Arquivo Siqueira Castro - Advogados Fonte: Dra. Gabriela Miziara Jajah Seção: Economia Versão: Impresso (capa e página 5) e online Resgate de crédito de ICMS está mais difícil Tributaristas e empresas relatam que há mais demora no ressarcimento, diante de escassez de caixa dos governos Paula Salati São Paulo - Diante da menor disponibilidade de caixa dos estados, as empresas estão com mais dificuldade para recuperar créditos acumulados com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). É o que relatam tributaristas e empresários. Segundo eles, o problema tem atingido diversos setores da economia, seja quem trabalha com importação, exportação ou até mesmo no mercado interno. "Nunca foi fácil recuperar créditos de ICMS junto ao fisco. No entanto, com a crise, os processos de tramitação e de análise dos pedidos têm ocorrido mais lentamente. O que estamos vendo no dia a dia também é um rigor maior nos critérios e de quem avalia a concessão de regimes especiais. Isso acaba restringido direito do contribuinte", comenta Gabriela Miziara Jajah, advogada especialista em direito tributário do escritório Siqueira Castro Advogados. Arquivo Siqueira Castro - Advogados Ela conta que as dificuldades são ainda maiores para os importadores, "que se transformaram em grandes acumuladores de crédito desde 2013", quando a alíquota para operações interestaduais de mercadorias importadas do exterior, foi unificada em 4% em todo o País. "Com a unificação da alíquota de ICMS importação, as secretarias de fazenda passaram a conceder regimes especiais para as empresas importadoras. Para evitar que as empresas acumulem muito crédito, o fisco reduz a carga tributária delas como compensação. Mas, atualmente, nem isso está acontecendo, como é o caso de uma empresa importadora cliente do nosso escritório, que não está conseguindo acessar esse mecanismo", relata a advogada, ressaltando que esses impedimentos estão dificultando ainda mais o cotidiano das empresas que já sofrem com a crise econômica. Vanessa Nasr, sócia do LFPKC Advogados, confirma essas dificuldades entre os seus clientes, afirmando que a falta de caixa dos estados tem afetado recolhimentos diferenciados. "O que notamos é que as decisões do fisco estão muito mais políticas do que técnicas, diante da escassez de recursos em todo o País. Regimes especiais de recolhimento ficam a critério das secretarias de fazenda, são discricionários, o governo pode decidir se vai restringir ou não", afirma. Exportação Roberto Ticoulat, que atua no ramo da exportação de café solúvel e é presidente do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (Ceciex), também está com dificuldade de recuperar créditos de ICMS. "Tem uma nota fiscal minha no fisco do estado de Minas de Gerais que está parada desde maio do ano passado. Além da demora, os ressarcimentos de créditos têm sido menores. Há dois anos atrás, a secretaria de fazenda do estado liberava cerca de R$ 30 milhões em créditos para as empresas por mês. Neste ano, esse volume caiu para R$ 6 milhões", relata. "O governo acha que quando o dólar valoriza, o exportador ganha mais dinheiro. Mas eu continuo descontando [os tributos] no meu preço. O estrangeiro compra meu café sem ICMS nos portos", acrescenta o empresário, defendendo uma "reforma urgente" do tributo sobre circulação de mercadorias. O Senado aprovou, na última terça-feira, em votação simbólica, o projeto de lei que prevê a transferência de R$ 1,95 bilhão da União para estados e municípios como forma de compensar a isenção ICMS sobre produtos destinados à exportação. Os recursos são referentes a restos a pagar do Orçamento de 2014. Aumento de alíquota Em meio à crise financeira, o estado do Rio Grande do Sul elevou, na última quarta-feira, a alíquota básica do ICMS de 17% para 18%, e de 25% para 30% o imposto sobre gasolina, álcool, telecomunicações e energia elétrica. O estado passa por dificuldades para pagar a sua folha salarial e acumula dívidas junto à União. Para Gabriela Miziara, trata-se de medidas para conter a insuficiência de caixa, que afeta hoje todos os estados brasileiros. "Além da situação específica do Rio Grande do Sul, todos os estados passam por um momento crítico e o ICMS é a principal fonte de receita desses, fora os repasses da União. Portanto, essa pode ser uma estratégia [aumento de tributos] a ser adotada pelos outros estados também."