MARILIA DE MEDEIROS AUGUSTO ANESTESIA INTRAVENOSA TOTAL CURITIBA 2010 MARILIA DE MEDEIROS AUGUSTO ANESTESIA INTRAVENOSA TOTAL Trabalho apresentado como requisito para conclusão do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná. Supervisor: Prof. Dr. Ricardo Guilherme D’Otaviano de Castro Vilani Orientadores: MV Jackson Luís Lemos e Prof. Dr. Stélio Pacca Loureiro Luna. CURITIBA 2010 Dedico esse trabalho àqueles pelos quais todos os esforços valeram a pena. Que eu possa retribuir ao menos em parte todo o investimento, todo amor, carinho, dedicação e confiança que depositaram em mim. Agradecimentos... A Deus, pelo dom da vida, pelas dádivas alcançadas, as batalhas vencidas e por sempre estar comigo. A minha mãe, meu maior exemplo de perseverança, quem me ensinou a enfrentar a vida, e a quem devo tudo que sou e conquistei. A meu pai, pelo seu apoio, pelas conversas e por sempre me dizer que devemos ir atrás daquilo que desejamos. Meus irmãos, Murilo e Agatha. Obrigada por estarem comigo sempre. A irmã mais velha ama e torce muito por vocês. A toda a minha família, que sempre me apoiou e torceu por mim. Vocês são parte mim, são parte do que eu sou. Aos meus amigos e colegas de faculdade. Crescemos juntos, sonhamos juntos e com as bênçãos de Deus continuaremos juntos nessa jornada pela vida. Obrigada pelas conversas, pelos conselhos, pelas risadas e por tudo que conquistamos juntos. Ao meu supervisor, Prof. Dr. Ricardo Guilherme Vilani, por acreditar em mim, por todos os ensinamentos, por todo o auxílio sempre que precisei e pela amizade. Muito Obrigada por tudo. Ao Médico Veterinário Jackson Luís Lemos por ter me aceitado como estagiária e por tudo que aprendi com ele. Muito obrigada pelos estudos, pelas conversas, conselhos e por ter dividido comigo um pouco da sua experiência. Ao Prof. Dr. Stelio Pacca Loureiro Luna, aos residentes do serviço de Anestesiologia Veterinária da UNESP de Botucatu e aos demais funcionários do Hospital Veterinário da UNESP. Vocês contribuíram de forma direta em minha formação profissional. Obrigada pela oportunidade de aprender com vocês. A todos os funcionários de Depto de Medicina Veterinária da UFPR, por serem sempre prestativos e por toda a ajuda sempre que precisei. Aos demais professores do Curso de Medicina Veterinária da UFPR, por nos tornarem Médicos Veterinários. Aos Médicos Veterinários e funcionários da VetSan – Centro Médico Veterinário, Clínica Veterinária Gross e Clínica Veterinária Pedigree. A Universidade Federal do Paraná, por ter me acolhido e por todos os ensinamentos, não só no âmbito profissional, mas também em crescimento pessoal e desenvolvimento cívico. Espero poder retribuir e honrar o nome da Instituição onde quer que eu vá. Ao Ênio, Robson, Juliane e demais funcionários da Veterinária Guaíra. Durante nossa caminhada, encontramos várias pessoas que acrescentam e contribuem em nossa formação. Obrigada por terem depositado sua confiança em mim e pela oportunidade. Aos meus queridos amigos da época do cursinho: Valter, Carolina, Dayane, Fernanda e Francielli. Vocês são os melhores amigos que eu poderia ter. Amo vocês. E por último, mas não menos importante, ao Bernardo, Toby, Nick, Dalila, Luka, Lilica, Nani e Vicky pelo amor incondicional e por estarem sempre ao meu lado. “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque Tu estás comigo: a Tua vara e o Teu cajado me consolam.” (Salmo 23.4) SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ------------------------------------------------------------------ viii LISTA DE QUADROS ----------------------------------------------------------------- x LISTA DE GRÁFICOS ---------------------------------------------------------------- xi LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ------------------------------------- xii RESUMO -------------------------------------------------------------------------------- 13 1. REVISÃO DE LITERATURA: ANESTESIA TOTAL INTRAVENOSA - 14 1.1 INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------- 14 1.2 CONCEITOS FARMACOLÓGICOS UTILIZADOS EM TIVA --------- 16 1.3 ANESTESIA INTRAVENOSA TOTAL --------------------------------------- 17 1.4 SISTEMAS DE INFUSÃO ------------------------------------------------------- 21 1.4.1 SISTEMA OPEN LOOP ------------------------------------------------------- 21 1.4.2 SISTEMA CLOSED LOOP --------------------------------------------------- 22 1.5 INFUSÃO CONTÍNUA ALVO-CONTROLADA (IAC ou TCI) ----------- 22 1.6 PRINCIPAIS FÁRMACOS UTILIZADOS EM TIVA ----------------------- 23 1.6.1 Propofol ---------------------------------------------------------------------------- 23 1.6.2 Etomidato ------------------------------------------------------------------------- 28 1.6.3 Fentanil, Remifentanil, Alfentanil e Sufentanil -------------------------- 30 1.6.4 Cetamina ------------------------------------------------------------------------- 32 1.6.5 Lidocaína ------------------------------------------------------------------------- 34 1.6.6 Morfina --------------------------------------------------------------------------- 35 1.7 MLK OU FLK EM INFUSÃO CONTÍNUA ----------------------------------- 36 1.8 TIVA EM PEQUENOS ANIMAIS ---------------------------------------------- 36 1.9 CONCLUSÃO ---------------------------------------------------------------------- 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ----------------------------------------------- 40 2. RELATÓRIO DE ESTÁGIO ------------------------------------------------------ 47 INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------- 47 OBJETIVO GERAL DO ESTÁGIO ------------------------------------------------ 48 2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO ESTÁGIO ------------------------------- 49 2.4 DECRIÇÃO DO ESTÁGIO ----------------------------------------------------- 49 2.4.1 SERVIÇO DE ANESTESIA MÓVEL --------------------------------------- 49 2.4.2 CENTRO MÉDICO VETERINÁRIO VETSAN --------------------------- 50 vi 2.4.3 CLÍNICA VETERINÁRIA GROSS --------------------------------------- 52 2.4.4 CLÍNICA VETERINÁRIA PEDIGREE ----------------------------------- 53 2.5 ATIVIDADES ACOMPANHADAS E DESENVOLVIDAS NO SERVIÇO DE ANESTESIA MÓVEL -------------------------------------------------------------- 54 2.6 CASUÍSTICA E DISCUSSÃO DO ESTÁGIO REALIZADO NO SERVIÇO DE ANESTESIA MÓVEL -------------------------------------------------------- 56 2.7 DEPTO DE CIRURGIA E ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA DA FMVZUNESP/BOTUCATU --------------------------------------------------------------- 61 2.8 ATIVIDADES ACOMPANHADAS E DESENVOLVIDAS NO SERVIÇO DE ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA DO HV DA FMVZ-UNESP/BOTUCATU ----------------------------------------------------------------------------------------------- 67 2.9 CASUÍSTICA E DISCUSSÃO DO ESTÁGIO REALIZADO NO SERVIÇO DE ANESTESIOLOGIA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA FMVZ UNESP/BOTUCATU -------------------------------------------------------------- 69 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS -------------------------------------------------- 74 vii – LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Centro cirúrgico da Vetsan. Figura 2 – Sala de odontologia e MPA do Centro Médico Veterinário Vetsan. Figura 3 – Internamento do Centro Médico Veterinário Vetsan. Figura 4 – Sala de cirurgia da Clínica Veterinária Gross. Figura 5 – Sala de cirurgia e odontologia da Clínica Veterinária Pedigree. Figura 6 – Setor de triagem do Hospital Veterinário da FMVZ – Unesp/Botucatu. A partir desse setor, os animais são encaminhados para os diferentes serviços ofertados pelo hospital, conforme sua necessidade. Figura 7 – Sala de medicação pré-anestésica e recuperação no serviço de tomografia do HV da FMVZ – UNESP/Botucatu. Figura 8 – Sala de tomografia computadorizada do HV da FMVZ – UNESP/Botucatu. Figura 9 – Sala de medicação pré-anestésica do CCPA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. Figura 10 – Sala de indução anestésica do CCPA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. Figura 11 – Sala cirúrgica do CCPA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. Figura 12 – Sala de indução anestésica do CCGA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. viii Figura 13 – Sala cirúrgica do CCGA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. Em destaque, os aparelhos de anestesia inalatória. Figura 14 – Sala cirúrgica do CCGA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. Figura 15 – Sala cirúrgica do serviço de reprodução animal e obstetrícia do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. ix LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Procedimentos anestésicos acompanhados durante o período de estágio realizado com o serviço de anestesia móvel no Centro Médico Veterinário VetSan e nas clínicas veterinárias Gross e Pedigree. Quadro 2 – Distribuição das raças de cães que passaram por procedimentos anestésicos durante os dias 30 de agosto e 01 de outubro de 2010. Quadro 3 – Classificação do risco anestésico dos pacientes que passaram por procedimento anestésico no serviço de anestesia móvel. Quadro 4 – Principais intercorrências anestésicas observadas nos pacientes que passaram por procedimentos anestésicos no período de 30 de agosto a 01 de outubro de 2010. Quadro 5 – Fármacos utilizados na MPA, indução e manutenção anestésicas pelo M. V. Jackson Luís Lemos no período de 30 de agosto a 01 de outubro de 2010. Quadro 6 – Procedimentos anestésicos acompanhados por setor no período de 04 a 29 de outubro de 2010 no serviço de anestesiologia veterinária da FMVZ da UNESP de Botucatu. Quadro 7 – Distribuição dos fármacos anestésicos que foram utilizados nos diferentes setores da anestesiologia no mês de outubro de 2010. x LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Distribuição dos procedimentos anestésicos acompanhados nas clínicas VetSan, Gross e Pedigree, durante o período de estágio curricular obrigatório. Gráfico 2 – Distribuição da idade dos pacientes submetidos a procedimentos anestésicos nas clínicas veterinárias VetSan, Gross e Pedigree no período de 30 de agosto à 01 de outubro. Gráfico 3 – Distribuição dos exames pré-operatórios mais comuns realizados nos pacientes anestésicos no período de 30 de agosto a 01 de outubro. Gráfico 4 – Número de procedimentos anestésicos acompanhados por setor durante o período de estágio curricular obrigatório no serviço de anestesiologia da FMVZ da UNESP de Botucatu. Gráfico 5 – Distribuição das espécies animais que passaram por procedimentos anestésicos no período de 04 a 29 de outubro de 2010. Gráfico 6 – Distribuição da faixa etária dos pacientes que passaram por procedimento anestésico no período de 04 a 29 de outubro de 2010. xi LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ® Marca Registrada UFPR – Universidade Federal do Paraná UNESP – Universidade Estadual Paulista FMVZ – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia ECG – Eletrocardiografia PANI – Pressão Arterial Não Invasiva MPA – Medicação Pré-Anestésica SpO2 – Saturação Parcial de Oxigênio PA – Pressão Arterial PAS – Pressão Arterial Sistólica PAM – Pressão Arterial Média PAD – Pressão Arterial Diastólica OSH – Ovariossalpingohisterectomia PPT – Proteína Plasmática Total TAP – Tromboplastina Parcial Ativada TTPA – Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada ASA - American Society of Anesthesiology CVP – Complexo Ventricular Prematuro MLK – Morfina, Lidocaína e Ketamina R1 – Residente ano 1 R2 – Residente ano 2 HV – Hospital Veterinário CCPA – Centro Cirúrgico de Pequenos Animais CCGA – Centro Cirúrgico de Grandes Animais CAM – Concentração Alveolar Mínima TIVA OU AIT – Total Intravenous Anestesia ou Anestesia Intravenosa Total pH – Potencial Hidrogeniônico US - Ultrassom MV– Médico Veterinário xii RESUMO A área de anestesiologia veterinária é uma das que mais tem se desenvolvido ao longo dos anos. Novos fármacos e novas técnicas têm sido discutidas e aprimoradas para que os procedimentos anestésicos se tornem cada vez mais seguros e adequados para as mais diversas situações. No presente trabalho, requisito para conclusão do curso de Medicina Veterinária da UFPR, apresentam-se as atividades desenvolvidas na área de anestesiologia veterinária baseadas em estágio curricular supervisionado realizado com o Médico Veterinário Jackson Luís Lemos, que atende com o serviço de anestesiologia móvel o Centro Médico Veterinário VetSan e as Clínicas Veterinárias Gross e Pedigree; e também no Serviço de Anestesiologia Veterinária do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP - Campus de Botucatu, sob supervisão do Prof. Dr. Stélio Pacca Loureiro Luna, nos períodos de 01 a 30 de setembro e 01 a 31 de outubro de 2010, respectivamente. Será também apresentada uma revisão de literatura sobre Anestesia Intravenosa Total, para a introdução de conceitos relacionados a essa técnica, fármacos mais comumente utilizados, suas vantagens e desvantagens, aplicabilidade em pequenos animais e sua utilização para anestesia geral e também para analgesia. Ao todo, foram acompanhados 35 procedimentos anestésicos com o Médico Veterinário Jackson Luís Lemos e 65 procedimentos no Hospital Veterinário da FMVZ – Unesp Botucatu. As atividades foram desenvolvidas com o intuito de acrescentar conhecimentos teóricos e práticos na área de anestesiolgia veterinária. 