Obstáculos e oportunidades para a participação do Brasil nas CGVs Victor Prochnik Universidade Federal do Rio de Janeiro E-mail: [email protected] América Latina y su Inserción en el Mundo Global del Siglo XXI FEDESARROLLO, CIEPLAN e CAF Bogotá, 10 de maio, 2013 OBJETIVOS DA APRESENTAÇÃO: 1) O Brasil participa pouco de CGVs 2) O PROBLEMA: está ocorrendo uma estagnacao no crescimento industrial, reprimarizacao das exportacoes e desindustrializacao. 3) Há várias interpretacoes alternativas sobre o problema apontado. 4) Nossa contribuicao: mostrar falhas importantes em políticas industriais centrais, em particular sua incapacidade de promover uma insercao autêntica nas CGVs. 2 1A baixa participação do Brasil em CGVs 2009 % VA % X/GDP % M/GDP dom/X Contribuição indireta dos insumos domésticos para X Brasil 10,3 10,2 91,4 49,9 Chile 39,0 31,0 81,4 35,7 México 27,0 28,3 68,7 27,8 China 27,5 22,1 71,5 48,1 Índia 18,8 23,3 76,6 33,9 Rússia 26,6 19,3 92,8 40,4 Coréia 48,0 44,2 60,4 32,8 Alemanha 33,6 28,3 74,6 38,9 Japão 12,3 11,9 85,1 47,9 EUA 10,0 12,8 88,6 39,0 3 Aspectos qualitativos • 1 Na exportação de produtos diferenciados, predominam empresas multinacionais. Muitas formam CGVs na medida que produzem no Brasil para países da América Latina. Elas vem perdendo mercado para a China etc. • 2 As empresas de capital brasileiro que exportam e/ou investem no exterior são construtoras, bancos, mineradoras, produtores de insumos básicos (aço, cimento etc.) e franquias (Spoleto etc). Não formam CGVs • 3 Em geral, empresas de capital brasileiro que produzem bens diferenciados organizam suas próprias cadeias. - EMBRAER, Marcopolo, WEG, SMAR etc. 4 2 A ESTAGNAÇÃO DA INDÚSTRIA Gasto interno aumentou 5,7% a.a. e GDP 4,2%a.a. 5 GDP da economia e investimento da indústria de transformação brasileira Lento crescimento recente, investimento insuficiente: 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Cresc GDP 3,2 % inv/ GDP 15,9 . 4,0 6,1 17,4 5,2 -0,3 18,1 7,5 2,7 0,9 19,3 18,1 DESINDUSTRIALIZAÇÃO Participação % dos setores no GDP 2005 2007 2009 2011 2012 Indústria de transformação 18,1 17,0 16,6 14,6 13,3 Indústria extrativa mineral 2,5 2,3 1,8 4,1 4,3 65,0 66,6 67,5 67,0 68,5 Setor de serviços Fonte: Contas nacionais, Queda das X e aumento das M x % X/GDP % % (X+M)/ M/GDP GDP % (XM)/GDP 2005 15,1 11,5 26,6 3,6 2007 13,4 11,8 25,2 1,5 2009 11,0 11,1 22,1 -0,2 2011 11,9 12,6 24,5 -0,7 12,6 14,0 2012 Contas nacionais 26,5 -1,4 Reprimarização da pauta exportadora Produto exportado 1964 2000 2008 2011 Commodities 85,4 Semimanufaturados 8,0 Manufaturados 6,2 Fonte: MDIC, apud Cano (2012, 843) 23,4 15,8 60,7 37,9 13,8 48,1 48,9 14,3 36,8 2 A estagnação da indústria brasileira • Interpretação de Edmar Bacha: • BRASIL 2005/2011: BONANÇA EXTERNA • 1 O gasto interno cresceu por causa da melhoria das relações de troca (preços commodities) e da entrada de capital estrangeiro cresceu gasto interno. • 2 A estagnação da indústria advem da queda da sua rentabilidade: • Expansão do gasto maior demanda por mão de obra aumento dos salários e dos preços dos serviços diminuindo a rentabilidade dos setores de bens comercializáveis e sua oferta. Importações atenderam a expansão do gasto interno. 