A experiência da indústria avícola brasileira no controle de Salmonella III Simpósio Internacional de Inocuidade de Alimentos (ABRAPA) Raphael Lucio Andreatti Filho FMVZ - UNESP TENDÊNCIA MUNDIAL PARA O CONSUMO DE CARNE DE AVES Ausência de patógenos humanos - Salmonella. Redução de resíduos químicos - antibióticos. Produtos EXIGÊNCIAS ALIMENTARES DO CONSUMIDOR MODERNO: qualidade - segurança - preço mais saudáveis, com menor risco ao consumidor. SALMONELOSES AVIÁRIAS • TIFO Salmonella Gallinarum • PULOROSE Salmonella Pullorum • PARATIFO Salmonella spp. S. Enteritidis S. Typhimurium Ag O Ag H fase 1 S. Typhimurium 1,4,5,12 i Grupo fase 2 1,2 g,m 1,7 B S. Enteritidis 1,9,12 D1 S. Pullorum 1,9,12 - - D1 S. Gallinarum 1,9,12 - - D1 SALMONELOSE - Transmissão TRANSOVARIANA CASCA DO OVO INCUBATÓRIO RAÇÃO ROEDORES AVES SILVESTRES CICLO DE TRANSMISSÃO - SALMONELOSE FARINHAS: VÍSCERAS PENAS PROTEÍNAS SUBPRODUTOS AVÍCOLAS RAÇÃO INGREDIENTES: ORIGEM ANIMAL ORIGEM VEGETAL CONTAMINAÇÃO: PROCESSAMENTO e/ou ESTOCAGEM (roedores) AVES ABATE AVES CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL CONSUMO HUMANO PLANTÉIS DE REPOSIÇÃO (incubação / nascimento) (aves silvestres, animais domésticos, roedores e humanos) FONTES DE CONTAMINAÇÃO - S. Enteritidis AMBIENTE AVÓS AMBIENTE MATRIZES INCUBATÓRIO AMBIENTE PINTO AMBIENTE AMBIENTE RAÇÃO FRANGA roedores POEDEIRA roedores ARMAZENAMENTO PROCESSAMENTO fezes OVO (ALIMENTO) MANUSEIO Fatores que afetam a susceptibilidade das aves à colonização por Salmonella - Quebra do equilíbrio intestinal Idade da ave Estresse e o ambiente Quimioterapia inadequada Doenças concorrentes Imunosupressão Resistência genética Cepas mais invasivas As defesas naturais dos ovos dificultam a disseminação da infecção ou multiplicação da S. Enteritidis em ovos intactos Lotes naturalmente infectados: <1:10.000 Refrigeração: 2 a 8°C Multiplicação a partir de 10°C S. Enteritidis em ovos Cozimento adequado destrói SE Pasteurização (60°C/3,5min) destrói SE em ovo líquido PARATIFO AVIÁRIO - EFEITO NA PRODUTIVIDADE - A presença de Salmonella spp. no intestino de aves sem sinais clínicos constitui situação usual. Não afeta a produtividade dos lotes. S. ENTERITIDIS EM AVES E SAÚDE PÚBLICA - OS FATOS - Como tudo começou ? S. Enteritidis emergiu como agente de salmonelose humana em alguns países. S. Enteritidis no Brasil: Até o início década 90 - raramente encontrada. Sorotipos mais comuns de Salmonella identificados pelo Instituto Adolfo Lutz de São Paulo. Sorotipos Salmonella Anatum Typhimurium Derby Agona Infantis Havana Cerro Livingstone Enteritidis Outros sorotipos Total amostras Fonte: Taunay et al. 1996. Fontes humanas (%) Fontes não humanas (%) 1970-76 1977-82 1983-90 1970-76 1977-82 1983-90 77,7 69,3 36,0 16,1 21,3 22,2 0,37 14,6 6.551 15.892 6.215 42,7 14,1 24,5 10,8 7,0 8,4 10,6 9,5 14,2 14,3 33,0 0,85 43,0 62,0 1687 9.130 3.528 5,7 9,6 8,3 7,3 7,1 S. ENTERITIDIS EM AVES E SAÚDE PÚBLICA - OS FATOS - Brasil - Primeiro relato ocorrência SE em aves (Ferreira et al., 1990). Isolamento em matrizes pesadas com sinais clínicos. A partir de 1993 - explosão de ocorrência de SE. Sorotipos mais comuns de Salmonella identificados pelo Instituto Adolfo Lutz de São Paulo. Sorotipos de Salmonella Fontes humanas (%) Fontes não humanas (%) 91 92 93 94 Enteritidis 1,2 2,0 10,1 43,3 I 4, [5] , 12:i:Typhimurium Agona Infantis Hadar 10,9 18,0 20,8 11,1 13,1 11,0 16,0 12,5 8,6 17,2 3,6 2,8 6,6 5,6 11,6 11,3 7,8 3,6 4,4 1,9 4,6 280 4,8 200 3,6 185 2,8 144 0,8 102 0 0 9,9 5,0 6,4 3,7 2,9 7,6 2,6 7,4 Outros sorovares 37,0 45,2 35,1 27,7 18,5 78,2 76,3 Total amostras 524 488 Fonte: Tavechio et al. 1996. 