1 O MODELO GERENCIALISTA E A PRÁTICA DOCENTE Maria das Graças Nóbrega de Almeida1 Liliane Stelzenberger2 Margarida Maria Dias Monteiro Gonçalves3 RESUMO Atualmente o gerencialismo domina o léxico dos documentos relacionado à eficiência docente nas políticas públicas de educação principalmente na questão da inovação. Os discursos em foco são: um de caráter tradicional burocrático e outro com o pensamento pósburocrático, defensor da racionalidade dos custos e do estado mínimo. A administração pública burocrática prega procedimentos rígidos orientados pelos princípios da profissionalização, dos planos de carreira, da hierarquia, da impessoalidade e do formalismo para alcançar o máximo rendimento, a Nova Gestão Pública (NPM) gera uma nova cultura gestionária e propicia o perfil de um novo profissional de educação, que valoriza a eficiência, a eficácia, a efetividade e a produtividade em detrimento da formação humanístico-cultural. O perfil do docente se transforma, ele passa a ser responsável pela implementação técnica e suas atribuições vão além do ato pedagógico de ensinar. O modelo burocrático cede ao gerencialismo na gestão pública nos moldes das organizações privadas. Palavras chaves: Gerencialismo, nova gestão pública, prática docente. ABSTRACT Currently managerialism dominates the lexicon of documents related to teaching efficiency in public education policies mainly on the issue of innovation. The speeches focus on are: a character with another traditional bureaucratic and post-bureaucratic thinking, defender of rationality and cost the state minimum. The bureaucratic public administration preaches strict procedures guided by the principles of professionalism, career plans, hierarchy, impersonality and formalism to achieve maximum performance, the New Public Management (NPM) generates a new 1 Doutoranda em Gestão Pública – Universidade do Minho. Mestre em Administração – Área - Administração Financeira – Universidade Federal da Paraíba. Professora da Universidade Federal da Paraíba. 2 Doutoranda em Ciências da Educação – Especialidade: Política Educativa – Universidade do Minho. Mestre em Engenharia de Produção – Área – Mídia e Conhecimento – Universidade Federal de Santa Catarina. Professora do Instituto Federal de Santa Catarina. 3 Doutoranda em Ciências da Educação – Especialidade: Política Educativa – Universidade do Minho. Mestre em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior – Área: Política Pública - Universidade Federal do Ceará. Especialista em Controladoria e Gerência Contábeis – Universidade de Fortaleza. Especialista em Administração de Recursos Humanos – Universidade Federal do Ceará. Bacharel em Direito. Contadora da Universidade federal do Ceará. 2 managerial culture and provides a profile of a new professional education, which focuses on efficiency, effectiveness, efficiency and productivity at the expense of humanistic-cultural training. The profile of the teacher transforms, he becomes responsible for the technical implementation and their assignments are beyond the pedagogical act of teaching. The model yields to bureaucratic managerialism in public administration in the manner Keywords: managerialism, new public management, teaching practice. of private organizations. 3 SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Novas configurações de gestão na administração pública;3. O discurso do modelo gerencial; 4. A gestão e a prática docente;5. Considerações Finais; 6. Referências Bibliográficas 1 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como foco o discurso gerencialista que atualmente se instala no espaço educacional na concepção da Nova Gestão Pública (NPM) em conformidade com a reestruturação do Estado no contexto global a partir da década de 1990. Nos anos 90 surgem vários documentos oficias sobre a reforma da educação no mundo que repercutiu e influenciou o Brasil na publicação de leis que atendessem esta (re)configuração no seio do sistema educacional brasileiro. Com a adoção da Nova Gestão Pública, o modelo burocrático rende-se ao gerencialismo na gestão pública pautado nos moldes das organizações privadas. A burocracia é colocada no banco dos réus e acusada de ineficiente e perdulária, por este motivo busca-se a adoção de medidas para possiblitar a otimização dos recursos financeiros na configuração do Estado Mínimo. A valorização das técnicas utilizadas nas organizações privadas ganham corpo e a ênfase na eficiência, na eficácia, na produtividade e efetividade se incorpora ao modelo da adminstração pública, tomando proporções que secundariza o saber pedagógico e a formação humanistica-cultural. Nesta nova forma de gestão, o fundamental é aderir as práticas das organizações privadas e focar as