10 Declínio dos gastos em P&D/ receita (ótica neo schumpeteriana da estagnação - José Tavares de Araújo Jr.) 1998/2000 Indústria de transformação Indústria extrativas 2006/2008 Indústria de transformação Indústria extrativas % de ino- Gastos em inov/ Gastos em P&D/ vadores receita líquida receita líquida 31,9 3,9 0,7 17,2 1,5 0,2 % de ino- Gastos em inov/ Gastos em P&D/ vadores receita líquida receita líquida 38,4 2,6 0,6 23,7 0,9 0,1 Produtividade física da mão de obra da indústria de transformação Estagnação da produtividade 2002/2007=2,8% a.a. 2007/2012=0,8% a. a. Visão institucionalista: crescimento da produtividade depende das mudanças nas instituições. Atualmente, Brasil vive processo de deterioração institucional (Marcos Lisboa) A visão desenvolvimentista: investimento público ainda é insuficiente para alavancar o inv. Privado (Nelson Barbosa). 13 Fatores sistêmicos da baixa competitividade brasileira (todos concordam) 1. Baixa 2. 3. 4. 5. qualificação da mão de obra Juros altos Insegurança jurídica Estrutura tributária ineficiente Ineficiência na gestão de investimentos 6 públicos. Infraestrutura deficiente 14 Nossa contribuicao • Há falhas graves na politica industrial, em particular por nao promover uma insercao autentica das empresas brasileiras em CGVs • Proximos slides: dois casos, politica de conteudo local para fornecedores de petroleo e gas e Lei de Informatica 15 Política industrial de conteudo local para a cadeia de petróleo e gás • A exploração do petróleo na camada pré-sal é uma grande oportunidade para desenvolver uma indústria fornecedora da cadeia de petroleo e gás altamente competitiva. • A camada pré-sal contem desafios tecnológicos não encontrados em outras áreas geológicas. • Não há concorrentes já estabelecidos e apenas as empresas que participarem vão desenvolver as tecnologias. 16 Política de conteúdo local para empresas fornecedoras da cadeia de petróleo e gás 1 • Todas as compras das petroleiras tem que satisfazer os criterios de conteúdo local.. • Mas empresas optam por importar os componentes mais intensivos em tecnologia. • No Brasil, em geral, compram insumos e serviços mais simples e fazem atividades de montagem final. • 1 Assim, a política de CL está em contradição com a política de inovação, pois a inovação em geral engloba modificações nos componentes mais complexos. 17 Política de conteúdo local para fornecedores da cadeia de petróleo e gás 2 • No crítico setor de instrumentação e automação, basta que a empresa faça um pouco mais do que a montagem final para satisfazer os critérios de CL • 2 Protege mais as indústrias menos intensivas em inovação: cotas de CL são maiores para os produtos mais simples e condições de produção mais fáceis. • 3 Não há seletividade: todas empresas são obrigadas a fazer parte da produção no Brasil, criando uma reserva de mercado para produtores internos com efeitos perversos sobre os preços; não valoriza empresas intensivas em inovação • 4 Não estimula exportações 18 Política de conteúdo local para fornecedores da cadeia de petróleo e gás 3 • 5 PROPOSTAS: SELETIVIDADE: CL alto em sistemas para os quais não exista capacidade produtiva/ tecnológica e com viabilidade de oferta competitiva POLÍTICA DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA: promoção de alianças estratégicas internacionais, transferência reversa de tecnologia e/ou outras formas de transferência internacional de tecnologia. 19 Política industrial e a cadeia eletrô-nica – o caso da Lei de Informática (junto com Mateus Labrunie e Marco Silveira) • A Lei dá subsídios fiscais para empresas que produzem no país e investem 4% das vendas em P&D. • Problemas da Lei de Informática • 1 O índice de conteúdo local é atingido com apenas a montagem final do produto. • 2 O mínimo de gasto em P&D/ Receita independe da posição da empresa na cadeia. Nem em seus países sede as contracting equipment manufacturers gastam 4% da receita em P&D. Outras empresas gastam muito mais de 4%. 