Anais do XIX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do IV Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
23 e 24 de setembro de 2014
DOENÇA DE ALZHEIMER E DE PARKINSON:
ATIVIDADE FÍSICA
Gabriela Scartezini Mônico
Faculdade de Medicina
Centro de Ciências da Vida
[email protected]
Resumo: É importante estudar a atividade física
relacionada aos aspectos cognitivos, funcionais e de
Lineu Côrrea Fonseca
Neuropsicofisiologia em cognição e epilepsia
Centro de Ciências da Vida
[email protected]
aprimorar o tratamento e a qualidade de vida desses pacientes.
qualidade de vida de pacientes com diagnóstico de
Alzheimer (DA) ou de Parkinson (DP) para que a
prática de atividades física beneficie o tratamento
desses pacientes. O objetivo do presente estudo foi
comparar a atividade física habitual dos pacientes
com DA e DP e suas relações com aspectos clínicos, cognitivos e de qualidade de vida. Foram avaliados 45 pacientes com DA, 39 com DP e 39 indivíduos sem declínio cognitivo ou desordem neurológica (grupo controle). Os procedimentos foram:
anamnese, exame clínico-neurológico, bateria neuropsicológica CERAD, Mini-Exame do Estado Mental, testes de funções executivas, Questionário Internacional de Atividade Física – versão curta, escala de avaliação de qualidade de vida para pacientes
com DA. Observou-se o pior nível de atividade física
no grupo DA, tanto em número de exercícios realizados na semana quanto em tempo total gasto com
tais exercícios. O grupo GC manteve-se com o maior nível de atividade física. O grupo DP manteve-se
intermediário. Grupo DA teve o maior número de
horas sentado, o DP intermediário e GC com o menor número Conclui-se que o estudo dos aspectos
cognitivos, funcionais e de qualidade de vida dos
pacientes com diagnóstico de DA e DP relacionados
com a prática de atividade física é importante para
Palavras chave: Doença de Alzheimer, Doença de
Parkinson, atividade física.
Área do Conhecimento: Ciências da Saúde – Medicina – FAPIC
1. INTRODUÇÃO
A doença de Alzheimer (DA) e a doença de Parkinson são patologias progressivas e crônicas. A repercussão principal na DA é o declínio de memória
e de comportamento, causando restrições graduais
nas atividades básicas da vida diária [1]. A doença
de Parkinson (DP) caracteriza-se principalmente por
modificações na motricidade, podendo também
apresentar demência, 31%[2,3]. O aparecimento de
demência esta associado a maior declínio funcional,
pior qualidade de vida [4] e mortalidade aumentada
[5].
Tem tido cada vez mais importância na literatura, a
atividade física e a qualidade de vida na DA e na
DP, devido à sua relevância para o indivíduo e para
a evolução da doença e à necessidade de conhecer
a relação da atividade física com fatores cognitivos
e clínicos.
A definição de qualidade de vida (QV) mais divulgada e conhecida é a da Organização Mundial de Saúde (OMS) que a descreve como a percepção do
indivíduo de sua posição na vida, no contexto da
cultura e sistemas de valores nos quais vive e em
relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações [6].
A inatividade física tem sido relatada como fator de
risco para o declínio cognitivo. Pesquisas mostram
que o declínio cognitivo de idosas de uma comunidade é inversamente relacionado a atividade física
em termos de distância percorrida e fasto energético
em caminhadas [7]. Na DA, indivíduos que praticam
atividade física têm risco reduzido de 50% de desenvolver a doença [8].
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Na DP, a atividade física é estudada na evolução da
instabilidade motora, de quedas e de ferimentos,
podendo ter influências positiva [9, 10].
Por haver raros estudos comparativos entre atividade física e a cognição na DA e DP, é importante
que a relação seja estudada afim de propiciar melhoras no tratamento e na perspectiva de vida.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Sujeitos
Foram incluídos neste estudo 3 grupos de sujeitos:
(1) Grupo com doença de Alzheimer (DA), com 45
pacientes que atenderam aos critérios de demência
de acordo com o DSM IV e do NINCDS/ADRDA [1],
conforme recomendações do consenso Nacional
para o diagnóstico de doença de Alzheimer provável
[11,12];
(2) Grupo com doença de Parkinson (DP), 39 pacientes com diagnóstico clínico provável ou definitivo
de DP, segundo os critérios de [13].
(3) Grupo controle, com 39 indivíduos, selecionados
entre os cônjuges dos pacientes, sem nenhuma
história de declínio cognitivo ou desordem neurológica ou psiquiátrica prévia, semelhantes aos demais
grupos quanto a faixa etária, gênero e nível educacional.
Foi utilizado como critério de exclusão: existência de
comorbidades com redução significativa da expectativa de vida.
Os pacientes do grupo DA e DP são procedentes do
ambulatório de Neurologia Clínica do Hospital e
Maternidade Celso Pierro da PUC-Campinas.
