Os elementos
axiológicos e
epistemológicos da
aprendizagem humana
Aulas 10-11
No processo de aprendizagem
Valores culturais
Conteúdos
Realidades do mundo
- Todo o processo de ensino-aprendizagem passa
por dois juízos básicos:
a) Juízo de realidade: constatamos a existência das
coisas e dos seres, e as relações entre os fenômenos
Ex: A mesa ou a cadeira existem. O calor dilata os
corpos
b) Juízo de valor: é a qualificação das coisas
existentes, descoberta daquilo que nos provoca
atração ou repulsa.
Ex: A mesa e a cadeira são feias ou bonitas. O calor
que dilata os corpos tem um valor de verdade ou
não.
“Os valores não são, mas valem. Uma
coisa é valor e outra coisa é ser. Quando
dizemos de algo que vale, não dizemos
nada do seu ser, mas dizemos que não é
indiferente. A não-indiferença constitui
esta variedade ontológica que
contrapõe o valor ao ser.
A não-indiferença é a essência do ser.”
Garcia Morente
- A valoração é a experiência axiológica de um sujeito
dentro de uma situação concreta em todos os grupos
sociais.
- O ato de valorar é uma tarefa humana e coletiva que
nunca termina. Ele fundamentará o projeto comum de
dar sentido ao nosso mundo.
- A educação, como parte da apresentação do mundo
aos homens, também está impregnada da dimensão do
ato de valorar que condiciona a nossa práxis educativa
dentro e fora do ambiente escolar.
- Ao trazer a reflexão o ato de valorar, a educação se
tornará mais coerente e eficaz se formos capazes de
explicitar esses valores, ou seja, se desenvolvermos um
trabalho reflexivo que esclareça as bases axiológicas da
prática educativa dos professores em relação aos seus
alunos.
3 elementos axiológicos básicos utilizados
na prática educativa do educador
Valores morais
Valores políticos
Valores estéticos
Valores morais
- Moral: conjunto de regras de conduta adotadas pelos
indivíduos de um grupo social e tem a finalidade de
organizar as relações interpessoais segundo os valores
duais de bem ou mal.
- Immanuel Kant -1724-1804: “O homem não nasce moral,
torna-se moral.” – processo promovido pela educação
- A educação: processo de interação entre os seres sociais
onde se aprende a moral do convívio humano. O professor
deve reconhecer que ele faz parte do processo de
conscientização de valores que fará o aluno ligar a vivência
da escola com a vida: educamos para que se formem
pessoas capazes de boa convivência social, agindo assim
sob critérios morais e princípios que a sociedade elegeu
como virtuoso.
- Tornar-se moral tem uma dupla face: pessoal
e social. Tornar-se moral é assumir livremente
regras que possibilitem crescimento pessoal,
entendendo-se pessoa como alguém que faz
parte – e contribui – com o grupo social.
- Adolescência: momento de elaboração da vida
moral. Vivência da crise do desenvolvimento
humano. Passagem da heteronomia para
autonomia. A lei a que ele obedece não mais é
imposta do exterior (hetero=diferente), mas
ditada pelo próprio sujeito moral
(auto=próprio).
- Autonomia moral é diferente de
individualismo. Implica ser responsável
(responder por seus atos) e capaz de
reciprocidade (toda ação intersubjetiva).
- A aprendizagem da moral não é espontânea e
nem tão pouco automática. Está nas diversas
práticas sócio-educacionais.
Como aprender a
solidariedade no
ambiente do salve-sequem-puder?
Valores políticos
- Política: dedica-se a refletir sobre o uso do poder
que torna possível a administração da cidade, ou
seja, do espaço de atuação do cidadão.
- Nenhuma prática educativa é neutra, estando
comprometida com o universo político que a
organiza, visando ou conservar o status quo da
realidade ou em busca de uma mudança.
- O professor que não tem consciência dos
pressupostos políticos de sua prática esta a
serviço da ordem vigente, seja ela qual for.
- A discussão atual que participa a escola é a
questão democrática. Este ideal a ser
alcançado choca com as coexistência de
antigas estruturas solidificadas que dificultam
a vivência deste projeto social.
- A democracia é excelência uma policracia, ou
seja, o poder não está nas mãos de um
indivíduo ou de um grupo dirigente, mas
dividido em inúmeros focos de poder, típicos
da sociedade pluralista.
- Cidadania: ideia de participação do poder
político, participação do ‘público’.
- Dificuldade da escola: estimular o pluralismo
quando existe segregação, preconceito,
exclusão. Em uma sociedade que ensina a
obedecer e não a questionar e a regra é o
autoritarismo decorrente das relações
hierárquicas.
Valores estéticos
- Estética= aisthésis = faculdade de sentir,
compreensão pelos sentidos, percepção totalizante.
- Educação estética: instrumento de valorização
integral do homem, articulando a razão ao
sentido da palavra afetividade, humanizando-o.
- Diferente da ciência e do senso comum que
apreende o objeto pela razão, a arte é uma forma
de conhecimento que organiza o mundo por
meio do sentimento, da intuição e da imaginação.
- Através da educação o professor deve explorar
os sentidos, cultivar os sentimentos, abrir-se
para a imaginação, aceitar o desafio da intuição,
estimular a criatividade para a invenção e a
novidade do mundo dentro e fora da sala de
aula.
- A investigação dos valores estéticos expressos
nas expressões artísticas culturais e, presentes
na sociedade em que a escola se encontra,
ajuda aos alunos e professores a evitarem as
formas petrificadas, rígidas e intransigentes do
moralismo ou do fanatismo político.
