UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HIGIENE E INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL ASPECTOS NUTRICIONAIS E DE QUALIDADE DO LEITE Alexandre Negrão Gradella São Carlos/SP, fev. 2008 ALEXANDRE NEGRÃO GRADELLA Aluno do Curso de Especialização em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal ASPECTOS NUTRICIONAIS E DE QUALIDADE DO LEITE Trabalho monográfico de conclusão do curso de Especialização em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal, apresentado a UCB como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal, sob orientação do Prof. Dr. Eduardo Alexandre Hofstatter São Carlos/SP, fev. 2008 ASPECTOS NUTRICIONAIS E DE QUALIDADE DO LEITE Elaborado por Alexandre Negrão Gradella Aluno do Curso de Especialização Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal Foi analisado e aprovado com o grau: ...................................... São Carlos, ____ de ____________________ de ______. ___________________________________ Prof. Orientador: Eduardo Alexandre Hofstatter São Carlos/SP, fev. 2008 ii GRADELLA, A.N. Aspectos nutricionais e de qualidade do leite O leite é o produto de secreção das glândulas mamárias dos mamíferos e constitui uma das principais fontes de proteínas na alimentação de animais jovens e de humanos de todas as idades. O leite constitui boa fonte de proteína, de lipídeos, de lactose, de minerais, particularmente cálcio e fósforo e de vitamina A e riboflavina (B2). Desta maneira, ele deve apresentar condições sanitárias adequadas, estando isento de qualquer forma de contaminação ou substância estranha. Um dos maiores problemas ligados à cadeia do leite e à oferta de produtos ao consumidor é o leite informal, ou seja, aquele que é comercializado sem sofrer qualquer tipo de inspeção sanitária. Este fato é preocupante, pois com o crescimento da produção de leite informal, cresce o consumo de produtos clandestinos, pela classe de baixa renda, que são produtos não fiscalizados pelo governo, seja municipal, estadual ou federal. Isso indica que a população brasileira está, cada vez mais, consumindo produtos de baixa qualidade e que podem comprometer a sua saúde, proliferando, por exemplo, doenças como a tuberculose. Assim, o objetivo deste estudo foi descrever características do leite importantes no aspecto nutricional e de qualidade, como: seus componentes, características físico-químicas, tratamentos, efeitos dos processamentos sobre a qualidade, provas higiênicas, contaminação, falsificação e controle de qualidade. Existem várias atitudes e métodos que devem ser realizados para o controle de qualidade de leite, desde a preocupação com a saúde dos animais e procedimentos higiênicos adotados na produção e transporte até os procedimentos de controle realizados nos laticínios. Ainda, a partir da Portaria 56, espera-se que o leite seja produzido com maior qualidade, garantindo assim, o direito do consumidor em consumir um produto de qualidade. iii GRADELLA, A.N. Norurishing aspects and quality of milk Milk is a product from the secretion of the gland breast from mammal animals and it is one of the principal sources of protein in the nourishment of young animals and humans of all ages. Milk is a good source of protein, lipidios, lactose, minerals, mainly calcium, phosphorus and Vitamins A and riboflavin (B2). However, the milk has to show suitable healthy conditions, being without any kind of contamination or strange substance. One of the biggest problems related to the chain of milk and the offer of the products to the consumer is the informal milk, that is, the one that is sold without any kind of health inspection.This is a big preoccupation because with the grouth of the production of informal milk, increase the consumption of undercover products by the poor people of those products that are not by the municipal, state and federal government. This indicate that the brasilian population is, more and more, using products of low quality that can compromise their health, spreading, for instance, sickness like tuberculosis. Fherefore, the objective of this study is to show important characteristics from milk in the quality and nutritional aspects: their components their physical- chemistry characteristics treatment, effect of the processing over the quality. There are many attitude and methods that must be realized for the control of quality of milk since the preoccupation with the healrh of animals and hygienic procedures adopted in the production and transportation to the control realized in the milk industry then from the decree 56, we hope that the milk can be produced with more quality, assuring this way the right to consume a product with high quality. iv LISTA DE QUADROS E TABELAS Tabela 1- Composição quantitativa do leite de vaca ............................................... 3 Quadro 1- Provas para verificação de fraudes no leite............................................ v 18 SUMÁRIO Resumo .................................................................................................................... iii Abstract ................................................................................................................... iv Lista de quadros e tabelas ....................................................................................... v Parte 1. Introdução ........................................................................................................... 1 1.1. O leite ...................................................................................................... 1 1.2. Objetivo ................................................................................................... 2 2. Aspectos nutricionais e de qualidade do leite ..................................................... 3 2.1. Principais constituintes do leite ............................................................... 3 2.1.1. Gordura 2.1.2. Proteínas 2.1.3. Enzimas 2.1.4. Lactose 2.1.5. Sais minerais e vitaminas 2.2. Propriedades físico-químicas do leite ..................................................... 