13 1. REVISÃO DE LITERATURA: ANESTESIA INTRAVENOSA TOTAL 1.1 INTRODUÇÃO A anestesia intravenosa total (TIVA ou AIT) consiste de uma técnica anestésica na qual se utilizam apenas fármacos injetáveis e intravenosos para promover os quatro efeitos anestésicos desejados para um procedimento cirúrgico: hipnose, relaxamento muscular, analgesia e amnésia (TORRENT, 2006; NETO, 1997). Essa técnica vem sendo amplamente difundida e empregada na medicina, e hoje também é bastante discutida na medicina veterinária, graças à introdução de novos fármacos de ação mais curta e rápida (OLIVEIRA et al., 2007). A TIVA pode ser realizada de diversas maneiras, como administração em bolus, que produz os efeitos denominados de “picos” (sobredoses) e “vales” (subdoses) (OLIVEIRA et al., 2007 NORA, 2008), nos quais há maior probabilidade de ocorrerem intercorrências e efeitos adversos; gotejamento em equipo, no qual o volume total do anestésico é calculado e pode ou não ser diluído em solução fisiológica (OLIVEIRA et al., 2007); ou por bombas de infusão contínua, que podem ser de equipo ou seringa. Mais recentemente, novas técnicas têm sido desenvolvidas a respeito de bombas de infusão contínua alvo-controladas (TCI ou IAC). Esses dispositivos são comandados por softwares e controlam a velocidade da infusão de acordo com a farmacocinética do fármaco administrado (OLIVEIRA et al., 2007, NORA, 2008). Alguns pontos positivos dessa técnica são: manter a estabilidade hemodinâmica do paciente, sendo altamente recomendada em diversos tipos de procedimentos, ausência de poluição ambiental no centro cirúrgico (OLIVEIRA et al., 2007), retorno anestésico tranqüilo (NETO, 1997), possibilidade de controle independente dos fármacos componentes da infusão, menor investimento em equipamentos, independência das vias aéreas para absorção dos agentes anestésicos (AGUIAR,2009) diminuição da resposta endócrina ao estresse cirúrgico (OLIVEIRA et al., 2007), além de fornecer analgesia superior àquela proporcionada pelos agentes anestésicos inalatórios (AGUIAR, 2009). 14 Já os pontos negativos incluem: a necessidade de cateterização de dois vasos distintos; um para a fluidoterapia e outro para a TIVA (no caso da utilização de bombas de infusão contínua), a necessidade de uma bomba de infusão para cada fármaco administrado, ausência de método confiável para a mensuração da concentração plasmática dos fármacos durante o período anestésico e também a utilização com cautela em pacientes que apresentem nefropatias ou hepatopatias, devido à dependência de metabolização e eliminação dos fármacos por esses sistemas (OLIVEIRA et al., 2007; AGUIAR, 2009; TORRENT, 2006). A escolha dos anestésicos para a realização da TIVA deve levar em consideração o fato de possuírem ação rápida e curta duração e não possuírem efeito cumulativo (OLIVEIRA et al., 2007; NETO, 1997). Os anestésicos hipnóticos que apresentam tais características e são atualmente utilizados são o propofol e o etomidato. É importante ressaltar o fato de que o propofol e o etomidato não possuem propriedades analgésicas, fazendo-se então necessária a administração concomitante de fármacos analgésicos de ação também rápida e curta. Nos casos de infusão contínua, os opióides sintéticos como o fentanil e seus congêneres alfentanil, sufentanil e remifentanil são os de escolha. Outras associações de fármacos com propriedades analgésicas podem ser utilizadas associadas aos hipnóticos ou como técnicas distintas de TIVA como: morfina, lidocaína e cetamina. 15 1.2 CONCEITOS FARMACOLÓGICOS UTILIZADOS EM TIVA • Farmacocinética e Farmacodinâmica A farmacocinética engloba todos os fatores envolvidos desde a administração do fármaco até a concentração em seu local de ação. Já a farmacodinâmica, quantifica a relação entre a concentração do fármaco em seu local de ação e seus efeitos específicos (AGUIAR, 2009). • Volume de Distribuição Essa variável possui correlação com a concentração plasmática do fármaco após sua administração. Esse conceito se refere a volume e a dimensão aparente do compartimento onde o fármaco é depositado (AGUILERA, 2006; NETO, 1997). • Biofase ou Local de Ação Local onde o fármaco exerce sua função, sendo essa desejada ou não. Geralmente são receptores com barreiras biológicas determinados por membranas protéicas. Daí vem o conceito do retardo entre a administração e o início de ação do fármaco, visto que o anestésico precisa ir do plasma, onde é depositado até a molécula do receptor no seu local de ação (NETO, 1997). • Ke0 (tempo de equilíbrio) É o tempo que decorre desde a administração do fármaco anestésico intravenoso até o seu efeito máximo ou terapêutico, em sua biofase. É nesse parâmetro que se baseiam as doses necessárias para a indução anestésica com agentes venosos (NETO, 1997). • Estado de Equilíbrio (Steady State) Ocorre quando não há fármaco sendo distribuído através do organismo. É quando ocorre o equilíbrio entre as quantidades de fármaco administradas pela infusão e removidas do compartimento central (AGUIAR, 2009; NETO, 1997). 16 • Histerese É o tempo que o anestésico leva para atingir o equilíbrio entre a concentração plasmática e o local de ação. Uma forma de diminuir a histerese é aumentar a dose de indução utilizada em bolus (AGUILERA, 2006). • Clearance É a medida do movimento do fármaco entre o compartimento central (que inclui os tecidos de equilíbrio rápido – sangue e tecidos bem perfundidos) e os tecidos mal perfundidos (NETO, 1997). • Meia-Vida de Eliminação A meia-vida de eliminação de um agente anestésico venoso é diretamente proporcional ao seu volume de distribuição e inversamente proporcional ao seu clearance (NETO, 1997). • Meia-vida Contexto-dependente Determina o tempo para que haja a diminuição da concentração plasmática do fármaco, para a metade do valor no qual se encontrava durante a infusão, no momento em que a administração for interrompida. Esse conceito pode inferir o tempo de recuperação anestésica (NETO, 1997; AGUIAR, 2009). 1.3 ANESTESIA INTRAVENOSA TOTAL A anestesia intravenosa total pode ser definida como uma técnica anestésica na qual a administração dos fármacos tanto para a indução, quanto para a manutenção anestésica é realizada exclusivamente por via intravenosa e sem a presença de agentes inalatórios (TORRENT, 2006). Em 1875, PIERRE-CYPRIEN ORÉ, descreveu o uso do hidrato de cloral em 36 pacientes, e esse foi o primeiro relato de anestesia intravenosa realizado. Após esse período, a anestesia intravenosa passou por várias fases como a introdução dos barbitúricos em 1921 e do tiopental em 1934. Em 1960, PRICE et al. descreveram o modelo de distribuição do tiopental e assim outros trabalhos surgiram indicando as vantagens da administração dos fármacos intravenosos de forma contínua ao invés das administrações em bolus. 17 A TIVA vem se tornando uma técnica cada vez mais popular e amplamente discutida tanto na medicina (TORRENT, 2006) quanto na medicina veterinária (OLIVEIRA et al., 2007) graças à introdução de novos fármacos como o propofol, que foi sintetizado em 1970 e utilizado clinicamente pela primeira vez em 1983, e opióides sintéticos como o fentanil e seus congêneres (alfentanil, sufentanil, remifentanil). Esses fármacos possuem curto tempo de ação e rápida duração, além de não possuírem efeito cumulativo, o que faz com que sejam os fármacos de eleição para a administração de forma contínua. A realização dessa técnica anestésica pode ocorrer de diversas maneiras: a administração em bolus ou bolus intermitente, por infusão contínua através de técnicas como a mensuração por gotejamento com equipo (OLIVEIRA et al., 2007) ou por bombas de infusão contínua e também utilizando uma dose dos fármacos em bolus associada a infusão contínua. As administrações em bolus causam os efeitos denominados de “picos” (sobredoses), nos quais por um curto espaço de tempo, a concentração do fármaco se encontra acima da necessária para o efeito anestésico desejado, e “vales” (subdoses), onde a concentração do fármaco cai rapidamente, até que chegue a um ponto onde não há mais o efeito clínico (NORA, 2008). As administrações em bolus podem acarretar na maior ocorrência de efeitos adversos dos anestésicos, além de resultarem em aumento na dose total infundida e consequente retorno anestésico mais prolongado (MANNARINO, 2005). Os fármacos administrados em bolus têm rápido início de ação e duração devido a sua redistribuição para compartimentos corporais onde não exercem o efeito desejado (NORA, 2008). Na infusão contínua, a concentração plasmática do fármaco se mantém constante, pois à medida que este sofre redistribuição e metabolização, uma nova oferta do agente é realizada (NORA, 2008). A infusão contínua produz plano anestésico muito mais estável que o uso de doses repetidas (BETHS et al., 2001), níveis plasmáticos constantes e estáveis (VIANNA, 2001), proporcionando recuperação mais rápida (MANNARINO, 2005; OLIVEIRA et al., 2007). 18 sem reações de excitação As infusões podem ser calculadas em volume (ml por minuto ou por hora) e também pela dose em mg ou µg por minuto ou por hora (OLIVEIRA et al., 2007). Dentre as técnicas de infusão contínua, na mensuração por gotejamento em equipo, a taxa de infusão (mg ou µg/kg/min) e o volume necessário do anestésico em uma hora (ml/60min) são calculados, bem como o volume fluidoterápico de manutenção do paciente (ml/hora). Adiciona-se então volume do anestésico na fluidoterapia e se calcula o volume de infusão para o paciente em gotas por minuto, utilizando-se fatores de correção (OLIVEIRA et al., 2007). Já as bombas para infusão dos fármacos podem ser de diversos modelos e graus de sofisticação. Os dispositivos podem ser de seringa ou equipo e é necessária uma bomba para cada fármaco administrado durante a TIVA. Existem hoje, técnicas mais avançadas de infusão contínua controlada por softwares de computadores que utilizam modelos e parâmetros farmacocinéticos dos anestésicos para controlar a infusão dos fármacos. Essa técnica é denominada de infusão alvo-controlada (IAC ou TCI). A anestesia intravenosa total possui como principais indicações e vantagens a manutenção do equilíbrio hemodinâmico do paciente, a ausência de poluição ambiental do centro cirúrgico, diminuição da resposta adrenérgica ao estímulo cirúrgico, sistemas de utilização portáteis e de baixo custo quando comparados aos equipamentos de anestesia inalatória e adequação a procedimentos simples ou mais complexos, nos quais a anestesia inalatória se torna inviável (TORRENT, 2006; OLIVEIRA et al., 2007; AGUIAR, 2009). As restrições na utilização dessa técnica ficam por conta da necessidade de canulação de dois vasos, sendo um para a fluidoterapia e outro para a TIVA, a dificuldade em se obter e monitorar a concentração plasmática ideal dos fármacos devido à grande variação individual, a variabilidade na necessidade de fármacos durante o procedimento cirúrgico de acordo com a intensidade do estímulo, a necessidade de um dispositivo de infusão para cada agente utilizado e a utilização com cautela em pacientes que possuam algum grau de comprometimento hepático ou renal, devido à metabolização e eliminação dos agentes utilizados (OLIVEIRA et al., 2007; TORRENT, 2006). Vale ressaltar que, os avanços em modelos farmacocinéticos e tecnologia em sistemas de 19 infusão junto a um melhor controle da profundidade anestésica, tornam a TIVA uma técnica simples e segura. (OLIVEIRA et al., 2007; TORRENT, 2006). Para se determinar um regime de infusão contínua apropriado, é importante que se conheça a concentração plasmática após a administração do fármaco (NORA, 2008). BISCHOFF e DEDRICK, em 1968, elaboraram um modelo farmacocinético que incluía o conceito de que o metabolismo hepático, o fluxo entre os tecidos e a ligação às proteínas poderiam ocasionar alterações nos resultados clínicos. Foi aí que surgiram em 1978, os conceitos de modelo não-compartimental, descrito por YAMAOKA et al., e “efeito compartimento”, descrito por HULL et al., que dizia que um fármaco atuava em um local específico e não no sangue, onde era depositado. Esse modelo descreve que a distribuição inicial do fármaco ocorre primeiramente em um compartimento central, que é responsável pela determinação da concentração plasmática do anestésico utilizado e é composto por órgãos altamente vascularizados e perfundidos (coração, fígado, cérebro e rins) e posterior redistribuição a um segundo compartimento, representado por estruturas menos vascularizadas como pele, ossos e músculos e por fim um terceiro compartimento, que é responsável pela captação do anestésico e é geralmente representado pela gordura. Esse compartimento é o responsável pela probabilidade de acúmulo dos fármacos (NORA, 2008; TORRENT, 2006). O primeiro impasse na administração contínua dos fármacos venosos ocorreu quando da observação de que havia um retardo entre a administração e o início de ação desses agentes, o que determinou a descrição de dois conceitos: volume de distribuição e ponto de equilíbrio ou Steady State (NORA, 2008). As soluções propostas em 1970 por BOYES et al., e em 1974 por WAGNER foram respectivamente, a administração de uma dose de “ataque”, que quase sempre resultava em concentrações plasmáticas muito elevadas e um regime de infusão dupla, na qual utilizava-se uma dose inicial e após algum tempo, diminuía-se a dose para manutenção anestésica. A partir daí, foram desenvolvidos os primeiros manuais de infusão contínua. 