questões em termos de custos, onde a relevância se concentra no fator quantitativo em detrimento do qualitativo. Com base na reforma consolidada todas áreas da gestão pública são afetadas, inclusive a educação, a ênfase do discurso gerencial se sobrepõem ao discurso pedagógico e estabelece o perfil de um novo profissional da educação, o gestor, que se torna responsável pela implementação técnica deste novo processo. Ao profissional da educação é imposta a prática gerencial e de acordo com Shiroma (2003): 4 o gerencialismo tende também a modificar a seleção dos vocábulos que os profissionais empregam para discutir a mudança. Eficiência, competência, qualidade total, inovação, cultura organizacional, empreendedorismo, gerência, liderança, entre outros, são termos transplantados do vocabulário da administração de empresas para a educação. Essa absorção de conceitos influencia não sóa a linguagem mas, fundamentalmente a prática.(SHIROMA, 2003, p.78). As reformas que ocorrem no setor público em relação a gestão são mecanismos de mudanças técnica e estrutural das organizações e também uma maneira sedimentar um novo perfil para os profissionais da adminstração pública, que neste trabalho foca-se na figura do docente. Neste contexto, o docente como parte desta organização está sujeito a julgamentos, mensurações, comparações e metas que são mensuradas por meio de avaliações e levam a contínuum na forma de ranking, escolhe-se e julgam-se as ações da gestão nas políticas educativas com base na figura do educador pela contribuição que fazem com relação ao desempenho organizacional e dos resultados obtidos. 2 NOVAS CONFIGURAÇÕES DE GESTÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A partir dos anos 90 nasce o debate de um movimento internacional pela reforma do aparelho do Estado. Este movimento irrompe na Europa e nos Estados Unidos e sua base se articula tanto no que diz respeito às reformas econômica e as reformas políticas de cunho neoliberal que se justifica por meio de um conceito global que consolida práticas de excelência na gestão pública de um modo geral. No construto deste movimento as seguintes abordagens de administração pública são utilizadas para implementação de nova estrutura gerencial: a new public adminstration, implementada nos Estados Unidos durante o governo Reagan, a new public manangement, de orientação liberal adotada no governo de Margareth Thatcher e o managerialism que gera na Inglaterra visões diferentes de gerencialismo. O que leva a compreensão e a sintetização das novas concepções que apregoa uma valorização do serviço público ao utilizar técnicas gerenciais das empresas privadas, numa perspectiva de mais eficiência, cuja lógica instrumental e financeira é considerada de melhor qualidade e que melhor satisfaz o cliente (cidadão). Portanto, na visão do gerencialismo, o cidadão é visto como contribuinte de impostos, cliente e consumidor dos produtos e serviços regulados e ofertados pelo Estado, com poder de escolha, enquanto seus direitos e deveres de cidadão são secundarizados. 5 Isto posto, observa-se que este movimento, é o oposto do modelo da administração pública burocrática, utilizado desde o início do século XX, e que se caracteriza pelos procedimentos rígidos e pelos príncipios da profissionalização, dos planos de carreira, da hierarquia, da impessoalidade e do formalismo, que segue uma linha de racionalidade para atingir seus objetivos, que de acordo com Weber (1998, p 145) É a forma mais racional de exercício de dominação, por que nela se alcança tecnicamente o máximo de rendimento em virtude de precisão, continuidade, disciplina, rigor e confiabilidade, intensidade e extensibilidade dos serviços, e aplicabilidade formalmente universal a todas espécies de tarefas[…]toda nossa vida quotidiana está encaixada neste quadro. Neste contexto, nas organizações públicas a administração burocrática centra-se primordialmente no combate às práticas patrimonialistas e na promoção profissional do seu quadro técnico. Diante deste quadro, acusam o modelo burocrático de ineficiente e perdulário e argumenta-se ainda o corporativismo e o imobilismo do funcionalismo público, além de suas resistência às mudanças a fazer parte da estrutura burocrática, calcados nestes argumentos surge a defesa da construção de um projeto minimalista do Estado para atender as configurações do novo modelo político, económico e social neoliberal que carrega no seu bojo a implementação de um modelo de gestão mais flexível que facilita a corrida pela competitividade. E para reforçar este novo modelo gestional, Bresser-Pereira (1999, p.5) afirma que: a reforma gerencial do Estado “é um novo fenómeno histórico, que ganhou forças nas últimas décadas, quando as