2.2.1. Acidez 2.2.2. Densidade 2.2.3. Ponto crioscópico 2.2.4. Viscosidade vi 7 2.2.5. Condutividade elétrica 2.2.6. Prova de resistência ao álcool 2.3. Tratamentos do leite ................................................................................ 9 2.3.1. Filtração 2.3.2. Resfriamento 2.3.3. Pasteurização 2.3.4. Esterilização 2.4. Efeitos dos processamentos sobre a qualidade do leite ........................... 12 2.5. Provas higiênicas ..................................................................................... 13 2.6. Contaminação do leite ............................................................................. 14 2.7. Falsificação do leite ................................................................................ 16 2.8. Controle de qualidade na produção do leite ............................................ 21 3. Conclusões .......................................................................................................... 25 Referências Bibliográficas ...................................................................................... 26 vii 1. INTRODUÇÃO 1.1. O Leite O leite é o produto de secreção das glândulas mamárias dos mamíferos e constitui uma das principais fontes de proteínas na alimentação de animais jovens e de humanos de todas as idades (SGARBIERI, 1996). O leite constitui boa fonte de proteína, de lipídeos, de lactose, de minerais, particularmente cálcio e fósforo e de vitamina A e riboflavina (B2). A primeira secreção das glândulas mamárias é conhecida como colostro e tem composição bastante diferente da do leite normal (SGARBIERI, 1996). Composto basicamente por 87,5% de água e 13% de sólidos totais (com exceção da gordura, são chamados de sólidos não gordurosos) que estão suspensos ou dissolvidos na água (Tabela1), o leite contém quantidades variadas de lipídios, proteínas e carboidratos que são sintetizados dentro da glândula mamária, bem como quantidades menores de minerais e outros componentes lipossolúveis e hidrossolúveis (ALFA LAVAL, 1990). O leite é considerado um alimento quase completo, faz parte do consumo diário dos indivíduos, principalmente jovens e crianças. Desta maneira, ele deve apresentar condições sanitárias adequadas, estando isento de qualquer forma de contaminação ou substância estranha (COVA, 1984). Um dos maiores problemas ligados à cadeia do leite e à oferta de produtos ao consumidor é o leite informal, ou seja, aquele que é comercializado sem sofrer qualquer tipo de inspeção sanitária. Este problema está ligado a aspectos culturais e econômicos. Uma forma de diminuir a comercialização de leite informal é proporcionar maior rentabilidade ao produtor de leite (HOLANDA et al., 2002). Um ponto de fundamental importância, que deverá ser intensamente trabalhado, é a conscientização da população 1 quanto aos riscos para a saúde pública advindos do consumo de leite informal ou de baixa qualidade. Vários trabalhos realizados no Brasil mostram a falta de controle quanto a substâncias estranhas tais como tais como antibióticos, detergentes e sanitizantes (FAGUNDES, 1980; MELLO FILHO et al., 1969). A produção brasileira de leite cresceu na década de 90 a uma taxa média de 4,29% ao ano (BANCO DE DADOS, 2001). A produção informal de produtos lácteos brasileiros cresceu 50% e a formal cresceu apenas 16% na década de 90 (CONGRESSO, 1998). Estima-se que desde 1997 a produção de leite informal cresceu entre 28% e 29%. Este fato é preocupante, pois com o crescimento da produção de leite informal, cresce o consumo de produtos clandestinos, pela classe de baixa renda, que são produtos não fiscalizados pelo governo, seja municipal, estadual ou federal. Isso indica que a população brasileira está, cada vez mais, consumindo produtos de baixa qualidade e que podem comprometer a sua saúde, proliferando, por exemplo, doenças como a tuberculose. Além disso confere impacto negativo na modernização e competitividade do setor, já que provoca o comportamento oportunista e a ruptura de relações contratuais estáveis (FARINA et al., 2001). 1.2. Objetivo O objetivo deste estudo foi descrever características do leite importantes no aspecto nutricional e de qualidade, como: seus componentes, características físico-químicas, tratamento, efeitos dos processamentos sobre contaminação, falsificação e controle de qualidade. 2 a qualidade, provas higiênicas, 2. ASPECTOS NUTRICIONAIS E DE QUALIDADE DO LEITE 2.1. Principais constituintes do leite O leite é composto por uma grande variedade de compostos, sendo que cada um apresenta função específica, proporcionando nutrientes e proteção imunológica para o neonato. Embora o leite tenha como função primordial a alimentação do neonato, ele constitui um dos alimentos mais completos que se conhece e oferece grandes possibilidades de processamento industrial para obtenção de diversos produtos para a alimentação humana (SANTOS; FONSECA, 2004). Abaixo, será descrito características dos principais constituintes do leite: Tabela 1- Composição quantitativa do leite de vaca Componente Limites de variação (%) Valor médio (%) Água 85,5 – 89,5 87,5 Sólidos totais 10,5 – 14,5 13,0 Gordura 2,5 – 6,0 3,9 Proteínas 2,9 – 5,0 3,4 Lactose 3,6 – 5,5 4,8 Minerais 0,6 – 0,9 0,8 Fonte: ALFA LAVAL (1990) 2.1.1. Gordura Os teores de gordura do leite podem sofrer variações dependendo da raça, idade, saude animal, estagio da lactação, status nutricional e intervalos entre ordenhas. Os lipídios no leite são predominante os triglicerídeos, os quais perfazem 98% do total da fração lipidica, enquanto os 2% restantes são diglicerídeos, monoglicerídeos, ácidos graxos, fosfolipídeos, esteróis e traços de vitaminas lipossolúveis. Os glóbulos de gordura, que possuem em média 3 a 4 µm de diâmetro, são envolvidos por uma fina camada 3 denominada membrana do glóbulo de gordura do leite (MGGL). A MGGL consiste em uma complexa mistura de proteínas, glicoproteínas, triglicerídeos, fosfolipídeos, colesterol, enzimas e outros componentes minonitários (FOX et al., 2000). Autores reportam resultados discordantes com relação a concentração de gordura e e a Contagem de Células Somáticas (CCS) no leite. Enquanto que Randolph e Erwin (1974) e Schultz (1977) observaram menor concentração de gordura em leite com alta CCS, Marques e colaboradores (2002) observaram maiores concentrações de gordura de acordo com a elevação dos níveis de CCS (FERNANDES, A.M). 