20 1.4 SISTEMAS DE INFUSÃO O exemplo mais simples de infusão intravenosa contínua é representado por uma bomba de seringa ou equipo programada pelo anestesiologista (OLIVEIRA et al., 2007; EYRES, 2004). As bombas de infusão de seringa são melhores adaptadas para a infusão de volumes pequenos. Acopla-se ao dispositivo uma seringa descartável, cujo êmbolo é impulsionado por um motor. A pressão realizada pelo motor sobre o embolo da seringa é controlada por microprocessador. As taxas de infusão são expressas em ml/hora ou ml/minuto. As bombas de infusão de equipo são indicadas para a administração de volumes superiores a 50 ml, como cristalóides, colóides e drogas vasopressoras. O sistema de funcionamento desses aparelhos é o peristáltico, no qual o equipo é pressionado por um sistema de discos, que produz movimentos ondulatórios que promovem a progressão do fármaco ou solução até o paciente. Se parâmetros farmacocinéticos de um anestésico tiverem sido descritos em detalhes, então programas de computador podem fornecer cálculos rápidos e eficazes para tornar os sistemas de infusão independentes de intervenção humana (EYRES, 2004). Os sistemas de infusão automáticos podem ser classificados como: “open loop” ou “closed loop”. 1.4.1 SISTEMA OPEN LOOP Os sistemas de controle “open loop” são aqueles cuja entrada no sistema, ou seja, a quantidade de anestésico infundida ao paciente é independente da saída, isto é, o sistema open loop registra a concentração plasmática local do propofol no paciente e ajusta o volume do mesmo a ser administrado ao paciente conforme necessário para manter a concentração plasmática constante do propofol e esta concentração é determinada sempre pelo anestesiologista. Este sistema também é conhecido model–based control e é representado comercialmente pelo Diprofusor®. (EYRES, 2004) 21 1.4.2 SISTEMA CLOSED LOOP Os sistemas “closed loop” são aqueles nos quais num dado momento, o fármaco ofertado é em função da saída prévia do mesmo. Nesse sistema, a administração do volume farmacológico é ofertado conforme achados clínicos do paciente durante a anestesia (índice bispectral, pressão arterial, freqüência cardíaca entre outros) e não diretamente em função da concentração plasmática do propofol. Este tipo de sistema não possui representatividade comercial para TCI. (EYRES, 2004) 1.5 INFUSÃO CONTÍNUA ALVO-CONTROLADA (IAC ou TCI) O primeiro modelo farmacocinético descrito para infusão alvo-controlada em humanos foi descrito por SCHWILDEN em 1986. Já em animais, a realização da TIVA alvo-controlada, utilizando propofol, foi descrita pela primeira vez em 2001, por BETHS et al. A infusão alvo-controlada é por definição uma forma de administrar os fármacos venosos com o auxílio de bombas de infusão dotadas do modelo farmacocinético dos anestésicos (NORA, 2008; OLIVEIRA et al., 2007). Com isto, é possível monitorar a concentração plasmática dos fármacos em seus locais de ação. As vantagens de se utilizar a TCI incluem a indução e manutenção anestésica rápida e segura, o melhor controle da profundidade anestésica e o tempo de recuperação mais rápido (TORRENT, 2006). Os modelos farmacocinéticos são a descrição do comportamento do fármaco no organismo, após sua administração (NORA, 2008). Esses modelos descrevem a velocidade de trânsito entre os compartimentos, determinando o espaço de tempo no qual um fármaco deixa o compartimento central (onde foi administrado) e entra no compartimento de ação, e as taxas de metabolismo e eliminação, que são úteis para a seleção dos fármacos e otimização das doses. Dentre os modelos, o tricompartimental, descrito anteriormente por HULL et al , é o de eleição para se avaliar o comportamento do fármaco no organismo durante um período prolongado de 22 tempo e descrever as mudanças que ocorrem nas concentrações plasmáticas do agente anestésico. Os modelos fisiológicos descrevem a captação do anestésico nos diferentes tecidos e a influência da vascularização sobre a distribuição do fármaco. Esses modelos podem ser ajustados ao estado fisiopatológico do paciente (TORRENT, 2006). Existem diversos estudos realizados em humanos para se determinar o grau de segurança dos modelos farmacocinéticos incorporados às TCI. Nesses estudos, três variáveis foram publicadas: MDAPE – representa o percentual de erro que existe entre a concentração plasmática prevista e a encontrada do fármaco; MDPE – mede se a concentração prevista pelo sistema de infusão está de acordo com a real, e o Wobble – que mede se o sistema é capaz de manter a concentração-alvo de maneira estável. (NORA, 2008). Os algoritmos de infusão são baseados em farmacocinéticas populacionais, que não cobrem todos os indivíduos. Não há até o momento nenhuma técnica totalmente confiável para se monitorar as concentrações plasmáticas dos fármacos usados na TIVA (EYRES, 2004). Em animais esses conceitos ainda não estão muito bem definidos e a literatura é escassa. MUSK et al., em 2005 avaliaram quatro infusões alvocontroladas de propofol em cães, designadas para alcançar 2,5; 3,0; 3,5; ou 4 µg/ml de propofol no sangue. Foi demonstrado que o alvo de 3,5 µg assegurava indução anestésica bem sucedida, sem aumento na incidência de apnéia. Mais estudos nesse sentido precisam ser desenvolvidos para que seja possível determinar as taxas de infusão e as concentrações plasmáticas adequadas para se produzir o efeito anestésico desejado. 1.6 PRINCIPAIS FÁRMACOS UTILIZADOS EM TIVA • 1.6.1 Propofol O propofol ou 2,6-diisopropilfenol é o agente hipnótico de curta duração mais utilizado em Medicina Veterinária (OLIVEIRA et al., 2007), e é o anestésico venoso que possui o perfil farmacológico mais adaptado à administração através de infusão contínua 23 (OLIVEIRA et al., 2007; NETO,1997). Sua dose e a taxa de infusão são calculadas de acordo com o efeito desejado e também de fatores clinicamente relevantes, como utilização de MPA e outras medicações concomitantes, idade e classificação ASA, dentre outros. O propofol é um alcalifenol preparado em solução a 1% (NETO, 1997). É insolúvel em soluções aquosas, mas é altamente lipossolúvel. Sua solução é constituída de 10% de óleo de soja, 2,25% de glicerol e 1,2% de fosfato purificado de ovos. (NETO, 1997). Essa solução possui pH 7,0 e é estável à luz solar e a temperatura ambiente. Não contém substâncias bactericidas nem bacteriostáticas em sua composição, o tornando passível de contaminação por seringas ou bombas de infusão. Por isso as ampolas devem ser abertas e consumidas num período de 24 horas e mantidas acondicionadas sob refrigeração (NETO, 1997). A farmacocinética do propofol é caracterizada por curto início de ação e rápida depuração e distribuição para tecidos periféricos, o que é conseqüência de sua rápida absorção e distribuição do SNC para outros tecidos e sua eliminação eficiente do plasma por sítios de metabolismo hepáticos e extrahepáticos, o que resulta em também rápida diminuição da concentração após o término de infusões. O propofol possui mais de um sítio de ação. Ele produz sedação e hipnose similar à dos barbitúricos, porém sem efeito cumulativo. Esse agente induz depressão do SNC, diminuindo sua atividade metabólica e circulação sanguínea e conseqüentemente a pressão intracraniana e a perfusão cerebral (sendo indicado em pacientes com doenças e traumas cranianos), e também potencializando as transmissões inibitórias mediadas pelo neurotransmissor GABA (NETO, 1997; MASSONE, 2002). A ativação dos canais de cloro pelos receptores pós-sinápticos GABAa parece ser a principal responsável por essa inibição das transmissões nervosas, porém um envolvimento de receptores pré-sinápticos do GABA também parece facilitar essa transmissão inibitória, já que os receptores GABAa são facilmente saturáveis (VILANI, 2001). 24 Esse fármaco deprime transitoriamente a pressão arterial, o débito cardíaco e contratilidade do miocárdio, a resistência vascular sistêmica e também a freqüência cardíaca. A hipotensão é resultado da vasodilatação arterial e venosa, que ocorre devido à inibição de receptores de mediadores lipofílicos, como lisofosfatídeos e prostaglandinas (VILANI, 2001). Concomitante a vasodilatação, barorreflexos arteriais podem ser atenuados durante a anestesia com propofol e o retorno da consciência não obrigatoriamente significa recuperação desses reflexos e profunda hipotensão pode ocorrer com hemorragia aguda ou outro agente hipotensor (NETO, 1997). O agente não possui atividade arritmogênica. Não se descartam efeitos inotrópicos negativos indiretos do propofol através de alterações no sistema nervoso autonômico ou liberação hormonal. Deve-se levar em conta que a redução da pós-carga pode ser benéfica para pacientes com falência cardíaca crônica e que o estímulo cirúrgico pode corrigir o quadro de hipotensão (VILANI, 2001). O propofol é também depressor da freqüência e profundidade da respiração, ocorrendo comumente períodos de apnéia após indução. É desprovido de ação analgésica, sendo necessária a administração conjunta a agentes analgésicos como opióides, cetamina e anestésicos locais, como a lidocaína. A farmacocinética do propofol é descrita por um modelo de três compartimentos (NETO, 1997). Os modelos farmacocinéticos tricompartimentais evidenciam uma meia-vida rápida e lenta de distribuição para o propofol de 1-8 e 30-70m min, respectivamente, e uma meia-vida de eliminação de 4-24 horas (NETO, 1997). O longo período de eliminação indica seu grande volume de distribuição para tecidos em um compartimento profundo e que possui perfusão limitada, resultando em retorno lento do propofol para o compartimento central. Sugere-se que a distribuição do propofol no organismo seja governada pelo débito cardíaco e pela perfusão tissular (NORA, 2008). Sua elevada lipossolubilidade implica grande deposição desse anestésico na musculatura e no tecido adiposo através de um mecanismo de redistribuição rápida. Devido ao rápido clearance desse fármaco do compartimento central, seu lento retorno a partir de compartimentos profundos 25 não interfere na queda inicial rápida de sua concentração sérica. Uma evidência disso é o contexto-sensitivo meia-vida do propofol, que leva menos de 40 min após infusão contínua do fármaco por um período de em torno de oito horas. Como a queda na concentração sérica de propofol necessária para que aconteça o despertar dos pacientes é geralmente menor do que 50%, essa recuperação permanece rápida, mesmo após longos períodos de infusão contínua. O clearance metabólico e o índice de metabolismo hepático do propofol são extremamente rápidos quando comparados aos de outros agentes venosos, sugerindo sítios de metabolização extra-hepáticos, já que a depuração corpórea total parece ser maior que a taxa de circulação sanguínea hepática. Esse elevado clearance metabólico do propofol é uma das mais importantes diferenças farmacológicas e clínicas entre esse fármaco e outros agentes venosos. O grande volume de distribuição do propofol resulta em queda significativamente maior da concentração sérica desse fármaco durante a fase de distribuição rápida, comparada com outros agentes anestésicos venosos. O propofol é