A Seguridade Social e o Financiamento do SUS no Brasil EQUIPE DA ECONOMIA DA SAÚDE Profº Elias Antônio Jorge Ana Cleusa Serra Mesquita Andrea Barreto de Paiva Ruyter de Faria Martins Filho Breve Histórico Século XIX – Primeiras Iniciativas de Proteção Social • Em Vila Rica (atual Ouro Preto) surgiu a primeira cooperativa de que se tem notícia no Brasil. Ela visava a assegurar aos seus cooperados caixão e velório, isto é, buscava-se a dignidade na hora de morrer. Século XX – Intensificação das demandas por proteção social • Surgiram as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAP) e, com elas, a Lei Eloy Chaves, em 1923, a qual regulamentava sua atuação e acabou por marcar o início da Previdência Social no Brasil. Tratava-se do embrião de um sistema de proteção social presidido, no entanto, pela lógica de seguro. Breve Histórico Anos 30. CAP's foi ampliada pelo surgimento dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP). • Os IAP absorveram a maior parte das antigas CAP e buscaram prover cobertura aos trabalhadores dos mais diversos segmentos contra alguns riscos sociais. 1966. Decreto nº 72: agregação dos IAPs e crição da previdência no INPS – Instituto Nacional de Previdência Social . • Esta mudança, no entanto, não alterou a lógica de seguro; Os benefícios permaneciam restritos aos trabalhadores do mercado formal que contribuíam ao sistema previdenciário. • Aos indivíduos excluídos do mercado formal de trabalho, uma dupla penalidade: privação de melhores condições de trabalho e exclusão da cobertura médico-hospitalar. Restava-lhes disputar com os mais pobres e indigentes a assistência ofertada pelas Santas Casas de Misericórdia. Breve Histórico 1988. Constituição Federal e seus objetivos redistributivos • Financiamento da Seguridade por orçamento próprio (OSS) e responsabilidade de financiamento pelos três níveis de governo. Além disso, criação de novas fontes de receita para a Seguridade (COFINS, PIS/PASEP, CSLL). • O fortalecimento do FPE e FPM para reduzir as desigualdades regionais. Pelo FPE, 21,5% da arrecadação líquida (arrecadação bruta deduzida de restituição e incentivos fiscais) do Imposto sobre a Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) são repassados aos Estados. No caso do FPM, 22,5% da arrecadação líquida do IR e do IPI são repassados aos municípios, entretanto, do montante do FPM são deduzidos 15% para o FUNDEF/ FUNDEB. O FPM ainda recebe 50% do IPVA e 25% do ICMS arrecadado pelos estados. Impasses na questão do Financiamento • Art. 55, do ADCT: até a edição da primeira LDO (1990), 30% do OSS para as ações e serviços públicos de saúde. • As LDO para os anos de 1990 a 1993 reproduziram o disposto no art. 55 do ADCT. Apesar disto, as LOAs do mesmo período não respeitaram o disposto na LDO respectiva. • Crise de financiamento da saúde em 1992, sanada com empréstimo junto ao FAT. • Em 1993, a crise foi agravada, pois além de não cumprir o disposto na LDO, o Ministério da Previdência suspendeu o repasse dos valores arrecadados pelo INSS e os previstos no orçamento para a Saúde. O MS foi obrigado novamente a recorrer ao FAT. • Sob a gestão de Jamil Haddad, o MS passa então a exigir nas negociações com a área econômica o cumprimento da LDO (30% do OSS para a Saúde). O resultado foi o veto presidencial a este dispositivo na LDO de 1994. Impasses na questão do Financiamento • O descumprimento da destinação original dos recursos do OSS começou a ser institucionalizado com a criação do Fundo Social de Emergência (FSE) em 1994. Esse mecanismo se renova em 1997, sob a denominação de Fundo de Estabilização Fiscal (FEF). Em 2000, este se torna Desvinculação das Receitas da União (DRU). Apesar das variantes expressões, na essência, trata-se do mesmo: mecanismos que possibilitam o desvio de recursos do seu destino original, constitucionalmente determinado. Criação da CPMF e Resultado do OSS • Criação da CPMF em 1996. A alíquota foi posteriormente elevada, de 0,20% para 0,38%, destinando-se a diferença para a Previdência Social (0,10%) e Assistência (0,08% - Fundo