2.1.2. Proteínas As proteínas do leite podem ser classificadas em quatro grupos: caseínas, proteínas de soro e proteínas das membranas dos glóbulos de gordura e outras. O leite de vaca tem aproximadamente 3,5% de proteína sendo 2,9% caseína e 0,6% proteínas de soro (SGARBIERI, 1996). Caseína pode ser definida, de maneira simplificada, como a proteína precipitada por acidificação do leite desnatado a um pH 4,6, a 20ºC. As proteínas que permanecem em solução, nestas condições, podem ser obtidas por precipitação com sulfato de amônio. Quando a caseína é removida do leite desnatado, o líquido remanescente recebe o nome de soro de leite. Se a remoção é feita pela adição de ácido, o soro se denomina “soro ácido”; se feito pela ação da enzima renina teremos o “soro donce”que contém, em geral, maior quantidade de peptídeos e aminoácidos livres resultantes da ação da renina sobre as caseínas (SGARBIERI, 1996). Aproximadamente 80% do nitrogênio total do leite dos bovinos é constituída por caseína, enquanto as proteínas do soro representam cerca de 20% das proteínas do leite. A fração de proteínas séricas do leite de bovinos contém quatro principais proteínas: beta- 4 lactoglobulina (50%), alfa-lactoalbumina (20%), soroalbumina (10%) e imunoglobulinas (10%), como IgG1 (principalmente), IgG2, IgA e IgM (FOX et al., 2000). Outras proteínas encontradas, em pequenas quantidades são: lactoferrina, transferrina e enzimas (SGARBIERI, 1996). O leite possui grande importância nutricional no que se refere às proteínas, pois apresenta boa composição em aminoácidos essenciais e elevada digestabilidade (SGARBIERI, 1996). 2.1.3. Enzimas Mais de 50 enzimas já foram identificadas no leite da vaca, entretanto apenas algumas apresentam interesse tecnológico. Várias enzimas do leite são glicoproteínas, outras apresentam-se associadas a partículas de lipoproteínas. A seguir estão apresentadas algumas características das principais enzimas (SGARBIERI, 1996): Fosfatase alcalina – Essa enzima se encontra em complexos lipoprotéicos distribuídos nas membranas dos glóbulos e nas fase aquosa. Catalisa a hidrólise de fosfo-monoésteres a pH ótimo ao redor de 9,0 e requer Mg++ como cofator. É usada como enzima de referência (indicador) na monitoração do processo de pasteurização do leite (71,5ºC, 16 seg); Lipase – O leite contém lipases que, em determinadas circunstâncias promovem a hidrólise das gorduras dando origem ao sabor amorgo ou “ranço” característico. Embora a hidrólise já possa ocorrer no pH normal do leite (pH 6,6-6,7), atividade máxima das lípases se verifica em pHs ao redor de 9,0; 5 Proteases – Uma enzima proteolítica é encontrada no leite em associação com as micelas de caseína. Essa enzima poderá ser extraída da caseína precipitada por ácidos. A protease livre e em solução é inativada pelo aquecimento a 80ºC, 10 min.; Peroxidases – A lactoperoxidase representa 0,5 a 1,0% das proteínas do soro de leite. Atua como inibidora de bactérias no leite; Oxidase da xantina – Responsável pela produção de ácido úrico a partir de purinas. É encontrada em grandes concentrações nas membranas dos glóbulos de gorduras. 2.1.4. Lactose A lactose é o principal carboidrato encontrado no leite. É essencial para a produção de derivados lácteos fermentados. A concentração de lactose no leite sofre variações de acordo com a raça da vaca, fatores individuais, infecção no úbere e estágios de lactação (FOX et al., 2000). Durante a mastite, a concentração de NaCl no leite aumenta, resultando em aumento da pressão osmótica. Este aumento é compensado por meio de uma redução no teor de lactose, havendo uma relação inversa entre a concentração de NaCl e lactose no leite (FOX et al., 2000). 2.1.5. Sais minerais e vitaminas O leite é uma fonte excelente da maioria dos sais minerais necessários para o desenvolvimento dos indivíduos jovens. O cálcio e o fósforo do leite apresentam alta disponibilidade, em parte porque se encontram associados à caseína. Por isso, o leite é a melhor fonte de cálcio para o crescimento do esqueleto dos indivíduos jovens e para a 6 manutenção da integridade dos ossos dos adultos. O conteúdo de ferro é baixo (BRITO et al. 2005). O leite também é uma importante fonte de vitaminas, algumas se associam com a gordura (A, D, E e K), enquanto outras se associam com a parte aquosa. Dentre as últimas, estão as do complexo B e a vitamina C. Mais de dez vitaminas diferentes do complexo B são encontradas no leite. Entretanto, com exceção da vitamina B2 (riboflavina), as outras são encontradas em quantidades pequenas. As vitaminas do complexo B são produzidas no estômago composto (rúmen) dos animais. O leite é uma fonte importante de vitamina C (ácido ascórbico), mas esta é rapidamente oxidada na presença de cobre em um produto biologicamente inativo (BRITO et al. 2005). 2.2. Propriedades físico-químicas O leite é uma combinação de várias substâncias na água, contendo: suspensão coloidal de pequenas partículas de caseína (micelas de caseína ligadas ao cálcio e fósforo); emulsão de glóbulos de gordura do leite e vitaminas lipossolúveis, que se encontram em suspensão; solução de lactose, proteínas solúveis em água e vitaminas. Desta forma, o leite é composto por uma mistura complexa e heterogênea de substâncias apresentando as seguintes propriedades físico-químicas (SANTOS; FONSECA, 2004). 