O Destino dos Agrotóxicos
na Região da Microbacia do
Córrego do São Lourenço,
Nova Friburgo / RJ
JOSINO COSTA MOREIRA
Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana
Escola Nacional de Saúde Pública - Fundação Oswaldo Cruz
Agrotóxicos: um objeto complexo de estudo
IMPACTO
INDIRETO
IMPACTOS
SOBRE A
BIOTA
IMPACTO DIRETO
VIA
AMBIENTAL
VIA
OCUPACIONAL
VIA
ALIMENTAR
FATORES DETERMINANTES DA
AMPLIFICAÇÃO/REDUÇÃO DO IMPACTO
DETERMINANTES
SOCIOECONÔMICOS
PERCEPÇÃO
DE RISCO
APLICAÇÃO DA
LEGISLAÇÃO
HOMEM
COMUNICAÇÃO
O Projeto
Avaliação da Exposição/
Contaminação Humana por
Agrotóxicos
Avaliação da Contaminação
Ambiental por
Agrotóxicos
Análise do Processo
de Trabalho
Regional
Comunicação de Riscos
e Estratégias Educativas
Análise da Percepção
de Riscos
Localização
A região
A Produção Agrícola Regional
• Principal produtora nacional de couve-flor
600 t/ano em 15 ha
• Maior produtora estadual de olerícolas
1.800 t/ano de tomate em 35 ha
• Consome 8,2 toneladas de agrotóxico/ano
• Consumo de agrotóxicos no RJ – 3,2 kg/trabalhador/ano
• Consumo na Região Sudeste – 12 kg/trabalhador/ano
• Consumo no Estado de SP – 28 kg/trabalhador/ano
• Consumo em São Lourenço – 56,5 kg/trabalhador/ano
Estudos de Caso
Avaliação da contaminação dos alimentos - PARA
•
•
•
•
Amostras com resíduos não autorizados para estas culturas_ 74
Amostras com resíduos encontrados acima do LMR________ 94
Amostras com mais de uma irregularidade_______________ 65
Total de irregularidades_____________________________233
Culturas mais Comprometidas:
•
•
•
•
Morango:
Tomate:
Batata:
Mamão:
46,0%
26,1%
22,2%
19,5%
Culturas menos Comprometidas:
•
•
•
•
•
Alface:
Banana:
Maçã:
Laranja:
Cenoura:
8,64%
6,53%
4,04%
1,41%
0,00%
Estudos de Caso
Avaliação da contaminação dos alimentos - PARA
AMOSTRAS ANALISADAS:
1.278 (98,68% das amostras coletadas)
IRREGULARIDADES ENCONTRADAS:
233 amostras apresentaram irregularidades seja quanto a
resíduos acima do LMR estabelecido seja quanto à presença
de resíduos de agrotóxicos não autorizados para estas
culturas.
Este número representa 18,23% do total de análises,
distribuídas da seguinte forma:
Avaliação da Contaminação
Ambiental por Agrotóxicos
Utilização de Indicadores Ecológicos:
• Impacto na Biota
• Influência da Vegetação Marginal
• Dispersão em sistemas hídricos
Avaliação através de medidas químicas e físico-químicas
Concentração de anticolinesterásicos na água do Córrego de São
Lourenço, de abastecimento (´) e ar interior
Córrego: episódica (2 coletas)1a - 76,8 g/L (ponto 5); 37,2 g/L(ponto
6) e 31.4 g/L (ponto 4)
Concentração em ppb
Distribuição dos agrotóxicos no ar e água das casas
0,8
0,75
0,7
0,65
0,6
0,55
0,5
0,45
0,4
0,35
0,3
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
Fenitrotion
Metil azinfós
Clorpirifós
Malation
Paraoxon
Metil Paration
A A' B B' C C' D D' E E' F F' G G' H H'
Propriedades
Efeitos sobre a biota aquática (macroinvertebrados)
Parâmetro
S1
S2
V1
V2
S3
S4
Riqueza
61
58
67
48
18
27
EPT
25
23
28
14
4
10
Fonte: Egler, M. O uso da comunidade de macroinvertebrados bentônicos para a avaliação da
degradação de ecossistemas de rios em áreas agrícolas. Dissertação de Mestrado. 2001
S1 e V1 – Áreas Florestadas
S2 – Área Desmatada
V2 – Área Desmatada Controle
S3 e S4 – Áreas Cultivadas
EPT – Soma dos indivíduos dos gêneros Ephemeroptera, Plecoptera,
e Trichoptera, mais sensíveis à desoxigenação da água
O Que são os Agrotóxicos?