metabolizado por conjugação com glicuronídios e sulfatos, resultando em metabólitos inativos que são eliminados rapidamente pela urina (VILANI, 2001). Porém, existem diferenças na biotransformação do propofol entre as espécies. Em humanos, mais de 50% da dose administrada é metabolizada por glicuronidação ou sulfatação, já os cães parecem não ter habilidade para realizar a glicuronidação desse agente e os principais metabólitos são conjugados a partir de 4-hidroxipropofol. Esta reação de hidroxilação do propofol parece ser o primeiro passo para a sua eliminação em cães e é mediada pela citocromo P-450. A farmacodinâmica caracteriza-se por uma recuperação tranqüila e livre de excitação em cães e gatos, rápido retorno da orientação e também se apresenta como sendo o agente anestésico intravenoso que menos provoca náuseas e vômito pós-operatório em humanos (OLIVEIRA et al., 2007; NORA, 2008). O propofol é altamente ligado a proteínas séricas (em torno de 92%) e apenas 0,48 a 1,89% pode ser encontrado livre no sangue, o que sugere que 26 qualquer alteração que possa interferir na ligação protéica desse anestésico implica em grande diferença farmacocinética. Administrações rápidas produzem um pico antecipado de concentração e aumentam o risco de apnéia e hipotensão, mas não aumentam a velocidade de indução, já administrações mais lentas atenuam o limite de concentração pela metabolização e redistribuição antes de atingir o nível máximo. O tempo de administração ideal para indução parece girar em torno de 2 ou 3 minutos (VILANI, 2001). - Síndrome da Infusão do Propofol (SIP ou PRIS) Ocorre após infusão contínua de altas doses de propofol por tempo prolongado. É relatada em humanos como sendo um conjunto de eventos adversos, quase sempre de evolução fatal, que pode acometer adultos e crianças embora pareça ser mais relatada em crianças. As alterações clínicas descritas são: falência cardíaca, arritmias cardíacas, acidose metabólica, hipertrigliceridemia, rabdomiólise e insuficiência renal. Também pode ocorrer infiltração de gordura no fígado, nos pulmões e em outros órgãos. A fisiopatologia da SIP ainda não está totalmente esclarecida e existem algumas teorias propostas como: inibição da atividade mitocondrial por redução da atividade da citocromo C oxidase e por falha na oxidação dos ácidos graxos, bloqueio dos receptores beta-adrenérgicos e pela presença de um metabólito com efeito tóxico nos tecidos. Essa última hipótese não é aceita por todos os autores como possível, pois já existem evidências de que os metabólitos conhecidos sejam desprovidos de atividade clinicamente significativa. As doses citadas na literatura como desencadeantes da SIP são maiores que 5mg/kg/hora por período superior a 48 horas. O principal fator de risco associado ao aparecimento da síndrome parece ser a dose e o tempo de uso. O tratamento da SIP é realizado com a suspensão imediata do fármaco, medidas de suporte e diálise. Quando a diálise não pode ser empregada, a mortalidade chega até 100%. (BARBOSA, 2007). Não há relatos dessa síndrome em animais. 27 • 1.6.2 Etomidato O etomidato é um derivado imidazólico carboxilado que foi sintetizado em 1965 e foi utilizado pela primeira vez na indução anestésica em humanos em 1975 (NETO, 1997). Possui propriedade hipnótica de curta duração para uso intravenoso e ampla margem de segurança. Apresenta-se na forma de dois isômeros, sendo que somente o isômero + possui ação hipnótica O fármaco é hidrossolúvel e instável em soluções neutras. É fornecido em solução, na concentração de 2 mg/ml com 35% de propilenoglicol, com pH de 6,9 (NETO, 1997). O etomidato apresenta propriedades anticonvulsivantes e protege o tecido cerebral de alterações celulares decorrentes de hipóxia (NETO, 1997). Ocorre redução de 35% do fluxo sanguíneo cerebral e 45% do consumo de oxigênio sem alterações da PAM. Assim, a pressão de perfusão cerebral é mantida, podendo resultar em efeito benéfico de elevação na relação oferta/demanda de oxigênio cerebral (NETO, 1997). O fármaco não possui efeito analgésico, devendo sempre ser associado a fármacos dessa classe para a administração através de infusão contínua. O etomidato é rapidamente metabolizado, possui alto volume de distribuição e clearance elevado. O metabolismo desse anestésico é hepático e ocorre através de hidrólise do éster. Existem evidências de sítios de metabolização extra-hepáticos, através de esterases plasmáticas. A duração da anestesia após a administração de etomidato é correlacionada de maneira linear com a dose empregada (MUIR III & MASON, 1989; KO et al.,1994). Doses repetidas, tanto por bolus como infusão, prolongam o período de hipnose. Contudo, sua recuperação anestésica é rápida, apesar de ser mais lenta do que a recuperação por anestesia com propofol. Os metabólitos do etomidato são inativos. Após a administração intravenosa, a farmacocinética do etomidato pode ser descrita por um modelo tricompartimental. A distribuição rápida é de 2,7 min, a redistribuição é de 29 min. e a eliminação varia de 2,9 a 5,3 h. A meiavida de eliminação relativamente curta e o clearance rápido fazem do 28 etomidato um fármaco com perfil farmacocinético favorável para administração através de infusão contínua. Cerca de 75% do etomidato encontra-se ligado a proteínas plasmáticas. O fármaco tem efeitos mínimos sobre a função cardíaca e a circulação sangüínea, sendo sua principal vantagem a estabilidade hemodinâmica conferida (KO et al.,1994). O etomidato não sensibiliza o miocárdio às catecolaminas, não promove a liberação de histamina e não exerce influência sobre a função hepática. Podem ocorrer contrações musculares tônicoclônicas, que parecem ser resultado de efeito liberador de nível medular. O agente causa menor depressão respiratória do que a causada pelo propofol. Períodos de apnéia podem ocorrer com sua administração e essa apnéia é mais prolongada do que a causada pelo propofol. O etomidato age na formação reticular do tronco cerebral, causando hipnose. O agente potencializa o efeito inibitório do GABA sobre o receptor GABA-a, hiperpolarizando as membranas pós-sinápticas através do aumento de condutância ao cloro. Existem evidências de que o etomidato possui propriedades de supressão adrenal. O fármaco produz uma redução do cortisol e da aldosterona plasmática, que permanecem suprimidas por 6 a 8 horas. As suas concentrações, usualmente, retornam aos níveis basais dentro de 24 horas. A atividade endócrina específica do etomidato que resulta em insuficiência adrenal é uma inibição, dose-dependente e reversível da enzima 11bhidroxilase, a qual converte o 11-deoxicortisol em cortisol e, em menor intensidade, uma atividade inibitória sobre 17-a-hidroxilase. A inibição enzimática causada pelo etomidato parece estar relacionada com radicais livres originários da estrutura molecular do etomidato, os quis se ligam ao citocromo P450. Essa inibição resulta na diminuição da ressíntese do ácido ascórbico, o qual é requerido para a síntese de esteróides endógenos (NETO 1997). O etomidato está associado a uma elevada incidência de náuseas e vômitos. Podem ocorrer flebites e tromboflebites superfciais nos vasos utilizados para a administração do anestésico, bem como dor à administração. 29 • 1.6.3 Fentanil, Remifentanil, Alfentanil e Sufentanil Opióides sintéticos são aqueles que contêm o núcleo da morfina, mas são fabricados por síntese química (NETO, 1997). Esses agentes são agonistas dos receptores opióides µ, que são responsáveis pela analgesia no corno dorsal da medula espinhal, possuem curta duração de ação e latência curta devido à alta lipossolubilidade (NETO, 1997; FANTONI & MASTROCINQUE, 2002). Por essas características, são os analgésicos de eleição para a administração através de infusão contínua (OLIVEIRA et al., 2007). Nesse grupo incluem-se o fentanil, remifentanil, alfentanil e sufentanil. Esses fármacos possuem potência analgésica de até 150 vezes maior que a da morfina (FANTONI & MASTROCINQUE, 2002), não promovem a liberação de histamina e nem hipotensão, mas podem promover apnéia e bradicardia quando administrados de forma rápida. Por esses motivos recomenda-se a administração lenta e em diluições (FANTONI & MASTROCINQUE, 2002). O fentanil possui volume de distribuição alto, devido a sua alta lipossolubilidade e seu modelo farmacocinético pode ser descrito como sendo tricompartimental (FANTONI & MASTROCINQUE, 2002; NETO, 1997). Após sua administração intravenosa, a concentração plasmática do agente declina rapidamente, sendo quase totalmente eliminado após 3 horas. Sua meia-vida de distribuição rápida é em torno de 1 a 2 minutos, a de redistribuição de 13 minutos e a de distribuição lenta em torno de 30 minutos, devido à liberação lenta do fármaco acumulado em tecido muscular e adiposo. Cerca de 80% do fármaco se liga às proteínas plasmáticas e essa capacidade de ligação aumenta paralelamente com a ionização da substância ativa, e as alterações do pH podem afetar sua distribuição entre o plasma e o sistema nervoso central. O fentanil é metabolizado inicialmente no fígado e a maior parte é eliminada pela urina, na forma de metabólitos (NETO, 2007). O remifentanil apresenta início e período de ação mais rápido do que o do fentanil devido à biotransformação através de esterases plasmáticas e teciduais, que produz metabólitos inativos e que confere a este agente previsibilidade de início e término de ação. É um análogo do fentanil que vem trazendo novas perspectivas para o uso através de infusões contínuas e 30 anestesia total intravenosa. Assim como os outros fármacos desse grupo pode causar bradicardia e depressão respiratória e não promove a liberação de histamina. O alfentanil também possui duração mais curta do que a do fentanil, sendo teoricamente mais indicado para infusão contínua, porém seu uso ainda é restrito na medicina veterinária. Por possuir tempo de latência inferior aos demais fármacos desse grupo, os efeitos de bradicardia e apnéia com a utilização de alfentanil são mais comuns (NETO, 1997). Sua meia-vida de distribuição e eliminação é rápida, porém seu clearance é menor do que o do fentanil. Apesar disso, seu pequeno volume de distribuição limita a possibilidade de acúmulo do fármaco nos tecidos periféricos. O alfentanil é menos lipossolúvel do que os outros fármacos dessa classe, o que resulta em concentrações baixas do fármaco em sua biofase. Seu metabolismo é hepático e a eliminação é renal. O sufentanil é altamente lipossolúvel e possui grande afinidade pelos receptores opióides. Apresenta duração de ação inferior a do fentanil, sendo porém, mais potente. Também promove bradicardia e depressão respiratória quando administrado de forma rápida. Liga-se fortemente a proteínas plasmáticas e sua farmacocinética se encaixa em modelo tricompartimental. Possui rápido início de ação e curta duração. Sua meia-vida de distribuição e redistribuição são rápidas, bem como a de eliminação. O acúmulo limitado e a rápida eliminação dos tecidos permitem uma rápida recuperação. A profundidade da analgesia é dose-dependente e o aumento nas doses utilizadas, aumentam também sua meia-vida de eliminação (NETO,1997). É importante ressaltar o fato de que apesar desses fármacos apresentarem o perfil ideal para a administração através de infusão contínua para analgesia trans-operatória, a analgesia pós-operatória dever ser complementada com outros fármacos, já que esses opióides sintéticos são rapidamente metabolizados e eliminados do organismo. 