2.2.1. Acidez O leite recém ordenhado apresenta-se ligeiramente ácido, uma vez que o seu pH é de 6,6 a 6,8. Esta acidez é chamada de acidez natural do leite tem origem nos seus componentes normais como: albumina, citratos, dióxido de carbono, caseínas e fosfatos. Por outro lado, quando o leite é obtido sob condições inadequadas de higiene e refrigeração deficiente, ocorre o aumento de ácidos orgânicos, em especial do ácido lático, 7 produzido por microrganismos fermentadores da lactose, resultando na chamada acidez adquirida, a qual, em conjunto com a acidez natural, forma a acidez real do leite. A acidez do leite pode ser medida por duas formas: pH ou pelo método de acidez titulável – chamado de método de Dornic. Assim, o leite normal apresenta uma faixa de variação de pH entre 6,6 e 6,8 e acidez titulável em graus Dornic de 16-18 (SANTOS; FONSECA, 2004). 2.2.2. Densidade É o peso específico do leite determinado por dois grupos de substâncias: de um lado a concentração de elementos em solução e suspensão, de outro a porcentagem de gordura. Como a água apresenta densidade igual a 1g/mL, a gordura possui densidade abaixo desse valor, e a densidades dos sólidos não gordurosos apresenta valores superiores; a densidade final do leite é dependente do balanço destes componentes. A variação normal da densidade do leite em amostras individuais a 15ºC é de 1,023 e 1,040g/ml, com média de 1,032g/ml. O teste da densidade pode ser útil na detecção de adulteração do leite, uma vez que a adição de água causa diminuição da densidade, enquanto a retirada de gordura resulta em aumento da densidade (SANTOS; FONSECA, 2004). 2.2.3. Ponto crioscópico Indica a temperatura congelamento do leite, cujo valor normal para o leite com 12,5% de extrato seco total (4,75% de lactose e 0,1% de cloretos) é de -0,531ºC (0,550ºH). O ponto crioscópico do leite é determinado, principalmente, pelos elementos solúveis do leite, em especial a lactose. A adição de água no leite causa alteração no ponto crioscópico, ocorrendo aumento da temperatura de congelamento do leite. Ainda que seja uma característica muito usada para indicar a adulteração do leite pela adição de água, 8 alguns estudos indicam que a crioscopia do leite pode sofrer influência da fase de lactação, estação do ano, clima, latitude, alimentação e raça (SANTOS; FONSECA, 2004). 2.2.4. Viscosidade O leite é mais viscoso do que a água devido a presença de glóbulos de gordura e micelas de caseína. A viscosidade normal do leite integral e do leite desnatado é de aproximadamente 1,631 e 1,404 centipoise, respectivamente (PEREIRA et al., 2001). 2.2.5. Condutividade elétrica A condutividade elétrica varia em função da temperatura e do teor de cloro, sódio, potássio, fosfatos e nitratos, sendo que seu valor, a 15ºC, está na faixa de 40 – 50 x 10-4 mhos (SANTOS; FONSECA, 2004). 2.2.6. Prova de resistência ao álcool De acordo com a metodologia recomendada pelo Ministério da Agricultura, a prova do álcool pode ser usada como um método rápido para estimar a estabilidade das proteínas do leite durante o processamento térmico, uma vez que o leite com baixa qualidade higiênica durante sua produção pode apresentar redução do pH pela fermentação da lactose em ácido lático, resultando, assim, em maior instabilidade da proteína. Nesta prova, o álcool atua como um desidratante e simula as condições do aquecimento (SANTOS; FONSECA, 2004). 2.3. Tratamentos do leite As inúmeras provas de controle higiênico do leite em cada uma das fases de sua obtenção e manipulação, tem, como finalidade, avaliar, controlar e reparar irregularidades na sanidade de um produto a ser dado ao consumo.Assim, pela prova simples de filtração, 9 avalia-se a ordenha, pela contagem de germes comprova-se a eficiência de uma pasteurização (BEHMER,1999). 2.3.1. Filtração do leite Assim, pela prova simples de filtração, avalia-se a ordenha, pela contagem de germes comprova-se a eficiência de uma pasteurização. Ambas, cada qual em sua ocasião, são de valor indiscutível e concordes em seus objetivos. Assim, a filtragem de um leite ordenhado com descuido, sujo, vem eliminar as impurezas, mas continuando nele a contaminação microbiana trazida pelas mesmas. Esta prova, esta sendo muito empregada, deveria ser feita pelos próprios fazendeiros, servindo de controle do serviço dos seus auxiliares (BEHMER,1999). 2.3.2. Resfriamento O tratamento pelo frio é imprescindível, qualquer que seja o emprego que vá ter o leite. Por tratamento a frio não se deve julgar apenas o resfriamento feito a uma temperatura muito baixa,- a simples refrigeração do leite após a ordenha por meio água corrente, já é tratamento a frio. A refrigeração é dos processos mais usados na conservação do leite, porque ela é capaz de sustar o desenvolvimento (multiplicação) dos germes nele contido (BEHMER,1999) . O resfriamento do leite deve atingir temperaturas mais baixas (1º - 3ºC), quando se visa conservação mais longa, como no caso de transportes demorados (BEHMER,1999). 2.3.3. Pasteurização Obtém-se a pasteurização aquecendo-se o leite a certa temperatura durante um tempo determinado e fazendo-se que ele se resfrie imediatamente depois. A pasteurização 10 não renova um leite mal ou alterado, é apenas em recurso de natureza industrial, para prevenir e retardar sua deterioração (BEHMER,1999). O leite nem sempre tem condições para ser pasteurizado; quando sua população microrgânica é muito grande, várias situações inconvenientes podem ocorrer; com maior teor de contaminantes, o tratamento terá de ser feito com temperatura mais elevada e, com isso, o leite ficará com sabor (gosto de cozido) e cor alterada (caramelização da lactose); com grande contaminação, o leite também não servirá para ser pasteurizado e consumido, e por poder conter substâncias tóxicas, produzidas por microrganismos (EVANGELISTA, 2001). O leite para consumo, por determinação legal, deve ser obrigatoriamente pasteurizado.A existência da fosfatase no leite, serve de prova de que o produto foi pasteurizado (EVANGELISTA,2001). A pasteurização se desenvolve em diferentes tempos e temperaturas e atráves de processos contínuos e descontínuos. Em relação ao tempo e temperatura, a pasteurização