Concretismo PROFª. MARIANA BARATA 1. Momento Histórico: Pós-Modernismo Associado ao período do fim da Segunda Guerra Mundial (1945), o surgimento do Pós-Modernismo parece ter sido desencadeado pela crise dos valores que vigoraram a partir do século XX. Nesse mundo, as fronteiras entre ideologias de direita e esquerda, bem e mal, certo e errado, beleza e feiura tornaramse pouco nítidas e os artistas começaram a questionar os modelos modernos. 1. Momento Histórico: Pós-Modernismo A “matéria” ganha destaque no mundo contemporâneo. Os artistas passam a explorar diferentes possibilidades de criação e interação com o público. A experimentação torna-se o princípio norteador da estética pós-moderna. O sentido deixa de ser algo preexistente para se definir em um processo que se inicia com a concepção de uma obra quando ela é “lida” pelo público. A arte se alia à mídia e busca atingir o grande público 1. Momento Histórico: Pós-Modernismo O artista plástico Rauschenberg é considerado precursor de quase todos os movimentos posteriores à Segunda Guerra Mundial. Em meados de 1950, produziu uma série de obras em que combinava imagens do mundo real extraídas de jornais e de revistas com a pintura abstrata, desafiando os limites até então sagrados entre a pintura e a escultura. RAUSCHENBERG, R. Retroactive II. 1964. Óleo, silkscreen sobre tela. 213 x 152 cm. 1. Momento Histórico: Concretismo Acompanhando o progresso de uma civilização tecnológica e respondendo às exigências de uma sociedade impelida pela rapidez das transformações e pela necessidade de uma comunicação cada vez mais objetiva e veloz, as décadas de 1950 e 1960 assistiram ao lançamento de tendências poéticas caracterizadas por inovação formal, maior proximidade com outras manifestações artísticas e negação do verso tradicional. Procurava-se, assim, o “poemaproduto: objeto útil” 1. Momento Histórico: Concretismo O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), orientado pelo nacionalismo desenvolvimentista, garantiu o crescimento econômico com base na expansão da produção industrial. Ao lado, JK na solenidade de inauguração da Volkswagen 2. Concretismo A publicação, em 1952, da revista Noigandres trouxe à cena literária brasileira uma proposta radical de experimentação com a forma que propunha incorporar à poesia os significados da sociedade moderna, aliando a exploração de aspectos formais e observação crítica da realidade. O termo “noigandres” aparece, pela primeira vez, em um poema provençal da Idade Média, de autoria de Arnault Daniel. Lá, o sentido do termo seria algo equivalente a “antídoto do tédio”. Tradutor apaixonado pela obra de Arnault Daniel, Augusto de Campos traduziu o canto do trovador provençal, e o termo acabou nomeando a revista que fundou com Haroldo de Campos e Décio Pignatari 2. Concretismo Capa de revista Noigandres, n.1 2. Concretismo O Concretismo, como ficou conhecido esse movimento, determinava uma ruptura radical com o lirismo. Partindo da assertiva de que o verso tradicional já havia encerrado seu ciclo histórico, a poesia concreta propõe o poema-objeto, em que se utilizam múltiplos recursos: o acústico, o visual, a carga semântica, o espaço tipográfico e a disposição geométrica dos vocábulos na página. Foi fundado oficialmente durante a Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1956. Os principais poetas concretistas brasileiros são: Augusto de Campos, Haroldo de Campos (os irmãos Campos) e Décio Pignatari. 2. Concretismo A poesia concreta pretendia promover a expansão dos sentidos da poesia, incorporando o signo visual como elemento carregado de significado, que interage com as palavras, criando novos sentidos e multiplicando as possibilidades de leitura. Entre os recursos utilizados para realizar esse projeto, destacamse a valorização da disposição gráfica das palavras e a exploração do espaço da página como elemento de composição do poema. Um dos traços mais importantes da modernidade da poesia concreta é aquele que procura mexer com o leitor, exigindo dele uma participação ativa, uma vez que o poema concreto permite uma leitura múltipla. Dessa forma, o poema constitui-se num desafio e o leitor transforma-se em co-autor. 2. Concretismo 2. Concretismo Os críticos do Concretismo acusam o movimento de ser abstrato e fechado em sua visão de arte, beirando ao elitismo. De fato, o jogo das palavras elaborado por alguns poetas abandonou a realidade social brasileira, tornando-se dexcontextualizada. Além disso, a necessidade de possuir uma cultura geral profunda, tanto por parte do autor como do leitor, afastaria a arte concreta do grande público. Reagindo às acusações de falta da historicidade, o Concretismo dá seu “Salto Participante” em 1961 defendendo o slogan “Sem forma revolucionária não há poesia revolucinária”. O propósito seria, portanto, aliar o compromisso social com as experiências formais. Além disso, objetivava-se extender o alcance comunicativo do poema, conquistando mais leitores para o movimento. 