31 • 1.6.4 Cetamina É um anestésico dissociativo que possui também efeitos analgésicos. Os anestésicos dissociativos promovem anestesia interrompendo o fluxo de informações para o córtex sensitivo e deprimindo seletivamente alguns centros cerebrais. A dissociação ocorre por bloqueio dos estímulos sensitivos no tálamo, simultaneamente à estimulação de áreas do sistema límbico. Os anestésicos dissociativos causam atividade excitatória no SNC e aumento da PIC (NETO, 1997). A cetamina é preparada em solução levemente ácida, com concentrações de 10, 50 e 100 mg/ml de solução, contendo cloridrato de benzalcônio como conservante (NETO, 1997). Sua estrutura molecular possui dois isômeros óticos e as soluções comercializadas possuem iguais concentrações desses isômeros. Existe também a versão comercial do isômero S (+) da cetamina, que possui propriedade analgésica superior a da mistura racêmica (NETO, 1997; VALADÃO, 2002). A cetamina possui baixa hidrossolubilidade, alta lipossolubilidade e baixa ligação a proteínas plasmáticas, o que torna seu volume de distribuição significativamente alto. O sitio primário de ação da cetamina é o sistema tálamo-neocortical. A cetamina também bloqueia os receptores muscarínicos dos neurônios centrais e pode potencializar os efeitos inibitórios do GABA e bloqueia o processo de transporte neuronal da serotonina, da dopamina e da noradrenalina. Esse fármaco deprime a atividade neuronal em algumas regiões do córtex cerebral e do tálamo, e ao mesmo tempo estimula o sistema límbico e o hipocampo. Esse tipo de atividade cria uma situação denominada de desorganização funcional em áreas mesencefálicas e talâmicas (NETO, 1997). A ocupação dos receptores opióides pela cetamina no cérebro e na medula pode ser a causa de sua potente atividade analgésica. O isômero S (+) possui atividade em receptor opíode m. A cetamina também faz antagonismo dos receptores de aminoácidos excitatórios, os receptores NMDA. O glutamato e o aspartato (aminoácidos excitatórios) participam da transmissão neuronal em vias nociceptivas no corno dorsal da medula, como agonistas dos receptores NMDA. A cetamina é antagonista não competitiva desses 32 receptores e esse antagonismo potencializa a ação analgésica do fármaco. Existem também evidências de que a cetamina deprime a transmissão de impulsos na formação reticular, uma região importante na transmissão da nocicepção do bulbo para o SNC (VALADÃO, 2002; NETO, 1997). A duração do efeito anestésico e analgésico é dependente da dose administrada. A queda na concentração plasmática do fármaco tem características bifásicas, com uma fase de distribuição inicial e rápida, seguida de uma fase de eliminação longa. A redistribuição rápida da cetamina para os tecidos periféricos é rápida, o que interfere no período de atividade anestésica, que é também rápido. O término do período de hipnose acontece quando os níveis plasmáticos da cetamina estão elevados devido a fase de redistribuição do fármaco do SNC para os tecidos periféricos menos perfundidos. O término da ação analgésica ocorre em concentrações plasmáticas mais baixas do que as necessárias para a manutenção do efeito anestésico. A dose necessária para que se obtenha o efeito analgésico é menor do que a necessária para o efeito anestésico. As características farmacocinéticas da cetamina se encaixam em modelos tricompatimentais. A cetamina não se liga fortemente a proteínas plasmáticas (cerca de 27 a 47%) ,e essa ligação é pH dependente, diminuindo com a queda no pH. A cetamina é metabolizada por um sistema de enzimas microssomais hepáticas. A via metabólica mais importante é a que envolve a N-metilação, que forma a norcetamina (metabólito com 20 a 30% de atividade). Esse metabólito é eliminado pela urina. A biotransformação hepática é mais importante em gatos do que em cães A cetamina apresenta características de estimulação cardiovasculares. Pode causar aumento da freqüência cardíaca, do débito cardíaco e da força de contração ventricular. Os efeitos adrenérgicos da estimulação do SNC causam também hipertensão. Os efeitos depressores no sistema respiratório são mínimos. 33 • 1.6.5 Lidocaína A lidocaína (α_-dietil-aminoaceto-2,6-xilidina) é comercializada sob a forma de cloridrato, é hidrossolúvel e quando utilizada como anestésico local, tem potência e duração moderadas e alto poder de penetração (MASSONE, 2003; BELMONTE, 2008). Este anestésico local atua na face interna do canal de sódio, evitando a propagação do potencial de ação pelo axônio, causando sua estabilização no estado de repouso (SKARDA & TRANQUILLI, 2007). Produz paralisia vasomotora e é altamente lipossolúvel (MASSONE, 2002). É biotransformado no fígado, por N-desalquilação e esse processo gera dois metabólitos, sendo um ativo (RANG et al., 2001). A lidocaína é bastante utilizada em bloqueios regionais e infiltrativos e também possui propriedades analgésicas quando administrada por via intravenosa, sendo mais comumente utilizada como terapia analgésica suplementar, durante a anestesia geral, seja ela inalatória ou injetável. Além das propriedades analgésicas, o uso intravenoso da lidocaína tem efeito antiarrítmico eficaz, tornando este fármaco extremamente útil na terapia intravenosa imediata de arritmias ventriculares. Em concentrações plasmáticas terapêuticas, a lidocaína não possui efeitos significativos na freqüência sinusal, condução atrioventricular e duração do potencial de ação das células cardíacas normais, porém reduz a velocidade de condução e prolonga a refratariedade das células cardíacas doentes. A depressão miocárdica causada pelo fármaco só é importante quando são utilizadas doses muito altas ou quando a freqüência cardíaca se encontra em valores acima de 150 a 200 bpm. A lidocaína administrada por via intravenosa em infusão contínua promove redução na dose do anestésico geral utilizado, minimizando seus efeitos indesejáveis, quando utilizada como terapia adjunta neste tipo de anestesia. Um estudo realizado com pôneis anestesiados com halotano e infusão contínua de lidocaína, o fármaco reduziu a CAM do agente volátil de maneira dose dependente. (DOHERTY; FRAZIER, 1998). Esse efeito de redução de CAM também foi observado por VALVERDE et al. (2004), onde cães anestesiados com isofluorano que receberam infusão contínua de lidocaína, registraram uma diminuição de até 43,3% no requerimento do agente inalatório para manutenção do plano anestésico. 34 A utilização da lidocaína intravenosa normalmente está associada à utilização de cetamina e morfina ou fentanil, para potencializar o efeito analgésico • 1.6.7 Morfina A morfina é o protótipo dos analgésicos opióides e correlatos, com a qual todos os outros fármacos desta classe são comparados (FANTONI & MASTROCINQUE, 2002). A morfina é um derivado do ópio que produz boa analgesia, pela alta afinidade aos receptores m. Seus efeitos são atribuídos à sua ligação reversível com receptores neuronais pré e pós-sinápticos localizados na camada superficial do corno dorsal da medula espinhal, promovendo a alteração da nocicepção e da percepção da dor (FANTONI & MASTROCINQUE, 2002; VALADÃO et al., 2002). Pode causar liberação de histamina e hipotensão quando administrada por via intravenosa, por isso a indicação de administração lenta e diluída (FANTONI & MASTROCINQUE, 2002), nos casos de infusão contínua associada a lidocaína e cetamina. A morfina atua em mesencéfalo e medula, ativando as vias nociceptivas descendentes, que modulam a nocicepção, e no sistema límbico, alterando os componentes emocionais da dor. Além disso, induz a uma elevação rápida na síntese de serotonina, que está relacionada com o efeito analgésico (THURMON & TRANQUILLI, 1996) A morfina exerce primariamente seus efeitos sobre o SNC e órgãos com musculatura lisa. Seus efeitos farmacológicos incluem analgesia, sonolência, euforia, depressão respiratória relacionada com a dose, redução da resistência periférica com pequeno ou nenhum efeito sobre o coração e miose. A depressão respiratória é conseqüência da reduzida resposta do centro respiratório ao dióxido de carbono. A ocorrência de emese é resultado da estimulação direta do quimiorreceptor na biofase. A morfina exerce sua atividade agonista primariamente no receptor m. Os receptores m são amplamente distribuídos através do SNC, especialmente de sistema límbico (córtex frontal, córtex temporal, amígdala e hipocampo), tálamo, hipotálamo e mesencéfalo, bem como o corno dorsal da medula 35 espinhal. Sua capacidade em atravessar a barreira hematoencefálica justifica seus efeitos sobre o SNC após administração sua administração intravenosa. Aproximadamente 1/3 da morfina intravenosa liga-se a proteínas plasmáticas. A fração livre é rapidamente redistribuída para tecidos periféricos. A principal via metabólica ocorre por meio da conjugação com o ácido glicurônico no fígado. Possui meia-vida de eliminação de 2 a 3 horas e a eliminação principal é renal, sendo que de 9 a 12 % são excretados sem modificação. A eliminação secundária é de 7 a 10 % por via biliar. 1.7 MLK OU FLK EM INFUSÃO CONTÍNUA Essa técnica consiste da administração intravenosa de um anestésico injetável (cetamina) associada a um anestésico local, como a lidocaína e um opióide que pode ser o fentanil ou a morfina. O objetivo de se utilizar essas associações de fármacos são incrementar a terapia analgésica seja no trans ou no pós-cirúrgico, além de minimizar ao máximo a dose dos anestésicos gerais utilizados durante o período cirúrgico. A vantagem em se associar esses fármacos que possuem propriedades analgésicas isoladamente é a complementaridade do efeito analgésico entre eles e a possibilidade de utilização de doses baixas, o que minimiza a possibilidade de ocorrência de efeitos adversos desses fármacos. 1.8 TIVA EM PEQUENOS ANIMAIS Os agentes anestésicos voláteis halotano, isoflurano e enflurano são clorofluorcarbonados e de acordo com tratados internacionais, sua emissão na atmosfera deve ser controlada. A conferência de Copenhagen, em 1992 concluiu que a emissão desses agentes na atmosfera será proibida até o ano de 2030. (JOUBERT, 2009). A anestesia total intravenosa é uma técnica que tem sido preconizada na prática anestésica em pequenos animais (OLIVEIRA et al., 2007). O emprego dessa técnica vem se popularizando nessa última década, pois os agentes 36 disponíveis até então apresentavam efeito cumulativo e proporcionavam recuperação prolongada (CARARETO, 2004). O propofol tem sido muito utilizado como agente anestésico em cães e gatos devido a sua farmacocinética, tornando esse agente uma importante alternativa nos protocolos de anestesia venosa (SELMI et al., 2005). TSAI et al. (2007), concluiu que TIVA com propofol promove uma recuperação anestésica mais lenta, porém mais suave, quando comparada com a anestesia que utiliza propofol para indução e isoflurano para manutenção em cães. PASCOE et AL. (2006), observaram aumento no tempo de recuperação quando utilizaram a dose de 0,4 mg/kg/min de propofol, durante 150 minutos. Já MENDES e SELMI (2003), relataram rápida recuperação anestésica ao utilizar doses de 0,2 – 0,24 mg/kg/min em infusões de 90 minutos. PASCOE também relata que o uso do propofol em gatos promove indução e recuperação anestésicas suaves, apesar de HALL et al., 2001 relatar que os gatos não biotransformam fenóis de forma rápida como os cães. ILKIW e PASCOE (2003), observaram que o emprego da cetamina em infusão contínua em gatos, acarreta em diminuição da dose de infusão do propofol nesses animais. MOHAMADNIA et al. (2008), relatam além de rápida indução e recuperação anestésica com o uso do propofol, mínimos efeitos cardiorrespiratórios após infusões repetidas em intervalos de 14 a 19 dias. Em estudo realizado com cães, ZACHEU (2004), observou miorrelaxamento, manutenção da PA e ausência de resposta endócrina ao stress ao utilizar a associação de propofol, na dose de 0,2 mg/kg, com alfentanil, nas doses de 0,5; 1,0 e 2,0 mcg em infusão contínua. Já na associação de propofol na dose de 0,2 mg/kg com sufentanil, nas doses de 0,025; 0,05 e 0,1 µg/kg/min, avaliada por CARARETO (2004), observou-se acidose metabólica, miorrelaxamento acentuado, ausência de resposta endócrina ao estresse e bradicardia acentuada com doses mais altas do sufentanil. A associação de propofol (0,33 µg/kg/min) com remifentanil (0,6 µg/kg/min) foi avaliada por MURRELL et al., 2005, e os parâmetros avaliados foram considerados aceitáveis para a anestesia. 37 GASPARINI et al., 2008 concluíram que tanto a infusão de propofol quanto a infusão de cetamina com propofol promoveram estabilidade cardiovascular e anestesia cirúrgica satisfatória para a realização de OSH em cadelas, desde que a taxa de infusão seja ajustada em função do estímulo cirúrgico. PIRES et al., 2000 concluíram em estudo realizado com a utilização de acepromazina e fentanil como medicação pré-anestésica e infusão contínua de propofol, é segura para a utilização em cães por não promover alterações na freqüência cardíaca, PAM e SpO2. Esses fatos demonstram que essas associações são alternativas de protocolos de TIVA, porém requerem mais estudos para a avaliação dos efeitos desses fármacos. 38 1.9 CONCLUSÃO Conclui-se com este trabalho que a TIVA é uma técnica anestésica que apresenta diversas vantagens em seu uso, e que pode ser uma alternativa à anestesia inalatória em diversas situações. Porém, são necessários mais estudos sobre a farmacocinética dos agentes anestésicos utilizados, no que se refere ao estabelecimento de concentrações plasmáticas ideais nas diferentes espécies animais, bem como pesquisas relacionadas às infusões alvocontroladas e também métodos para se avaliar as concentrações plasmáticas no trans-cirúrgico e assim avaliar o plano anestésico do paciente e os efeitos dos fármacos no organismo. 