LAAKONEN; KANSIKAS, 2011), este entendimento poderia representar uma possibilidade, já que entender os aspectos emocionais que envolvem o processo sucessório são fundamentais para tentar superar seus limites (LESCURA et al., 2010). Da mesma forma, não pôde ser encontrado falas que remetessem a Perpetuação dos valores familiares, a qual é fundamental para transmissão do ‘projeto’ do pai (LESCURA et al., 2010), e que também devem ser considerados pelos envolvidos como forma de buscar por possibilidades para a sucessão. 11 Para a Sucessão repentina, como nos casos de morte do sucedido, apesar de não representar nenhum dos casos analisados, isto deve ser considerado como situação possível de ocorrer, e capaz de impedir a transmissão do conatus, situação que deve ser pensada pelo Planejamento da sucessão, que é um aspecto de possibilidade para a empresa familiar (PYROMALIS ET AL., 2006; MERWE; VENTER; ELLIS, 2009; AGUILLERA; CRESPICLADERA, 2009). A Falta de capacitação do herdeiro, segundo Scheffer (2005), é outro aspecto que pode limitar a continuidade das empresas pautadas pelo familiar na gestão, já que há a necessidade de uma preparação, no sentido de capacitação, para que o sucessor tenha experiência, habilidades e conhecimentos suficientes para não tornar a sucessão um fracasso, gerando traumas para a empresa e família, além de potencializar outros limites, por exemplo, Rejeição ao sucessor por parte dos funcionários mais antigos (SCHEFFER, 2005), que passam a desvalorizar o Filho, dada sua incapacidade em comparação com o pai. Já para as possibilidades encontradas na literatura, não foi identificada nas falas a Atenção ao interesse pessoal, relacionamento com o sucedido e a ocupação do sucessor dentro da família e da organização. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os pais possuem o desejo de perpetuar o conatus proposto por Bourdieu (1997), que se manifesta ora de maneira consciente, ora inconscientemente. O conatus, de acordo com a pesquisa realizada, se traduz na intenção de transmitir o ‘projeto’ da família, diretamente associado em perpetuar, continuar, a empresa familiar. Foi verificado que o sentimento de continuar o que a família construiu está presente nos 4 casos analisados. O conatus interfere na continuidade das empresas familiares. As quatro empresas apresentaram aspectos associados à limites e possibilidades para a continuidade, sendo que tanto os limites, quanto as possibilidades, identificados, se diferenciaram de uma organização para outra. Apenas a possibilidade Capacitação do sucessor foi encontrada em todas as empresas. Importante observar que há os limites à continuidade em todas as empresas analisadas quando vivenciaram o processo sucessório, incorrendo em dificuldades que permanecem até hoje. Mas os envolvidos nas atividades destas empresas buscam por superar estas dificuldades. O que pode ocorrer é que o não conhecimento dos aspectos que interferem neste processo termina por não permitir decisões e ações que possam contribuir para melhorar a harmonia de toda a arquitetura do sistema familiar e empresarial. Outro ponto, é que as possibilidades, também presentes nos casos analisados, nos permite entender a capacidade de tais empresas conseguirem se perpetuar, superando o fracasso e derrocada da empresa familiar, que poderia ter como consequência a não transmissão do ‘projeto’. Mas são ações que ocorrem sem a consciência dos aspectos que podem potencializar estas possibilidades, e conhecê-los indicaria maneiras de trabalhar um melhor planejamento de todas as ações que envolvem os indivíduos da família desde a infância, assim como os funcionários da empresa. Este trabalho buscou identificar estes aspectos, considerando fundamentalmente a vertente simbólica, formadores do ‘projeto’ e delineadores da transmissão do conatus. Como limites desta pesquisa deve-se considerar o estudo de caso, que é capaz de revelar um determinado objeto de análise, na medida em que permite um olhar apurado sobre a realidade analisada, mas não podendo, no entanto, ser generalizado para o universo das empresas familiares de Uberlândia. Os resultados da análise de conteúdo podem incorrer em vieses interpretativos, no sentido de que a análise dos dados é realizada a partir da interpretação dos pesquisadores 12 sobre o que o entrevistado está dizendo, que por sua vez, também é uma interpretação dos pesquisados sobre a realidade por eles vivenciada. Sugere-se para pesquisas futuras analisar o processo sucessório a partir do conatus considerando seus limites e possibilidades à continuidade em empresas familiares que se situam em outras cidades e regiões, como um estudo comparativo, na intenção de buscar por diferenças e/ou semelhanças, aprofundando o resultado desta pesquisa. Também pesquisar empresas de diferentes portes e/ou tempo de atividade, ou ainda número de sucessões, para verificar como estes fatores interferem na continuidade das empresas, sob a perspectiva do conatus. Outra sugestão é comparar dados de empresas que se perpetuaram com informações de empresas que não conseguiram superar o processo sucessório, sendo conduzidas ao fim de suas atividades, conhecendo os aspectos que interferiram na não transmissão do conatus. REFERÊNCIAS AGUILERA, R.V.; CRESPI-CLADERA, R. Firm family firms: Current debates of corporate governance in family firms. Journal of Family Business Strategy, v.3, issue 2, jun, p. 66-69, 2012. BARROS, A. J. S. e LEHFELD, N. A. S. Fundamentos de Metodologia: Um Guia para a Iniciação Científica. 2 Ed. São Paulo: Makron Books, 2000. BAUER, M. W. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G (Ed.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis:Vozes, 2002. p. 189 – 217. 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