2.2. Procedimentos
Os participantes assinaram o Termo de Consentimento aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa
em Seres Humanos da PUC – Campinas após o
devido esclarecimento sobre os procedimentos a
serem realizados. Os procedimentos de acordo com
recomendações da European Federation of Neurological Societies (EFNS) e da Academia Brasileira
de Neurologia foram:
(1) Anamnese;
(2) Exame clínico-neurológico;
(3) Exames laboratoriais de rotina;
(4) Avaliações neurocognitivas e comportamentais,
constituídas por: Mini-Exame do Estado Mental
(MEEM) [14,15] para rastramento cognitivo, bateria
neuropsicológica CERAD [16], fluência verbal (animais), inventário de Pfeffer[17] e o Desenho do Relógio, que aborda itens para o diagnóstico de demência no idoso;
(5) Testes de funções executivas, memória de desenhos simples, memória não verbal;
(6) Escala CDR (Clinical Dementia Rating) [18,19];
(7) Questionário Internacional de Atividade Física
(IPAQ) – versão curta, instrumento proposto pela
Organização Mundial da Saúde para detectar o
nível de atividade física populacional [20,21]. Lembrar que: 1. atividades físicas VIGOROSAS são
aquelas que precisam de um grande esforço físico e
que fazem respirar MUITO mais forte que o normal;
2. atividades físicas MODERADAS são aquelas que
precisam de algum esforço físico e que fazem respirar UM POUCO mais forte que o normal. Para responder as perguntas pense somente nas atividades
que você realiza por pelo menos 10 minutos contínuos de cada vez. 1a Em quantos dias da última
semana você CAMINHOU por pelo menos 10 minutos contínuos em casa ou no trabalho, como forma
de transporte para ir de um lugar para outro, por
lazer, por prazer ou como forma de exercício? 1b
Nos dias em que você caminhou por pelo menos 10
minutos contínuos quanto tempo no total você gastou caminhando por dia? 2a.Em quantos dias da
última
semana,
você
realizou
atividades
MODERADAS por pelo menos 10 minutos contínuos, como por exemplo pedalar leve na bicicleta,
nadar, dançar, fazer ginástica aeróbica leve, jogar
vôlei recreativo, carregar pesos leves, fazer serviços
domésticos na casa, no quintal ou no jardim como
varrer, aspirar, cuidar do jardim, ou qualquer atividade que fez aumentar moderadamente sua respiração ou batimentos do coração (POR FAVOR NÃO
INCLUA CAMINHADA) 2b. Nos dias em que você
fez essas atividades moderadas por pelo menos 10
minutos contínuos, quanto tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia? 3a Em quantos dias da última semana, você realizou atividades
VIGOROSAS por pelo menos 10 minutos contínuos,
como por exemplo correr, fazer ginástica aeróbica,
jogar futebol, pedalar rápido na bicicleta, jogar basquete, fazer serviços domésticos pesados em casa,
no quintal ou cavoucar no jardim, carregar pesos
elevados ou qualquer atividade que fez aumentar
MUITO sua respiração ou batimentos do coração.
3b Nos dias em que você fez essas atividades vigorosas por pelo menos 10 minutos contínuos quanto
tempo no total você gastou fazendo essas atividades por dia? Estas últimas questões são sobre o
tempo que você permanece sentado todo dia, no
trabalho, na escola ou faculdade, em casa e durante
seu tempo livre. Isto inclui o tempo sentado estudando, sentado enquanto descansa, fazendo lição
de casa visitando um amigo, lendo, sentado ou dei-
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tado assistindo TV. Não inclua o tempo gasto sentando durante o transporte em ônibus, trem, metrô
ou carro. 4a.Quanto tempo no total você gasta sentado durante um dia de semana? 4b. Quanto tempo
no total você gasta sentado durante em um dia de
final de semana?
(8) Para a DA e outras demências, Loggsdon et al.
[22] desenvolveram uma escala de avaliação de
qualidade de vida para pacientes com DA, que foi
aplicada em todos os grupos.
(9) Especificamente para a DP, foi feita a Parkinson’s Disease Questionnaire (PDQ-39)], que têm
sido realizada em diversos países [23], e mais recentemente no Brasil [24,25,26,27]. Aborda os principais quesitos de qualidade de vida acometidos
pela DP.
(10) Inventários de depressão e ansiedade de Hamilton [19].
2.3. Análise dos dados
Foi feito estudo comparativo do nível de atividade
física entre os grupos DA, DP (com ou sem demência) e Controle.
Foram avaliadas as relações entre aspectos clínicos, cognitivos e de atividade física com a qualidade
de vida.
Foram utilizadas análises estatísticas paramétricas
ou não-paramétricas, dependendo da situação em
estudo, com nível de significância para p<0,05.
