Técnica E s t igm at iz a do por mui tos a preci a dores de v inhos, q ue at ribuem a el e oc a sion a is de sconf or tos, como dore s de c a beç a e de e s tôm ago, o a nidrido sul f uroso (SO 2 ), qua ndo us a do corre ta men t e , de sempenh a impor ta n t e pa pel no processo de v inif ic aç ão 54 55 as cetonas e o oxigênio. Somente a forma livre apresenta ação tóxica. O suco de uvas é um meio qui- sulFuroso por A NDRÉ LOGALDI micamente instável, que tende espontaneamente a se transformar, sucessivamente, em um produto mais O uso no estável. É assim que ocorre a fermentação alcoólica, vi- que transforma os instáveis açúcares em um compos- nho do di- to mais estável, o etanol. Finalmente, tem lugar, a óxido de enxo- transformação acética do etanol em ácido acético, fre, anidrido sulfuroso ou, simplesmente, último ponto de equilíbrio químico. Portanto, entre SO 2 é justificado, sobretudo, por suas ações antioxi- o mosto e o vinagre encontra-se o vinho, uma eta- dante e anti-séptica. Todavia, o SO 2 tem sido estig- pa intermediária que para ser preservado como tal, matizado por seu reconhecido potencial tóxico, que deve ser estabilizado pela adição de uma substância pode causar desconfortos como dores de cabeça e de que impeça sua natural degradação. O SO 2 é o mais estômago em pessoas sensíveis e até graves reações versátil desses aditivos. alérgicas e asmáticas. A ação antioxidante do SO 2 é fundamental, uma A quantidade total de SO2 no vinho é a soma de vez que o mosto de uvas oferece enorme potencial sua forma livre com a sua forma combinada (ou mo- de oxidação. Para que se tenha uma idéia, o mosto lecular), ou seja, aquela que por afinidade química se é de 10 a 40 vezes mais “oxidável” do que o vinho liga a outras substâncias como os açúcares, os aldeídos, resultante. Isso se deve às atividades enzimáticas que ocorrem quando da primeira prensagem das uvas, às admitidas pela União Européia e pelo Brasil, res- que liberam a tirosinase, uma enzima oxidativa. As pectivamente, de 30 e 35g/hl. reações de oxidação catalisadas por essa enzima são inibidas pelo SO 2 , garantindo maior estabilidade dos mencionadas anteriormente. Ele é muito importante, mostos durante o processo de fermentação. também, por ser um potencial facilitador da extração Por sua ação anti-séptica, o anidrido sulfuroso de compostos fenólicos dos vinhos, etapa fundamen- mata bactérias lácticas, permitindo o pleno contro- tal na elaboração de vinhos tintos. A maior parte da le sobre o início da fermentação malolática e evi- alma dos grandes vinhos tintos está na concentração tando o seu desencadeamento espontâneo. Ele tam- de cor e taninos, ou seja, nos compostos fenólicos, bém elimina o acetobacter, germe responsável pela substâncias químicas que contém um ou diversos reação de formação do vinagre, último estágio na núcleos benzênicos, também chamados aromáticos. tentativa de estabilização “natural”, como explica- São estes que irão conferir ao vinho tinto sua cor, do acima. Embora as leveduras sejam menos O SO 2 não tem somente as duas propriedades No Brasil, mais de 70% do território tem temperatura média anual acima de 20oC sabor, textura e potencial de longevidade, na sensíveis ao SO 2 , ele é capaz de inibir, forma de taninos e antocianos. ou tornar mais lento, o metabolis- Os fenóis das uvas estão comparti- mo das leveduras selvagens, Somente cerca de 15% do consumo de vinhos é dos mais frescos, brancos, rosados e espumantes mentados, ou seja, não estão livres, em favor das leveduras se- dispersos no suco, mas den- lecionadas pelo enólogo. tro de vacúolos no interior da polpa e também nas paredes das cascas e das At é 56 sementes. Para otimizar sua produ tore s extração, são necessárias a dep tos algumas condições, como um pH adequadamente ácido (não mais da biodin â mic a a dmi t em seu uso do que 3,7), a presença de um solvente, que é o próprio etanol que se forma durante a fermentação Imagina que bom seria se aumentasse o interesse por eles... E saber que isso depende de nós... e, finalmente, de uma substância capaz de atuar de O SO 2 é acusado de causar muitos problemas, sestabilizando a integridade das membranas celula- mas devemos lembrar que as doses preconizadas para res. É aqui que entra o anidrido sulfuroso. Ele age de seu uso na vinificação estão de acordo com as orien- modo eficaz alterando a continuidade da membrana, tações da Organização Mundial da Saúde (OMS). facilitando o escoamento dos conteúdos vacuolares e, Vale ressaltar que seu uso não é proscrito nem mes- de certa forma, atuando também como um solven- mo pelos produtores de vinhos biodinâmicos; pelo te, embora não seja possível extrair a totalidade dos contrário, é admitido em minúsculas quantidades, compostos fenólicos das uvas. mas sempre obedecendo à filosofia desses produto- res, que pregam “a ausência total de SO 2 livre no sulfuroso, mas o potencial de oxidação do mosto é momento do consumo”. Os adeptos da biodinâmica enorme. Por isso, o uso racional desta substância não preconizam doses que favoreçam a máxima combi- só pode ser muito benéfico para o vinho como facilita nação do anidrido sulfuroso com outros elementos, – e muito – o trabalho do enólogo ao longo do pro- para que dele nada sobre ao se abrir a garrafa. Nesse cesso de vinificação. É possível fazer vinhos sem a adição de anidrido Juntos, falamos com o Brasil do vinho! caso, as doses são em torno de 7,5 gramas por hectolitro (g/hl) de mosto, ou seja, mínimas em relação Vinho&Cia [email protected] Números estimativos a partir de dados do IBGE, Ibravin e Abrabe Aprecie com moderação