3. A poesia-práxis Em 1962, um grupo dissidente dos concretistas manifestou-se contra o radicalismo dos “mais concretos”. Criou-se a poesia práxis, cujo líder foi o poeta Mário Chamie. Enquanto os concretistas privilegiavam a forma do poema, a poesia-práxis procura valorizar seu conteúdo mantendo, portanto, uma ligação forte com a realidade social como repúdio ao formalismo cultuado pelos poetas do Concretismo 3. A poesia-práxis Enquanto os concretistas privilegiavam a “palavra- coisa”, a poesia-práxis leva em conta a “palavra-energia”. Partindo do princípio de que a “palavra é uma célula do discurso”, o texto-práxis caracteriza-se pela “periodicidade e repetição das palavras, cujo sentido e dicção mudam”, conforme sua posição no texto. 2. A poesia práxis Agiotagem um dois três o juro:o prazo o pôr / o cento / o mês / o ágio p o r c e n t a g i o. dez cem mil o lucro:o dízimo o ágio / a mora / a monta em péssimo e m p r é s t i m o. muito nada tudo a quebra:a sobra a monta / o pé / o cento / a quota haja nota agiota. Mário Chamie 3. O poema-processo Opondo-se radicalmente à discursividade da poesia, surge no Rio de Janeiro, em 1967, o Poema-Processo. À frente do novo movimento estava Wladmir Dias-Pino, que propunha a criação de uma poesia que podia nem mesmo ter palavras, atribuindo ao signo verbal um caráter secundário. O sentido da palavra “poema” é tão ampliado que pode denominar uma passeata ou outra performance coletiva, bem como um objeto gráfico desprovido de letras ou palavras. Livres da “prisão da palavra”, os membros do grupo do Poema-Processo utilizam signos gráficos (figuras geométricas, perfurações no papel) e abandonam o livro como suporte tradicional. 3. O PoemaProcesso A superposição do desenho de linhas (impressas no papel vegetal) sobre a página onde se encontram algumas palavras soltas cria um trajeto de leitura que orienta o olhar do leitor e dá sentido ao conjunto: “a ave voa dentro de sua cor”. 4. Ferreira Gullar: a poesia engajada Ferreira Gullar participou do movimento concretista e ajudou a fundar o Neoconcretismo. 4. Ferreira Gullar: a poesia engajada O Neoconcretismo é um dos desdobramentos do Concretismo. O Neoconcretismo distinguiuse do Concretismo por atribuir ao leitor outro papel na construção do poema. Para o poeta Ferreira Gullar, o sentido do texto nascia no momento de composição do poema, mas só se realizava de fato quando era decodificado pelo leitor. OITICICA, H. Metaesquema. Década de 1950. Guache sobre cartão, 46 x 55 cm. 4. Ferreira Gullar: a poesia engajada O Neoconcretismo defendia, assim, uma concepção de arte mais participativa, interativa. Essa concepção de poesia fez com que os neoconcretos chegassem a afirmar que o poema era um “não objeto”, algo que tinha somente um projeto de existência, mas só se realizava quando fosse lido. Ou seja, era o leitor quem dava “realidade” ao poema. Lygia Clark, escultura da série Os bichos. 1960. Ao expor essa obra, a artista esperava que o público interagisse com ela. Exemplar do neoconcretismo brasileiro, a peça tem dobradiças que permitem que as dobras se movam, alterando a forma final. 4. Ferreira Gullar: a poesia engajada Ferreira Gullar, entretanto, se destacou ao encontrar um tom próprio para a sua produção poética, abandonando o experimentalismo formal que marcou esse movimento. Sua trajetória artística pode ser entendida a partir de uma declaração feita pelo próprio Gullar: “[...] Fiz sempre poesia como uma luta em busca do sentido das coisas, do sentido própria vida e da literatura e, ao mesmo tempo, como a necessidade de resgatar a experiência da vida, de não deixar que ela se perca. [...]” GULLAR, Ferreira. Literatura comentada. Ferreira Gullar. 2 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p.166 (Fragmento) 4. Ferreira Gullar: a poesia engajada A busca pela ampliação dos sentidos do poema marca a primeira produção desse autor, entre os anos de 1940 e 1950. Sobretudo a partir dos anos 1960, o discurso politizado, marxista, ganha força e dá um caráter mais engajado à obra poética de Ferreira Gullar. Depois do golpe militar de 1964, a inquietação pessoal do autor com os rumos políticos do país aparece em Dentro da noite veloz (1975), onde procura o equilíbrio entre a expressão dos sentimentos subjetivos (manifestação de suas angústias e temores) e a comunicação de uma visão de mundo. 4. Ferreira Gullar: a poesia engajada “Pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao sofrimento e ao desamparo, acender uma luz qualquer, uma luz que não nos é dada, que não desce dos céus, mas que nasce das mãos e do espírito dos homens”, afirma Ferreira Gullar na abertura de um de seus livros. Nessa perspectiva, a poesia aparece como uma afirmação da força da humanidade para resistir às pressões sociais, econômicas e políticas que trazem sofrimento e desamparo ao ser humano.