de Erradicação da Pobreza). • Caso fosse observado o conceito de Seguridade Social escrito na Constituição e não houvesse o desvio dos recursos do OSS do destino original para outras finalidades, através da DRU, a Seguridade apresentaria superávits significativos, como mostra a tabela seguinte. Tabela 1 - Receitas e Despesas da Seguridade Social Em R$ milhões (nominais) Categorias I - Receitas (antes da DRU) Receitas de Cont. Sociais Previdenciárias Cofins CPMF CSLL Concursos de Prognósticos (2) Pis/Pasep Receitas Próprias (Min. Prev.) Outras receitas I - Total II - Despesas (por função) Saúde Previdência Trabalho Assistência Social II -Total II - Resultado do OSS III - Despesa (por órgão) Ministério da Previdência Ministério da Saúde Ministério do Trabalho (3) Ministério do Desenv. Social III - Total III - Resultado do OSS 2002 2003 2004 2005 2006 2007(1) 75.878,7 52.467,9 20.266,9 13.370,1 1.053,7 85.541,1 58.761,4 23.044,3 16.192,4 1.277,0 102.384,9 78.657,8 26.432,6 19.895,6 1.521,3 123.110,6 89.597,5 29.120,3 26.232,0 1.564,3 135.739,2 91.481,2 32.263,1 28.023,6 1.533,0 153.483,5 102.853,1 28.440,2 31.483,7 1.764,9 7.776,6 349,9 1.715,8 172.879,6 10.186,3 199,1 2.241,6 197.443,1 11.833,6 1.244,1 194,7 242.164,6 13.250,0 797,6 265,6 283.937,8 14.270,7 731,9 304,7 304.347,3 15.947,9 729,6 287,3 334.990,2 25.434,6 123.218,1 8.477,8 6.513,2 163.643,7 9.235,9 27.171,8 145.477,5 9.494,8 8.416,4 190.560,6 6.882,5 32.972,9 165.509,4 10.706,7 13.863,3 223.052,4 19.112,2 36.483,3 188.505,5 12.716,9 15.806,1 253.511,8 30.426,0 39.736,2 212.490,4 16.417,4 21.551,1 290.195,1 14.152,2 45.700,6 233.233,5 17.469,3 24.403,2 320.806,5 14.183,8 99.679,1 27.294,2 15.049,6 142.022,9 30.856,7 119.434,2 29.382,0 17.086,2 1.060,5 166.962,8 30.480,3 137.461,2 34.715,4 19.413,2 6.035,7 197.625,5 44.539,1 159.490,6 36.818,0 23.369,7 8.354,4 228.032,8 55.905,0 181.643,9 42.099,4 27.764,0 9.843,1 261.350,4 42.996,9 189.984,2 48.932,2 35.145,1 24.397,8 298.459,3 36.530,9 Fonte: STN. Notas: 1. Previsões de receita e despesa 2. Já deduzido de 40% destinado ao BNDES. 3. Em 2002, Ministério da Previdência e Ass. Social; Em 2003, Ministério da Assist. e Promoção Social. Matriz de Benefícios da Seguridade em 2005-2006 ÁREA Tipos de benefícios por área ATENÇÃO BÁSICA SAÚDE 2005 2006 1.143.294.632 1.176.582.915 PRODUÇÃO AMBULATORIAL ESPECIALIZADOS 726.475.459 795.721.349 (QTDE. APROVADA) ALTA COMPLEXIDADE 323.037.294 401.556.933 11.429.133 11.315.681 102.958.094 108.846.822 95,4 99,6 20.393.756 20.912.090 755.804 732.795 Amparos Assistenciais (LOAS-BPC) 2.277.365 2.477.485 Rendas/Pensões Mensais Vitalícias 515.273 462.656 9.140 8.364 23.951.338 24.593.390 8.005.718 11.071.446 Nº INTERNAÇÕES ATENÇÃO BÁSICA (população coberta) PACS, PSF e outros COBERTURA VACINAL MÉDIA (% dos menores de 1 ano) Benefícios do RGPS PREVIDÊNCIA SOCIAL Benefícios Assistenciais da Previdência EPU TOTAL PREVIDÊNCIA ASSISTÊNCIA Bolsa Família (nº de famílias atendidas) SOCIAL PREVIDENCIÁRIOS ACIDENTÁRIOS Fonte: Ministério da Saúde - Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA/SUS), Ministério da Previdência (MP) e Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Notas: PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde. PSF - Programa Saúde da Família. RGPS - Regime Geral da Previdência Social. EPU - Encargos Previdenciários da União. BPC: Benefício de Prestação Continuada, é um benefício não contributivo, no valor de 01 (um) salário mínimo mensal pago às pessoas idosas com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais e às pessoas portadoras de deficiência incapacitadas para a vida diária e para o trabalho, ambos pertencentes a famílias com renda familiar, por pessoa, inferior a ¼ do salário mínimo. Em vigor desde 01/01/96, é previsto na CF/88, Art. 203, consagrado na Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS (Lei n° 9720/1998 e 10.741/2003) e Propostas de vinculação como solução da crise de financiamento • (PEC 169) Proposta de Vinculação Constitucional “Definitiva” de 30% da OSS + 10% da receita de impostos da União, Distrito Federal, Estados e Municípios. 