pessoas começaram a perceber que uma das razões pela [...] crise fiscal do Estado era a ineficiência estrutural da administração pública burocrática”. Em consonância com estes argumentos, o Estado implementa a reforma da administração e adota a lógica das organizações privadas para a gestão pública. Ao eleger a racionalidade econômica, a optimização, a eficácia e a eficiência como elementos nucleares, os programas de modernização têm tomado por referência privilegiada a actividade económica, a organização produtiva e o mercado, exportando a ideia de empresa para o seio da administração pública ( LIMA, 2002, p.20 in: LIMA & AFONSO, 2002). Diante destas razões o modelo gerencialista se apossa das questões públicas e de certa forma compromete o social, pois a base privatista raciocina na lógica da lucratividade, o que pode até certo ponto causar um desconforto para o docente, principalmente no que se refere à prática educacional. 6 3 O DISCURSO DO MODELO GERENCIAL O Estado ao configurar a reforma em sua gestão estabelece modelo gerencial na administração pública e opta por seguir a visão da administração das organizações privadas. Nesta perspectiva a construção de uma nova gestão pública é sedimentada por meio de discursos para a população que evoca o controle, a eficiência e a competitividade como institutos para alavancar e garantir um desempenho de qualidade nas atividades da administração pública e instala-se um senso comum sobre Estado, economia e mercado. Neste processo de reestruturação do Estado é inserido o realinhamento das relações entre o Estado e o cidadão, o Estado e economia, e o Estado e suas formas organizacionais (processo de trabalho), em consonância com a reorganização global do capitalismo por meio do enxugamento do Estado e da expansão do seu alcance na sociedade civil. Para corroborar, Bresser-Pereira (1998) explica: os Estados modernos contam com quatro setores: núcleo estratégico – centro no qual se definem leis e políticas; actividades exclusivas – aquelas que garantem o cumprimento e financiamento de leis e políticas; serviços não-exclusivos – educação, cultura, saúde e pesquisa científica e o quarto setor que é o de produção de bens e serviços para o mercado – empresas estatais. A intenção é descentralizar e delegar autoridade, e clarificar quais os setores que o Estado vai operar, mas com maior responsabilidade e intensidade e as competências e as modalidades da administração de cada setor especificamente de acordo com sua importância para o Estado. Neste contexto, depreende-se que o Estado deve ausentar-se e renunciar de seu papel de executor e minimizar seus gastos em investimentos sociais. O gerencialismo neste sentido se reveste de significado para a gestão pública, pois enfatiza a cultura da avaliação, transparência, publicização de indicadores, a preocupação com eficácia, performatividade, metas e maximização dos resultados e é o principal meio “pelo qual a estrutura e a cultura dos serviços públicos são reformadas... [e]... Ao fazer isso, busca introduzir novas orientações, remodela as relações de poder e afeta como e onde são feitas as opções de políticas sociais” (CLARKE, COCHRANE & MCLAUGHLIN, 1994, p.4). Ao inserir a performatividade na alma do trabalhador a cultura gerencial utiliza as tecnologias da política de reforma do setor público não apenas como veículos de mudanças técnica e estrutural das organizações, mas como instrumentos de reforma dos profissionais do 7 setor público, neste caso, os professores, sujeito deste trabalho, uma vez se detêm na centralidade do modelo gerencialista na educação. Nesta visão, destaca-se a importância da performatividade, pois a mesma é o veículo condutor da luta pela visibilidade, uma vez que é imputado ao trabalhador julgamentos, mensurações, comparações e metas por meio de informações coletadas, registradas e publicadas em um contínuum na forma de ranking, e no campo da educação não é diferente, o professor também está sujeito a estas ações como parte deste tipo de organização. Cada vez mais, escolhe-se e julgam-se as ações, e elas são julgadas por outros, com base na contribuição para o desempenho organizacional, apresentado em termos de resultados. A produtividade é a matriz fundamental para o julgamento desta performance, os julgamentos éticos e morais perdem sua valoração e fazem parte de um discurso ultrapassado. Diante desta lógica, o gerencialismo, no campo educacional, diferente dos modelos de administração que lhe antecedem, segundo Shiroma e Campos (2006, p.227), É um movimento que tenta modificar não só a organização da escola, imprimir outra lógica ao funcionamento do sistema educacional [...]”, visa, sobretudo, “operar uma transformação na subjectividade dos