305 327 95 Total 64,9 610 668 2.254 91 92 93 94 95 0 0 1,8 22,0 40,7 546 0 5,8 3,6 1,0 2,5 0 4,4 4,4 4,9 2,7 0 2,1 1,2 4,0 3,6 0 151 115 120 116 312 462 85,3 61,6 916 528 Total 48,4 1.018 3.236 Sorotipos de Salmonella spp. de origem humana isolados no período de janeiro a junho de 1995. ______________________________________________ Material Total Sorotipos fezes sangue LCR urina sec. outros ind. No % S. Enteritidis 105 18 4 S. Agona 15 S. Infantis 16 S. Typhi 2 9 S. Typhimurium 7 3 S.I 4,(5),12:i:5 2 S. Hadar 5 S. Brandenburg 1 S. Oranienburg 3 1 S. Dublin 1 Outros 27 sor. Instituto Adolf Lutz - agosto / 1995. 1 1 2 - 1 - 28 3 1 1 1 155 18 16 12 11 7 5 5 4 3 44 56,2 6,5 5,8 4,3 4,0 2,5 1,8 1,8 1,4 1,1 16,0 Sorotipos de Salmonella spp. de origem não humana isolados de janeiro a junho de 1995. ______________________________________________ Material Sorotipos alim. ovo ave S. Enteritidis 58 17 39 S. Mbandaka 12 3 S. Newport S. Hadar 7 2 S. Worthington 3 S. Rissen 7 S. Infantis 5 2 S. Agona 6 1 S. Senftenberg 1 4 S. Albany 1 4 Outros 34 sorot. Instituto Adolf Lutz - agosto / 1995. Total amb. ração ind. 18 6 6 2 1 1 - 1 5 1 - No % 132 43,4 16 5,3 11 3,6 10 3,3 9 3,0 8 2,6 7 2,3 7 2,3 7 2,3 6 2,0 91 29,9 S. ENTERITIDIS EM AVES E SAÚDE PÚBLICA - OS FATOS - Como a S. Enteritidis chegou até a avicultura brasileira ? Fagotipos (FT) de Salmonella Enteritidis identificados pelo Instituto Adolfo Lutz de São Paulo de origem humana e não humana. FT 1975-92 1993 1994 1995 Total Nº (%) Nº (%) Nº (%) Nº (%) FT-2 1 1 0 0 0 0 0 0 FT-4 2 2 15 65 340 100 124 98 FT-6 0 0 0 0 0 0 1 FT-8 68 81 8 35 1 0 10 1 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 FT-22 8 FT-23 1 Não tipav. 4 Total 84 Fonte: Irino et al. 1996 23 341 Nº (%) 1 0 481 84 1 1 0 1 1 78 14 0 0 0 0 0 0 8 1 4 1 0 1 126 574 S. ENTERITIDIS EM AVES E SAÚDE PÚBLICA - OS FATOS - Após 1993 - detecção de SE em matrizes e pintos no Brasil: Aves adultas reagentes no teste de pulorose (SAR) enviadas para exames. Pintos (matrizes e comerciais) de clientes positivos na monitoria dos fornecedores. Salmonella spp. em forro de caixa de pintos de um dia de idade - estudo de 1997. Tipo de criação Positividade Sorotipos isolados Matriz pesada 5 / 6 - 83 % S. Heidelberg (5x) S. Mbandaka (1x) Poedeiras comerciais 5/10 - 50 % S. Enteritidis (4x) – 10% S. Cerro (1x) S. Mbandaka (1x) Fonte: Zancan et al., 2000. Detecção de sorotipos de Salmonella isolados de materiais avícolas enviados ao Laboratório de Ornitopatologia da FMVZ - UNESP - Botucatu 1994 a 1999 (Andreatti Filho et al., 2001). ro s O ut ru m lo na Ag o Pu l En t er i ti di s (%) An at um M ba nd ak Se a nf te nb er M g on te vi de o Cu ba na Br ed en ey O c o r r ê n c i a 