20 Política industrial e a cadeia eletrônica – o caso da Lei de Informática •Para determinar conteúdo local, a empresa tem que apresentar o projeto de produção. Logo, grande parte do P&D já foi feito e o gasto em P&D será em outros projetos. •Estudos econométricos: empresas que aderiram aos benefícios da lei não inovam mais nem sua produtividade cresceu mais do que as que não aderiram. •A Lei de informática foi formulada com objetivos políticos de permitir que as empresas da região Sudeste tivessem os mesmos benefícios que as empresas da Zona Franca de Manaus. 21 Uma dúvida e uma sugestão • 1 Quais são as perspectivas para a inserção dos países da América Latina em Cadeias Globais de Valor? • O movimento de outsource/ offshoring pode já ter passado uma fase inicial de desenvolvimento acelerado e estar crescendo mais lentamente. • A recessão mundial também não ajuda. • Por fim, as empresas da Ásia e do leste europeu são nossas concorrentes às oportunidades que ainda estão surgindo. • Estas hipóteses sugerem que um dos caminhos a serem seguidos é o de que a AL crie suas próprias CGVs, aprofundando o processo de integração regional. • 22 Propostas (do ponto de vista de uma maior inserção nas CGVs) 1) 2) 3) 4) 5) 6) Priorizar a integração regional valorizar exportações e o FDI brasileiro Investimento em infraestrutura de transportes Substituir políticas de conteúdo local por políticas que apoiem áreas tecnológicas básicas (TI e biotecnologia e áreas para as quais haja vocação). Realinhar política de inovação, valorizar transferência reversa de tecnologia. Caso Accenture Colocar metas para os beneficiários de políticas públicas, avaliação com transparência (dados desidentificados na Internet) 23 Gracias !! 24 Apêndice Modelo de agregação de cadeias produtivas em macro cadeias, desenvolvido no Instituto de Economia da UFRJ 25 Matriz macro cadeias X macro cadeias - coeficientes nac (%) 2005 Fortes ligações entre setores intra cadeias e ligações relativamente mais fracas inter cadeias Cons tru ção têxtil Construção 34,8 Têxtil Papel Agro industrial Metalmecânic Quimico Total % 0,2 0,5 46,4 1,1 2,8 Papel 1,1 1,1 1,3 30,3 11,0 9,8 agro indus trial Metal mecâ nico Quí mico TO TAL 0,5 0,3 1,4 0,3 2,4 0,5 4,1 2,0 0,9 0,9 1,3 2,8 0,1 3,4 14,0 60,3 52,0 16,1 1,9 5,1 2,9 6,3 13,8 16,0 10,7 18,2 14,0 12,3 44,4 19,1 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Importações/ (consumo intermediário + importações) (%) 2005 Construção Têxtil Papel Agro industrial Metalmecânic Quimico Serviços e com. Total % agro Meta l indus mecâ trial nico Cons tru ção Têx til Papel 3,2 6,1 2,1 2,0 3,7 8,1 9,1 2,6 1,2 0,6 Quí mico servi ços e com. TO TAL 10,0 4,2 2,0 3,1 1,8 4,7 12,4 1,9 6,9 12,9 1,7 1,5 2,8 1,7 4,8 2,5 16,1 2,6 17,5 4,4 0,6 2,6 14,7 19,4 16,5 8,1 24,1 22,9 13,7 21,7 11,0 25,3 16,7 7,4 17,7 26,6 1,9 18,0 3,9 2,4 3,1 1,8 2,5 8,6 5,6 4,6 6,7 8,4 10,9 3,3 16,8 17,1 5,6 9,9 27 Próximo slide: mostra os coeficientes de importação da cadeia eletrônica, que é parte da macro cadeia metal mecânica. 28 Importações concentradas indústrias high tech Agro metal- Cad Têxconstr Papel indust CAD me câ- quími To-tal til ução rial ELETR nica ca ÔNICA Construção 3,2 6,1 2,1 2,0 5,2 Têxtil 3,7 8,1 9,1 1,8 Papel 2,6 1,2 12,9 Agroindustrial 0,6 2,5 CADEIA ELETRÔNICA 4,2 3,1 6,8 4,7 12,4 6,9 1,7 2,0 1,5 2,8 4,8 16,1 2,6 18,8 17,5 4,4 2,6 10,5 24,5 74,6 17,4 77,5 71,6 30,0 67,4 14,7 19,4 16,5 8,1 55,2 24,1 22,9 21,7 química 11,0 25,3 16,7 7,4 16,6 17,7 26,6 18,0 TOTAL 6,7 8,4 10,9 3,3 35,2 16,8 17,1 metal-mecânica 10,0 9,9 29