Q1
Um cilindro feito de material com alta condutividade térmica e de capacidade térmica desprezı́vel possui
um êmbolo móvel (de massa desprezı́vel) inicialmente fixo por um pino. O raio interno do cilindro é r = 10
cm, a altura inicial do êmbolo é h = 10 cm e contém gás hidrogênio (H2 ) a 27◦ C e 1,2 atm. Medidas
anteriores feitas com o gás à mesma temperatura indicaram valores do expoente adiabático γ = 1, 4. O
cilindro é colocado em contato com a atmosfera à temperatura ambiente de 27◦ C ao mesmo tempo em
que o pino do êmbolo é removido de forma a mover-se sem atrito ao longo do eixo do cilindro. O gás sofre
então uma expansão muito lenta até que a pressão interna do gás se iguala à pressão atmosférica. Tome
como estado termodinâmico inicial aquele ocupado pelo gás no momento em que o cilindro é colocado em
contado com a atmosfera e como estado final aquele ocupado pelo gás ao final da expansão.
a) (0,5) Quais os graus de liberdade da molécula de H2 que foram excitados no
processo? Justifique claramente a sua resposta.
b) (1,5) Calcule a variação de entropia do gás no interior do cilindro e da atmosfera no processo que liga os estados termodinâmicos inicial e final do gás;
c) (0,5) Faça uma análise da variação de entropia do sistema gás + atmosfera e
discuta a natureza do processo em questão quanto a reversibilidade ou irreversibilidade.
SOLUÇÃO Q1
a) Pela definição do expoente adiabático:
γ=
CP
CV + R
=
,
CV
CV
e usando o fato de que a capacidade térmica molar a volume constante depende do número de graus
de liberdade q, CV = dUdTmol = 2q R, temos
γ=
2
2
q+2
=⇒ q =
=
= 5 = 3 + 2,
q
γ−1
0, 4
em que 3 graus de liberdade correspondem ao movimento de translação do centro de massa das
moléculas de H2 e 2 graus ao movimento de rotação em torno de 2 eixos perpendiculares entre si e à
linha que une os 2 átomos de hidrogênio.
b) A variação de entropia do gás é dada por:
Zf
∆Sgas =
dQ
,
T
i
e como o processo se realiza à temperatura constante (gás e atmosfera se encontram à mesma temperatura T ), não há variação de energia interna do gás (dU = dQ − dW = 0), logo
∆Sgas
1
=
T
Zf
dW =
Wisotermico
= nR ln
T
Vf
Vi
= nR ln
pi
pf
,
i
onde na última passagem usou-se o fato de que num processo isotérmico pi Vi = pf Vf . Por fim,
πr 2 h
i Vi
usando a equação de estado de gás ideal, podemos escrever n = pRT
= piRT
:
i
i
∆Sgas =
(1, 2 × 105 N/m2 ) × π × (10−2 m2 ) × (0, 1 m) × ln(1, 2)
= 0, 23J/K
300 K
A atmosfera pode ser considerada como um reservatório térmico, fornecendo calor sem que sua
temperatura varie, logo sua variação de entropia é dada:
∆Satm =
Q
Wisotermico
=−
= −∆Sgas = −0, 23J/K,
T
T
em que o sinal negativo do calor indica que a atmosfera cede essa energia ao gás.
c) A variação de entropia do universo termodinâmico gás + atmosfera é então nula, e como esse sistema
pode ser considerado como em isolamento térmico, o processo em questão é reversı́vel, como era de
se esperar já que se trata da expansão lenta de um gás em contato com um reservatório à mesma
temperatura, ou seja, um processo isotérmico através de uma sucessão de estado de equilı́brio. Dessa
forma, um agente externo, aplicando uma força sobre o êmbolo de modo a movê-lo lentamente, é
capaz de comprimir isotérmicamente o gás a fazendo-o retornar ao mesmo estado termodinâmico
inicial, ou seja, volume Vi e pressão pi .
Q2
Um mol de um gás monoatômico ideal realiza o ciclo mostrado na figura. O processo A → B é uma
expansão isotérmica reversı́vel. São conhecidas PC e VC e sabe-se que PA = 5PC e VB = 5VC . Calcule:
a) (0,7) o trabalho lı́quido feito pelo gás;
b) (0,8) o calor recebido pelo gás em cada uma das etapas do ciclo;
c) (0,5) o rendimento do ciclo.
d) (0,5) Compare o rendimento do ı́tem c) com o de uma máquina de Carnot
operando entre as mesmas temperaturas.