é feita por dois tipos (EVANGELISTA,2001): a) Pasteurização lenta e temperatura baixa ou processo LTLT (low temperature long time) em que é utilizado baixa temperatura e longo tempo, ou seja, 63ºC durante 30 minutos. b) Pasteurização rápida e temperatura alta ou processo HTST (high temperature long time) em que é utilizado alta temperatura e rápido tempo, ou seja, 72ºC durante 15 segundos. A ultrapasteurização (processo UHT - Ultra High Temperature) apresenta vantagens tecnológicas em relação ao processo de pasteurização e esterilização, porque amplia o prazo de validade do produto, também sem necessidade de refrigeração, mas sem significativas alterações nas características essenciais do leite ou de seu sabor. O processo de ultapasteurização, ultilizado na produção de leite longa vida, consiste basicamente no seu tratamento a uma temperatura de 130º a 150º C, por 2 a 4 segundos, após o que o 11 produto é resfriado a uma temperatura inferior a 32º C e envasado em embalagem cartonada asséptica (MEIRELES; ALVES, 2001). 3.3.4. Esterilização A esterilização visa a destruição das floras normal e patogênica presentes em alimentos, com a finalidade de prevenir sua deterioração e eliminar agentes nocivos à saúde. A temperatura de esterilização é aquela suficiente para conseguir a morte térmica dos microrganismos; por convenção, essa temperatura é determinada ao destruiu o Clostridium botulinum (tomado como microrganismo padrão), em sua forma vegetativa e esporulada; a temperatura exigida para eliminar os esporos desta bactéria é considerada o mínimo térmico exigido para a eficiência do tratamento (EVANGELISTA, 2001). Este processo não se apresenta em uso comercial no Brasil. 2.4. Efeitos dos processamentos sobre a qualidade do leite As metas ideais do processamento seriam eliminar todas as substâncias que pudessem ser tóxicas nos alimentos, inclusive as de origem microbiológica; eliminar ou diminuir ao máximo as reações químicas e bioquímicas que concorressem para a diminuição do valor nutritivo e de outros atributos de qualidade dos alimentos; e, ao mesmo tempo, aumentar a durabilidade e possibilidade de consumo. Entretanto, o processamento de um alimento pode alterar suas propriedades nutritivas (SGARBIERI, 1987). No leite, a pasteurização, por exemplo, não afeta as vitaminas A e D, a piridoxina, a riboflavina, a niacina, o ácido pantotênico e a biotina; as vitaminas E e K são muito pouco afetadas e há uma redução de 3 a 20% no conteúdo de tiamina e de 20% ou mais no ácido ascórbico. Entretanto, como o leite não é considerado fonte importante dessas vitaminas, a 12 pasteurização não acarreta nenhum efeito antinutricional sobre o leite (SGARBIERI, 1987). As vitaminas A e riboflavina (B2) que são as mais importante no leite, são sensíveis à exposição da luz e, portanto, o produto deve ser protegido da ação desse agente físico. Poderá haver também um pequeno decréscimo na solubilidade dos compostos de cálcio e fósforo e, portanto, na biodisponibilidade desses nutrientes como resultado da pasteurização (SGARBIERI, 1987). O leite evaporado sofre um tratamento mais enérgico e também está mais sujeito a perdas de nutrientes do que o leite condensado. No leite evaporado, constataram-se perdas de tiamina entre 15 a 30%; ácido ascórbico em 6%; lisina entre 8 a 20% e a eficiência biológica da proteína caiu em média 10% (SGARBIERI, 1987). Os processos fermentativos, embora modifiquem as proteínas, os carboidratos e os lipídeos do leite, não eliminam nutrientes essenciais, pelo contrário, adicionam certas vitaminas (K e do complexo B). Os produtos de leite fermentado são, portanto, de igual ou melhor valor nutritivo que é o do leite original. Os microrganismos, particularmente os Lactobacillus, parecem ser importantes na manutenção da flora intestinal e na regulação do processo digestivo (SGARBIERI, 1987). 2.5. Provas higiênicas As provas de controle higiênico do leite realizadas nas fases de sua obtenção e manipulação têm como objetivo, avaliar, controlar e reparar irregularidades na sanidade de um produto a ser dado ao consumo (BEHMER, 1999). As provas de maior valor e emprego, segundo Behmer (1999), estão descritas abaixo: 13 a) Prova de filtração: é o mais concreto e lógico indicador que demonstra os cuidados higiênicos com que se procedeu à ordenha. Esta prova consiste na passagem sob pressão de meio litro de leite através de um disco de algodão comprimido. Todas as impurezas contidas no leite ficam retidas no disco, podendo-se, assim, determinar o estado de limpeza e higiene desse leite. As impurezas por si só são condenáveis, além do que elas denunciam a presença de microrganismos que vieram com elas para o leite. Assim, a filtragem de um leite ordenhado com descuido, sujo, vem eliminar as impurezas. b) Pesquisa de sangue no leite: pode-se pesquisar-se quimicamente a presença de sangue através de uma reação do leite com o reativo de Meyer e água oxigenada. c) Pesquisa de pus no leite: para esta determinação pode-se empregar a prova de Behmer, em que uma pequena quantidade de leite é colocada num tubo e sobre o leite verte-se amoníaco. Posteriormente acrescenta-se solução de Fucsina de Ziehl e água corrente. d) Catalase: a produção de catalase está relacionada com a presença de leucócitos que estão presentes em grande quantidade em infecções nos tetos. Assim, a taxa elevada de catalase indica, em um leite fresco, presença de colostro ou inflamação do úbere e, em leite velho, rica flora microbiana. A determinação da catalase baseia-se no desprendimento do oxigênio resultante da decomposição da água oxigenada; esse oxigênio se mistura com o leite, de modo que a sua quantidade indica o coeficiente da catalase. 2.6. Contaminação do leite O leite é um excelente meio de cultura para o desenvolvimento de microrganismos (AMIOT, 1991; BRITO; BRITO, 1998; LARANJA; SANTOS, 2000). A qualidade higiênica do leite é influenciada principalmente pelo estado sanitário do rebanho, pelo manejo dos animais e dos equipamentos durante a ordenha, e pela presença de microrganismos, resíduos de drogas e odores estranhos (BRITO & BRITO, 1998). 