Gilson Carvalho – Médico Pediatra e de Saúde Pública AINDA MAIS SOBRE OS PLANOS DE SAÚDE PARA POBRES (PPP) Gilson Carvalho Os comentários sobre a proposta anti-sus de introduzir um plano de saúde para pobres, subsidiado pelo governo, têm se multiplicado. São severas críticas tanto de coletivos sociais como de pessoas individualmente comprometidas com a real implantação do direito universal à saúde. Confesso que continuo incrédulo diante da negativa peremptória de membros do governo sobre o incentivo à criação dos PPP – Planos de Saúde para Pobres. Doume a faculdade da dúvida. Existem vários indícios, não criptografados, mas explícitos, de que estes estudos existem e suas formas são discutidas. A Folha de São Paulo em 25/11/2012 fala de investimento em estudos para a criação de planos populares de saúde. O interlocutor entrevistado foi Édson Bueno o novo bilionário brasileiro que vendeu a AMIL à empresa americana. “Estratégia da nova Amil envolve planos para baixa renda, expansão e tecnologia Para atingir sua previsão de dobrar a carteira de clientes em cinco anos, a nova Amil pretende investir em novas tecnologias, em planos para a baixa renda, na expansão para Estados onde ainda não está presente e no aumento do número de planos que exigem coparticipação. Nesses casos, os clientes pagam uma parte de exames, consultas e cirurgias. Hoje, 30% dos planos da Amil são desse tipo. Os planos da United Health, no entanto, são quase todos nesse formato e incluem, inclusive, limites para a cobertura de gastos com internação. "Quem não quiser não compra o plano de coparticipação. Mas pagará mais caro", diz Edson Bueno, presidente da empresa. A Amil afirma que não há previsão para planos limitados por enquanto. O lançamento de uma nova marca de planos de saúde populares está prevista. O grupo que estudará o modelo de negócio está sendo montado e os trabalhos começam em 15 dias. Os planos terão de custar menos de R$ 90 por mês, que é a tarifa média dos planos Dix, os mais baratos do grupo Amil atualmente, e contarão com uma rede de três ou quatro hospitais para atender seu conjunto de filiados em cada cidade.” Desta entrevista podemos destacar: Planos para a baixa renda (PPP) – visando dobrar a clientela. Aumento do número de planos com coparticipação no financiamento , além das mensalidades (prática comum nos EUA país de origem da compradora da Amil) no momento do uso de consultas, exames, cirurgias, limites dos gastos com internação Existência de grupos de estudos da questão a partir de dezembro de 2012. Tem mais indícios, estes recentes. A mídia, reforçando esta hipótese, ventilou um complemento à questão. Que operadoras poderiam gozar de benefícios fiscais ao oferecer PPP? Os estudos prévios indicam que apenas aquelas que não 1 Gilson Carvalho – Médico Pediatra e de Saúde Pública estejam em débito, inclusive com o do pagamento do ressarcimento de serviços prestados pelo SUS a sua clientela. Este número, veiculado pela Gerente do Ressarcimento da ANS é de 41%. Os devedores, quando acertam alguns débitos, logo em seguida entram em nova dívida. Esta notícia trazida pela Jornalista Ligia Formenti do Estadão confirma fogo gerando esta fumaça. O grande questionamento é sobre a política de governo que escolhe o caminho de tirar recursos dos mais pobres e transferí-los às operadoras que terão dupla fonte de renda. De um lado as mensalidades dos planos vendidos e de outro a renúncia fiscal do governo. Rasga-se o capítulo de saúde da Constituição Federal que obriga o Estado Brasileiro a garantir o direito à saúde de todos os cidadãos. Gosto de lembrar que garantir saúde como direito não é uma benesse de um estado bonzinho. Muito ao contrário, trata-se de um estado que não cumpre suas obrigações mesmo arrecadando recursos para isto. O Governo Federal, única esfera de governo com arrecadação própria para a saúde, nega-se a oferecer mais recursos, mesmo aumentando esta arrecadação. Os recursos federais arrecadados para garantir previdência, saúde e assistência social, vem crescendo mais que os recursos da saúde. Como explicar isto moralmente aos cidadãos? O dever do Estado de garantir a saúde é, como digo, um dever secundário. O dever primário continua, como sempre, sendo do cidadão que recolhe impostos e contribuições para garantir a saúde. O cidadão entrega ao Estado estes recursos para que ele os utilize para garantir seu direito à saúde. O dever do Estado além de ser um dever secundário é um dever consequente pois depende do cumprimento do dever do cidadão que, em geral, o cumpre principalmente os mais pobres que tem estes tributos embutidos em tudo que consomem. Impossível aos pobres sonegar, ainda que produtores e comerciantes possam fazer apropriação indébita destes recursos embutidos nos custos de bens e serviços. O Governo Federal, ao não dedicar estes recursos para a saúde, usando de todos os subterfúgios e sofismas, acaba também cometendo o mesmo crime de apropriação indébita. Esta prática gera sofrimento e morte! 2