Jovens Agricultores O Vinho:um beber de gerações O Vitivinicultor utiliza o seu saber na preparação dos vinhos a partir da sua base, as uvas, através da cuidadosa selecção e utilização das castas e do seu trabalho, que só termina com a entrega do produto final ao consumidor. Para se obter um bom vinho, é necessário que nos debrucemos desde a instalação da vinha (selecção de castas) até à obtenção da uva, no que respeita ao seu processo de colheita, transporte, acompanhamento no lagar e finalmente na vasilha onde vai estagiar até ao seu engarrafamento e posterior consumo. A vinha e o produto final, o vinho, são muito exigentes no que respeita aos cuidados que requerem. Até ao momento da vindima, o vitivinicultor já despendeu trabalho, e dinheiro para a obtenção do produto final, o vinho, e não pode desperdiçar a partir deste momento nenhuma oportunidade para a criação de um produto final de excelente qualidade. Neste contexto, é de referir que a vinificação não é mais do que a laboração das uvas até à obtenção de vinho através de um conjunto de técnicas para o seu fabrico, dado que este é o produto obtido, exclusivamente, pela fermentação alcoólica, total ou parcial, de uvas frescas e sãs, esmagadas ou não, ou de mostos de uvas, produzidos segundo os processos e técnicas admitidos por lei. Cuidados com a Adega e Material Vinário Antes da abordagem às operações tecnológicas envolvidas no fabrico dos diversos tipos de vinho chama-se atenção para a importância da higienização, através da limpeza e desinfecção da adega e de todo o equipamento que intervenha em todo o processo vinário. Estas operações à semelhança do que se verifica noutras indústrias alimentares, merecem especial atenção não propriamente por razões de saúde pública, mas sobretudo pelos riscos de contaminação e possível deterioração do produto. A limpeza é a condição elementar da qualidade, pois o vinho é extremamente sensível, gustativa e sanitariamente, às contaminações e à sujidade, pois “apanha” facilmente maus gostos e maus cheiros dos locais de transformação e armazenamento, sendo o turvar e as infecções bacteriológicas transmitidas pelo vasilhame vinário e pelo material, que faz parte da adega. Desta forma os cuidados de limpeza começam mesmo antes da vindima, continuam na vinificação e prolongam-se até ao engarrafamento. Desengaçar, ripar ou escangar a uva tem por fim separar o engaço dos bagos antes de entrarem no recipiente de fermentação. Esta operação pode ser feita manualmente, embora Etapas de vinificação em vinho branco Vindima Transporte Recepção Desengace Esmagamento Branco Rosé Prensagem Prensagem Decantação Decantação Maceração Fermentação Fermentação Tinto Fermentação alcoólica Remontagem Prensagem Transfega Fermentação maloláctica Clarificação Maturação Transfega Engarrafamento Fig. 1 22 AJAP Jovens Agricultores seja o método mecânico o mais frequente e o menos dispendioso, recorrendo ao uso de um esmagador / desengaçador. Esta operação está, nos vinho brancos de mãos dadas com o esmagamento das uvas, que deve ser feito imediatamente após a sua chegada à adega, o que é recomendável, de modo a que não sejam conferidos sabores herbáceos, que são muito desgradáveis, provocados pela dilaceração do engaço. A Prensagem tem por fim extrair o mosto pela pressão exercida sobre as uvas esmagadas e esgotadas (aproveitamento máximo do mosto), através de aparelhos apropriados para o efeito - as Prensas, como o observado nas figuras 2, 3, 4. Normalmente só se aproveita o vinho da primeira prensa e muito raramente o da segunda, para o vinho de qualidade. Aos mostos provenientes do esmagamento e da prensagem, deverá ser aplicado o sulfuroso nas doses apropriadas, como se pode observar no quadro 1. Para realçar a qualidade dos vinhos brancos (verdes) é aconselhável que os mostos a fermentar se encontrem limpos de impurezas. A este processo, que normalmente é feita de forma estática ou natural, dá-se o nome de Decantação ou Defecação, onde o mosto deve repousar por um período de 18 a 24 horas, pelo menos. Esta técnica exige o arrefecimento