Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Profª. Rosa Celeste Michelan O novo acordo, cujo nome oficial é Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) Contém vinte e uma bases, numeradas com algarismos romanos, cada uma delas tratando de um item específico: Com o novo acordo passa a existir uma única forma para a grafia das palavras da Língua Portuguesa Isto não significa que todas as bases do Acordo imponham mudanças no registro das palavras no Brasil, em Portugal e nos demais países da Língua Portuguesa Algumas bases ratificam modificações já efetuadas no Brasil em 1971, como a suspensão do acento grave nas sílabas subtônicas/subtônicas de palavras derivadas (Café – Cafezinho) Em outros casos, como o da eliminação do trema, atinge-se apenas o Registro Ortográfico no Brasil, pois este sinal já não era usado em Portugal desde 1945. Os textos apresentados a seguir ilustram a trajetória da ortografia portuguesa, no Brasil, de 1500 a 2009, ano do início da vigência do Acordo Ortográfico de 1990. 1500 - Trecho final da carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, D. Manuel (...) a ela peço que por me fazer simgular merçee man de vjm da ylha de san thomeee jorje desoiro meu jenro. o que dela receberey em mujta merçee. beijo as mããos de vosa alteza. deste porto seguro da vosa jlha de vera cruz oje sexta feira primeiro dia de mayo de 00. pero uaaz de camjnha. SIMÕES, Henrique Campos. As cartas do Brasil. Ilhéus: Editus, 1999. 1808 - excerto de jornal A Suprema Junta de Hespanha foi installada a 25 do passado no Palácio Real de Aranguez. Esta ceremonia foi grande, interessante e solemne. Depois de se dizer Missa, e de terem os Membros prestado juramento, se fizerão algumas formalidades militares depois do que se installou solemnemente a dita Junta. (...) (4) GAZETA do Rio de Janeiro, edição de sábado, 24 dez. 1808. In: Arquivos da Fundação Biblioteca Nacional. Após 1943 (...) Estava sentado na mesa, tomando minha caneca de café, com o pão sêco e mastigando tudo sem pressa alguma. Como sempre apoiava o cotovêlo na mesa e fitava a folhinha pregada na parede. (...) VASCONCELLOS, José Mauro. o meu pé de laranja lima. São Paulo: Melhoramentos, 1968. Após 1971 (...) Você não é, em nenhum sentido, autoresponsável, um agente livre, mas um dependente submisso, esperando e recebendo punições e recompensas. Evoluir dessa posição de imaturidade psicológica para a coragem da auto-responsabilidade e a confiança exige morte e ressurreição. Esse é o motivo básico do périplo universal do herói (...). CAMPBELL, Joseph. o poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 1990. Após 2009 (...) Você não é, em nenhum sentido, autorresponsável, um agente livre, mas um dependente submisso, esperando e recebendo punições e recompensas. Evoluir desta posição de imaturidade psicológica para a coragem da autorresponsabilidade e a confiança exige morte e ressurreição. Esse é o motivo básico do périplo universal do herói(...). Trecho adaptado à grafia conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa - 1990. Será que, no final deste século, ainda se escreverá obedecendo a essa última convenção ortográfica? Essa resposta hoje não pode ser dada, mas, certamente, num futuro que ainda não se sabe próximo ou distante, haverá um novo acordo e mais outro novo acordo e depois outro mais, pois a tendência à simplificação ortográfica da língua portuguesa é histórica. As modificações são necessárias para atender às demandas do tempo em que se vive. A língua é permeável e, num processo interativo, recebe influências do ambiente, mas simultaneamente age sobre ele, num processo nem sempre rápido, porém contínuo e inexorável. NOVO ALFABETO Com a inclusão das letras K, W e Y, o alfabeto da língua portuguesa passa a ter vinte e seis letras. Observação: O nome das letras aqui apresentadas não excluem outras formas de