14 O leite pode ser contaminado por germes patogênicos de que a vaca é portadora, principalmente os propagadores de brucelose, tuberculose, disenterias, colibaciloses e outras infecções (EVANGELISTA, 2001). A disposição anatômica do úbere facilita a contaminação dos canais galactóforos, pelosmicroorganismos que ali se instalam, levados por via retrógrada; a teta sofre freqüentes contactos com resíduos contaminados (esterco de curral, excrementos do próprio animal, poeira etc.). O leite quando é formado, é completamente estéril, porém se contagia logo após, por bactérias que povoam os canais galactóforos; a secreção láctea pode iniciar sua contaminação, antes de ser vertida para o meio esterno (EVANGELISTA, 2001). Os microrganismos contaminantes do leite podem ser fungos, leveduras, vírus e principalmente bactérias. Como se sabe, a temperatura é um dos determinantes ao crescimento e multiplicação das bactérias, portanto, é um ponto sobre o qual deve ser dada muita atenção no intuito de diminuir e controlar a contaminação do leite e seus derivados por estes agentes. As bactérias podem ser classificadas quanto à temperatura ótima de crescimento e multiplicação em mesófilas (20 a 40ºC), termófilas (45 a 55ºC) e psicrófilas (0 a 15ºC). Existem ainda, as bactérias do grupo psicrotróficas, que se desenvolvem a temperaturas menores ou iguais a 7ºC, das termodúricas, que são resistentes ao processo de pasteurização e das psicrotróficas-termodúricas, que associam as duas características (COSTA, E.O, 2003). Um único fator ou, vários fatores associados podem ocasionar uma baixa qualidade microbiológica do leite. Assim, podem ser citadas as principais causas determinantes: limpeza/sanitização inadequada do equipamento de ordenha e do tanque de resfriamento; ordenha de animais com úberes e tetos sujos; falta de resfriamento ou resfriamento 15 insatisfatório do leite e derivados; leite com altas contagens bacterianas proveniente de vacas com mastite (EVANGELISTA, 2001). Para reduzir ou eliminar estes problemas devem ser seguidas com seriedade, uma série de recomendações que devem fazer parte da rotina daqueles que trabalham com leite e também daqueles que comercializam e consomem este tipo de produto. Nas propriedades rurais deve haver rigor na limpeza do equipamento de ordenha e do tanque de resfriamento; deve ser realizada a sanitização dos mesmos antes de cada ordenha, utilizando-se sempre os produtos adequados nas concentrações recomendadas; fazer controle de temperatura, tempo e turbulência das soluções de limpeza; utilizar equipamentos bem dimensionados; realizar revisões periódicas da ordenhadeira; fazer troca periódica dos itens de borracha do equipamento; ordenhar vacas com úberes e tetos limpos (fazer desinfecção antes e após cada ordenha); fazer controle e tratamento de mastite clínica e controle de mastite subclínica; treinar e incentivar o pessoal envolvido na ordenha dos animais os quais devem ter bons hábitos de higiene e possuir carteira de saúde em dia; resfriar o leite a 4ºC em até duas horas após a ordenha; não permitir que a temperatura ultrapasse os 10ºC quando da mistura do leite de duas ou mais ordenhas ou, na mistura do leite de mais de uma propriedade (EVANGELISTA, 2001). 2.7. Falsificação do leite Entende-se por falsificação a adição ou a subtração parcial ou total de qualquer substância na composição de um produto, visando tirar lucro ilícito dele, isto é, lesar, enganar, seja por adição de uma matéria qualquer, que não exista no produto,seja pela subtração de um dos seus elementos, em condições tais que o mesmo não corresponda ao produto normal (BEHMER, 1999). 16 Sendo o leite produto de origem fisiológica, os seus componentes apresentam, isoladamente, grandes variações. Entretanto, estabelecida a média dessas variações e organizada uma relação entre os diferentes componentes, considera-se leite fraudado ou falsificado aquele que não corresponder a essa média de variações, ou acusar a presença de elementos estranhos (BEHMER, 1999). Entre as fraudes mais generalizadas são o adicionamento de água ao leite, o desnatamento parcial ou adição de leite desnatado e, ainda, o adicionamento de água e leite desnatado conjuntamente (BEHMER, 1999). Várias provas são utilizadas para a verificação de fraudes no leite e algumas delas estão demonstradas no quadro 1. 17 Quadro 1- Provas para verificação de fraudes no leite. Determinação Método de Indicação Limites de inspeção Análise Matéria gorda de São Paulo Gerber Fraude por molhagem ou 3% mímimo desnatagem Densidade Lactodensímetro Fraude por molhagem ou (1,028 a 1,032) desnatagem Acidez Dornic Conhecer o estado de 16º a 20º Dornic conservação do leite Extrato seco Calculador de Pesquisa de fraude por 8,50% mínimo desengordurado Ackermann molhagem Pus e sangue Behmer, O. Revelar animais presença com de Quando positivo: afecções inutilizado. mamárias Ponto congelação Crioscopia Determinação de ∆ - 0,54 – 0,56ºC molhagem Ponto de refração Refratometria Determinação de R. 37º mínimo molhagem Catalase Catalassimetria R. 44º máximo Pesquisa leite “novo”, Quando Colostro e estado de inutilizado. conservação do leite Peroxidase Máx. 4cm3 Água oxigenada Determinar aquecimento Quando Guaiacol elevada: negativo: do leite acima de 75º C inutilizado (alteração por aquecimento) Sujidade Filtro Minit Determinação do cuidado dispensado na ordenha Fosfatase Diversos Eficiência de Pasteurização A qualidade do leite consumido no país é uma constante preocupação de técnicos e 18 autoridades ligadas à área de saúde e laticínios. A legislação brasileira, e também a de todos os países desenvolvidos, proíbe a adição de soro de queijo ao leite de consumo. Caso a adição seja feita, o produto final deverá chamar-se “bebida láctea” e não poderia ser considerado leite (tipo A, B, C, esterilizado, etc.) (DRACZ, 1996). A resolução 1725/79 do Mercado Comum Europeu (MCE) estabelece que o leite em pó não deve ser adicionado de soro, seja ele ácido ou derivado do tratamento com coalho. A legislação brasileira (BRASIL, 1952) considera fraude a adição de soro de queijo ao leite pasteurizado, esterilizado ou em pó. Entretanto, por estar quase sempre disponível, uma vez que é um subproduto da fabricação de queijos, de custo reduzido ou nulo, torna-se economicamente atrativa a adição de soro de queijo ao leite, prejudicando diretamente o consumidor e os concorrentes que obedecem à legislação, além de incorrer em diversos crimes previstos na legislação. Uma vez que a adição de soro de queijo ao leite compromete a sua qualidade, torna-se imprescindível o controle deste importante alimento distribuído aos consumidores, para sua utilização como se fosse leite puro. O soro é composto, primordialmente, por água e nela estão presentes as substâncias solúveis,como a lactose, proteínas solúveis, sais minerais e traços de gordura. O soro constitui subproduto do processamento de queijos, da caseína e de outros produtos lácteos acidificados. Do volume de leite destinado à fabricação de queijos, entre 75 e 85% resulta em soro (ZADOW, 1997). No Brasil, a produção de soro é constituída quase que exclusivamente de soro doce, provindo da fabricação de queijos por coagulação enzimática (mussarella, prato, minas frescal, meiacura e outros), que são os mais comercializados no país. Já o soro ácido, originário da manufatura de queijos de coagulação ácida, de consumo mais reduzido (ricota e requeijão) e da fabricação de caseína, praticamente inexistente no Brasil, pouco 19 contribui no cômputo geral. De acordo com o Ministério da Agricultura (1989), a produção de soro vem aumentando anualmente como resultado do crescimento da indústria queijeira. A adição fraudulenta de soro ao leite é normalmente detectada e quantificada pela determinação do glicomacropeptídeo (GMP), que resulta da quebra da ligação peptídica da k-caseína entre os aminoácidos 105-106 Phe-Met. Desta cisão forma-se a para-k-caseína (1-105) que permanece nas micelas de caseína e o glicomacropeptídeo (106-169) que fica no soro. O glicomacropéptídeo é geralmente quantificado por métodos cromatográficos, particularmente a cromatografia de exclusão molecular, HPLC (cromatografia líquida de alta eficiência) e cromatografia de troca iônica. A eletroforese capilar de zona com uma coluna hidrofílica de sílica fundida foi também utilizada com sucesso na detecção e quantificação do glicomacropetídeo para detectar e quantificar o soro em leite. Diversos métodos têm sido estudados e propostos para a detecção da adulteração de leite com soro de queijo, sejam baseados na quantificação do GMP ou de outros compostos (CARVALHO et al., 2007). Ainda, as flutuações sazonais na disponibilidade do leite de algumas espécies, como o de cabra e de ovelha, além do preço mais elevado em relação ao de vaca, são um incentivo para que esse produto seja adulterado com leite de maior disponibilidade e menor preço. No Brasil, tem-se observado esse tipo de adulteração no leite de cabra. Desse modo, a possibilidade de determinar a qualidade do leite entregue no laticínio, que será utilizado para o consumo in natura ou na produção de derivados lácteos caprinos, tem grande importância. Nos últimos anos, foram desenvolvidos vários métodos analíticos para detecção de misturas de leite de diferentes espécies. Entre esses métodos destacam-se os baseados na análise das frações protéicas, dos quais os principais são os métodos cromatográficos, eletroforéticos, imunológicos e a reação em cadeia da polimerase (PCR) (EGITO et al., 2006). Cromatografia líquida em fase reversa (reversedphase high pressure 20 liquid chromatography - RP-HPLC) e cromatografia por fast protein liquid chromatography (FPLC) foram usadas para separar proteínas do soro de leite de várias espécies (PELLEGRINO et al., 1991; LAEZZA et al., 1991). A separação das caseínas bovina, ovina e caprina, usando vários procedimentos de HPLC e FPLC, também foi usada por Law e Tziboula (1992), Law e ecolaboradores (1992) e Kaminarides e Anifantakis (1993). 2.8. Controle de qualidade na produção do leite No final do ano de 1996, criou-se o “Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite” (PNMQL) que faz parte do “Programa de Modernização do Setor Lácteo no Brasil”. Este programa, que vem sendo discutido desde 1992, acrescido de outros acontecimentos, como por exemplo, a criação do Mercosul, causaram grandes modificações no setor que se viu obrigado a procurar maneiras de se adequar a nova realidade. Assim, passou a ser levantado o conceito de “qualidade do leite”. O PNMQL é então, um conjunto de medidas que em escala gradativa e plurianual visa à melhoria da qualidade do leite produzido no Brasil no intuito de: produzir leite e produtos lácteos com padrões de qualidade internacional, atender as crescentes exigências do mercado consumidor, colocar o leite brasileiro em condições de competir no futuro com países especializados em pecuária leiteira, possibilitar o aumento da produção nacional e melhorar as condições de pagamento ao produtor, que deverá receber segundo a qualidade de matéria-prima que produzir (COSTA, E.O, 2003). Após um longo processo de discussão, foi publicado pela Secretaria da Defesa Agropecuária e do Abastecimento no Diário Oficial da União nº 234 de 8 de dezembro de 1999 (páginas 33 a 45), a Portaria nº56 de 7 de dezembro de 1999. Esta Portaria é composta pelos seguintes Regulamentos Técnicos: 21 Produção, Identidade e Qualidade do leite tipo “A”. Produção, Identidade e Qualidade do leite tipo “B”. Produção, Identidade e Qualidade do leite tipo “C”. Produção, Identidade e Qualidade do leite Cru Resfriado. Identidade e Qualidade do leite Pasteurizado Produção, Identidade e Qualidade do leite de Cabra. Coleta de Leite Resfriado e seu transporte a Granel. Ainda, foram reformulados os Regulamentos do RIISPOA (regulamento de inspeção industrial de produtos de origem animal) e do DIPOA (departamento de inspeção de produtos de origem animal) para ajustá-los às novas normas a serem exigidas e fiscalizadas. Além disso, juntamente a laboratórios credenciados pelo Governo, o DIPOA vem se aperfeiçoando baseado em Programas de Segurança Alimentar como o HACCP (Hazard Analysis of Critical Control Points) ou APPCC (Analise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) que é um método embasado na aplicação de princípios técnicos e científicos de prevenção, que tem por finalidade garantir a inocuidade dos processos de produção, manipulação, transporte, distribuição e consumo de alimentos (ATHAYDE, 1999). Nossa Legislação Sanitária estava bastante ultrapassada, pois datava de 1952. Até então, as análises básicas exigidas eram as seguintes: acidez, densidade relativa, crioscopia, redutase, teste de alizarol. Com a portaria nº 56, são exigidas adicionalmente, as seguintes análises: gordura, proteína, sólidos totais, contagem bacteriana, contagem de células somáticas (CCS). As análises básicas continuarão sendo realizadas em todas as coletas de leite sob responsabilidade das indústrias enquanto que as análises adicionais, serão realizadas quinzenalmente por Laboratórios credenciados pelo Ministério da Agricultura (BRASIL, 1999). 22 Atualmente, a única exigência feita é de que o leite tipo C que chegue na plataforma ácido, não deve ser destinado à produção de leite fluido. Com a nova Legislação, passa a ser exigido que ele seja resfriado na propriedade logo após o término das ordenhas, seja transportado a granel até o local de beneficiamento e, apresente resultados limites para cada uma das análises exigidas. Isto representa uma mudança significativa na qualidade do leite fluido e de derivados produzidos dentro de um curto período de dez anos. Outros países que passaram por programas com objetivos semelhantes utilizaram-se de períodos maiores e seguiram uma seqüência mais lógica de melhorias. Numa primeira etapa preocuparam-se com a sanidade dos rebanhos e com a eliminação de resíduos do leite; em seguida, buscaram reduzir a carga microbiana no leite utilizando métodos analíticos simples, rápidos e de baixo custo como a redutase; na terceira etapa, já com resfriamento nas propriedades e contando com métodos eletrônicos de contagem, passaram a realizar contagem em Laboratórios centralizados e automatizados. Na fase final, dedicaram-se à saúde da glândula mamária através da contagem de células somáticas (CCS). O Brasil iniciou o Programa de forma contrária, tendo avançado no resfriamento do leite nas propriedades e no transporte do leite a granel devido á necessidade da indústria em reduzir seus custos e melhorar sua produtividade industrial. O controle da sanidade, da redução da carga microbiana e da CCS deverão caminhar juntos. Cabe ressaltar também, a necessidade de melhoria na cadeia de frio não só da matéria-prima, mas também, na manutenção dos produtos lácteos nas redes de distribuição e residências dos consumidores (COSTA, E.O, 2003). A busca incessante na melhoria da qualidade do produto, tanto no que diz respeito a segurança do alimento, ou seja, alimentos que não comprometem a saúde do consumidor, como no que diz respeito a satisfação do consumidor com o alimento consumido, são condicionantes para a competitividade. Portanto, a competitividade e a sobrevivência dos 23 laticínios brasileiros estão ligadas à gestão da qualidade dos mesmos. Em relação aos laticínios brasileiros, o principal condicionante para uma eficiente gestão da qualidade é a redução de custos e desperdícios, já que grande parte do consumidor brasileiro ainda considera o preço como principal fator de decisão para compra de produtos lácteos e não a qualidade do produto (SCALCO; TOLEDO, 1999) A qualidade de um produto lácteo pode ser observada por duas perspectivas. Uma objetiva, que é representada por um conjunto de característica intrínsecas ao produto, que são as características físicas, nutricionais e higiênicas do produto. Outra subjetiva, associado às preferências do consumidor, ou seja, seus gostos pessoais no que diz respeito à qualidade sensorial, que é composta de um conjunto de características sensoriais que levam à aceitação ou rejeição do produto: apresentação do produto, forma, textura, sabor, etc. Sendo assim, é de fundamental importância a garantia da qualidade, a conformidade com os padrões e a manutenção dos padrões da qualidade no tempo. A empresa deve, então, estar segura que seu produto está sendo distribuído no mercado sem problemas de qualidade e segurança, que está conforme as normas e regulamentações e está mantendo um padrão de qualidade com o qual o consumidor está acostumado. No entanto, é importante que a empresa evolua dos conceitos de garantia da qualidade, conformidade com os padrões e manutenção da qualidade, para o conceito de satisfação total do cliente e de superação de suas expectativas, sem agregação de custos ao cliente (TOLEDO & BATALHA, 1994). 24 3. CONCLUSÕES O leite é um produto de grande valor nutricional, fonte de gordura, lactose, proteínas, sais minerais e vitaminas. A produção deste alimento deve ser rigorosamente controlada para que o consumidor possa estar seguro do que está consumindo. Existem várias atitudes e métodos que devem ser realizados para o controle de qualidade de leite, desde a preocupação com a saúde dos animais e procedimentos higiênicos adotados na produção e transporte até os procedimentos de controle realizados nos laticínios. Ainda, a partir da Portaria 56, espera-se que o leite seja produzido com maior qualidade, garantindo assim, o direito do consumidor em consumir um produto de qualidade. 25 Referências Bibliográficas ALFA-LAVAL, 1990. Manual de indústrias lácteas. 2ª ed. AMV Ediciones Mundi Prensa. AMIOT, J. Ciencia y Tecnología de la leche. Zaragoza: Acríbia, 1996. ATHAYDE, A. Sistemas GMP e HACCP garantem produção de alimentos inócuos. Engenharia de alimentos, ano 5, n23, janeiro/fevereiro 1999. 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