- A arte se encontra na dimensão da utopia
filosófica, que nada mais é do que a expressão
da esperança e potencialidade das pessoas
serem mais do que realmente a sociedade
impõem a ser como sujeito. É instrumento de
formação da personalidade dos seres
humanos.
A autoridade do mestre
- Autoridade ≠ autoritarismo (hierárquico) ou
anomia (ausência da direção do trabalho
educativo)
- A autoridade do mestre não está na sua função
nem na sua pessoa, mas na suas competências e
no seu empenho profissional.
- A autoridade do professor nasce de um processo
de desigualdade do ponto de partida para se
chegar a uma igualdade no ponto de chegada.
- A sua autoridade vem da direção do processo
educativo que pede que ele consiga distinguir
entre o aluno empírico e o aluno concreto.
- O aluno empírico: aquele se apresenta com
seus valores, desejos e interesses.
- O aluno concreto: o aluno-síntese das relações
sociais que deve aprender os valores e os
interesses definidos pela sociedade.
- A criança/adolescente não entenderá este
processo facilmente pois ela é movida de outros
desejos e interesses. Cabe ao professor usar a
autoridade (do processo), consciente do seus
valores, dar condições para que o aluno alcance
os interesses maiores de sua humanização.
- O aluno concreto aprenderá a respeitar o mestre
quando for capaz de perceber que ambos têm
objetivos comuns. À medida em que o aluno se
desenvolve no processo de aprendizagem, a
autoridade promove o desaparecimento do
aspecto assimétrico da relação e decretando a
‘morte’ do professor naquela situação de
aprendizagem.
- Educar não é dirigir o filho ou o aluno para um ponto
escolhido de antemão, mas é dar condições para que o
educando se encontre e faça o seu próprio caminho.
- A axiologia na educação: reconhecer que nem sempre os
valores que temos são universais; ser humildes para
admitir que podemos estar enganados e aceitar que não
há como obrigar ninguém a não errar.
“Entendo por humanização o processo que
confirma no homem aqueles traços que
reputamos essenciais, como o exercício da
reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição
para com o próximo, o afinamento das emoções,
a capacidade de penetrar nos problemas da
vida, o senso da beleza, a percepção da
complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do
humor. A educação desenvolve em nós a quota
de humanidade na medida em que nos torna
mais compreensivos e abertos para a natureza,
a sociedade e aos semelhantes.”
Antônio Candido
E a epistemologia no processo de
aprendizagem?
- Episteme = ciência; logos = estudo. Conhecida
como teoria do conhecimento.
- Ato de conhecer: relação entre o sujeito
cognoscente e objeto conhecido
- Recapitulação: dois principais critérios
Empirismo:
Racionalismo:
O conhecimento começa
após a experiência
sensível
Busca na razão os critérios
para o conhecimento da
realidade como verdadeiro
Pressupostos epistemológicos da
práxis pedagógica.
1. Teorias aprioristas
- A ênfase da aprendizagem está no sujeito.
- A educação surge como um processo de
atualização, no sentido de tornar presente o
que cada um tem como potência.
- Professor: condições para que o aluno
descubra as suas potencialidades e desenvolva
os dons inatos.
Exemplos:
“O bom professor é aquele capaz de despertar
no aluno o gosto pelo estudo.”
“As notas deles são baixas porque ele não tem
inteligência para matemática.”
2. Teorias empiristas
- A ênfase está na transmissão dos
conhecimentos acumulados e da descoberta
de algo que já existe (objeto);
- O aluno é uma tábula rasa (John Locke), ou
seja, passivo diante do conhecimento para ser
incorporado e transformado em conteúdo
mental.
- Professor: o conhecimento como transmissão,
como produto acabado, e como acumulação
quantitativa.
Exemplos:
“O bom professor é
aquele que sabe
transmitir bem o
conhecimento
acumulado na cultura.”
“O aluno precisa estudar
bastante, treinando o
suficiente e fixando o que
aprendeu na sua
memória.”
3. Teorias interacionistas
- A ênfase da aprendizagem está em proporcionar
um conhecimento como resultado da ação que se
passa entre o sujeito e um objeto.
- O ato de conhecer é dinâmico: estágios de autoorganização das estruturas em sala de aula,
alternando mobilidade e estabilidade.
- Valoriza o objeto, o mundo e o professor, ou seja,
o conhecimento passa a ser o produto
acumulado pela humanidade, a autoridade do
saber do mestre e a experiência de vida do aluno
e sua capacidade de construção de
conhecimento.
Exemplos:
“ O bom professor é aquele que tem um olhar
antropológico ao aluno, levando em
consideração o estágio de desenvolvimento
intelectual em que ele se encontra e as
situações sociais que se organiza a
aprendizagem, para que ele aprenda por si
próprio (autonomia).
“A superação do apriorismo e,
sobretudo, do empirismo é a
condição necessária, embora
não suficiente, de avanços
apreciáveis e duradouros na
prática docente.”
Fernando Becker
Enfim,
- Os elementos axiológicos e epistemológicos são
elementos constituintes das práticas pedagógicas
em sala de aula e devem ser constantemente
refletidos pelo professores.
- As tendências filosófico-pedagógicas são
organizadoras de práticas e visões antropológicas,
axiológicas e epistemológicas nas escolas,
direcionando assim, não somente a prática do
professor mas a construção de uma identidade
social do profissional da educação.
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Os elementos axiológicos e epistemológicos da aprendizagem