A marca fala de si própria Bibliografia Zimmerman, Diane Leenheer, "Fitting Publicity Rights into Intellectual Property and Free Speech Theory: Sam, You Made the Pants Too Long!" (2000). DePaul Art & Entertainment Law Journal http://ssrn.com/abstract=211789 DOGAN, Stacey L. e LEMLEY, Mark A. "The Merchandising Right: Fragile Theory or Fait Accompli?" (December 16, 2004). Stanford Public Law Working Paper No. 105. [http://ssrn.com/abstract=636872], Torres Urdan, Flávio and Torres Urdan, Andre, "The Effect of Brand Name and Taste on Consumers' Buying Intentions: An Experimental Analysis". Available at SSRN: http://ssrn.com/abstract=273841 or DOI: 10.2139/ssrn.273841, Quando o símbolo se converte em utilidade Beebe, The semiotic account of trademark doctrine and trademark culture Two assumptions underpin the traditional triadic structure of the mark. The first is that consumers consume things rather than signs, tangible goods or services rather than the intangible meanings of those goods or services. The second and related assumption is that trademark law merely protects the means of consumption rather than the ends of consumption. Trademark law only protects signs, the economic value of which is exhausted once the thing to be consumed is found, while the protection of consumable things themselves— the “actual benefit the consumer wishes to purchase”—is left to patent or perhaps to copyright law A marca fala de si própria Quando o símbolo se converte em utilidade Segundo Michael A. Jacobs e Donald S. Chisum[1], tratando sobre Sofisticação do Consumidor e Cuidado, dispõe que Pignons S.ª de Mecanique de Precision v. Polaroid Corp., 657 F 2d. 482, 289, 212 USPQ 246, 252 (1st Cir. 1981): O tribunal considerou que não havia probabilidade de confusão baseando-se, em parte, no fato de que as câmeras do autor eram de alta qualidade, equipamento sofisticado. As câmeras da ré eram mais baratas e mais extensamente distribuídas. Conhecedores do bom instrumento de fotografia do autor poderiam, em momento de fraqueza, em uma loja especializada de câmeras, adquirir uma câmera instantânea “conveniente” do réu, mas não iriam provavelmente estar confuso quanto a origem de sua aquisição...[2] [1] JACOBS, Michael A. e CHISUM, Donald S. op. cit., p. 83. [2] Tradução livre do parágrafo 5F 1ª. A marca fala de si própria A HERMES foi a primeira empresa de vendas por catálogos no Brasil, e hoje ocupa a posição de líder absoluta neste segmento de vendas. Fundada em 1942. Quando o símbolo se converte em utilidade A diferença de mercado, reconhecida pela jurisprudência, claramente não se pauta pela utilidade – como índice de mercado pertinente¸ nem muito menos pelas noções clássicas de especialidade marcária. O mercado difere entre um perfume “genérico” e um de luxo pelo preço, ainda que os dois se aproximem ou se identifiquem pelo mesmo aroma – ou utilidade. Mas o genérico não impressiona pela honra que traz ao comprador como evidência de fortuna A marca fala de si própria Quando o símbolo se converte em utilidade “Since the consumption of these more excellent goods is an evidence of wealth, it becomes honorific; and conversely, the failure to consume in due quantity and quality becomes a mark of inferiority and demerit. (…)Throughout the entire evolution of conspicuous expenditure, whether of goods or of services or human life, runs the obvious implication that in order to effectually mend the consumer's good fame it must be an expenditure of superfluities. (…) In order to meet with unqualified approval, any economic fact must approve itself under the test of impersonal usefulness-usefulness as seen from the point of view of the generically human. Relative or competitive advantage of one individual in comparison with another does not satisfy the economic conscience, and therefore competitive expenditure has not the approval of this conscience. (Thorstein Veblen, The Theory of the Leisure Class). A marca fala de si própria Quando o símbolo se converte em utilidade No caso de consumo ostentatório, pagar mais do que se precisaria é sinal de ascendência e de poder; e exatamente o objetivo social visado pela aquisição é demonstrar a preponderância econômica entre um indivíduo e outro, entre os que tem-para-desperdiçar e os outros. Ora, essa necessidade específica – de demonstrar poderio – se destaca do mercado de utilidade prática, para se constituir num espaço econômico próprio. O mercado de ostentação, em que o consumo, ele mesmo, simboliza o poder de quem quer e pode desperdiçar. A utilidade é o símbolo. A marca fala de si própria Quando o símbolo se converte em utilidade Na verdade, numa