UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEPARTAMENTO DE MEDICINA INTEGRADA INTERNATO EM MEDICINA DE URGÊNCIA Doutorandas: Ingrid Tavares Juliana Caldas Introdução A capacidade de manter uma VA segura representa uma habilidade obrigatória para médicos intensivistas. Pacientes em UTI apresentam graus variados de hipoxemia, acidose e instabilidade hemodinâmica toleram mal o atraso em estabelecer umaVA. Condições associadas: hipertensão intracraniana, isquemia miocárdica, sangramento das vias aéreas ou vômitos podem ser agravados na tentativa de intubação. Muitos fatores complicam a estabilização rápida das VA em pacientes críticos (tornam-se resistentes as tentativas de intubação; apresentam edema de glote; equipe despreparada). Adotaram abordagens algorítmicas para avaliação de VA e sequência rápida de intubação (SRI). SRI (vantagens): aumenta o sucesso da intubação em 98% e reduz complicações. Objetivo: descreve as abordagens padronizadas para avaliação das VA e SRI com a intenção de ampliar o uso dessas técnicas no ambiente da UTI. Avaliação da via aérea Via aérea difícil: fatores clínicos que complicam a ventilação por máscara ou intubação por médicos experientes e habilidosos. Ventilação difícil: inabilidade de um anestesista treinado em manter uma saturação de oxigênio > 90%, usando máscara facial com O2 a 100%. Intubação difícil: > 3 tentativas ou > 10 min. Avaliação da via aérea Pacientes estáveis conseguem tolerar 10 min de tentativa de intubação, sem sequelas. Pacientes críticos podem desenvolver efeitos adversos em um tempo mais curto na falta de ventilação ou intubação. 3% dos pacientes críticos falecem dentro de 30 min de intubação de emergência. As complicações ocorrem em até 78% dos pacientes que requerem intubação de emergência (intubação esofágica [818%] e aspiração [4-15%]). Avaliação de ventilação difícil Fatores anatômicos e funcionais podem interferir no uso da máscara facial para a ventilação. Anatômicos: Anormalidades da face,VA superiores e inferiores. Complacência toracoabdominal Obesidade: Tecido oral redundante Diminuição da complacência respiratória Cefalomegalia Avaliação de ventilação difícil Funcionais: Alteração do estado mental (perda do tônus daVA) Doenças críticas Medicações (sedativos, BNMs, opióides) Sedação inadequada, excesso de saliva, manipulação da orofaringe laringoespasmo obstrução daVA Avaliação de intubação difícil Sistema de Classificação Mallampati: Utilizado para avaliação de pacientes em pré-operatório Prediz dificuldade de intubação Avaliação de intubação difícil Outros fatores que predizem intubação difícil: Abertura oral < 3 cm Extensão cervical < 35º Grande comprimento incisivo Pescoço curto, grosso Pouca translação mandibular Palato estreito Distância tireomentoniana < 7 cm Farmacologia da VA avançada Estimulação da VA com laringoscópio e tubo endotraqueal descarga simpática hipertensão e taquicardia injúria no miocárdio e cerebrovascular em pacientes críticos Intubação Broncoespasmo e tosse agravo de condições como asma, HIC e HIO Pré-indutores: Opióides Lidocaína Antagonistas beta-adrenérgicos BNM não despolarizantes Drogas pré-indutoras Opióides : Fentanil Efeitos sedativos e analgésicos Rápido início de ação e curta duração Atenua a resposta hipertensiva à intubação Derivados (sufentanil e alfentanil) ↓ Taqui e Hipertensão. Doses altas e infusões rápidas rigidez de parede torácica Cautela: pacientes em choque grave! Dose: 2-3 mcg/kg Lidocaína ↓ a resposta hipertensiva, reatividade das VA, previne HIC e diminui a incidência de arritmias. Drogas pré-indutoras Esmolol Beta-bloq cardioseletivo Início rápido e curta duração Estudos mostram que é mais efetivo para ↓ taquicardia e hipertensão Indicações: sinergismo com fentanil; pacientes neurocirúrgicos com HIC Cautela: pacientes com risco de hipovolemia BNMND: Recomendado em pacientes com HIC ou HIO que irão receber