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Distribuição do material avícola analisado, responsável pelo isolamento dos sorotipos de Salmonella no Laboratório de Ornitopatologia da FMVZ - UNESP - 1994 a 1999 (Andreatti Filho et al., 2001). Fa rin ha pe ix e ca rn e Fa rin ha Ca m a Ra çã o co Ca rte rc aç a fra ng o o Po Fr an g M at ri z pe sa d a (%) ed ei ra 40 35 30 25 20 15 10 5 0 O c o r r ê n c i a Programa Nacional de Sanidade Avícola - PNSA Portaria no. 193 do MAPA - setembro de 1994 •Doença de Newcastle •Influenza aviária •Micoplasmoses aviárias •Pulorose e Tifo aviário S. ENTERITIDIS EM AVES E SAÚDE PÚBLICA - OS FATOS - S. Enteritidis em alimentos e surtos de infecção alimentar no Brasil. Salmonella spp. isoladas de alimentos destinados a merenda escolar comprados pela Secretaria Municipal de Abastecimento da Prefeitura da Cidade de São Paulo - 1996. Fonte Frango Lingüiça Surtos Outros Fonte: Lírio et al., 1998. Porcentagem 76, 4 10,0 8,5 5,1 Sorotipos de Salmonella isolados de alimentos destinados a merenda escolar comprados pela Secretaria Municipal de Abastecimento da Prefeitura da Cidade de São Paulo - 1996. Sorotipos de Salmonella Nº de cepas (%) Enteritidis 99 70,6 1, 9, 12:-:- 1 0,7 40 28,7 Demais Fonte: Lírio et al., 1998. Salmonella Enteritidis em carcaças de frangos no Brasil. Estudo A Estudo B Material 150 carcaças de frangos congeladas de quatro marcas. Carcaças de frangos de 60 pequenos abatedouros avícolas. Local Comercio varejista de Jaboticabal, SP. Cidade de Mauá, SP. Período 1996 a 1997. 1998. Salmonella 32% das amostras em: analisadas (60,4% Enteritidis). 42% das amostras analisadas (30% Enteritidis). Fonte: Fuzihara et al., 2000. Santos et al., 2000. Salmonella Enteritidis em ovos de consumo no Brasil. Experimento de Campo Material: Local: Período: Ovos de galinha. Comércio varejista de Campinas, SP. janeiro a março de 1995. Resultados: Positividade para SE em 10% das amostras. Fonte: Oliveira & Silva (2000). Salmonella spp. e a imprensa PROGRAMA DE CONTROLE DE SALMONELLA EM AVES (BRASIL) Instr. normativa - MAPA - novembro/2003 REPRODUTORAS 1-5 dias: Diagnóstico bacteriológico (50 aves). Suabes de cama (Pool dos círculos de cada aviário). REPRODUTORAS 12 semanas / núcleo: Suabes cloacais (50) ou Pool de 100 amostras de fezes ou Dois suabes de arrasto e 100 amostras para soroaglutinação rápida (SAR). PROGRAMA DE CONTROLE DE SALMONELLA EM AVES (BRASIL) Instr. normativa - MAPA - novembro/2003 REPRODUTORAS EM INÍCIO DE PRODUÇÃO: Avós, bisavós e linhas puras: SAR em 100% das aves. Diagnóstico bacteriológico. Matrizes não vacinadas: SAR em 500 amostras / núcleo. Diagnóstico bacteriológico. CONTROLE PERIÓDICO (a cada três meses): Diagnóstico bacteriológico em aves e em pool de ovos bicados e em mecônio. SAR em 100 amostras / núcleo. PROGRAMA DE CONTROLE DE SALMONELLA EM AVES (BRASIL) Instr. normativa - MAPA - novembro/2003 Matrizes vacinadas / núcleo: Primeiro nascimento de pintos: Mecônio de 200 aves 150 ovos bicados Bacteriológico: Pool de gema, Pool de fígado, baço e bursa e Pool de ceco 27a semana de idade: Bacteriológico de 60 aves: (fígado, baço, ovário e tonsila cecal). PROGRAMA DE CONTROLE DE SALMONELLA EM AVES (BRASIL) Instr. normativa - MAPA - novembro/2003 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS: Avós, bisavós e linhas puras: + para S. Gallinarum, Pullorum, Enteritidis ou Typhimurium = sacrifício/abate do núcleo e eliminação todos os ovos. Matrizes: + para S. Gallinarum ou Pullorum - idem avós. + para S. Enteritidis ou Typhimurium = cancelamento certificação de livre e considerado controlado somente quando da obtenção de resultados negativos e reforço de medidas de biosseguridade. S. ENTERITIDIS EM AVES E SAÚDE PÚBLICA - OS FATOS - Medidas adotadas pela indústria avícola brasileira visando o controle de Salmonella spp. SALMONELOSE - Prevenção e Controle Ração: Farinhas de origem vegetal. Peletização. Ácidos orgânicos. Desinfecção de equipamentos. SALMONELOSE - Prevenção e Controle Ovos: Coleta - freqüência - equipamentos - coletor. Manuseio - ovos sujos ou de chão. Ninhos - desinfecção - troca da cama. Fumigação. SALMONELOSE - Prevenção e Controle Incubatório: Fumigação. Desinfecção equipamentos / instalações. Monitoria - testes microbiológicos. SALMONELOSE - Prevenção e Controle Cuidados gerais / Manejo: Biosseguridade. Adquirir aves livres e alojá-las em granjas livres. Controle efetivo e contínuo de roedores. Monitorar presença Salmonella na ração/matéria prima. Limpeza intensiva e desinfecção das instalações. Treinamento em biosseguridade. Operários e técnicos: normas rígidas higiene. Proibição de visitantes desnecessários. Eliminar contato com aves silvestres/animais domésticos. SALMONELOSE - Prevenção e Controle - Imunização: Bacterina - S. Enteritidis. Vacina viva - 9R (Confere proteção às poedeiras contra SE). SALMONELOSE - Prevenção e Controle Antimicrobianos: Terapêuticos. Promotores de crescimento. Sorologia: SAR. SALMONELOSE - Prevenção e Controle Monitoria - sorológica / bacteriológica: Sorologia Pintos Matéria prima / ração Mecônio suabe de arrasto Fezes / cama aviário Ovos bicados Vísceras SALMONELOSE - Prevenção e Controle Probióticos •Equilíbrio intestinal Prebióticos Simbióticos •Melhorar índice zooeconômico •Reduzir colonização intestinal por Salmonella spp. Produtos de exclusão competitiva Presença de Salmonella Enteritidis nas fezes de aves desafiadas via intra-esofagiana, após tratamentos com lactose, ácido acético e microbiota cecal anaeróbia (Andreatti Filho et al., 2000). 8 Média de UFC / grama de fezes (Log 10) 6 4 2 0 Controle Lactose Ác. Acético Microbiota Halos de inibição a partir de amostras de Lactobacillus reuteri frente a Salmonella Enteritidis. DIFICULDADES ASSOCIADAS A ERRADICAÇÃO DE S. Enteritidis EM GALINHAS NO BRASIL Ocorrência de SE tem pouco ou nenhum impacto na produtividade das granjas. Programas de controle e erradicação são complexos e de custo elevado. Erradicação de SE das granjas avícolas reduzirá os surtos humanos ? Dificuldade dos organismos oficiais na operacionalização dos programas de controle e erradicação. Salmonella Enteritidis Saúde avícola X Saúde humana A indústria avícola não negligencia a situação e faz esforços para conter o problema, através da adoção de medidas já utilizadas em outros países, associada com a sua própria experiência (melhorando as práticas de biosseguridade).