Surto de Infecção Alimentar por Salmonella enterica sorotipo Enteritidis em festa de casamento, Município de São Paulo – Setembro de 2006 Geraldine Madalosso Centro de Controle e Prevenção de Doenças-CCD Coordenação de Vigilância em Saúde-COVISA Secretaria Municipal de Saúde Prefeitura do Município de São Paulo Salmonella Enteritidis • Família Enterobacteriaceae • Gênero Salmonella • Subespécie enterica • Sorotipo Enteritidis • Mais comum no mundo • Via de transmissão • Alimentos • Contato direto Salmonella Enteritidis Fonte • Alimentos de origem animal (crus ou mal cozidos) • Carnes • Ovos • Leite • Outros • Ovos • Contaminação pode ocorrer tanto pela casca infectada quanto pelo ovo intacto, através da transmissão intraovariana Salmonella Enteritidis Período de Incubação • 6 a 72 horas, em média 12 a 36 horas Síndrome clínica mais comum: gastroenterite • Febre • Cólicas abdominais • Diarréia • Duração média de 4 a 7 dias • Geralmente é autolimitada Surtos de DTA – Estado de São Paulo, 1999 – 2008* Etiologia/Doença Nº Surtos 2113 % Nº Casos % 87,3 69.350 94,4 785 37,2 43.148 62,2 488 62.2 18.054 41,8 .. Total Salmonellas 210 43,0 6.637 36,8 92 43,8 3.480 52,4 104 49,5 3.016 45,4 4 1,9 16 0,2 3 1,4 48 0,7 7 3,3 77 1,2 Surtos de Diarréia Aguda - Etiologia identificada . Bacteria - Salmonella não sorotipada - Salmonella Enteritidis - Salmonella Typhi - Salmonella Typhimurium - Outros sorotipos Caracterização do Problema • 19/09/2006 - um hospital do Município de São Paulo notificou um surto de gastroenterite à vigilância local • Atendimento de ~ 30 pessoas (17-18 Set) • Todas referiam ter participado de uma festa de casamento, no dia 16/09/2006. Caracterização do Problema •Evento: Festa de Casamento •Data: 16 de setembro de 2006 • Hora: entre 10 e 23 horas • Expostos: aproximadamente 80 pessoas • Cardápio: •Churrasco (carne bovina, asa de frango, linguiça) •Salada de Maionese •Pão com carne moída •Mandioca cozida •Arroz bramco •Batata vinagrete •Salgadinhos •Bolo Objetivos A investigação teve como objetivos : Descrever as características do surto de gastroenterite quanto ao tempo, lugar e pessoa; Determinar os fatores de risco que contribuíram para a ocorrência do surto (alimentos consumidos); Evidenciar o agente etiológico do surto por análises laboratoriais de amostras clínicas e sobra de alimentos Detectar as falhas no processo de produção dos alimentos de risco que contribuíram para a multiplicação do patógeno; • Desencadear medidas de controle e prevenção de novos casos ou surtos semelhantes. Métodos Investigação Epidemiológica • Entrevista/Inquérito Alimentar com todos as pessoas que almoçaram na festa de casamento no dia 16 de setembro de 2006 • Formulário de investigação de surtos de doenças transmitidas por alimentos (DTA) do CVE/SES/SP • Levantamento dos dados de atendimento/hospitalização de casos nos prontuários médicos • Estudo analítico de coorte retrospectiva Métodos – Formulário de coleta de dados Métodos Investigação Laboratorial - Amostras clínicas: amostras de fezes dos doentes atendidos/internados - Coprocultura: Laboratório do Hospital - Identificação de cepas: IAL Central (Bacteriologia) - Amostras de sobras de alimentos servidos no churrasco - Pesquisa de enteropatógenos: Laboratório de Controle de Alimentos da COVISA/SMS/SP Métodos Definição de Caso • Definição de caso suspeito: a pessoa que participou do churrasco no dia 16/09 e apresentou sintomas gastrointestinais . • Definição de Caso Confirmado: - critério laboratorial: caso supeito com identificação da presença do agente etiológico nas fezes, e - critério clínico-epidemiológico: