A AÇÃO CLÍNICA E A PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL: Espaço psicológico: povoado por diversos sistemas de pensamento com pretensões epistemológicas de demarcação do “ psicológico” ; A unificação deste campo de saberes mostrou-se utópica! Matrizes do pensamento psicológico: comunicam as concepções de homem, de mundo e de objeto da psicologia que sustentam os diferentes projetos e sistemas psicológicos; Matrizes cientificistas, românticas e pós-românticas; Dilthey: distinção entre ciências históricas (método compreensivo-hermenêutico) e ciências naturais (método explicativo); Pode a prática psicológica escapar do domínio da técnica? • Considerações do filósofo Heidegger: a cultura moderna está dominada pela razão tecnológica e utilitária; o conhecimento científico-natural não é suficiente para compreender o serhomem. Os fenômenos psíquicos não podem ser explicados pelo princípio da causalidade, exigem outro modo de aproximação que atente para o que motiva o gesto: o homem é um ente que age, que tem experiências. Heidegger: desamparo e angústia são estruturas ontológicas do modo de ser do homem. Baseando-nos em Heidegger, temos uma ação clínica que transita entre a compreensão psicológica dos fenômenos clínicos e a ontologia existencial. Medard Boss (1903-1990): questionamentos sobre a psiquiatria; a formação filosófica com Heidegger permitiu uma reelaboração de sua atividade terapêutica. Karl Jaspers (1883-1969): realizou estudos no campo da psiquiatria a partir do método fenomenológico de Husserl – descrição dos estados psíquicos vividos pelo paciente. Ludwig Binswanger (1881-1966): elaborou a Análise Existencial baseada nas idéias de Heidegger; questionou a ligação da psiquiatria com as ciências naturais e compreendeu a “doença mental” como modificações da estrutura fundamental do ser-no-mundo, inclusive em suas dimensões espacial e temporal. O objetivo da Analítica Existencial proposta por Binswanger não era a cura nem a adaptação, mas propiciar ao cliente a autocompreensão e uma atitude de responsabilidade e preocupação com a própria existência. Seu objetivo era retirar a esquizofrenia da categoria psiquiátrica e compreendê-la como integrante da estrutura existencial ou do serno-mundo; Binswanger acrescentou à estrutura de ser-no-mundo (cuidado) a estrutura de ser-no-mundo-além-do-mundo (amor). Essa ampliação e a psiquiatria analítica foram criticadas por Heidegger. Os estudos de Binswanger seguiram a orientação de “ fenomenologia antropológica”. Boss se apoiou em Heidegger para compreender a condição humana (Dasein, ser-aí lançado no mundo, abertura na temporalidade); Utilizou da fenomenologia hermenêutica no campo da medicina (psicopatologia) e da psicologia. Boss criticou as teorias psicológicas vigentes que priorizavam a explicação dos fenômenos psicológicos e sugeriu uma abordagem comprometida com a autenticidade e originalidade de cada fenômeno humano; negou a separação sujeito-mundo; o existir humano é abertura iluminadora, ser-em-relação; desenvolveu reflexões sobre a angústia e a culpa; observou grande incidência de pessoas sofrendo de neurose do tédio ou vazio, relacionada a predominância da tecnologia e do utilitarismo; a angústia e a culpa são componentes da condição humana; o caminho da compreensão é a interrogação do fenômeno tal como se mostra sem explicações e esquemas causais a priori; a prática psicoterápica deve comprometer-se com a liberdade e a responsabilidade dos clientes/pacientes. Por uma outra concepção de clínica: Aberta ao inusitado; À revisitação da teoria psicológica e da concepção de subjetividade que sustentam a intervenção; Capaz de acolher a constituição originária do homem; Capaz de oportunizar o poder-ser e seus atravessamentos pela propriedade e impropriedade próprias da condição humana!