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABSALOM A. R.; MANI V.; SMET T. D.; STRUYS M. M. R. F. Pharmacokinetic models for propofol-defining and illuminating the devil in the detail. 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É notável o aumento na qualidade de vida e longevidade dos animais de companhia atualmente, e também na preocupação em minimizar situações de estresse ou dor causadas por procedimentos cirúrgicos, ambulatoriais ou de diagnóstico. Isso proporcionou um grande desenvolvimento na área de anestesiologia e também maior demanda de profissionais que atuem nessa área. O presente trabalho de conclusão de curso baseia-se em estágio curricular obrigatório realizado na área de anestesiologia veterinária nos meses de setembro e outubro de 2010. Será descrito neste trabalho as principais atividades desenvolvidas durante o período de estágio, bem como aspectos relacionados aos procedimentos realizados, idade e estado geral dos pacientes, intercorrências anestésicas, risco anestésico dos pacientes, principais fármacos e técnicas utilizadas, etc. No mês de setembro, o estágio foi realizado acompanhando o médico veterinário Jackson Luís Lemos, que possui graduação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, no ano de 2002 e prestou residência em anestesiologia na mesma instituição nos anos de 2003 e 2004. O médico veterinário é especialista na área de anestesiologia veterinária e é responsável por esse serviço em três clínicas veterinárias de Curitiba: no Centro Médico Veterinário VetSan, localizado na Avenida São José, 713, Cristo Rei; na Clínica Veterinária Gross, localizada na Avenida Nossa Senhora Aparecida, 1036, Seminário; e na Clínica Veterinária Pedigree, situada à Alameda Princesa Izabel, 2552, bairro São Francisco. Já no mês de Outubro, o estágio na área de anestesiologia, sob supervisão do Prof. Dr. Stélio Pacca Loureiro Luna, foi realizado no Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista ”Júlio de Mesquita Filho” – Campus de Botucatu, que fica localizado no Distrito de Rubião Junior s/n° - Caixa Postal 560, Botucatu, São Paulo. 47 As justificativas para a realização do estágio nessa área incluem ter a oportunidade de acompanhar duas realidades distintas dentro de uma especialidade: o serviço prestado a clínicas particulares e também a rotina de um Hospital Universitário, bem como a experiência profissional e currículo dos profissionais e instituições. A escolha da realização de parte do estágio curricular obrigatório com o Médico Veterinário Jackson Luís Lemos ocorreu por esse ser especialista na área e trabalhar com o serviço de Anestesia Móvel em Curitiba, o que proporcionou acompanhar diferentes realidades e situações enfrentadas por esse tipo de profissional. Já a escolha pelo Serviço de Anestesiologia do Hospital Veterinário da FMVZ da Unesp – Campus de Botucatu deu-se por ser essa uma instituição pioneira no serviço de Anestesiologia Veterinária e também na Residência nessa área. Fundada em 22 de Julho de 1962, a FMVZ da Unesp possui uma infra-estrutura que é referência em se tratando de monitoramento e equipamentos de Anestesia, bem como desenvolvimento de pesquisas na área. Pelo grande interesse na área de anestesiologia e para aprimorar os conhecimentos teóricos e práticos nessa especialidade, optou-se por realizar o estágio curricular obrigatório das duas formas citadas, procurando assim aliar os conhecimentos adquiridos na UFPR aos adquiridos na prática privada dessa especialidade, bem como de outra instituição de ensino. O relatório apresenta-se em duas partes, sendo a primeira referente ao relatório dos estágios realizados e a outra uma revisão bibliográfica sobre Anestesia Total Intravenosa. 2.2 OBJETIVO GERAL DO ESTÁGIO O estágio teve como principais objetivos aprimorar e adquirir mais conhecimentos teóricos e práticos na área de anestesiologia veterinária, com a oportunidade de acompanhar duas realidades e rotinas distintas, visando aperfeiçoamento e especialização nessa área. 48 2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO ESTÁGIO Acompanhar os procedimentos anestésicos, sendo esses cirúrgicos, ambulatoriais, de diagnóstico e também de emergência, tanto na prática clínica privada, como na realidade acadêmica, desenvolver a habilidade de elaborar protocolos anestésicos adequados às diversas situações em que um procedimento seja necessário, aprimorar os conhecimentos em fisiologia, patofisiologia e farmacologia necessários ao profissional anestesiologista, acompanhar e monitorar pacientes sob anestesia e desenvolver e aprimorar a prática em ambiente clínico – hospitalar. 2.4 DESCRIÇÃO DO ESTÁGIO 2.4.1 SERVIÇO DE ANESTESIA MÓVEL No período acompanhando os de 30/08/10 procedimentos à 01/10/10 realizados o estágio pelo foi médico realizado veterinário anestesiologista Jackson Luís Lemos, nas três clínicas veterinárias abaixo descritas, perfazendo um total de 184 horas de estágio. O médico veterinário possui equipamentos próprios utilizados para a prestação dos serviços, como bombas de infusão de seringa e equipo, monitores multiparamétricos dotados de ECG, Oximetria e PANI oscilométrica, anestésicos injetáveis, inalatórios e locais, drogas analgésicas e anti-inflamatórias, fármacos de emergência, drogas vasoativas, sondas endotraqueais, laringoscópio, material de consumo e as fichas anestésicas e autorizações para os procedimentos anestésicos. As três clínicas contam com aparelho de anestesia inalatória e cilindros de oxigênio. As salas cirúrgicas são equipadas basicamente com mesa cirúrgica, aparelho de anestesia inalatória, armários com material de consumo e fármacos, foco cirúrgico, colchão térmico e lixeiras para material hospitalar, comum e reciclável. 49 2.4.2 Centro Médico Veterinário Vetsan O centro médico veterinário VetSan, situado na Avenida São José, nº 713, no bairro Cristo Rei em Curitiba, conta com os serviços de clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, odontologia veterinária, anestesiologia veterinária, radiografia e vários serviços terceirizados, prestados por outros profissionais médicos veterinários e/ou clínicas e laboratórios. Entre os outros serviços ofertados incluem-se ultrassonografia, laboratório clínico, eletrocardiograma, tomografia, fisioterapia, acupuntura, entre outros. Existem também os serviços de banho e tosa e leva e traz, com automóvel próprio. As consultas médicas não precisam ser pré-agendadas, exceto aquelas nas quais um profissional terceirizado é necessário ou quando há a necessidade de realização de exames complementares que a clínica não oferece. O Centro possui atendimento 24 horas, sete dias na semana, e conta com uma equipe de três veterinários, no período das 8h às 19h e com um plantonista noturno, além do profissional anestesiologista. A clínica é disposta da seguinte maneira: no térreo encontram-se a recepção, o pet shop com farmácia veterinária, bem como três consultórios médicos, sala de ultrassonografia e sala de estoque onde se encontra a geladeira para armazenamento de medicamentos e anestésicos. No subsolo, encontram-se o centro cirúrgico (Figura 1), a sala de odontologia e MPA (figura 2), sala de pós-operatório, sala de esterilização, internamento (Figura 3), sala de estoque de medicamentos e as salas de radiografia e revelação. Na parte dos fundos do Centro, localizam-se o serviço de banho e tosa, o internamento para doenças infectocontagiosas, os canis e uma área gramada para que os animais fiquem soltos. Também nesse local encontram-se a cozinha e o estoque da clínica. 50 Figura 1 – Centro cirúrgico da Vetsan.. Figura 2 – Sala de odontologia e MPA do Centro Médico Veterinário Vetsan. 51 FOTO: CAROLINA CASSILHA STIVAL Figura 3 – Internamento do Centro Médico Veterinário Vetsan. 2.4.3 Clínica Veterinária Gross A clínica veterinária Gross, situada na Avenida Nossa Senhora Aparecida, nº 1036, no bairro Seminário em Curitiba, oferece os serviços de clínica médica e cirúrgica, odontologia, anestesiologia veterinária, bem especialidades oferecidas por profissionais terceirizados como fisioterapia, oftalmologia, entre outras. A clínica também oferece e encaminha seus pacientes para serviços terceirizados de exames de imagem e laboratório clínico. A Gross oferece serviço de banho e tosa e de leva e traz a seus clientes, contando com automóvel próprio. As consultas médicas podem ou não ser agendadas com antecedência. A clínica possui atendimento em horário comercial de segunda a sábado e conta com uma equipe de três médicos veterinários. A clínica é dividida em Centro Cirúrgico (Figura 4), dois consultórios médicos, uma recepção onde se encontram o pet shop e farmácia veterinária, e um corredor onde se encontram a sala de internamento e medicação préanestésica e o ambiente de banho e tosa. 52 Figura 4 – Sala de cirurgia da Clínica Veterinária Gross. 2.4.4 Clínica Veterinária Pedigree A clínica veterinária Pedigree encontra-se na Alameda Princeza Isabel, 2552, no bairro São Francisco em Curitiba. A clínica oferece os serviços de clínica médica e cirúrgica, banho e tosa, leva e traz e também serviços de radiografia. Conta também com a colaboração de profissionais terceirizados para a realização de consultas especializadas e de procedimentos de diagnóstico. A clínica funciona em horário comercial de segunda a sábado e conta com dois médicos veterinários fixos e plantonistas aos sábados. A disposição das instalações da clínica é a seguinte: recepção e pet shop, sala de estoque, escritório, consultório, sala cirúrgica (Figura 5), sala de internamento e pós-operatório e área de banho e tosa. 53 Figura 5 – Sala de cirurgia e odontologia da Clínica Veterinária Pedigree. 2.5 ATIVIDADES ACOMPANHADAS E DESENVOLVIDAS NO SERVIÇO DE ANESTESIA MÓVEL No período de estágio realizado com o Médico Veterinário Jackson Luís Lemos, foram acompanhados procedimentos anestésicos cirúrgicos, ambulatoriais e de diagnóstico nas três clínicas veterinárias citadas. As atividades incluíam o exame físico pré-anestésico do animal, avaliação dos exames pré-cirúrgicos (quando houvesse) dos animais, preenchimento da ficha anestésica, discussão e elaboração do protocolo anestésico utilizado, juntamente com o Médico Veterinário Anestesiologista, preparação de fluído e do material necessário para canulação de vaso do paciente, cálculo das doses dos fármacos utilizados e auxílio para a contenção do paciente, aplicação da medicação pré-anestésica e tricotomia do paciente, na indução anestésica, oxigenação e intubação do paciente, posicionamento do animal na mesa cirúrgica e colocação dos eletrodos, manguito de pressão e oxímetro, bem como a conexão do paciente ao circuito anestésico. O preenchimento da ficha anestésica com os horários das medicações, e a anotação de parâmetros como a freqüência cardíaca, freqüência respiratória, SpO2, PAS, PAM e PAD, bem como a temperatura retal era 54 realizada a cada intervalo de 15 minutos no decorrer do tempo cirúrgico. Eram também anotados os horários de início e término do procedimento. Após o término do procedimento, o estagiário, bem como o profissional anestesiologista era responsável pelo acompanhamento do retorno anestésico do paciente, aquecimento do mesmo e observação de sinais de excitação, dor ou outras intercorrências que poderiam acontecer no pré, trans e pós-cirúrgico do animal. Medicações utilizadas para a correção de intercorrências, quando houvesse, também deveriam ser anotadas na ficha anestésica, bem como a dose, horário e via de administração, assim como todos os outros fármacos utilizados. Todos os casos eletivos eram pré-agendados e exames pré-operatórios eram solicitados. Os proprietários deveriam assinar um termo de responsabilidade de anestesia, em que se diziam cientes dos riscos anestésicos e de que tiveram suas dúvidas esclarecidas. No caso de não haverem exames pré-operatórios dos pacientes em virtude do não consentimento dos proprietários, os mesmos deveriam assinar um termo em que assumiam a responsabilidade pela ausência de exames. Nos dias em que não haviam procedimentos anestésicos agendados, eram realizados períodos de estudo, englobando a farmacologia anestésica, farmacologia do sistema nervoso, emergências em medicina veterinária e anestesia por especialidades, incluindo neonatos, pediatria, cardiopatas, hepatopatas e nefropatas, paciente neoplásico, diabéticos, entre outros temas relacionados à anestesiologia veterinária e emergências e intensivismo. 