succinilcolina na indução Agentes indutores Etomidato Hipnótico Rápida indução da inconsciência Não afeta a PA Efeito protetor no cérebro (reduz fluxo sanguíneo e consumo de oxigênio) Indicações: hipotensão, politraumatizado Efeitos adversos: Náuseas, vômitos, mioclonia e diminuição do limiar convulsivante, supressão adrenal. Agentes indutores Propofol Induz hipnose Efeitos anticonvulsivantes e antieméticos Reduz a PIC e o metabolismo cerebral Facilita a SRI Indicações: traumatismo craniano isolado ou estado de mal epiléptico, pacientes hemodinamicamente estáveis e com contra-indicação ao uso de succinilcolina ou BNMND Efeitos adversos: hipotensão Agentes indutores Quetamina Ação rápida - efeitos amnésicos, analgésicos e simpaticomiméticos Inibe seletivamente o córtex e tálamo e estimula o sistema límbico “fenômeno de emergência” - alucinações e sofrimento emocional extremo (evitados com benzodiazepínicos) Efeitos centrais simpaticomiméticos: isquemia cardíaca por aumento do DC e PA aumento do consumo de O2 pelo miocárdio Vasodilatador cerebral e broncodilatador Indicações: Asma e DPOC. Contra-indicações: SCA, HIC, HIO. Agentes indutores Tiopental sódico Rápido início de ação (30seg) e meia vida curta Uso limitado na RSI Efeitos: depressor do SNC Hipotensão secundária a inibição simpática, resultando em diminuição: da contração miocárdica, da resistência vascular periférica e do retorno venoso central Indicação: normotensos, normovolêmicos, estado epiléptico, controle da HIC Contra-indicação: pacientes com choque hipovolêmico ou distributivo Agentes indutores Escopolamina Anticolinérgico muscarínico de meia-vida curta Efeitos sedativos e amnésicos Não produz conseqüências hemodinâmicas Indicação: choque descompensado Efeitos adversos incluem reações psicóticas, taquicardia e dilatação papilar profunda Bloqueadores Neuromusculares - BNMs Facilitam a laringoscopia e intubação traqueal por causar relaxamento da musculatura esquelética 2 Classes: Despolarizantes: ativam receptores da Ac Não despolarizantes: inibem receptores da Ac Agentes despolarizantes: Succinilcolina Relaxante muscular mais administrado para RSI: início de ação rápido (30 a 60 s) e curta duração (5 a 15 min) Principais complicações: hipercalemia, alterações no ritmo cardíaco, hipertermia maligna Agentes despolarizantes: Succinilcolina Contra-indicações: História pessoal/familiar de hipertermia maligna Intubação ou ventilação com máscara difíceis Miopatia Neuropatia crônica/AVC Sepse > 7 dias Desnervação / lesão por esmagamento > 3 dias Glaucoma de ângulo estreito Queimaduras graves > 24h Lesões oculares penetrantes Hipercalemia Distúrbios da pseudocolinesterase plasmática Cuidado: DRC! Monitorização rigorosa da hipercalemia Dose na SRI: 1,5 mg/Kg Agentes não despolarizantes: Rocurônio Alternativa à succinilcolina na SRI Rápido início (1-2 min) e duração intermediária (45-70 min) Taxa de sucesso de intubação semelhante à succinilcolina Dose: 0,6-1,0 mg/kg Os efeitos podem ser revertidos com inibidores da acetilcolinesterase (neostigmina ou edrofônio) e doses vagolíticas de atropina Contra-indicação absoluta: aminoesteróides alergia a drogas neuromusculares Manejo da VA na UTI ASA (1993/2003): guideline para o manejo da VA difícil na sala de cirurgia Walls e col.: Abordagem padronizada para o manejo de VA na emergência SRI: técnica mais utilizada (98,5% de sucesso) Algoritmos para intubação modificados de Walls e col.: Universal airway Crash airway Difficult airway Failed airway SRI Maior sucesso e menos complicações Complicam a SRI: Acidose grave Depleção de vol. Intravascular Descompensação cardíaca Lesão pulmonar grave 6 P: Preparação Pré-oxigenação Pré-medicação Paralisação Passagem do tubo Cuidados Pós-intubação SRI Preparação Necessidade de intubação 5-10 min Avaliação da VA Preparação do material Pré-oxigenação: 100% O2 através de máscara por 5 min Pacientes