designação. Por exemplo: a forma “duplo vê”, menos comum, porém também utilizada para nomear a letra w. Usos do K, W e Y Em nomes próprios que se originam da própria língua e todos os seus derivados Observação: Na grafia das palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros devem ser mantidas as combinações gráficas ou os sinais diacríticos (acentos agudo, grave e circunflexo, trema, til, hífen, cedilha), que não pertençam à escrita do português: shakespeariano (de Sharkespeare), garrettiano (de Garrett), hübneriano (de Hübner). Em nomes próprios de lugares que se originam de outra língua e todos os seus derivados Observação: Recomenda-se a substituição de nomes próprios de lugares de línguas estrangeiras pelas formas aportuguesadas, quando esta existirem: New York, por Nova Iorque; Zürich, por Zurique. Surpressão gráfica de consoantes, mudas ou não articuladas Excluem-se as consoantes mudas ou não são pronunciadas, considerando-se as normas urbanas de prestígio (nome usado atualmente para “norma culta”) Observação: Esta modificação afeta palavras apenas em uso em Portugal, pois, no Brasil, já não se empregavam essas consoantes. Alguns exemplos: Dupla grafia decorrente de variação de pronúncia O Acordo prevê grafia dupla para várias palavras. Algumas delas: Observação: Embora ambas as grafias passem a ser dicionarizadas, não se justifica adotar registro diferente daquele que já se usa no Brasil e em Portugal. Isso significa que, na prática não haverá alteração na grafia dessas palavras. O importante é reconhecer que as duas formas são corretas. Monossílabos tônicos e palavras oxítonas Observação: Algumas palavras oxítonas, geralmente de origem francesa, terminadas em –e tônico/tónico, podem ser escritas com acento circunflexo (ê) ou acento agudo (é), pois a pronúncia delas pode ser fechada (caso do Brasil) ou aberta (caso de Portugal) Palavras paroxítonas Mantêm-se as regras de acentuação gráfica das paroxítonas, com algumas exceções Os ditongos abertos – ei e – oi não são acentuadas nas palavras paroxítonas Observação: Continuam sendo acentuados os ditongos abertos - ei e - io nos monossílabos e nas palavras oxítonas: pincéis, anéis, heróis, caracóis. O mesmo acontece com o ditongo aberto – eu: céu, escarcéu, fogaréu. O hiato – oo não é mais acentuado nas palavras paroxítonas O acordo eliminou o acento circunflexo do hiato – ee, na terceira pessoa do plural dos verbos, crer, dar, ler e ver Palavras paroxítonas homófonas não são mais acentuadas: Observação: - Manteve-se o acento na forma verbal pôde (pretérito perfeito) para diferenciá-la de pode (presente do indicativo) - É facultativo o uso do acento em: demos (1ª pessoa do plural do presente do subjuntivo para diferenciar de demos (1ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo); - fôrma (substantivo), para diferenciar de forma (substantivo e verbo). - o verbo pôr (monossílabo tônico) mantém o acento para diferenciar da posição por (monossílabo átono). Palavras paroxítonas cujas vogais i e u vêm após ditongo não são acentuadas Nas formas verbais rizotônicas/rizotónicas, não se usa mais acento agudo no i e u tônicos/tónicos dos verbos arguir e redarguir: redargui, arguis. Observação: Palavras cuja pronúncia culta possui variantes no Brasil e em Portugal passam a admitir o uso do acento circunflexo ou da acento agudo. As duas formas coexistem, porém, na prática, no Brasil continuará sendo usado o acento circunflexo (som fechado) e, em Portugal o acento agudo (som aberto). São palavras que possuem vogal e ou o seguidas de consoantes nasal m ou n: Palavras proparoxítonas Não houve alteração nas regras de acentuação das proparoxítonas Observação: Palavras proparoxítonas, reais ou aparentes, cuja pronúncia culta possui variantes no Brasil e em Portugal passam a admitir o uso do acento circunflexo ou do acento agudo. As duas formas coexistem; porém, na