doente sem confirmação laboratorial. Métodos Tratamento dos dados e Análise Estatística • Medida de associação = risco relativo (RR). • Testes de hipótese = qui-quadrado ( x2) e o teste exato de Fisher. • Intervalo de confiança = 95% (IC95%) • Nível de significância de 5% (valor de p<0,05) • Softwares utilizados: - Epi Info for Windows - Microsoft Excel. Métodos – Banco de Dados Resultados Caracterização do Lugar Município de São Paulo Favela do Iguaçu, Distrito de Sapopemba, Supervisão de Vigilância à Saúde (SUVIS) de Vila Prudente e Sapopemba. •- precárias condições sanitárias •- presença de esgoto à céu aberto, •- locais com entulhos e lixo SUVIS Vila Prudente/Sapopemba •- casas com palafitas, •- criação de animais, como galinhas e porcos. •Pop: 514.618 habitantes (SUVIS) •MSP: 10.879.619 habitantes Caracterização de Pessoa Taxa de Ataque (%) Faixa Etária <1 1a4 5a9 10 a 19 20 a 49 50 e mais Ignorada TOTAL Doentes 0 4 3 8 32 8 3 58 Total 0 6 8 11 40 9 3 77 Taxa de Ataque (%) 0,0 66,7 37,5 72,7 80,0 88,9 100,0 75,3 Caracterização de Pessoa Total de doentes = 58 Faixa Etária <1 1a4 5a9 10 a 19 20 a 49 50 e mais Ignorados TOTAL Sexo Feminino 0 1 1 6 23 4 1 36 Masculino 0 3 2 2 9 4 2 22 total 0 4 3 8 32 8 3 58 • Idade = mediana de 26 anos (1 a 82 anos) • Gênero: Feminino = 36 (62 %); Masculino = 22 (38 %); Distribuição dos casos segundo sinais e sintomas e atendimento médico (N = 58) Características n % Diarréia 54 93,1 Cólicas Abdominais 54 93,1 Náuseas 52 89,7 Febre 50 86,2 Cefaléia 48 82,8 Vômitos 43 74,1 Atendimento médico (PS/PA) 51 94,4 Internação 3 5,6 Curva Epidêmica – Distribuição dos casos do surto segundo a data/hora do início de sintomas (N = 54) 10 9 8 7 nº casos 6 5 CASOS 4 3 2 1 0 12 14 16 18 20 22 16/9 24 2 4 6 8 10 12 14 16 17/9 18 20 22 24 2 4 6 8 10 12 18/9 • Período de Incubação (em horas): mediana de 15 horas (6 a 44 horas) • Período provável de exposição: 12h de 16/09 • Duração da doença (em dias): mediana de 3 dias (2 a 9 dias) Estudo de Coorte retrospectiva Entrevistadas 77 pessoas na favela do Iguaçu, no local da festa de casamento: -Vigilância Epidemiológica -Vigilância Sanitária -Equipe PSF -Agentes Comunitários -Líder da Comunidade Coorte retrospectiva: Análise univariada do risco associado aos alimentos consumidos Alimento maionese batata bolo coxinha pão com carne mandioca arroz asa de frango lingüiça carne bovina consumiram o alimento não consumiram o alimento DOENTE NÃO- TOTAL % DE DOENTE NÃO- TOTAL % DE RA (%) RR Valor de p S DOENTE DOENTE S DOENTE DOENTE S S S S 48 8 56 85,71 2 11 13 15,38 70,33 5,57 <0,001 35 29 30 24 34 30 35 34 46 10 12 10 13 6 5 10 8 14 45 41 40 37 40 35 45 42 60 77,78 70,73 75,00 64,86 85,00 85,71 77,78 80,95 76,67 15 21 20 26 16 20 15 16 4 9 7 9 6 13 14 9 11 5 Fonte: Inquérito Epidemiológico – CCD/SMS SP Obs: RA = Risco Atribuível; RR = Risco Relativo; IC = Intervalo de Confiança 95% 24 28 29 32 29 34 24 27 9 62,50 75,00 68,97 81,25 55,17 58,82 62,50 59,26 44,44 15,28 -4,27 6,03 -16,39 29,83 26,89 15,28 21,69 32,22 1,24 0,94 1,09 0,80 1,54 1,46 1,24 1,37 1,73 0,28 0,90 0,77 0,21 0,01 0,02 0,28 0,09 0,10 Etapas de preparo do alimento suspeito: salada de maionese Molho de maionese: Ingredientes Gemas cruas, óleo de soja, limão e sal Hortaliças: Batatas e cenouras Salada de Maionese: Molho e Hortaliças Preparo No dia 15/09/2006, na noite anterior à festa, os ingredientes foram colocados no liquidificador e batidos. Foram preparadas várias porções de molho, de acordo com a capacidade do copo do liquidificador. À medida que as porções ficavam prontas, eram colocadas em um mesmo recipiente e homogeneizadas. No