3. RESULTADOS
O perfil sócio-demográfico baseou-se na análise
ANOVA com Post-hoc de Duncan. Os grupos DP e
GC apresentaram diferença pouco significativa
quanto à idade, porém a idade mais avançada foi do
grupo DA. Quanto à escolaridade o grupo controle
obteve o maior número, o grupo Parkinson permaneceu intermediário e o Alzheimer obteve a pior
escolaridade. Quanto ao gênero, houve predomínio
de homens no grupo DP e em DA e GC prevaleceu
o sexo feminino. Em relação ao desempenho dos
pacientes nos testes MEEM, Fluência Verbal, Pfeffer
e Qualidade de vida total, houve diferenças significativas entre os grupos. O GC teve melhor desempenho em todos os testes. O grupo Alzheimer obteve pior resultado em todos os testes. O grupo Parkinson atingiu valores intermediários em todos os
testes. Em relação à qualidade de vida dos pacientes, o grupo Alzheimer obteve o pior resultado no
questionário. O grupo Parkinson se manteve intermediário entre os grupos. Entre DA e DP não houve
valores significativamente diferentes. O melhor resultado manteve-se para o grupo controle que teve
significativa diferença com o resultado dos demais
grupos. Portanto, os dados mostraram menor desempenho cognitivo e nas atividades funcionais
para o grupo DA e o grupo DP mostrou-se intermediário.
Com relação à atividade física habitual dos pacientes, observa-se que os resultados tiveram significativa diferença entre os grupos. O grupo DA apresentou diferença em relação tanto ao grupo controle
quanto ao grupo DP, mantendo o número mais baixo de atividade física, incluindo caminhadas, atividades moderadas e vigorosas; também este grupo
obteve o número mais alto de horas sentado em
dias de semana e dias de fim de semana. O grupo
controle obteve o valor mais alto de atividade física,
incluindo caminhadas, atividades moderadas e vigorosas; também obteve o número mais baixo de horas sentado em dias de semana e de fim de semana. O grupo DP manteve-se intermediário em todos
os quesitos do teste. A frequência de atividade física
vigorosa (questões AF3a e AF3b) apresentaram
correlação com o item mobilidade do teste PDQ-39
no grupo DP. (Spearman, IC=0,390 p=0,016 e IC=
0,385 p=0,017, respectivamente). Para as demais
questões e para os itens atividade de vida diária,
suporte social, estigma e comunicação não houve
correlação significativa. Os itens bem estar emocional, cognição e desconforto corporal tiveram correlações negativas com AF2b (p=-0,044),AF2b (p=0,045) e AF1a (p=-0,012) respectivamente.
Em AF1a, AF2a, AF2b, AF3b e AF4b foi feita análise pelo teste Post hoc de Tukey, em que observamos que o grupo DA apresentou diferença significativa em relação aos demais grupos em AF1a e AF
2a, sempre abaixo do valor, sendo Parkinson similar
ao GC. Nas demais, AF2b , AF3b e AF4b, o grupo
GC manteve-se similar tanto a DA quanto a DP,
porém entre DP e DA houve diferença significativa.
Não houve correlações significativas de QV com AF
para os grupos DA e DP.
O teste de fluência verbal apresentou correlação de
Pearson significativa positiva apenas com AF1b,
para o grupo Parkinson.
O Mini Exame do Estado Mental teve correlação
positiva com AF1a, com p = 0,032 e com AF1b com
p=0,005, apenas para grupo DP.
4. DISCUSSÂO
A literatura tem abordado com frequência as possibilidades de benefício do exercício físico na marcha,
na estabilidade e no equilíbrio [28,29], mas também
em funções cognitivas e funções executivas [30].
Dessa forma, a partir da análise dos dados obtidos
com a pesquisa, o grupo DA está submetido ao
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maior risco de doenças cardiovasculares, e pior
prognóstico de preservação ou melhora do declínio
cognitivo e da memória, já que o grupo citado teve
os piores níveis de atividade física. Em menor nível,
o grupo DP, que obteve níveis intermediários de
atividade física, também está exposto aos riscos
cardiovasculares e também tem pior prognóstico em
relação à instabilidade motora e, naqueles com demência, pior prognóstico de preservação ou melhora
de declínio cognitivo e memória.
A correlação positiva entre o teste de atividade física e o item mobilidade do teste PDQ-39 condiz com
os estudos de [28,29] já que as atividades vigorosas
para paciente com doença de Parkinson são prejudicadas pela deficiência na marcha, na estabilidade
e no equilíbrio. A correlação negativa entre o teste
de atividade física e os itens bem estar emocional,
cognição e desconforto corporal do teste PDQ-39
indica que, quando esses itens estiverem comprometidos, pior é a qualidade de vida na DP e pior o
nível de atividade física.
O MEEM que teve correlação positiva com a questão AF1a e com AF1b na DP sugere que quanto
maior o declínio cognitivo mais comprometida tornase a freqüência de caminhadas semanais.
Os presentes achados sugerem a necessidade de
estimular os pacientes dos grupos DA e DP a incremento de atividades físicas. Em pesquisas recente, caminhadas mostraram tendência à estabilização
da DA [31]. Os indivíduos saudáveis (grupo GC) têm
também sugestão para a prática de atividade física,
já que os indivíduos que praticam exercício físico
com regularidade têm risco reduzido de desenvolvimento da doença de Alzheimer de 50% [8].
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