prática, no Brasil continuará sendo usado o acento circunflexo (som fechado) e, em Portugal, o acento agudo (som aberto). São Palavras que possuem vogal e ou o seguidas de consoante nasal m ou n: O trema deixa de existir na grafia das palavras da língua portuguesa Observação: - Palavras derivadas de nomes próprio estrangeiros conservam o trema. - Palavras de dupla grafia, como sanguíneo – sangüíneo, líquido – líqüido, passam a ter uma só forma, sem trema. - A ausência do trema não implica nenhuma alteração na pronúncia da palavra Em compostos, locuções e encadernamentos vocabulares Mantém-se o hífen nas palavras compostas. Alguns exemplos: Observação: Palavras compostas das quais se perdeu a noção de composição são escritas sem hífen Este é um ponto do Acordo sobre o qual há divergências, pois a perda da noção de composição é um critério subjetivo. As palavras que passam a se escrever sem hífen, em razão desta determinação do Acordo, só serão plenamente definidas com a publicação do novo VOLP. O Acordo regularizou o uso do hífen na grafia de todas as palavras que indicam espécies de plantas ou de animais Embora não tenha havido modificações por conta do Acordo quanto à grafia dos compostos com os advérbios bem e mal, pela dúvida que essas grafias trazem, justifica-se uma explicação sobre esse caso. Usa-se o hífen nas palavras compostas com os advérbios bem e mal, quando formam uma unidade com significado e o segundo elemento começa por vogal ou h Observação: O advérbio mal sempre se aglutina com consoantes. Com o advérbio bem , isso nem sempre acontece. É por esse motivo que há estas grafias: Entretanto, em alguns casos, o advérbio bem se aglutina com o segundo elemento: benfazejo, benfeitor, benquerença. Nas formações por prefixação, recomposição e sufixação Usa-se hífen quando se soma ao prefixo ou ao falso prefixo palavra iniciada por h Usa-se hífen quando se soma ao prefixo ou ao falso prefixo termina pela mesma vogal com que se inicia o segundo elemento da palavra Observações: - Essa norma do Acordo padroniza o uso do hífen entre vogais iguais, visto que antes algumas palavras já se escreviam com hífen (contraargumento) e outras não (antes microondas; agora: micro-ondas) - O prefixo co - , independentemente de o segundo elemento da palavra iniciar pela mesma vogal, aglutina-se: coobservador, coocorrente. Usa-se hífen com palavras iniciadas por circum- e pan-, cujo segundo elemento começa por vogal e h (isso já estava na regra anterior) e m, n (nova regra) Não se usa hífen em palavras cujo prefixo ou pseudo prefixo termina por vogal e o segundo elemento começa por r ou s. nesse caso, a consoante dobra: Observação: Na translineação de palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há hífen, deve-se repeti-lo no início da linha imediata quando a participação coincide com o final de um dos elementos ou membros: vice-presidente Casos de uso opcional No uso das iniciais maiúsculas e minúsculas, não há alterações de registro, a não ser o caso de inicial minúscula em nome de mês (grafia já utilizada no Brasil, mas não em Portugal) O Acordo estabelece que é de uso opcional a utilização de inicial maiúscula ou minúscula nos seguintes casos: Em títulos de livros e de outras obras (filmes, pinturas, esculturas, etc.) Sendo que a letra inicial do primeiro nome deve ser sempre maiúscula. Nomes próprios constantes destes títulos também usam iniciais maiúsculas: Em nomes que indicam disciplinas escolares ou domínios de saber: Em nomes de lugares públicos, templos e edifícios: Em formas de tratamento de cortesia ou em nomes de santos: Na assinatura de nomes, para ressalva de direitos, pode-se manter a escrita utilizada por costume ou registro legal Pelo mesmo motivo, pode-se manter a grafia original de firmas comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos que esteja inscritos em registro público.