Cidadania no Brasil T. H. Marshall: argumentou que o núcleo da cidadania moderna envolve três conjuntos de direitos e deveres: civis, políticos e sociais. Esses direitos foram implementados em períodos históricos distintos nas principais sociedades europeias. Inicialmente, no século XVIII, os direitos civis; um século depois, os direitos políticos; por fim, no século XX, os direitos sociais, culminando com a constituição dos Estados de Bem-Estar Social. Cidadania no Brasil A história de construção da cidadania no Brasil envolveu processos distintos daqueles analisados por Marshall. 1930: divisor de água na história brasileira. A história passou a andar mais rapidamente, especialmente no que diz respeito ao avanço dos direitos sociais. 1930-1945: período marcado pelo avanço dos direitos sociais; garantia precária de direitos civis e políticos para a maioria da população. Cidadania no Brasil Revolução de 1930: aliança entre dissidências oligárquicas e dissidência militar (“tenentismo”); reformistas; dois grandes movimentos políticos (AIB, ANL). Golpe de 1937: apoiado pelos integralistas e por grupos sociais importantes (bandeira de combate ao comunismo, projeto político industrializante e nacionalista). A elite política que chegava ao poder defendia a centralização política e a unidade nacional (positivismo, transformações materiais, etc.) 1937-1945: Estado Novo (ditadura varguista). Formação do Estado Varguista: promotor do desenvolvimento capitalista por meio de uma articulação entre capital privado (doméstico e internacional) e capital público; pólo organizador da sociedade através de uma estrutura sindical corporativa (incorporação e controle das massas urbanas). Cidadania no Brasil Estado como pólo organizador da sociedade: construção de uma estrutura sindical corporativa. Baseava-se numa concepção de que o Estado devia garantir a harmonia das relações entre capital e trabalho (unicidade sindical, órgão consultivo, exigência de reconhecimento do sindicato pelo MT, imposto sindical). A interferência do Estado era uma faca de dois gumes: se protegia com a legislação trabalhista, constrangia com a legislação sindical. Cidadania no Brasil Estrutura sindical: base para a expansão dos direitos sociais (jornada de trabalho de oito horas; regulamentação do trabalho feminino; criação da carteira de trabalho; direito a férias; direitos a previdência social). Os direitos sociais abrangiam todos os trabalhadores urbanos, com exceção dos trabalhadores autônomos e domésticos. Tratava-se, portanto, de uma concepção de política social como privilégio e não como direito (cidadania regulada). Cidadania no Brasil Cidadania regulada: os benefícios atingiam aqueles a quem o governo decidia favorecer, particularmente os que se enquadravam na estrutura sindical corporativa. As massas trabalhadoras foram incorporadas à vida social por meio de leis e não de sua ação sindical e política independente. Populismo: conceito que busca captar as mudanças na estrutura das relações políticas no contexto da transição de uma sociedade rural para uma sociedade urbana e industrial. O populismo tenta dar conta do fenômeno aparentemente contraditório de incorporação das massas urbanas na vida institucional e seu controle rigoroso pelas elites estatais. Encontrava apoios entre os trabalhadores e na máquina sindical, setores nacionalistas das Forças Armadas, setores nacionalistas do empresariado e da intelectualidade. Cidadania no Brasil 1945-1964: primeira experiência democrática brasileira: extensão do direito de votar a todos aqueles maiores de 18 anos; voto secreto, obrigatório, direto; construção da justiça eleitoral; formação de partidos nacionais de massa. No entanto, a política populista reduzia os espaços de organização autônoma de grupos sociais; exclusão dos analfabetos (1950: 57% da população, especialmente na zona rural); eleitorado ainda bastante restrito; proibição do PCB; eleições fraudulentas; principais atores políticos não estavam comprometidos com a democracia. Cidadania no Brasil Constituição de 1988: Constituição Cidadã: natureza liberal e democrática. Os direitos políticos atingiram uma extensão e amplitude inéditas. No entanto, a democracia não conseguiu resolver os problemas econômicos mais sérios, como desemprego e a desigualdade socioeconômica. Direitos Políticos: eliminação de um dos últimos obstáculos à universalização do voto (proibição do voto aos analfabetos); Maior liberdade para a formação de partidos, o que aumentou o número de partidos no país (cerca de 30 no total); Cidadania no Brasil Distorção parlamentar: o princípio liberal “cada pessoa, um voto” é distorcido pelas regras de representação parlamentar ao estabelecer um piso de 8 e um teto de 70 deputados por Estado. Por exemplo, nos estados menos populosos, como Roraima, o voto de um cidadão pode valer mais de 10x aquele de um eleitor de São Paulo. A distorção ocorre também na eleição para o Senado da República (efeito conservador); Processo de impedimento de Collor: deu aos cidadãos a sensação de que exercem algum grau de controle sobre os governantes; Cidadania no Brasil Direitos Sociais: melhoria em alguns indicadores sociais, como mortalidade infantil, escolarização, alfabetização. O analfabetismo da população de 15 anos ou mais caiu de 25,4% em 1980 para 14,7% em 1996. A escolarização da população de sete a 14 anos subiu de 80% em 1980 para 97% em 2000; Persistência de desigualdades socioeconômicas: o país tem uma das piores distribuição de renda do mundo. As desigualdades têm natureza regional e racial. Como pensar as causas das desigualdades socioeconômicas no Brasil? Cidadania no Brasil Direitos Civis: os direitos civis estabelecidos antes do regime militar foram recuperados após 1985: liberdade de expressão, de imprensa e de organização. Definiu o racismo como crime inafiançável e imprescritível. Foi, ainda, regulamentado um conjunto de direitos de proteção ao consumidor em 1990. Em 1996, o Programa Nacional de Direitos Humanos foi implementado como forma de proteger os direitos básicos da população. Apresentam os maiores déficits no Brasil, em termos de conhecimento, extensão e garantias. Cidadania no Brasil A falta de garantia dos direitos civis se verifica sobretudo no que se refere à segurança individual, à integridade física, ao acesso à justiça. O problema da criminalidade e violência urbanas está ligada ao surgimento das grandes metrópoles. Em 1960, a população rural ainda superava a população urbana. Em 2000, 81% da população vivia nas cidades. Nelas, a combinação de desemprego, trabalho informal e tráfico de drogas criou um campo fértil para a proliferação da violência. Os índices de homicídios no Brasil são um dos maiores do mundo. Inadequação dos órgãos de segurança pública para realizar suas funções, acesso limitado à justiça.