dia 15/09/2006 as hortaliças foram lavadas, descascadas e cozidas em água com sal. No dia 16/09/2006, entre 9:00h e 9:30h, foi adicionado o molho de maionese às hortaliças cozidas. Toda a preparação foi colocada em uma única caixa plástica. Fonte: Inquérito Epidemiológico – CCD/SMS SP Armazenamento/Distribuição O recipiente foi armazenado sob refrigeração em geladeira doméstica.Tempo aproximado de armazenamento: 12 horas. Armazenadas sob refrigeração em geladeira doméstica. Tempo aproximado de armazenamento: 12 horas A salada de maionese ficou exposta para consumo sobre uma mesa no local da festa e permaneceu em temperatura ambiente das 9:00h até as 23:00h do dia 16/09/2006 (19 horas de exposição) Análise laboratorial dos alimentos Alimento (sobra) Salgado frito (coxinha, risóles): Carne Moída crua Lingüiça assada Carne Bovina assada Frango cru Frango assado Maionese Microrganismo Bacillus cereus Clostridium sulfito redutor a 46º Salmonella spp. Clostridium sulfito redutor a 46º Salmonella spp Clostridium sulfito redutor a 46º Clostridium sulfito redutor a 46º Coliformes a 45ºC Bacillus cereus Clostridium sulfito redutor a 46º Salmonella spp Coliformes a 45ºC Bacillus cereus Staphylococcus coagulase positiva Resultado acima de 3,0 x 105 UFC/g acima de 3,0 x 104 UFC/g presença acima de 3,0 x 104 UFC/g presença acima de 3,0 x 104 UFC/g acima de 3,0 x 104 UFC/g 4,6 x 103 /g acima de 2,0 x 105 UFC/g acima de 3,0 x 104 UFC/g presença Acima de 1,1 x 104 /g acima de 3,0 x 105 UFC/g 5,0 x 104 /g Salmonella spp presença Sorotipagem = S. Enteritidis Fonte: Laboratório de Alimentos COVISA/SMS/SP e IAL Central Análise laboratorial de amostras clínicas 37 amostras de fezes coletadas 23 amostras positivas para Salmonella spp. IAL – Setor de Bacteriologia 23 amostras com Identificação de S. Enteritidis Conclusões • O surto acometeu 58 pessoas na festa de casamento onde 77 pessoas participantes foram entrevistadas. • A investigação epidemiológica do surto através do estudo de coorte retrospectiva evidenciou a transmissão alimentar do agente identificado, Salmonella Enteritidis, pelo consumo da salada de maionese (Risco Relativo = 5,57; p<0,001). Conclusões • O critério de confirmação do surto investigado foi laboratorial, clínico e bromatológico, onde além da evidência estatística dada pelo estudo epidemiológico, o agente etiológico foi identificado nas fezes dos doentes e no alimento incriminado (S. Enteritidis) • Fatores de risco: O uso de ovos crus na preparação de maionese caseira, associado ao tempo prolongado de exposição em temperatura ambiente (desde 10h da manhã até às 23h – período de ocorrência do churrasco) contribuiu para a sobrevivência e proliferação do enteropatógeno. Conclusões Os múltiplos agentes encontrados nas sobras de alimentos podem sugerir a ocorrência de contaminação cruzada através de utensílios, técnicas de preparo, mãos e/ou tempo de exposição prolongado dos alimentos à temperatura inadequada Recomendações • Ações educativas na comunidade quanto ao preparo seguro de alimentos e boas práticas de manipulação foram as medidas adotadas para prevenir a ocorrência de surtos semelhantes. Agradecimentos - Supervisão de Vigilância de Vila Prudente/Sapopemba - UBS/PSF Iguaçu - Hospital Estadual de Vila Alpina - Laboratório de Controle de Alimentos da Prefeitura do Município de São Paulo - Instituto Adolfo Lutz – Central, Setor de Bacteriologia Prefeitura do Município de São Paulo Secretaria Municipal de Saúde Coordenação de Vigilância em Saúde – COVISA Centro de Controle e Prevenção de Doenças-CCD Vigilância Epidemiológica das DTA E-mail: [email protected]