“Agrotóxicos são os produtos e os componentes de
processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso
no setor de produção, armazenamento e beneficiamento de
produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas
nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e também
em ambientes urbano, hídricos e industriais, cuja finalidade
seja alterar a composição da flora e da fauna, a fim de
preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados
nocivos, bem como substâncias e produtos empregados como
desfolhastes, dessecantes, estimuladores e inibidores do
crescimento” (Brasil, 1989)
Avaliação da Contaminação
Humana por Agrotóxicos
Indios (n = 89) – DDT/ metabólitos – 52 ppb (12,8
– 262,6 ppb)
Gestantes/RJ (n = 64) – DDT/metab (90%); HCH
(88%); HCB (77%); aldrin (41%); endosulfan (14%)
Trabalhadores NF (n = 111)– 11% baixa atividade
colinesterásica
Adolescentes e crianças (n = 126) – 17% baixa
atividade
Avaliação da Recepção de Mensagens
Pictograma 1
Fabricante: Mantenha trancado e fora do alcance de
crianças
Trabalhador: “Usando o produto sem proteção”
“Não usar o produto sobre a cabeça”
Pictograma 2
Fabricante: Lave-se após o uso
Trabalhador: “Misturando o remédio (agrotóxico)”
Avaliação da Recepção de Mensagens
Fabricante: Nunca transfira o produto de sua
embalagem original para outra. Uma pessoa
inadvertida pode confundir com uma bebida.
Trabalhador:
“Despejando na garrafa”
“Trocando o líquido de uma garrafa para outra”’
“Tá medindo a quantia num litro”
Fabricante: Armazene os produtos agroquímicos
em local seguro, trancado, longe de alimentos e
fora do alcance de crianças
Trabalhador:
“Armazenando os produtos”
“Não sei não o que é esse trem doido”
“Embalagem no depósito de gás”
Avaliação de um folder
Produtos de
excelente
aparência
(apelo visual)
Qualidade
relacionada
ao uso de
agrotóxicos
Uso de
gráficos
(ícones
cientificistas)
Nomenclatura
científica
Experimentos
descontextualizados
Fotos das
pragas/doenças
Tabelas
(ícone
cientificista)
Nomenclatura
científica
Informações de
advertência sobre o
produto da ANDEF(13)
(sem o menor apelo visual)
Avaliação da Recepção de Mensagens
“Esta
formulação
contém um agente emético, portanto não
em pacientes recém intoxicados por via oral, até
controle vômito
que pela ação do esvaziamento gástrico do herbicida, o
líquido estomacal venha a ser claro.” (rótulo do herbicida
dipiridilo Gramoxone ®, o produto mais utilizado na região - e um dos
mais utilizados em toda a área rural do país)
Segundo os Trabalhadores
• Não controle significa não provoque
• Se a pessoa beber, ela vai morrer
• Sugestão de um trabalhador:
“Em vez disso aí, o sujeito não podia escrever ‘se o caboclo beber o
veneno, deixe ele vomitar até as tripa’!” (Agricultor 35 anos)
Os Desafios da Comunicação Rural
•A necessidade de um olhar específico sobre os homens, as
mulheres e as crianças
• A necessidade da construção de estratégias educativas
baseadas nos saberes e conhecimentos das populações
rurais e adequadas em relação a:
• O teor técnico de material informativo
• A não-clareza das informações contidas em bulas e rótulos
de embalagens de agrotóxicos
• O reforço de estereótipos do trabalhador rural levando à
construção de uma auto-imagem negativa, pelo trabalhador
Análise da percepção de riscos
Percepção de riscos das mulheres
• Puxada de Mangueira – não é vista como sendo uma tarefa
perigosa pois, segundo estas mulheres, os maridos é que
estão pulverizando (no comando do pulverizador)
• Não utilização de EPI
• Posicionamento contra o vento
• Lavagem das roupas – tarefa exclusivamente feminina
• Equipamentos
• Roupas contaminadas lavadas junto com o rol da família
• “Serviço de casa” – não é perigoso
• Parcela importante de mulheres intoxicadas
Análise da percepção de riscos
Percepção de riscos das mulheres
“Eu já senti tonteira, desmaio. Eu tava puxando mangueira.