1994-1996. Tramitação de propostas (PECs) de destinação plena das contribuições sobre faturamento e o lucro; Proposta do Deputado Pinotti (5% do PIB); Proposta Aglutinativa – PEC 82-A: Após algumas discussões, esta proposta logrou ser aprovada no senado, sob a identificação Emenda Constitucional 29 (EC/29) 2000. Aprovação da EC 29/2000. • Estabelece a Vinculação Constitucional de Receitas: Estados - 12% da receita de impostos e transferências constitucionais e legais; Municípios - 15% da receita de impostos e transferências constitucionais e legais; União - o montante aplicado no ano anterior corrigido pela variação nominal do PIB. Para Estados e Municípios, aumento gradual a partir do mínimo de 7% em 2000, até atingirem 12% e 15%, respectivamente, em 2004. 2001- 2004 Aplicação das regras de transição. Resoluções do CNS nos 316 e 322. Expectativa de regulamentação da EC 29, por Lei Complementar, conforme previsto na emenda. Impactos da EC/29 Gráfico 1 - Participação das três esferas no gasto público com saúde (2000-2005) 0,6 0,60 0,56 0,53 0,51 0,50 0,49 0,5 0,4 0,3 0,27 0,25 0,23 0,22 0,2 0,21 0,23 0,22 0,25 0,25 0,25 0,19 0,1 0 2000 2001 2002 União 2003 Estados Municípios 2004 2005 0,25 Tabela 2 – Despesas per capita com ações e Serviços Públicos de Saúde - União, Estados e Municípios: 2000 a 2005 Ano 2000 União 122,52 Estados 38,01 2001 2002 2003 2004 130,37 141,65 153,68 180,10 47,97 61,40 69,11 88,30 53,86 68,74 76,77 90,15 2005 201,68 93,55 109,40 Fonte: SIOPS (Estados e Municípios) SPO/MS (União) Posição em 10/4/2007 Municípios 44,50 Tabela 3 – Despesas com ações e Serviços Públicos de Saúde em relação ao PIB - União, Estados e Municípios: 2000 a 2005 Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 União 1,73% 1,73% 1,67% 1,60% 1,68% 1,73% Fonte: SIOPS (Estados e Municípios) SPO/MS (União) Posição em 10/4/2007 Estados 0,54% 0,64% 0,73% 0,72% 0,83% 0,80% Municípios 0,63% 0,71% 0,81% 0,80% 0,84% 0,94% Tabela 4 – A Evolução do PIB e das Despesas do Ministério da Saúde, 1995 a 2006 PIB (Referência 2000) Variação Nominal Despesas da União - MS Despesas empenhada do MS (R$ Milhões) Despesas em Ações e Serviços de Saúde ASPS (R$ Milhões) ASPS x PIB 14.937 12.257 1,74 Ano R$ Milhões 1995 705.641 1996 843.966 19,60 14.377 12.407 1,47 1997 939.147 11,28 18.804 15.464 1,65 1998 979.276 4,27 19.324 15.245 1,56 1999 1.065.000 8,75 20.338 18.353 1,72 2000 1.179.482 10,75 22.699 20.351 1,73 2001 1.302.136 10,40 26.136 22.474 1,73 2002 1.477.822 13,49 28.293 24.737 1,67 2003 1.699.948 15,03 30.226 27.181 1,60 2004 1.941.498 14,21 36.538 32.703 1,68 2005 2.147.944 10,63 40.794 37.146 1,73 2006 2.322.818 8,14 44.315 40.751 1,75 Tabela 5 – Relação entre Receita Corrente da União e Despesas com Ações e Serviços Públicos de Saúde, 1995 a 2006 Ano Receita Corrente (em milhares R$) Receita Corrente em % do PIB Despesa do MS em % da Receita Corrente Percentual B / PIB 1995 127.094 18,01 9,64 1,74 1996 156.830 18,58 7,91 1,47 1997 175.270 18,66 8,82 1,65 1998 200.455 20,47 7,61 1,56 1999 218.021 20,47 8,42 1,72 2000 252.519 21,41 8,06 1,73 2001 289.411 22,23 7,77 1,73 2002 343.075 23,21 7,21 1,67 2003 384.447 22,62 7,07 1,60 2004 450.590 23,21 7,26 1,68 2005 527.325 24,55 7,04 1,73 2006 584.067 25,14 6,98 1,75 • As receitas correntes entre 1995 e 2006 elevaram-se de 18,01% para 25,14% do PIB, refletindo a elevação da carga tributária. • A participação da despesa do MS nas receitas correntes passou de 9,64%, em 1995, para 6,98%, em 2006. Objetivos da Vinculação de Receitas para ações e serviços de saude: • Comprometer as três esferas de governo com o financiamento da saúde. • Estabelecer fontes estáveis de financiamento, prevenindo crises ou situações de insolvência. • Propiciar o planejamento necessário à sustentabilidade do SUS. • Garantir a continuidade dos gastos do sistema com base no financiamento público e cobertura universal. “O” BRIGADO Professor Doutor Elias Antônio Jorge Gerente de Projetos Secretaria Executiva Ministério da Saúde - Brasil