2.6 CASUÍSTICA E DISCUSSÃO DO ESTÁGIO REALIZADO COM O SERVIÇO DE ANESTESIA MÓVEL No período compreendido entre 30/08 e 01/10 foram acompanhados 35 procedimentos anestésicos no total. Dentre esses procedimentos, 16 foram no Centro Médico Veterinário VetSan, 11 na Clínica Veterinária Gross e 8 na Clínica Veterinária Pedigree (Quadro 1). Dentre os 35 procedimentos acompanhados, 32 (91,4%) eram pacientes da espécie canina e 3 (8,5%) eram 55 da espécie felina. Desses 35 procedimentos, 26 foram realizados em animais do sexo feminino e 9 em animais do sexo masculino. Quadro 1 – Número de procedimentos anestésicos acompanhados durante o período de estágio realizado com o serviço de anestesia móvel no Centro Médico Veterinário VetSan e nas clínicas veterinárias Gross e Pedigree. Estabelecimento Nº de Procedimentos Centro Médico Veterinário VetSan 16 Clínica Veterinária Gross 11 Clínica Veterinária Pedigree 8 O Quadro 2 exemplifica a distribuição dos animais por raça. Destaca-se a maioria de animais sem raça definida (n=7), seguidos por animais da raça Poodle (n=5) e Yorkshire (n=3). Quadro 2 – Distribuição das raças de cães que passaram por procedimentos anestésicos durante os dias 30 de agosto e 01 de outubro de 2010. Raça SRD Labrador Yorkshire Poodle Schnauzer Pug Fox Cocker Maltês Persa Lhasa Shitzu Bulldog Bichon Frisé Pequinês Rottweiller Quantidade 7 2 3 5 1 1 1 1 2 1 1 2 1 1 1 1 Os procedimentos mais realizados foram por ordem as profilaxias dentárias (28,5%), as OSH eletivas (11,4%) e as extrações dentárias (8,5%), como demonstrado no Gráfico 1. 56 Gráfico 1 – Distribuição dos procedimentos anestésicos anestésico acompanhados nas clínicas VetSan, Vet Gross e Pedigree, durante o período de estágio curricular obrigatório. 30,00% 28,50% 25,00% 20,00% 15,00% 11,40% 8,50% 10,00% 5,70% 5,70% 5,70% 5,70% 5,70% 5,00% 2,80% 2,80% 2,80% 2,80% 2,80% 2,80% 2,80% 2,80% 2,80% 2,80% 2,80% 2,80% 2,80% 2,80% 0,00% A distribuição dos pacientes de acordo com a idade está descrita no Gráfico 2. Observa-se se que há maior concentração de pacientes com idade acima de 9 anos e pacientes que possuíam entre 3 e 9 anos. Gráfico 2 – Distribuição da Idade dos pacientes submetidos a procedimentos anestésicos nas clínicas veterinárias VetSan, Gross e Pedigree no período de 30 de agosto à 1 1 2 11 0-6 meses 10 6 meses- 1 ano 1 - 3 anos 3 - 6 anos 10 6 - 9 anos mais de 9 anos 57 01 de outubro. A presença de exames pré-operatórios pré também foi avaliada e se encontra representada no Gráfico 3. Ressalta-se Ressalta se o fato de que nem todos os pacientes submetidos aos procedimentos cirúrgicos/anestésicos apresentavam exames pré-operatórios operatórios e alguns dos pacientes apresentavam vários exames realizados. Quando ando da ausência de exames, os proprietários dos animais deveriam além de assinar o termo de autorização do procedimento anestésico, assinar também um termo de compromisso, no qual admitiam não ter autorizado nenhum tipo de exame pré-operatório. pré Observa-se que dentre os exames complementares, o Hemograma, PPT, e Bioquímica Renal e Hepática foram os mais comuns. Gráfico 3 – Distribuição dos Exames pré-operatórios pré operatórios mais comuns realizados nos pacientes anestésicos no período de 30 de agosto a 01 de outubro. 5,70% 5,70% 22,80% 5,70% Hemograma 2,80% 5,70% PPT 62,80% Bioq. Hepática Bioq. Renal 54,20% 62,80% US Raio X 57,10% Eletrocardiograma TAP TTPA PA No Quadro 3, estão apresentados os dados de classificação do risco anestésico dos pacientes. Observa-se Observa se maior concentração dos pacientes em ASA II e III, respectivamente. Acredita-se Acredita se que essa classificação mais concentrada dos pacientes em ASA II, seja devido devido ao fato de alguns pacientes, submetidos a procedimentos eletivos ou não, não apresentarem nenhum tipo de exame pré-operatório operatório e serem submetidos apenas a avaliação física antes do procedimento. A idade também foi um fator determinante na classificação classificaçã dos pacientes e também no tipo de procedimento mais realizado, a profilaxia 58 dentária, mais comumente realizada em pacientes que já apresentam idade mais avançada. Como visto no Gráfico 3, a maioria dos pacientes apresentava mais de 9 anos, o que acarreta em maior possibilidade da presença de doenças ou condições intermitentes àquelas pelas quais o animal estava sendo submetido a um procedimento cirúrgico. Quadro 3 – Classificação do risco anestésico dos pacientes que passaram por procedimento anestésico no serviço de anestesia móvel. Risco Anestésico Quantidade I 9 II 14 III 11 IV 1 V No Quadro 4 estão dispostas as principais intercorrências anestésicas observadas nos pacientes. Nota-se que a hipotensão foi a intercorrência mais comumente observada. Deve-se relembrar que um dos efeitos colaterais dos agentes anestésicos inalatórios é a hipotensão, fato esse que pode ser atribuído nesse caso, visto que na grande maioria dos casos, a anestesia inalatória foi utilizada para manutenção anestésica (Quadro 5). Quadro 4 – Principais Intercorrências Anestésicas observadas nos pacientes que passaram por procedimentos anestésicos no período de 30 de agosto a 01 de outubro de 2010. Intercorrências Anestésicas CVP Cianose Parada Cardíaca Hipertensão Laringoespasmo Parada Respiratória Hipotensão Acidose Bradicardia Edema Pulmonar Dispnéia Hipotermia Quantidade 1 1 1 3 1 3 13 1 5 2 2 1 59 Quadro 5 – Fármacos utilizados na MPA, Indução e Manutenção Anestésicas pelo M V Jackson Luís Lemos no período de 30 de agosto a 01 de outubro de 2010. MPA Fármacos Acepromazina Meperidina Morfina Butorfanol Midazolam nº de animais 23 23 7 2 4 Cetamina 3 INDUÇÃO Fármacos Propofol Midazolam Fentanil Cetamina Diazepam nº de animais 34 33 34 5 1 MANUTENÇÃO Fármacos Isoflurano Fentanil MLK Propofol nº de animais 30 21 5 4 Nota-se no quadro acima, que para a medicação pré-anestésica, na grande parte das vezes optou-se por um fármaco sedativo associado a um analgésico da classe dos opióides. Já para a indução anestésica, o propofol associado ao midazolam e ao fentanil foi bastante utilizado. Ao se utilizar outros fármacos associados ao propofol na indução anestésica, busca-se diminuir a dose necessária deste e assim minimizar seus efeitos adversos. Vale ressaltar que a associação com fentanil reforça a analgesia no início do período cirúrgico. Já para a manutenção anestésica, o agente inalatório isoflurano foi o mais utilizado. A anestesia inalatória é prática e uma das mais seguras, visto que ao se interromper a anestesia, o retorno do paciente à consciência é rápido. Fármacos e/ou associações de fármacos com intuito analgésico também foram bastante utilizados na manutenção da anestesia, como o MLK e Fentanil. Bloqueios com anestésicos locais também foram utilizados em várias situações. Em suma, o estágio realizado com o médico veterinário Jackson Luís Lemos trouxe novas perspectivas sobre o profissional médico veterinário anestesiologista. A prática em clínicas privadas da Anestesiologia Móvel é hoje uma realidade e possui suas vantagens, bem como desvantagens. A possibilidade de trabalhar nas mais diversas situações e ambientes força esse tipo de profissional a se adaptar a essas situações diversas, o que traz muita experiência. Por outro lado, por muitas vezes, o anestesiologista acaba tendo que trabalhar em condições nem sempre adequadas para que o procedimento seja o mais seguro possível. 60 2.7 DEPARTAMENTO DE CIRURGIA E ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA DA FMVZ-UNESP/BOTUCATU No período de 04/10 a 29/10, num total de 160 horas, o estágio foi realizado no serviço de Anestesiologia Veterinária do Hospital Veterinário da FMVZ da UNESP/Botucatu. O Hospital Veterinário funciona de segunda a sexta das 08 h até às 18 h e sábados e domingos em esquema de plantão. Cada serviço conta com médicos veterinários residentes, sendo esses R1 ou R2. O Hospital Veterinário da FMVZ (Figura 6) é dividido por setores e cada qual é responsável pela prestação de serviços específicos. O departamento de cirurgia e anestesiologia veterinária oferece os seguintes serviços: clínica cirúrgica de pequenos e de grandes animais, acupuntura veterinária, oftalmologia veterinária, anestesiologia veterinária, medicina de animais selvagens e medicina esportiva equina. O serviço de anestesiologia veterinária percorre os vários setores do hospital para a prestação de serviços. Tanto os residentes do serviço (dois R1 e dois R2), como os estagiários trabalham em esquema de rodízio entre os diferentes setores implicados na anestesiologia. O serviço atende procedimentos de diagnóstico por imagem como radiografias e tomografia computadorizada, procedimentos ambulatoriais, como sedações e analgesia referentes à clínica médica e cirúrgica de pequenos e de grandes animais, bem como de animais selvagens e também atende procedimentos cirúrgicos de pequenos e grandes animais e animais selvagens, oftalmologia e reprodução animal e obstetrícia. Os estagiários são distribuídos da seguinte forma: 1 semana no ambulatório, 2 semanas no centro cirúrgico de pequenos animais e 1 semana no centro cirúrgico de grandes animais juntamente com a reprodução animal e obstetrícia. 61 Figura 6 – Setor de Triagem do Hospital Veterinário da FMVZ – Unesp/Botucatu. A partir desse setor, os animais são encaminhados para os diferentes serviços ofertados pelo hospital, conforme sua necessidade. Para os serviços ambulatoriais, a anestesiologia conta com uma maleta de fármacos e material de consumo. No serviço de tomografia, encontra-se uma sala de preparação anestésica (Figura 7) que possui um armário ao qual apenas os anestesistas têm acesso, contendo uma variedade de fármacos anestésicos e de emergência, bem como material de consumo como fluidos, equipos, tubos endotraqueais, seringas, agulhas, entre outros. FOTO: Thiago Borinelli de Aquino Moura Figura 7 – Sala de medicação pré-anestésica e recuperação no serviço de tomografia do HV da FMVZ – UNESP/Botucatu. 62 Na sala onde se encontra o tomógrafo (Figura 8), existe um aparelho de anestesia inalatória da marca Takaoka®, com ventilador mecânico e um aparelho de Capnografia. FOTO: Thiago Borinelli de Aquino Moura Figura 8 – Sala de tomografia computadorizada do HV da FMVZ – UNESP/Botucatu. No centro cirúrgico de pequenos animais existe uma sala de medicação pré-anestésica (Figura 9), que conta com o quadro de procedimentos cirúrgicos agendados da semana, mesas e armário contendo todo o material de consumo necessário e também os fármacos anestésicos, analgésicos e anti-inflamatórios que são comumente utilizados na medicação pré-anestésica. Há também a sala de indução anestésica (Figura 10), muito utilizada para a recuperação pósanestésica dos animais e também para a realização de procedimentos não cirúrgicos que necessitem da anestesia geral. Essa sala conta com equipamento de anestesia inalatória Takaoka®, monitor multiparamétrico Dixtal®, capnógrafo, insuflador, bem como armários onde se encontram os materiais de consumo. Já o centro cirúrgico propriamente dito conta com três salas cirúrgicas (Figura 11), sendo duas de utilização para cirurgia geral e uma de uso exclusivo do serviço de oftalmologia. As 3 salas cirúrgicas contam com 1 equipamento de anestesia inalatória HB® com vaporizador calibrado de isoflurano em cada sala, 2 monitores multiparamétricos Digicare®, tendo um analisador de gases anestésicos, bombas de infusão contínua de equipo Digicare® e de seringa Samtronic®, 63 doppler vascular, mesa cirúrgica, foco cirúrgico e armário contendo fármacos anestésicos, de emergência e material de consumo. Cada serviço possui seus pertences separados um do outro. Figura 9 – Sala de medicação pré anestésica do CCPA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. FOTO: Pedro Henrique Ferreira Figura 10 – Sala de indução anestésica do CCPA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. 64 FOTO: Pedro Henrique Ferreira Figura 11 – Sala cirúrgica do CCPA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. O centro cirúrgico de grandes animais conta com sala de indução alcochoada (Figura 12) e sala cirúrgica (Figuras 13 e 14) com dois aparelhos de anestesia inalatória, sendo um Takaoka® e outro HB®, os dois dotados de ventiladores mecânicos e vaporizadores calibrados para isoflurano, mesa cirúrgica, foco cirúrgico, bomba de infusão de equipo, armários com fármacos e material de consumo. Figura 12 – Sala de indução anestésica do CCGA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. 65 FOTO: Thiago Borinelli de Aquino Moura Figura 13 – Sala cirúrgica do CCGA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. Em destaque, os aparelhos de anestesia inalatória. FOTO: Thiago Borinelli de Aquino Moura Figura 14 – Sala cirúrgica do CCGA do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. No setor de reprodução e obstetrícia, a sala cirúrgica (Figura 15) conta com equipamento de anestesia inalatória Takaoka®, com vaporizador calibrado para Isoflurano, monitor multiparamétrico Digicare®, armário com material de consumo, mesa e foco cirúrgico. 