Tem vez que me levaram pro hospital, teve vez que foi pra
casa mesmo. Já foi umas três vez. No ano passado mesmo eu
desmaiei e era seis hora e fui dar no hospital já era sete
horas, quase oito horas da manhã. Mas lidar mesmo com o
veneno eu nunca dei não, só o marido mesmo. É com os marido
que a gente tem que se preocupar, eles é que lida com o
veneno direto” (Agricultora, 52 anos).
“Durante a gravidez eu ajudava na lavoura do mesmo jeito,
puxava mangueira. Eu acho que isso num tem pobrema, né?”
(Agricultora, 28 anos)
Análise da percepção de riscos
Percepção de riscos dos homens
• Estratégias defensivas / negação e minimização do risco
• Virilidade / desafio ao perigo
• Defesa como forma de suportar um processo de trabalho
extremamente insalubre
• Trabalhadores mais antigos
• Reforço às estratégias defensivas entre os mais jovens
• “Trabalho há mais de trinta anos e nunca tive nada”
• Percepção relacionada à vivência de casos de intoxicação
• Trabalhadores mais jovens
• Relação com a aprendizagem técnica
• Negação do risco e desafio ao perigo
Análise da percepção de riscos
Estratégias defensivas
“Pode trabalhar depende se tiver prevenido. Se tiver cuidado
num tem problema não, mas como eu estou lhe falando, tem
pessoas que é meio lambaião, mas pega passar por cima de
tudo e num liga, quando vê fica intoxicado (Agricultor, 72
anos)
“Eu acho que pode acontecer comigo. No decorrer, as vez,
num sei, né, a gente pode até ficar mais fraco. Eu acho que
tem pessoa fraca pro veneno. Tem gente que não pode nem
ver o cheiro. Já teve gente de trabalhar em casa de veneno
(casa de comércio de agrotóxicos), tava trabalhando lá e teve
que parar. Só pelo cheiro de trabalhar ali ela não consegue
trabalhar. Tem gente que se passar no caminho e tiver
purvizando ele já passa mal, sento o estâmago ruim, ou a
cabeça começa a doer” (Agricultor, 45 anos).
Análise da percepção de riscos
Estratégias defensivas
“Ah, meu jovem, você já falou sobre isso, né? Já deu
problema ,mas o que eu te falei: dá pra mim, num dá pra você,
rapaz”. (Agricultor, 76 anos)
“Por exemplo, eu sou consumidor de cachaça, bebo muita
cachaça. Com pouco tempo eu estou com meu fígado
estourado, já está com cirrose, já estou morrendo. Você
consome cachaça rapaz, você bebe a vida toda, como eu
conheço pessoas ai. Então, é comparação de uma coisa com a
outra. O outro fuma morre de fumo, de cigarro ha pouco
tempo. O outro fuma a vida inteira, num tem problema. Assim
é o problema do veneno rapaz, tem organismo que se dá com o
problema do veneno, já tem outro que num dá? Aqui pelo
menos, aqui eu tenho essa pesquisa com essas coisas assim”
(Agricultor, 72 anos).