marca de luxo, de regra se busca também alguma utilidade; aparência e utilidade sempre coexistem em quase todos os produtos: An article may be useful and wasteful both, and its utility to the consumer may be made up of use and waste in the most varying proportions. Consumable goods, and even productive goods, generally show the two elements in combination, as constituents of their utility; although, in a general way, the element of waste tends to predominate in articles of consumption, while the contrary is true of articles designed for productive use[1]. [1] VEBLEN, op. cit., p. 67. A marca como produto A marca como produto Outro processo significativo de grande importância é o uso da marca como merchandising. No caso, a marca já não assinala produto ou serviço, no âmbito de sua especialidade, mas evoca imagens e associações em geral, como o fazem as imagens de personalidades, as criações do direito autoral, etc. Essa evocação apenas incidentalmente exerce função persuasória, pois seu universo é o da expressão, da fabulação, da ideologia. Assim, nenhuma das duas funções legais da marca se acha realizada neste processo. A marca como produto DOGAN, Stacey L. e LEMLEY, Mark A. "The Merchandising Right: Fragile Theory or Fait Accompli?" (December 16, 2004). Stanford Public Law Working Paper No. 105. [http://ssrn.com/abstract=636872], “Trademark merchandising is big business. One marketing consultant estimated the global market for licensing and marketing sportsrelated merchandise at $17 billion in 2001. With this much money at stake, it's no surprise that trademark holders demand royalties for use of their marks on shirts, key chains, jewelry, and related consumer products.”. A marca como produto So much of trademark use in merchandising depends on a legal fiction that is quite absurd. That is, that the licensed names and images serve a trademark sourceidentifying function, rather than merely being decoration. For instance, the Green Bay Packers logo is protectible as a trademark on a shirt because consumers could think, “I trust the Green Bay Packers as a quality source of shirts.” Likewise, “I trust ‘Finding Nemo’ as a quality source of children’s swim diapers.” In particular, the use of cartoon characters on children’s sundries is particularly absurd. Do parents choose a Lightning McQueen toothbrush because they trust the Lightning McQueen brand? Or because they are afraid of a crying fit if they do anything else?.”. www.pixelization.org/ A marca como produto DOGAN e LEMLEY, op. cit., p. 49. “From an economic and policy perspective, it is by no means obvious that trademark holders should have exclusive rights over the sale of products that use marks for their ornamental or intrinsic value, rather than as indicators of source or official sponsorship. Trademark law seeks to promote, rather than hinder, truthful competition in markets for products sought by consumers; if a trademark is the product, then giving one party exclusive rights over it runs in tension with the law's pro-competitive goals, frequently without any deception-related justification. On the other hand, there may be circumstances in which consumers expect that trademark holders sponsored or produced products bearing their mark, in which case use of the mark by others - even as a part of a product - might result in genuine confusion.” A marca como produto Em estudo sobre as marcas de cervejas brasileiras, Torres Urdan, Flávio and Torres Urdan, Andre, "concluiram: “Findings indicate: 1) a very strong preference for one of the brands prior the test but the subjects were unable to distinguish their preferred brand from the others in the blind taste test; 2) that subjects are not aware about the factors directing their choice of a product; 3) that differences in subjects' preferences due to brand name are much higher than those they indicate due to beers tastes. These results suggests a strong effect of brand name on consumers' buying intentions”. A marca como produto Aqui, a conciliação dos interesses constitucionais e econômicos é mais complexa ainda. Não se tem aqui a justificação tradicional (mas cada vez mais insatisfatória) de estímulo à atividade criativa; em particular quanto ao merchandising de marcas, o valor criado será incidental, marginal, e provavelmente líquido. A monetização da marca A monetização da marca Uma série de casos judiciais, no Brasil e no exterior, vem revelando a função marcaria não ortodoxa que Barton Beebe denomina de monetização da marca: o fato de a marca ser usada não como signo de origem, mas como elemento de consumo em si mesmo, como quem compra um