SOLUÇÃO Q2
a) O trabalho lı́quido é:
W = WAB + WBC + WCA = RTA ln
VB
VA
+ PC (VC − VB ) + 0,
já que o trecho AB é isotérmico, BC é a isobárico e CA é isocórico. Escrevendo todas as temperaturas
e volumes em termos de PC e VC , temos TA = 5PCRVC = TB , temos
W = (5 ln 5 − 4)PC VC
b)
QAB = WAB = RT ln
QBC
= 5 ln 5PC VC
PC V C
5PC VC
= −10PC VC
−
R
R
3
5PC VC
PC V C
= CV (TA − TC ) = R
−
= 6PC VC ,
2
R
R
5
= CP (TC − TB ) = R
2
QCA
VB
VA
onde usou-se que as capacidades térmicas molares a volume (CV ) e a pressão (CP ) constantes de um
gás ideal monoatômico são CV = 3R/2 e CP = 5R/2, respectivamente.
c) A eficiência do ciclo é dada por
η=
|W |
|Qrecebido |
=1−
|Qcedido |
=1−
|Qrecebido |
−QBC
QCA + QAB
,
onde deve-se tomar cuidado com o sinal dos calores, já que em nossa convensão, calor que sai do
sistema (como QBC ) é negativo. Logo
η =1−
10
' 0, 288 = 28, 8%.
6 + 5 ln 5
A eficiência de uma máquina de Carnot operando entre as mesmas temperaturas extremas TF = TC
e TQ = TA = TB depende apenas de TF e TQ
ηCarnot = 1 −
1
TF
= 1 − = 80% > η.
TQ
5
Como era de se esperar, a máquina de Carnot é mais eficiente que a máquina operando pelo ciclo
acima. Dadas as temperaturas da fonte fria e da fonte quente, a 2a Lei da Termodinâmica impede
que se obtenha uma máquina mais eficiente que a de Carnot operando entre essas duas temperaturas.
Q3
(2,5) Um gás de moléculas diatômicas rı́gidas (i.e., cujo espaçamento inter-atômico não pode variar)
está inicialmente nas condições normais de temperatura e pressão (CNTP). O gás é então comprimido
adiabaticamente até que seu volume inicial é reduzido por um fator f = 5. Determine a energia cinética
média de rotação de uma molécula no estado final (tomado como um estado de equilı́brio), assim como a
velocidade angular média de rotação no mesmo estado, adotando como momento de inércia em relação a
um eixo passando pelo seu centro de massa e perperdicular à linha que une os átomos I = 2, 1 × 10−39 g
cm2 .
SOLUÇÃO Q3
a) Numa compressão adiabática, temos a seguinte relação entre temperatura e volume
TV
γ−1
Tf
= cte =⇒
=
Ti
Vi
Vf
γ−1
.
No estado final de equilı́brio, as moléculas podem transladar e girar, de forma que aplicando o Teorema da
Equipartição da Energia a esse estado, sabemos que a energia média por molécula e por grau de liberade
é kB T /2. Para os graus de liberdade de rotação em torno de 2 eixos perpendiculares entre si (1 e 2) e
ao eixo que une os 2 átomos, a energia cinética média de rotação é a soma das energias cinéticas médias
< τ1 > e < τ2 >:
< τ >=< τ1 > + < τ2 >=
1
1
1
1
I < ω12 > + I < ω22 >= I < ω 2 >= kB Tf + kB Tf = kB Tf ,
2
2
2
2
onde usou-se que ω 2 = ω12 + ω22 .
Então,
"
< τ >= kB Tf = kB
Vi
Vf
γ−1
#
Ti = (1, 38 × 10−23 J/K) × 52/5 × (273 K) = 7, 17 × 10−21 J,
já que 5 (3+2) graus de liberdade são excitados no estado final (γ =
q+2
q
= 57 ).
A velocidde angular de rotação média é então:
< ω 2 >=
<τ >
7, 17 × 10−21 J
' 34, 1 × 1024 (rad/s)2 =⇒< ω >' 5, 8 × 1012 rad/s
=
I
2, 1 × 10−46 kg m2
Q4
Um mol de gás ideal com capacidade térmica molar CV sofre um processo em que a entropia S varia com
a temperatura na forma S = Tα , onde α é uma constante. A temperatura do gás varia de T1 a T2 . Calcule
em função de α, CV , T1 e T2 :
a) (1,5) a quantidade de calor transferida ao gás no processo;
b) (1,0) o trabalho realizado pelo gás.
SOLUÇÃO Q4
a) O calor transferido ao gás é Q =
ZT2
Q=
Rf
ZT2
T dS =
T1
i
T
T1
dQ. Lembrado-se de que dQ = T dS, temos
dS
dT =
dT
ZT2 ZT2
−α
T2
dT
T
dT
=
−α
=
−α
ln
T2
T
T1
T1
T1
b) Pela primeira lei da Termodinâmica ∆U = Q−W e, além disso, sabemos que ∆U = CV ∆T = CV (T2 −T1 ),
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T2
W = Q − ∆U = −α ln
− CV (T2 − T1 )
T1
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