Grupos Específicos
• Mulheres:
• Puxada de mangueira
• Lavagem das roupas
• Homens:
• Negação do risco
• Desafio ao perigo
• Crianças:
• Percepção do trabalho dos pais
• Auxílio à colheita – puxada de mangueira
Consolidando o projeto
Avaliação Exposição/
Contaminação Humana
Avaliação Ambiental
Análise do Processo
de Trabalho
Comunicação de Riscos
Percepção de Riscos
Educação
Consolidando o Projeto
Intervenção
Avaliação
Avaliação da Exposição/
Contaminação Humana
Interação
PesquisaAnálise da Percepção
Comunidade
de Riscos
Análise do Processo
de Trabalho
Comunicação
de Riscos
Avaliação Ambiental
Atenção à Saúde
Educação
Remediação Ambiental
Mudança no Processo
de Trabalho
Alguns Resultados
amostrada
40
35
30
25
Consumo Regional de Agrotóxicos
20
15
0
1998
2000
ano
Uso de EPI
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
.
300
(em R$)
5
gastos com agrotóxicos
10
% da população amostrada
% da população
Exposição Humana aos Agrotóxicos
000
,00
00
00,
,00
000
.
0
20
,00
000
.
0
15
,00
000
.
0
10
,00
000
.
0
5
0
0,0
.0
250
1998
2000
ano
1998
2000
ano
Alguns Resultados
• Desenvolvimento Metodológico:
a) Avaliação da Exposição Humana por Cinética Enzimática
b) Avaliação da Contaminação Hídrica (Método Enzimático)
c) Avaliação Ecotoxicológica dos Recursos Hídricos
d) Avaliação da Contaminação Ambiental (Ar)
e) Avaliação do Consumo por Método Participativo
f) Avaliação da Percepção de Risco por RAP
g) Avaliação Psicossocial de Adultos e Crianças
h) Atenção à Saúde Materno-Infantil
• 9 Dissertações de Mestrado e 4 Teses de Doutorado
• Acompanhamento periódico da comunidade
• Produção de Material Didático/Informativo (Vídeo)
• Curso de Extensão em Vigilância Ambiental
Perspectivas
• Proposta de Método Auto-sustentável de Vigilância em Agrotóxicos:
a) Escolas
b) Associações de Produtores
d) Agentes Comunitários de Saúde
d) Postos de Saúde/PSF
• Avaliação Continuada das Ações Empreendidas:
a) Psicodinâmica do Trabalho
b) Avaliação de Riscos
c) Toxicologia
d) Recepção das Informações
e) RAPs
• Treinamento de Equipes/Formação de Recursos Humanos:
a) Análise do Processo de Trabalho
b) Avaliação de Riscos
c) Avaliação da Exposição Humana/Avaliação Ambiental
Estudos / Projetos em Andamento
1) Avaliação da relação entre as isoformas da paraoxonase (PON1) com
o suicídio de trabalhadores rurais
2) Efeito dos agrotóxicos sobre a saúde de crianças e gestantes
3) Construção de material informativo e estratégias de comunicação de
risco baseadas em dados de percepção de risco
Equipe participante
Josino Costa Moreira, farmacêutico
Paula Sarcinelli, farmacêutica
Frederico Peres, biólogo
Rosane Curi, psicóloga
Armando Meyer, biólogo
Jefferson Oliveira da Silva, biólogo
André Luiz Oliveira da Silva, biólogo
Ana Cristina Simões, química
Mariana Egler, bióloga
Darcilio Baptista, biólogo
Alberto Araujo, médico
Jaime da Silva Lima, biólogo
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Análise da percepção de riscos