blazer com a marca Rolls Royce inscrita em cor sobre o bolso superior esquerdo, pela evocação do prestígio do carro sobre o way of life do usuário. A monetização da marca Beebe, op. cit., p. 657. “The Monetization of Sign-Value: The Merger of Signified and Referent – The social theorist Mark Poster has observed that Referente "today increasingly meaning is sustained through mechanisms of self-referentiality, and the non-linguistic thing, the referent, fades into obscurity, playing less and less of a role in the delicate process of sustaining cultural meanings." A monetização da marca A host of trademark commentators have made a similar observation with respect to trademarks. Judge Alex Kozinski, for one, has noted that trademarks have "begun to leap out of their role as source-identifiers and, in certain instances, have effectively become goods in their own right." In such a situation, the referent, of whose source the consumer is ostensibly being informed by the trademark, is reduced to a nullity. Its absence collapses the trademark's conventional triadic structure by forcing amerger of signified and referent. The trade-mark's goodwill is commodified and sold as its own product. A monetização da marca Neste caso, cada vez mais freqüente, o processo de significação da marca é transplantado para outro contexto: o signo Rolls Royce, que seria normalmente aposto sobre o automóvel, denotando a origem do produto, e com isso carregando a imagem de qualidade, elegância, durabilidade e, mais do que tudo, exclusividade e preço elevado, é usado sobre uma peça de vestuário – com ou sem licença do titular da marca, mas algumas vezes com autorização e satisfação, como forma de merchandising. Alguma parte da imagem da marca seria – é a tese – evocável. A questão de uso diluidor ou de aproveitamento parasitário não é aqui considerada. A política nas marcas A política nas marcas A apropriação do objeto tanto aparece como estranhamento (Entfremdung) que, quanto mais objetos o trabalhador produz, tanto menos pode possuir e tanto mais fica sob o domínio do seu produto, do capital (p.70) Se ele se relaciona, portanto, com o produto do seu trabalho, com o seu trabalho objetivado, enquanto objeto estranho, hostil, poderoso, independente dele, então se relaciona com ele de forma tal que um outro homem estranho (fremd) a ele, inimigo, poderoso, independente dele, é o senhor deste objeto. Se ele se relaciona com a sua própria atividade como uma [atividade] não-livre, então ele se relaciona com ela como a atividade a serviço de, sob o domínio, a violência e o jugo de um outro homem (p. 77). Manuscritos Econômico-Filosóficos. Tradução de José Jesus Ranieri [s. n. t.]. Campinas, 2004. A política nas marcas Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho humano, sem ser mercadoria. Quem com seu produto satisfaz sua própria necessidade cria valor de uso, mas não mercadoria. Para produzir mercadoria, ele não precisa produzir apenas valor de uso, mas valor de uso para outros, valor de uso social. E não só para outros simplesmente. O camponês da Idade Média produzia o trigo do tributo para o senhor feudal, e o trigo do dízimo para o clérigo. Embora fossem produzidos para outros, nem o trigo do tributo nem o do dízimo se tornaram por causa disso mercadorias. Para tornar-se mercadorias, é preciso que o produto seja transferido a quem vai servir como valor de uso por meio da troca Capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1996a. Livro I, Tomos 1 e 2. A política nas marcas HEILBRUNN, Benoît, « Du fascisme des marques », LE MONDE, 23.04.04 « En multipliant les dispositifs d'interactions avec les consommateurs, les marques sont devenues d'incontournables partenaires de leur vie quotidienne et un puissant ferment du lien social. En phagocytant progressivement l'espace psychologique, émotionnel et social des individus, elles sont devenues de véritables dispositifs idéologiques capables d'imposer un véritable programme politique. Celui-ci repose sur la sacralisation de la marchandise en élargissant la consommation bien au-delà de l'échange marchand, pour la transformer en une série d'expériences par lesquelles les individus échangent en permanence de la valeur et du sens et négocient finalement leur identité. A política nas marcas "Christian Boltanski" En proposant une théâtralisation constante des objets et des lieux, les marques se sont donné pour mission de réenchanter les actes de consommation, voire la vie, en proposant à leurs consommateurs une vision du monde assortie de préceptes de vie. De la sorte, elles visent à forger de véritables univers utopiques fondés sur une