POESIA CONCRETISTA
(Uma Análise Verbovoco-visual da
Literatura)
A poesia concreta tem como particularidade
a subversão da poesia como resultado apenas da
palavra escrita, utilizando, portanto, como parte
de sua construção subjetiva o elemento visual: na
disposição das letras, na união entre texto e
imagem para sua completa significação (como nas
histórias em quadrinhos) e nos jogos de palavras
que se apoiam em recursos nem sempre só visuais,
como as aliterações (repetição do mesmo som
consonantal) e as assonâncias (repetição do mesmo
som vocálico)
“ovonovelo”, de
Augusto de Campos,
1956.
“beba coca cola”, de Décio Pignatari, 1957.
O TEXTO LIDO COMO UMA IMAGEM: histórias em quadrinhos e poesia concreta.
“o letreiramento, tratado ‘graficamente’ e a serviço da história, funciona como uma extensão
da imagem. Nesse contexto, ele fornece o clima emocional, uma ponte narrativa, e a sugestão
de som.” (EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Sequencial, p. 10).
O TEXTO LIDO COMO UMA IMAGEM: história em quadrinhos e poesia concreta
O TEXTO LIDO COMO UMA IMAGEM: história em quadrinhos e poesia concreta
“Terra”, Décio Pignatari
“Velocidade”, Ronaldo Azevedo
Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis
Tenho certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia dizer mais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...
(autor desconhecido)
N
N
N
N
N
N
A
a
M
m
O
o
R
r
a
m
o
r
a
m
o
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m
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r
A
A
A
A
A
A
D
D
D
D
D
D
A
A
A
A
A
A
(adaptado de Luiz Eduardo Pinto)
O assassino
era o escriba
Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito
inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjunção.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido na sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
Paulo Leminski
O quê
Que não é o que não pode ser que
Não é o que não pode
Ser que não é
O que não pode ser que não
É o que não
Pode ser
Que não
É
O que não pode ser que
Não é o que não pode ser
Que não é o que
O que?
O que?
O que?
Que não é o que não pode ser que não é
Arnaldo Antunes
O Pulso
E o corpo ainda é pouco
Assim...
O pulso ainda pulsa
Peste bubônica, câncer,
pneumonia
Raiva, rubéola, tuberculose e
anemia
Rancor, cisticircose, caxumba,
difteria
Encefalite, faringite, gripe e
leucemia...
E o pulso ainda pulsa
Hepatite, escarlatina,
estupidez, paralisia
Toxoplasmose, sarampo,
esquizofrenia
Úlcera, trombose, coqueluche,
hipocondria
Sífilis, ciúmes, asma,
cleptomania...
Reumatismo, raquitismo,
cistite, disritmia
Hérnia, pediculose, tétano,
hipocrisia
Brucelose, febre tifóide,
arteriosclerose, miopia
Catapora, culpa, cárie,
câimba, lepra, afasia...
O pulso ainda pulsa
E o corpo ainda é pouco
Ainda pulsa
Ainda é pouco
Pulso, pulso, pulso, pulso
Assim...
Arnaldo Antunes
Nome aos bois
Garrastazu
Stalin
Erasmo Dias
Franco
Lindomar Castilho
Nixon
Delfim
Ronaldo Bôscoli
Baby Doc
Papa Doc
Mengele
Doca Street
Rockfeller
Afanásio
Dulcídio Wanderley Bosquila
Pinochet
Gil Gomes
Reverendo Moon
Jim Jones
General Custer
Flávio Cavalcante
Adolf Hitler
Borba Gato
Newton Cruz
Sérgio Dourado
Idi Amin
Plínio Correia de Oliveira
Plínio Salgado
Mussolini
Truman
Khomeini
Reagan
Chapman
Fleury
Nando Reis, Marcelo Fromer,
Arnaldo Antunes e
Tony Bellotto
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