66 FOTO: Thiago Borinelli de Aquino Moura Figura 15 – Sala cirúrgica do serviço de reprodução animal e obstetrícia do HV da FMVZ – Unesp/Botucatu. O serviço também conta com uma geladeira para armazenamento de fármacos anestésicos, e drogas vasoativas como dopamina, dobutamina, norepinefrina, bem como solução heparinizada para pressão invasiva, glicosímetro e também centrífuga para rodagem de hematócrito que é utilizada no pré-cirúrgico e por muitas vezes no trans-cirúrgico. Existe ainda o laboratório de Anestesiolgia Experimental, onde são realizados alguns procedimentos de pesquisa. Essa sala é equipada com aparelho de anestesia inalatória com vaporizador calibrado para Isoflurano, Monitor Multiparamétrico, Capnógrafo, Dopplers vasculares, Hemogasômetro, e materiais de consumo distribuídos em armários. 2.8 ATIVIDADES ACOMPANHADAS E DESENVOLVIDAS NO SERVIÇO DE ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA DO HV DA FMVZ-UNESP/BOTUCATU Como citado anteriormente, os estagiários do serviço de anestesiologia realizam rodízio nas diferentes áreas nas quais o serviço é prestado. A primeira semana de estágio foi realizada acompanhando os procedimentos ambulatoriais. Esses 67 procedimentos incluíram além de sedações e anestesia geral para procedimentos diagnósticos como radiografias e tomografias, a realização de analgesias para a clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, sedações para exames físicos e outros procedimentos ambulatoriais. Cabe ao estagiário realizar todo o exame físico do animal, elaborar juntamente ao médico veterinário residente responsável o melhor protocolo anestésico para àquela situação, calcular as doses dos fármacos e deixá-los separados em suas respectivas seringas (com identificação), preparar todo o material caso haja a necessidade de se canular um vaso do paciente, montar o fluido, etc. Cabe também ao estagiário realizar as medicações anestésicas e/ou analgésicas, bloqueios anestésicos e outros procedimentos relacionados à anestesia e avaliar seus efeitos, bem como acompanhar até o fim o procedimento que será realizado. Após a completa recuperação do paciente, o estagiário deve passar as recomendações anestésicas para os proprietários do animal e cuidar para que o ambiente se mantivesse organizado. As segunda e terceira semanas de estágio foram realizadas no CCPA. Os estagiários devem deixar os centros cirúrgicos preparados, abrindo os cilindros de oxigênio, ligando os monitores multiparamétricos, repondo o anestésico inalatório quando necessário e deixando material como tubo endotraqueal, laringoscópio, catéter para pressão invasiva, bombas de infusão, etc, preparados. Do lado de fora do centro, o estagiário deve preparar a ficha anestésica com os dados do animal, resultados de exames, protocolos anestésicos utilizados, horário e via de administração dos fármacos. Todas as medicações eram previamente preparadas, e todo material necessário era separado. Quando do procedimento cirúrgico, cabia ao estagiário o preenchimento da ficha anestésica com os parâmetros de monitoração anestésica disponíveis a cada 5 minutos, bem como a monitoração do plano anestésico do paciente. Ao final do procedimento, recuperava-se o animal e as recomendações da anestesia eram transmitidas ao proprietário. A quarta e última semana de estágio foi realizado simultaneamente no CCGA e na Reprodução Animal e Obstetrícia. No CCGA, cabia ao estagiário deixar os equipamentos, fármacos e materiais prontos para a realização do procedimento, bem como auxiliar o residente responsável no manejo com o 68 animal. Na reprodução animal e obstetrícia as atividades eram semelhantes àquelas realizadas no CCPA, visto que a grande maioria dos procedimentos eram cirúrgicos. Cabia ao estagiário montar a estrutura dos equipamentos de monitoração, como Monitor e Doppler vascular e preparar o equipamento de Anestesia Inalatória. O preparo do paciente, cálculo de doses, administração dos fármacos, monitoração no trans e pós-cirúrgico, pós cirúrgico, preenchimento da ficha anestésica e recomendações aos proprietários também eram realizados. Nas terças-feiras, feiras, os alunos de graduação têm aula prática de técnica cirúrgica, e os estagiários, giários, bem como os residentes de cirurgia e de anestesiologia auxiliam na aula, preparando material, auxiliando os alunos a calcularem doses de fármacos, canular os animais, induzi-los, induzi los, conectá-los conectá ao circuito anestésico e também em toda a monitoração anestésica an e preenchimento de ficha anestésica. 2.9 CASUÍSTICA E DISCUSSÃO DO ESTÁGIO REALIZADO NO SERVIÇO DE ANESTESIOLOGIA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA FMVZ – UNESP/BOTUCATU Ao todo, foram acompanhados 65 procedimentos anestésicos, incluindo ambulatório, centros cirúrgicos de pequenos e de grandes animais e reprodução e obstetrícia. A distribuição dos casos encontra-se encontra se representada no Gráfico 4. Gráfico 4 – Número de procedimentos anestésicos acompanhados por setor durante o período de estágio curricular obrigatório no serviço de Anestesiologia da FMVZ da UNESP de Botucatu. 8 3 AMBULATÓRIO 16 38 CCPA CCGA REPRODUÇÃO/OBSTETRÍCIA 69 Observa-se no gráfico que a grande maioria dos procedimentos anestésicos acompanhados engloba o setor ambulatorial. Apenas o serviço de anestesiologia conta com fármacos específicos para realizar sedações e analgesias, o que torna necessário que haja sempre um profissional disponível para esse tipo de demanda. Nesse setor incluem-se procedimentos de sedação para realização de exames e curativos, aplicação de drogas analgésicas para animais que se tornem agressivos devido à dor causada por traumas, procedimentos anestésicos gerais para a realização de tomografia computadorizada, biópsias, alguns procedimentos oftálmicos, retirada de fixadores externos, redução de luxações, entre outros. Já no Centro Cirúrgico de Pequenos Animais (CCPA), a grande maioria dos procedimentos acompanhados foram os de ortopedia e oncologia. É bastante comum na região a ocorrência de traumas e atropelamentos, o que corrobora para o alto índice de intervenções cirúrgicas corretivas de fraturas e luxações. Os procedimentos oncológicos também são bastante comuns, e dentre esses, os tumores mamários são os predominates, seguidos por nódulos de pele. No centro cirúrgico de grandes animais, os procedimentos foram variados em incluíram artroscopia bilateral, para um projeto de pesquisa, miectomia, descorna e enucleação. (Quadro 6) 70 Quadro 6 – Procedimentos Anestésicos Acompanhados por Setor no período de 04 a 29 de outubro de 2010 no serviço de Anestesiologia Veterinária da FMVZ da UNESP de Botucatu. AMBULATÓRIO CCPA PROCEDIMENTO Nº Retirada Fixador Externo 2 Tomografia 1 Analgesia 7 Desobstrução Uretral CCGA PROCEDIMENTO REPR./OBST. Nº PROCEDIMENTO Nº PROCEDIMENTO Nº Nodulectomia 2 Artroscopia Bilateral 2 OSH Terapêutica 2 Colocefalectomia 1 Miectomia 1 Cesárea 1 Osteossíntese Tíbia 1 Descorna 2 2 Osteossíntese Mandibular 1 Enucleação 1 Raio X 6 Mastectomia 2 Ruminectomia 1 Flap Palpebral 1 Patelopexia 1 Analgesia 1 Sedação Exame/Curativo 6 RLCCr 1 Drenagem Efusão Pleural 1 Osteossíntese Escápula 1 Biópsia 2 OSH 1 Debridamento Ferida 1 Colchectomia + Osteossíntese Bula 1 Orquiectomia 2 Amputação MPE 1 Pregueamento Palpebral 1 Nasectomia 1 Redução Luxação 1 Cistotomia 1 Endoscopia 1 Uretrostomia 1 Redução Prolapso Ocular 1 OSH Eletiva 1 A espécie canina foi a de predominância nos variados setores nos quais o serviço de anestesiologia é necessário, seguido da espécie felina felin e equina. O Gráfico 5 mostra a distribuição das espécies animais submetidas a procedimentos anestésicos durante o período de estágio. Gráfico 5 – Distribuição das espécies animais que passaram por procedimentos anestésicos no período de 04 a 29 de outubro de 2010. 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 71 Dentre as espécies animais apresentadas, 58% eram indivíduos do sexo feminino, enquanto que 42% eram indivíduos de sexo masculino. Já o Gráfico 6 mostra a faixa de idade dos pacientes. É possível observar que há maior concentração de pacientes com faixa etária e compreendida entre 1 – 3 anos e acima de 9 anos e há uma grande parte dos animais classificados como apenas como “adultos”. Isso ocorre por alguns animais não apresentarem o dado no prontuário e também por alguns serem de espécies selvagens, em que a idade não foi estimada. Essa faixa etária se correlaciona também com os tipos de procedimentos cirúrgicos mais comuns, que foram os ortopédicos e os oncológicos. As fraturas e luxações são mais comuns em animais mais jovens, enquanto que as neoplasias são mais comuns em animais mais idosos. Gráfico 6 – Distribuição da faixa etária dos pacientes que passaram por procedimento anestésico no período de 04 a 29 de outubro de 2010. 1 2 1 2 cão 5 gato 5 quati leão 45 sagui-de-tufo--branco bugio-ruivo cavalo A grande variedade de casos e a variabilidade de espécies, idade e procedimentos rocedimentos refletem o ambiente acadêmico. Por se tratar de um hospital escola e que conta com muitos serviços, existe uma casuística alta entre todos os setores e o serviço de anestesiologia colabora com praticamente todos os setores e serviços do Hospital Hospit Veterinário. Apresenta-se se no Quadro 7, a distribuição dos fármacos mais utilizados em cada setor do serviço de anestesiologia. Nota-se Nota se maior prevalência de 72 fármacos sedativos e analgésicos no ambulatório, já que a grande maioria dos procedimentos era de analgesia e sedação. Já nos centros cirúrgicos tanto de pequenos quanto de grandes animais e também na reprodução e obstetrícia, os fármacos anestésicos gerais, são os mais comumente utilizados, devido a natureza dos procedimentos realizados nesses setores, que são predominantemente cirúrgicos. Dentre esses fármacos, o isoflurano e o propofol são amplamente empregados nas mais diversas situações. Em grandes animais, a xilazina é bastante utilizada como sedativo e em eqüinos a indução com cetamina e diazepam também segue como protocolo padrão. Em todos os casos em que havia necessidade de se manter a anestesia por período de tempo, o agente inalatório isoflurano era empregado. A administração de fármacos analgésicos e ou/ bloqueios regionais também é amplamente utilizada. Essas técnicas têm como objetivos além de proporcionar analgesia ao paciente, diminuir a CAM do anestésico inalatório para manter o animal em plano anestésico, contribuindo assim para minimizar a possibilidade de efeitos adversos. Quadro 7 – Distribuição dos fármacos anestésicos que foram utilizados nos diferentes setores da Anestesiologia no mês de outubro de 2010. CENTRO CIRÚRGICO DE PEQUENOS ANIMAIS AMBULATÓRIO MPA INDUÇÃO MANUTENÇÃO MPA INDUÇÃO MANUTENÇÃO Butorfanol (4) Propofol (11) Isoflurano (6) Morfina (15) Propofol (13) Isoflurano (14) Clorpromazina (9) Isoflurano (2) Propofol (3) Clorpromazina (1) Cetamina (1) Metadona (10) Acepromazina (1) Morfina (10) Fentanil (2) Diazepam (2) Cetamina (3) Dexmedetomidina (1) CENTRO CIRÚRGICO DE GRANDES ANIMAIS MPA INDUÇÃO Xilazina (5) Cetamina (3) Acepromazina (1) Diazepam (3) Morfina (1) EGG (1) REPRODUÇÃO ANIMAL E OBSTETRÍCIA MANUTENÇÃO Isoflurano (4) MPA INDUÇÃO Propofol (3) Tiopental (1) 73 MANUTENÇÃO Isoflurano (3) Resumidamente, o estágio no serviço de Anestesiologia do Hospital Veterinário da FMVZ – Unesp/Botucatu agregou muitos conhecimentos em práticas diferentes nas quais o profissional anestesiologista atua. Foi possível acompanhar diversas realidades e condições clínicas dos pacientes e melhorar a habilidade em elaborar protocolos anestésicos adequados para essas diferentes situações. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Duas realidades distintas foram acompanhadas durante o estágio: a realidade da prática privada, onde por muitas vezes o profissional deve se adaptar as situações dos locais onde oferece seus serviços, em se tratando de anestesia móvel, por exemplo, e também o ambiente acadêmico de uma instituição de renome e que é referência no serviço de anestesiologia e que conta com muitos recursos. As duas práticas foram interessantes, pois no ambiente acadêmico, pode-se testar fármacos e protocolos e os equipamentos e recursos disponíveis são amplos. Já a prática privada, é a realidade do profissional anestesiologista hoje e esse campo é um dos que mais absorve profissionais atualmente. O crescente número de clínicas veterinárias e a tendência geral da medicina veterinária em tornar os serviços cada vez mais especializados abrem portas para os profissionais que pretendem ser autônomos. 74