Profa. Karla Faria Literatura Concreta "Todo o poema é uma aventura planificada" Literatura Contemporânea Geração de 45 Concretismo Poesia Marginal A crônica na década de 80 E os anos 2000... Em 1956, a Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada na cidade de São Paulo, lançou oficialmente o mais controverso movimento de poesia vanguardista brasileira: o concretismo*. Criada por Décio Pignatari (1927), Haroldo de Campos (1929) e Augusto de Campos (1931), a poesia concreta era um ataque à produção poética da época, dominada pela geração de 1945, a quem os jovens paulistas acusavam de verbalismo, subjetivismo, falta de apuro e incapacidade de expressar a nova realidade gerada pela revolução industrial. São Paulo vivia então o apogeu do desenvolvimentismo da Era J.K. e seus intelectuais buscavam uma poética ideológica/artística cosmopolita, como tinham feito os modernistas de 1922. Por isso, um dos modelos adotados pelos concretos foi Oswald de Andrade cuja lírica sintética (“poemaspílula”) representava para eles o vanguardismo mais radical. * Desde 1952, os jovens intelectuais paulistas vinham procurando um novo caminho através de uma revista chamada Noigandres, palavra tirada de um poema de Erza Pound e que não significa nada. "Todo o poema é uma aventura planificada" Em síntese, os criadores do concretismo propugnavam um experimentalismo poético (planificado e racionalizado) que obedecia aos seguintes princípios: - Abolição do verso tradicional, sobretudo através da eliminação dos laços sintáticos (preposições, conjunções, pronomes, etc.), gerando uma poesia objetiva, concreta, feita quase tão somente de substantivos e verbos; - Um linguagem necessariamente sintética, dinâmica, homóloga à sociedade industrial (“A importância do olho na comunicação mais rápida... os anúncios luminosos, as histórias em quadrinhos, a necessidade do movimento....”); Exemplo destas propostas pode ser encontrado no poema Terra de Décio Pignatari: ra terra ter rat erra ter rate rra ter rater ra ter raterr a ter raterra terr araterra ter raraterra te rraraterra t erraraterra terraraterra Observe-se o despojamento e o jogo verbal deste poema de Haroldo de Campos: de sol a sol soldado de sal a sal salgado de sova a sova sovado de suco a suco sugado de sono a sono sonado sangrado de sangue a sangue Os recursos visuais Os recursos visuais são utilizados por Augusto de Campos como no poema abaixo intitulado Eis os amantes: “...numa poesia, o ritmo, as aliterações e efeitos imitativos icônicos exploram a qualidade material sonora do significante; já numa poesia que desenha figuras na página branca, é a qualidade material gráfica da linguagem verbal que se exacerba. Em nenhuma dessas manifestações se tem a integração de linguagens diferentes num único todo de sentido, mas a exploração máxima das qualidades de visibilidade e sonoridade da própria linguagem verbal. (TEIXEIRA, 2008). “não é para ser lido, e sim para ser captado mediante uma sensibilidade que inclui leitura, visualidade e percurso.” Para Aguilar, o poema concreto Os autores concretistas desintegraram o lirismo pretensioso e retórico da geração anterior e transformaram seu movimento, por alguns anos, em um divisor de águas entre a velha poesia e a nova vanguarda. Apesar da escassa receptividade pública de suas obras, as mesmas tiveram inegável importância na problematização estética da época. Cultos e sofisticados, emitiram um sem número de manifestos e de interpretações da própria poesia. A autopublicidade e autocitação contínuas do grupo (combinadas com a incapacidade de aceitar qualquer outro tipo de poesia) renderam-lhe admiradores e inimigos, a tal ponto que, nos anos de 1960, nenhum poeta poderia estrear sem fazer a opção “concreto x não-concreto”. No entanto, quase todos os primeiros adeptos do movimento acabaram se afastando do núcleo fundador. Entre eles, Ferreira Gullar, que não apenas renegou o concretismo, como passou a combatê-lo, vendo na poética inovadora da década de 1950 apenas um vanguardismo vazio e historicamente datado: “Tratase de uma poesia artificiosa, imposta pela teoria. Uma novidade que logo passou.” É preciso reconhecer, contudo, que o objetivo de criar uma “poesia de exportação”, tão presente no fundadores do movimento obteve êxito, pois grupos concretos de maior ou menor relevância se formaram em vários países: Alemanha, Suíça, Portugal, França, etc NEOCONCRETISMO A ruptura neoconcreta na arte brasileira data de março de 1959, com a publicação doManifesto Neoconcreto pelo grupo de mesmo nome, e deve ser compreendida a partir do movimento concreto no país, que remonta ao início da década de 1950 e aos artistas doGrupo Frente, no Rio de Janeiro, e do Grupo Ruptura, em São Paulo. O contexto desenvolvimentista de crença na indústria e no progresso dá o tom da época em que os adeptos da arte concreta no Brasil vão se movimentar. O programa concreto parte de uma aproximação entre trabalho