educadores, por meio da implantação de mecanismos bastante objectivos de controle que afectam a organização, a avaliação e, portanto, a gestão do trabalho docente. O trabalho do gestor escolar, renomeado como “gerente”, ou “líder educacional”: Deveria assumir funções não só de captação e administração de recursos, mas a responsabilidade pelo gerenciamento de professores, ser gestor das escolhas e responsável pelos acontecimentos previsíveis e imprevisíveis. Em suma, atribui-se ao gestor educacional a responsabilidade de gerir os casos e os acasos, as emoções, os conflitos, as crises e o caos (SHIROMA & CAMPOS, 2006, p. 227 in Feldfeber, M & Oliveira, 2006 ). Nesta visão o discurso pedagógico é substituido pelo discurso gerencial no âmbito educacional tendo em vista um pensamento único para solução dos problemas da educação e, nesta digressão o debate político é secundarizado, o discurso técnico e elevado a categoria da mais valia, de maneira que: O discurso gerencialista oferece representações particulares da relação entre problemas sociais e soluções. É linear e orientado para um pensamento único. Preocupa-se com metas e planos mais que com intenções e julgamentos. Refere-se a ação mais que a reflexão. Concentra-se em análises mais que em sínteses. Estabelece fronteiras entre políticas e fornecimento, estratégia e implementação, pensamento e ação. Oferece um discurso tecnicista que priva o debate sobre suas bases políticas, de modo que a discussão sobre os meios suplanta a dos fins(CLARKE & NEWMAN,1996, p. 148). 8 Conforme com Lima (2002, p. 98), o modelo gerencialista Foi suportado por políticas públicas de inspiração neoconservadora e neoliberal que anunciam cortes de despesas públicas com a educação, assim apostando num aumento da qualidade através de ganhos de eficiência interna e do crescimento da produtividade das instituições, o modelo institucional gerencialista emerge entre discursos políticos, actos legislativos, medidas aparentemente avulsas de administração e gestão, ganhando adeptos entre sectores conservadores e tecnocráticos […] A constante e suposta crise atribuída a educação transforma-se em motivo para o Estado suprimir os investimentos de recursos e de combater o modelo burocrático por suas alegadas deficiências gestionárias, com o simples objetivo de justificar a adoção de um novo modelo de gestão para satisfazer as exigências do mercado e transformar a educação em uma mercadoria rentável. 4 A GESTÃO E A PRÁTICA DOCENTE A guisa de reflexão sobre o gerencialismo na educação é necessário entender o que é intrínseco neste modelo. A partir dos anos 1990, começa a ocorrer a implantação das reformas na administração pública, por este motivo inicia-se discussões da gestão da escola nos diferentes setores sociais e sua importância converge para a perspectiva que esta ação consiga promover a qualidade na educação, e nesta visão os discursos com relação à escola e sua gestão surgem frutos da concepção das transformações do capitalismo no mundo e pela reestruturação dos estados nacionai que instala o gerencialismo no espaço educacional Utilizando de argumentos que apresentam a escassez de recursos para justificar a lógica de priorizar a centralidade da gestão das escolas, como o caminho viável para obtenção de maior eficácia nos resultados prevalece da máxima de: “fazer mais com menos”, otimizar recursos para responder à crise e criar-se alternativas. Diante da realidade supostamente credível traça-se um percurso, onde um novo modelo de gestão passa a ser sugerido, principalmente pelos organismos internacionais, amparados na ideia de que para a obtenção de melhores indicadores de qualidade é necessária uma gestão escolar eficiente, combinanda com uma avaliação externa e com uma responsabilização pelos resultados, no campo pedagógico e administrativo-financeiro. E desta forma o discurso da gestão por resultados passa a ser usual no âmbito da gestão educacional. 9 E neste sentido, Ball (2005), observa que o papel do professor se transforma para adequar-se a esta nova conjuntura. Os compromissos humanísticos, como a ética do serviço são substituídos pela teleológica visão do profissional técnico – o gerente; prevalece a eficácia e a ordem em oposição a ética e o caos. E ainda segundo Ball: “ essa mudança na consciência e na identidade do professor apoia-se e ramifica-se pela introdução, na preparação do professor, de formas novas de treinamento não intelectualizado, baseado na competência”(BALL, 2005, p.548) e “durante o treinamento, o professor é “re-construído” para ser um técnico e não um profissional capaz de julgamento crítico e reflexão. Ensinar constitui apenas um trabalho, um conjunto de competências a serem adquiridas (idem, p.548). Por esta