représentation précise du bien commun, ainsi que l'illustre de façon outrancière le logo de la marque Auchan : "La vie, la vraie". A imagem de marca se espalha A marca fala de si própria ....no decorrer das últimas décadas, tornouse comum as empresas dos mais variados setores fazerem amplo uso de suas marcas em artigos de consumo, como roupas e perfumes, seja com a finalidade projetá-las, no caso de marcas originariamente designativas de produtos ou serviços voltados para um círculo específico, seja com o objetivo de criar toda uma linha, dirigida a pessoas com determinado perfil, na hipótese de marcas de produtos de consumo. [1] [1] DANNEMANN, op. cit., p. 249. A marca fala de si própria The floating signifier and the hypermark Saussure himself would not likely have accepted the proposition, but Saussurean semiotics has since his time explored the possibility that while signification cannot obtain without value, value can nevertheless obtain without signification. From this follows the radical hypothesis that a signifier can be articulated, can achieve form, without being connected to any particular signified. Such an “empty” or “floating signifier” may refer to, or at least imply, a signified, but that signified is so indefinite or contested as to constitute an “empty category.” In such a situation, a sign “only means that it Significante flutuante Referential value is annihilated, giving the structural play of value the upper hand. The structural dimension becomes autonomous by excluding the referential dimension, and is instituted upon the death of reference . . . . The emancipation of the sign: remove this archaic obligation to designate something and it finally becomes free, indifferent and totally indeterminate, in the structural or combinatory play which succeeds the previous rule of determinate equivalence. . . . The floatation of money and signs, the floatation of needs and ends of production, the floatation of labor itself. . . . the real has died of the shock of value acquiring this fantastic autonomy JEAN BAUDRILLARD, SYMBOLIC EXCHANGE AND DEATH 6–7 (Ian Hamilton Grant trans., Sage Publ’ns 1993). Significante flutuante In a condition of hyperreality, in other words, differences are not built upon designation, upon the equivalence of signifier and signified. There is only distinctiveness from, not of. This involves more than simply the “bracketing of the referent.” It involves the bracketing of reference altogether, of any intrasign relation among subsign elements. In theory, trademark law will not tolerate the semiotic condition that Baudrillard describes. The law still insists on reference, on source, however “anonymous.” But in recent decades, there has emerged a truly radical structure of the mark, what might be termed the monadic structure. In such a structure, the trademark signifier has broken free from its moorings in a signified or referent. It signifies still, but signifies nothing. Significante flutuante An 'empty' or 'floating signifier' is variously defined as a signifier with a vague, highly variable, unspecifiable or non-existent signified. An 'empty' or 'floating signifier' is variously defined as a signifier with a vague, highly variable, unspecifiable or non-existent signified. Such signifiers mean different things to different people: they may stand for many or even any signifieds; they may mean whatever their interpreters want them to mean. Such signifiers mean different things to different people: they may stand for many or even any signifieds; they may mean whatever their interpreters want them to mean. Significante flutuante Whereas Saussure saw the signifier and the signified (however arbitrary their relationship) as being as inseparable as the two sides of a piece of paper, poststructuralists have rejected the stable and predictable relationship embedded in his model. The French psychoanalyst Jacques Lacan wrote of 'the incessant sliding of the signified under the signifier' - he argued that there could be no anchoring of particular signifiers to particular signifieds - although this in itself is hardly contentious in the context of psychoanalysis. Jacques Derrida refers also to the 'freeplay' of signifiers: they are not fixed to their signifieds but point beyond themselves to other signifiers in an 'indefinite referral of signifier to signified‘ Lacan, Jacques (1977): Écrits (trans. Alan Sheridan). London: Routledge. Derrida, Jacques (1978): Writing and Difference (trans. Alan Bass). London: Routledge & Kegan Paul , in Daniel Chandler, Semiotics for Beginners, http://www.aber.ac.uk/media/Documents/S4B/semiotic.html