alertas: 8 inspirações profundas Cria reserva pulmonar de O2 que limita a dessaturação durante o procedimento Pacientes que não alcançam adequada oxigenação:VPP SRI Pré-medicação: individualizada/circunstâncias clínicas Proporciona sedação, analgesia e atenuação da resposta fisiológica 2-3 min antes da laringoscopia Indutores (etomidato) e BNMs (succinilcolina): imediatamente após pré-oxigenação adequada e pré-indução Manobra de Sellick: prevenir aspiração e reduzir insuflação gástrica em paciente comVPP Passagem do tubo: Laringoscopia: visualização das cordas vocais Tubo traqueal, insuflar cuff SRI Pós-intubação: Confirmar intubação traqueal e oxigenação/ventilação adequadas Ausculta pulmonar e epigástrica Expansão torácica Detector de CO2 Verificar cuff Fixar tubo RX tórax Gasometria arterial Conclusão Manejo avançado de VA: habilidade obrigatória para médicos intensivistas. Adoção de abordagens algorítmicas e SRI: Melhores taxas de sucesso para a intubação de emergência em pacientes instáveis Redução das complicações relacionadas ao controle dasVA SRI: requer uma compreensão completa da fisiologia da intubação e das drogas utilizadas Introdução Controle da via aérea é prioridade Tubo endotraqueal: prover oxigênio, manter ventilação e reduzir risco de aspiração Fracasso em garantir uma VA adequada principal causa de morte evitável após o trauma EAST - Eastern Association for the Surgery of Trauma em 2002: indicações para intubação precoce (EI) Outras Indicações de intubação (DI) Objetivo: Avaliar a incidência e resultados da intubação precoce: EI x DI Materiais e métodos Análise retrospectiva: 1000 pacientes consecutivos Centro de Trauma nível I 20 out/2001 a 30 jun/2006 Intubação precoce: Intubação endotraqueal ou via aérea cirúrgica realizada por qualquer razão em qualquer local dentro do hospital nas primeiras 2h após a chegada. Decisão de intubação: cirurgião Materiais e métodos Intubações foram revistas quanto: Indicação primária Local do procedimento Nível/especialidade do médico Aderência ao protocolo de SRI Número de tentativas Exame de imagem pós-intubação Complicações Pacientes classificados de acordo com a indicação: EI ou DI Materiais e métodos EI: Obstrução de VA Hipoventilação ou hipoxemia Parada cardíaca Comprometimento cognitivo grave (GCS < 8) Choque hemorrágico grave DI: Trauma facial ou de pescoço (sem obstrução de VA) Alteração do estado mental (GCS > 8) Combatividade Desconforto respiratório Manejo pré-operatório Resultados 10.137 pacientes de trauma avaliados em 56 meses: 1.078 foram intubados (10,6%) 78 excluídos 55,6% por EI 44,4% por DI Resultados Pacientes intubados por EI apresentaram lesões mais graves que DI, definidas por um maior ISS (escore de gravidade do trauma) e menor Glasgow na admissão. Eles permaneceram mais tempo internados e tiveram maior taxa de mortalidade SRI foi utilizada em 96%. Sucesso da intubação foi menor quando foram realizadas por residentes Complicações: 116 pacientes 11,7%: EI 11,5%: DI Discussão 1º estudo a avaliar a prática de intubação contra as recomendações da EAST Taxa global de intubação: 10% 44% realizadas por DI Principais indicações: combatividade ou alteração do estado mental, não identificadas pela EAST Aumento do nº de intubações Implementação do protocolo de SRI pré-hospitalar EAST Guidelines: não trata adequadamente os pacientes que necessitam de controle da VA que são identificados total ou parcialmente pelas DI. Altas taxas de intubação bem-sucedida: Adesão ao protocolo SRI Conclusões Intubação precoce por EI ou DI é segura e eficaz. Adesão consistente ao protocolo de intubação pode ter mantido complicações a um mínimo. EAST Guidelines pode não identificar todos os pacientes que se beneficiariam de intubação precoce após o trauma. Limitações: Estudo retrospectivo; necessidade de resultados a longo prazo. Resultados podem não ser relevantes para outros centros.