ótica esta cultura incorpora-se e consolida-se desde a formação inicial dos professores, conforme a seguinte afirmação: Esta explicação ajuda a esclarecer, em parte, razões pelas quais a política da formação de professores busca reduzir a base de conhecimento da docência e abolir as análises sócio-históricas dos cursos de formação, recomendando prioridade à formação prática, cada vez mais distante do ambiente universitário” (SHIROMA, 2003, p. 77). Neste espaço de culto ao gerencialismo, o capitalismo promove o esvaziamento da teoria e determina o que é bom, o que é válido e o que é legitimo de acordo com a demanda do mercado, de acordo com a visão de Emir Sader (2003). Neste novo modelo organizacional muitas práticas sofrem modificações, o que pode ser verificado até mesmo na linguagem vocabular dos profissionais que se integram ao modelo gerencialista, ou seja, hoje o léxico, eficiência, competência, qualidade total, inovação, cultura organizacional, empreendedorismo, gerência, liderança, são terminologias correntes utilizadas no ambiente educacional (SHIROMA, 2003). Neste percuso a educação, por meio da gestão educacional sofre uma verdadeira invasão de conceitos e teorias das mais diversas áreas de conhecimento, tais como, administração, engenharia e psicologia, dentre outros. Apesar de haver semelhanças as posições políticas são muitas vezes contraditórias ou diferentes, mas alguns teimam em apresentá-las com igual significado. Para os teóricos liberais da educação no campo da gestão escolar, as escolas tornam-se mais eficazes quando o trabalhador é flexível, proativo e sua formação se faz por competências, pois auxiliam a estabelecer a competitividade nos sistemas de ensino e levar mais eficácia para as escolas. Por esta razão muitos defendem a implementação, na área da 10 educação, dos princípios do mercado na gestão educacional, enaltecendo as “virtudes do mercado” e propagando a crença de que a eficiência da gestão reside em seu caráter técnico. Desta forma a gestão educacional enfatizada pelo gerencialismo visa o aumento da eficiência e da eficácia das escolas expressos em indicadores de desempenho ou em resultados, que perpassa basicamente na mudança da cultura organizacional. A ideia da escola como “organização que aprende” leva, portanto, a essencialidade da atividade gestora pautarse na inovação, na criatividade e na proatividade em todos os seus segmentos. Nessa imposição, pouco se valoriza o processo e pouco se questiona o que é um bom resultado. A escola é concebida para cumprir o papel de uma organização social e não de uma instituição social. O objetivo das reformas educacionais a partir da década de 1990 que ocorreu em vários países tem o cunho eminente de tornar mais flexíveis os sistemas educacionais, para com isso torná-los mais eficazes. A pretensão é desburocratizar as escolas públicas, no sentido de eliminar o modelo burocrático até então adotado, considerado rígido e ineficiente, e alçá-las ao modelo gerencilaista das organizações privadas, julgadas mais produtivas. Entretanto, na realidade questionam-se os princípios e as finalidades da educação e o seu carácter público e democrático. Diante do exposto as reformas gerenciais e performativas interferem na prática do ensino, nos aspectos da profissionalidade e altera também o controle de seleção de pedagogias e dos curriculos. Transformam-se a prática docente e consequentemente a dinâmica das aulas, a ênfase se aplica a educação no seu papel técnico para atender as demandas externas por mão-de-obra qualificada para absorção do mercado. Prevalece na cultura gerencial as ações voltadas para a performance técnica e gerencial do educador e a dimensão política é subestimada, dissocia-se as finalidades e os objetivos da educação e os meios para atingi-los, acredita-se que a utilização dos instrumentos de gestão condiciona o alcance da qualidade na educação, observa-se que o pensamento se finca na perspectiva da neutralidade das técnicas e a maneira de como conforma-se no ato da sua utilização. Para Ball: O gestor é o herói cultural do novo paradigma. O trabalho do gestor envolve a infusão de atitudes e culturas nas quais os trabalhadores se sentem eles próprios responsabilizados e simultaneamente comprometidos ou pessoalmente envolvidos na organização. O enquadramento mais rígido do novo gerenciamento permite que um maior leque de comportamento dos trabalhadores se torne público (2001, p.108). 11 O discurso gerencial e sua inserção até certo ponto generalizada nas ações dos educadores se tranformam em práticas rotineiras incentivada por meio dos instumentos oficiais e da midia em todas as esferas. Neste contexto vale ressaltar o seguinte: O discurso gerencial institui uma nova linguagem para promover a mudança na cultura da escola. Embasado na ideologia técnico-bucrocrática, incorpora o léxico da reengenharia, o discurso participativo da transformação, do empreendedorismo, do cidadão pró-ativo.