dos mostos, assim como a aplicação de sulfuroso nas doses recomendadas, tal como o indicado no quadro 1. No final deste período de repouso, o mosto deverá ser trasfegado com arejamento, tal como o apresentado na figura 5. A trasfega com arejamento vai ajudar o mosto a iniciar o seu processo de fermentação, pela incorporação do oxigénio, que vai ajudar na multiplicação das leveduras indígenas. Esta operação consiste na passagem do mosto a vinho, por um processo chamado fermentação alcoólica, que é desencadeada pelas leveduras indígenas, ai existentes, ou pela inoculação de leveduras secas activas, quando estamos perante situações de temperaturas baixas, mostos muito ácidos e defecações intensas. O Vitivinicultor, de forma a manter a qualidade dos vinhos verdes brancos, deve proporcionar uma temperatura de fermentação compreendida entre os 18º e os 20º C, conservando toda a componente aromática do mosto prove- niente da uva. Esta acção nunca deve ocorrer abaixo dos 15º C. pois tal situação leva ao seu amuo/paragem. Durante a fermentação alcoólica, o vitivinicultor deve fazer o seu acompanhamento, vendo diariamente a densidade, recorrendo a um mustímetro, assim como a temperatura, recorrendo a um termómetro, o que lhe vai permitir saber, entre outros factores como está a decorrer o processo, qual a necessidade de refrigerar e o fim da fermentação alcoólica, que se dá, normalmente a uma densidade inferir a 1000. É durante ou após a fermentação que se pode fazer uma clarificação, recorrendo aos produtos indicados no quadro 2, nas doses recomendadas por hl (100 lts de mosto / vinho). Decorrida a fermentação vai-se proceder à trasfega consiste na passagem do vinho de um casco ou cuba para outro contentor, de modo a separar o melhor possível o líquido do seu depósito. É também uma forma habitual para separar, depois da colagem, o vinho límpido do seu depósito original. O número de trasfegas a efectuar por ano depende do tipo de vinho, embora se preconize que para o vinho verde branco, a primeira deve ser feita, sensivelmente, no final da fermentação alcoólica, passados cerca de 8 a 15 dias; a segunda no inicio do Inverno (Dezembro / Janeiro), onde normalmente já se fizeram sentir os primeiros frios que, naturalmente permitiram a precipitação dos bitartaratos de potássio (nome comum – sarro); a terceira é feita, normalmente aos vinhos que não foram engarrafados e que estão em contacto com a borra. Todas estas trasfegas devem ser precedidas de análises químicas / sensoriais, de modo a que seja precavida a aplicação correcta de solução sulfurosa, assim como dos demais produtos que contribuem para a boa estabilização do vinho. Fig. 2 - Prensa vertical Fig. 3 - Prensa horizontal pneumática Fig. 4 - Prensa horizontal de pratos Todos os recipientes que contenham vinho, não devem estar em vazio, pelo que devem ser atestados, sempre, com vinho de boa qualidade. caso tal situação não seja possível, deve recorrer à utilização da cuba sempre cheia, de pastilhas anti – flor, aplicação de óleo de perafina ou à utilização da boneca de metabissulfito de potássio com ácido tartárico (20 g + 20 g / 500 lts). Quadro 1 Condições Solução sulfurosa a 6% Uvas sãs; Uvas bem maduras Temp. baixa, inferior a 20º C Uvas podres; Uvas muito maduras; Temp. elevada, superior a 25ºC Uvas sãs; Motos ácidos Temp. baixa, inferior a 15º C Metabissulfito de potássio 500 ml 60 g 700 ml 80 g 350 ml 40 g Quadro 2 Vinhos Brancos Cola de peixe Pó de sangue Caseína Bentonite Doses de utilização g/hl 1.0 a 2.5 10 a 15 10 a 100 25 a 50 Vinhos Tintos Doses de utilização g/hl Gelatina Póde de Sangue Albumina de ovo Bentonite 6 a 15 15 a 25 6 a 10 25 a 40 23 AJAP Fig.5 – Trasfega com arejamento Respeitando todo este processo e analisando periodicamente o seu vinho certamente que vai ter um vinho apresentável, sem defeitos e pronto a conquistar mercados, tendo sempre presente, tal como já o referia em 1868 o Visconde de Villamaior “Um vinho bem feito é sempre um bom vinho dentro da sua categoria” … e não se esqueça a qualidade não é um dom, planeia-se.