artístico e industrial. Da arte é afastada qualquer conotação lírica ou simbólica. O quadro, construído exclusivamente com elementos plásticos - planos e cores -, não tem outra significação senão ele próprio. Menos do que representar a realidade, a obra de arte evidencia estruturas e planos relacionados, formas seriadas e geométricas, que falam por si mesmos. A despeito de uma pauta geral partilhada pelo concretismo no Brasil, é possível afirmar que a investigação dos artistas paulistas enfatiza o conceito de pura visualidade da forma, à qual o grupo carioca opõe uma articulação forte entre arte e vida - que afasta a consideração da obra como "máquina" ou "objeto" -, e uma ênfase maior na intuição como requisito fundamental do trabalho artístico. As divergências entre Rio e São Paulo se explicitam na Exposição Nacional de Arte Concreta, São Paulo, 1956, e Rio de Janeiro, 1957, início do rompimento neoconcreto. O manifesto de 1959, assinado por Amilcar de Castro, Ferreira Gullar, Franz Weissmann,Lygia Clark, Lygia Pape, Reynaldo Jardim e Theon Spanudis, denuncia já nas linhas iniciais que a "tomada de posição neoconcreta" se faz "particularmente em face da arte concreta levada a uma perigosa exacerbação racionalista". Contra as ortodoxias construtivas e o dogmatismo geométrico, os neoconcretos defendem a liberdade de experimentação, o retorno às intenções expressivas e o resgate da subjetividade. A recuperação das possibilidades criadoras do artista - não mais considerado um inventor de protótipos industrais - e a incorporação efetiva do observador - que ao tocar e manipular as obras torna-se parte delas - apresentam-se como tentativas de eliminar certo acento técnico-científico presente no concretismo. Se a arte é fundamentalmente meio de expressão, e não produção de feitio industrial, é porque o fazer artístico ancora-se na experiência definida no tempo e no espaço. Ao empirismo e à objetividade concretos que levariam, no limite, à perda da especificidade do trabalho artístico, os neoconcretos respondem com a defesa da manutenção da "aura" da obra de arte e da recuperação de um humanismo. http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto &cd_verbete=3810&cd_idioma=28555&cd_item=8 Em Pós-tudo, escrito no fim da década de 80, Augusto de Campos parece fazer o inventário de sua participação no concretismo, identificando o seu papel nas mudanças poéticas e reconhecendo que o caminho revolucionário acabara na mudez*: •Mudo aqui tem um sentido ambivalente. Além da indicação de mudez, o termo poderia ser interpretado como forma verbal de mudar, traduzindo assim o início uma nova busca de alternativas por parte do autor, após a experiência concretista. E-poemas mar azul mar azul mar azul mar azul mar azul marco azul marco azul marco azul marco azul barco azul barco azul barco azul arco azul arco azul ar azul Ferreira Gullar http://www.literal.com.br/ferreira-gullar/e-poemas/oformigueiro/ http://literal.terra.com.br/ferreira_gullar/epoemas/marazul. htm Estudo Dirigido Explique os itens a seguir de acordo com o Concretismo: 1- Apresenta caráter persuasivo e aproxima-se com a linguagem persuasiva. 2- Os versos são polissêmicos. 3- Apresenta elementos icônicos. 4- Texto de caráter sincrético. FERREIRA GULLAR (1930) FERREIRA GULLAR (1930) Concretismo; Poesia politicamente engajada; Expressão não-formalista, livre e ousada; Interrogações contínuas a respeito da permanência e da transitoriedade das coisas; Poeta emblemático, escreveu para a tv, militou na crítica de arte e debateu a situação da poesia. Agosto 1964 Entre lojas de flores e de sapatos, bares, mercados, butiques, viajo num ônibus Estrada de Ferro - Leblon. Viajo do trabalho, a noite em meio, fatigado de mentiras. O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud, relógios de lilases, concretismo, neoconcretismo, ficções da juventude, adeus, que a vida eu a compro à vista aos donos do mundo. Ao peso dos impostos, o verso sufoca, a poesia agora responde a inquérito policial-militar. Digo adeus à ilusão Mas não ao mundo. Mas não à vida, meu reduto e meu reino. Do salário injusto, da punição injusta, da humilhação, da tortura, do terror, retiramos algo e com ele construímos um artefato. Uma bandeira. Poema sujo (fragmento) E depois de tanto que importa um nome? Te cubro de flor, menina, e te dou todos os nomes do mundo:] te chamo aurora te chamo água te descubro nas pedras coloridas nas artistas de cinema nas aparições do sonho - E esta mulher a tossir dentro de casa! Como se não bastasse o pouco dinheiro, a lâmpada fraca, O perfume ordinário, o amor escasso, as goteiras no inverno. E as formigas brotando aos milhões negras como golfadas de dentro da parede (como se aquilo fosse a essência da casa) E todos buscavam num sorriso num gesto nas conversas da esquina no coito em pé na calçada escura do Quartel no adultério no roubo a decifração do enigma - Que faço entre coisas? - De que me defendo?