[…]. Busca transformar o “servidor burocrático” num líder dinâmico, tenta provocar transformações na subjectividade dos educadores.[…].O gerencialismo tende a modificar a natureza da linguagem que os profissionais utilizam para discutir a mudança. Esse discurso influencia não só a linguagem, mas, fundamentalmente, a prática. Afecta a forma de ser professor e director de escola (SHIROMA E CAMPOS. 2006, p. 232 in FELDFEBER, M & OLIVEIRA, 2006). Percebe-se na nova gestão pública que a linguagem utilizada pela educação são atualmente captada de outras profissisões e confundem-se nas re-significações. Esta é a forma encontrada para fragilizar o sentido político do fazer pedagógico pela inserção asséptica da técnica ao estabelecer uma nova cultura no campo educacional de maneira intencional, para controlar e otimizar os recursos condizentes com a instalação e a configuração do Estado mínimo. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A nova gestão pública está relacionada com o modelo econômico neoliberal que defende e pratica o Estado mínimo o qual concentra suas ações apenas nas funções consideradas estratégicas e exclusivas. A administração pública por muito tempo consolidou suas práticas no modelo do Estado burocrático que com o passar dos tempos começou a sofrer críticas com relação a uma situação de ineficiência e a manutenção de uma estrutura rígida na gestão da coisa pública que concorria para a lentidão gestionária, fato que encetou uma reconfiguração na administração pública, para dar espaço a uma nova administração, sob o pretexto de melhorar a qualidade das funções estatais e encobrir sua real intenção, ou seja, estabelecer a eficácia, a eficiência, a competitividade e a performatividade para transformar a administração pública de determinados setores, em um negócio lucrativo e atrativo para as organizações privadas. Desta forma desresponsabilizando o Estado de atividades consideradas não exclusivas como: a educação, a saúde, e o setor de produtos. A adequação das mudanças na área educacional é um fato que deve ser levado em consideração, pois as escolas necessitam transformar-se e adequar-se às mudanças em curso, tornarem-se mais produtivas e efetivas na sua função social e na busca pela qualidade que não 12 deve condicionar-se apenas aos parâmetros econômicos. Por conseguinte, é fundamental que os valores orientadores dessas mudanças valorizem a visão holística do ser humano e privilegie a ética em oposição aos valores defendidos pelo mercado, pois o risco de redução em relação à complexidade da formação humana pode levar a minimização da importância do processo pedagógico e sua simplificação em relação à técnica se sobrepondo à teoria. Nesta configuração que se instala, ou seja, na consolidação do gerencialismo na gestão pública, novos conceitos se incorporam no universo educacional, tais como competência, habilidade, autonomia, flexibilidade, descentralização, sociedade do conhecimento justificadas pela busca da competividade que reduz a complexidade pedagógica a meros processos administrativos, reificando as relações humanas. Observa-se desta forma que a reforma educacional modifica o perfil do professor ao exigir a otimização de seu desempenho por meio de métodos e técnicas da administração aplicada nas organizações privadas, uma vez que, na óptica gerencialista, os processos e procedimentos administrativos tanto no campo privado ou público possuem a mesma natureza. Deste modo, infere-se que ao atribuir os problemas da educação na premissa funcional da má administração e transferir ao professor a aplicação dos métodos e das técnicas para implementar uma gestão flexível no espaço escolar na tentativa de atingir a qualidade na educação, é retirar do Estado a responsabilidade e ocultar a intencionalidade da racionalidade capitalista contemporânea para maximizar os lucros e privilegiar o mercado. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALL,S. Diretrizes políticas globais e relações políticas locais em educação.Currículo sem Fronteiras, v.1, pp.99-116.Jul./Dez. 2001; ___________ Profissionalismo, gerencialismo e performatividadeCadernos de Pesquisas, v. 35, pp.539-564, Set./Dez. 2005; BRESSER-PEREIRA, L. C. Gestão do sector público: Estratégia e estrutura para um novo estado In Bresser-Pereira, Luis Carlos & S.Peter (Ed). Reforma do estado e administração pública gerencial. pp.21-38, Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas,1998; 13 ___________. 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