Doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) Um marcador de enfarte de miocárdio e AVC isquémico Sumário DAOP ( dça. art. obstrutiva perif.) – marcador de EAM e AVC(i) Epidemiologia Factores de risco Prevalência Aterotrombose – coexistência de DAOP ; DC e DVC História natural Índice tornozelo / braço como factor preditivo de risco isquémico Sintomatologia na DAOP Diagnóstico Terapêutica médica ( Anti-agregantes plaquetários ; Estatinas ; Vasodilatadores etc) Cirurgia convencional e endovascular Epidemiologia da DAOP– Efeito da idade e sexo Epidemiologia da DAOP varia de acordo com: População estudada Método de diagnóstico A incidência e a prevalência da claudicação intermitente aumentam com a idade Prevalência nos homens c/ 45–50 anos é de 1% Prevalência de 3.0 a 3.5 % nos > 50 anos % idêntica nas mulheres, aumentando com a idade Mais comum nos homens do que nas mulheres 2 X mais homens do que mulheres > 50 anos têm claudicação intermitente (3.5% e 2%, respectivamente) A predominância do sexo masculino desaparece após os 70 anos Weitz JI et al. Circulation 1996;94:3026–3049. * Rose questionnaire criteria Bull. Wld Hlth Org. 1962;27:645-658 Aterotrombose – doença sistémica Aterotrombose = formação de trombo sobre terreno aterosclerótico Atinge todos os territórios vasculares Doença Vascular Cerebral (DVC) : AVC(i) ; AIT; RIND Doença coronária (DC): Angina estável ou instável e enfarte Doença arterial obstrutiva periférica (DAOP): Claudicação intermitente ; dor em repouso, úlcera e necrose (isquemia crítica) Factores de risco para a DAOP DAOP Sexo Idade Tabaco Hipertensão Diabetes Aterosclerose Aterotrombose Hiperlipidémia Fibrinogenémia Homocisteinémia AVC (i) Risco genético Murabito JM et al. Circulation 1997;96:44–49; Laurila A et al. Arterioscler Throm Vasc Biol 1997;17:2910–2913; Malinow MR et al. Circulation 1989;79:1180–1188; Brigden ML. Postgrad Med 1997;101:249–262. EAM DAOP - Prevalência 6.3 milhões de indivíduos com DAOP sintomática são diagnosticados anualmente nos USA e na UE1 Estudos epidemiológicos apontam para uma prevalência real de aprox. 20 milhões (= 9.5% da população com > 50 anos) Em 613 homens e mulheres ( idade média de 66 anos), a prevalência real foi subestimada 2 a 7 vezes2 Índice t/b (índice de pressão tornozelo / braço ) correlaciona-se com a existência de doença demonstrada por angiografia3 ITB < 0.9 é marcador de aterotrombose difusa4 1 17 Western European countries. Statistical Supplement; WHO Yearbooks, Annual Statistics, 1997; Criqui MH et al. Vasc Med 1997;2:221–226; 3Shinozaki T et al. J Clin Epidemiol 1998;15:1263–1269; 4Kornitzer M et al. Angiology 1995;46:211–219. *Ind t / b < 0.9, sintomática ou não ; diagnosticada ou não 2 Aterotrombose – coexistência de sintomas de DAOP ; DC ; DVC 50 40 Homem Mulher Doenças cardiovasculares concomitantes ( EAM, CABG, AVC) 30 20 10 0 Sim Criqui MH et al. Vasc Med 1997;2:221–226. Não DAOP Sim Não 5 anos de história natural da DAOP 100 doentes com claudicação intermitente sem aconselhamento médico 100 doentes com DAOP assintomática Evolução “local” Agravamento em 25 doentes Revascularização cirúrgica em 10 doentes Amputação “major” em 2 doentes Dormandy JA. Hosp Update 1991;April:314–318. 100 doentes com diagnóstico de claudicação intermitente Evolução sistémica 10 a 20 EAM e AVC não fatais Mais 30 mortes • ICC 15 • Outras causas cardiovasc. 5 • Não cardiovasculares 10 DAOP mortalidade - sobrevida aos 10 anos (San Diego Artery Study) 1.00 Normais Sobrevida 0.75 Assintomáticos 0.50 Sintomáticos 0.25 Muito sintomáticos 0.00 0 2 4 6 8 Tempo ( Anos) Criqui MH et al. N Engl J Med 1992;326:381–386. 10 12 Mortalidade comparada aos 5 anos 100 86 90 80 Doentes (%) 70 60 50 40 30 20 15 18 28 38 10 0 1American Cancro da mama1 Doença de Hodgkin1 DAOP2 Cancro colo-rectal1 Cancro do Pulmão1 Cancer Society. Cancer Facts and Figures – 1997. RF, Bernhard VM. In: Vascular Surgery (Rutherford RB, ed). Philadelphia, PA: WB Saunders: 1989;chap 53. 2Kampozinski Claudicação intermitente – Um marcador de risco para mortalidade Sintoma paradigmático de DAOP No estudo de Whitehall ( 18.388 doentes), a mortalidade em indivíduos com claudicação intermitente é 2X superior aos normais de controle (17 anos de follow-up ) Mesmo ajustada para os factores de risco para doença coronária Isquemia miocárdica basal Pressão arterial sistólica Nível de colesterol plasmático Hábitos tabágicos Stress Grau de tolerância à glicose Smith GD et al. Circulation 1990;82:1925–1931. A importância do Índice Tornozelo-Braço (ITB) ITB baixo ( < 0.90) é um factor preditivo independente para mortalidade cardiovascular e coronária O risco de morte cardiovascular é tanto maior quanto menor for o seu valor ITB pode (deve) ser usado em programas de rastreio de risco A medição do ITB é de baixo custo, simples e não invasiva Kornitzer M et al. Angiology 1995;46:211–219. McKenna M et al. Atherosclerosis 1991;87:119–128. Dormandy JA et al. J Cardiovasc Surg 1989;30:50–57. ITB – relação inversa com risco cardiovascular e morte aos 5 anos Risco / ITB 2.5 10.2% amento do risco por cada 0.1 de diminuição no ITB (p = 0.041) 2.0 1.5 1.0 0.0 0.2 0.4 0.6 ITB Dormandy JA, Creager MA. Cerebrovasc Dis 1999;9(Suppl 1):1–128 (Abstr 4). 0.8 1.0 Sintomatologia da DAOP Claudicação intermitente Dor muscular na perna (Gémeos) e ou coxa ,relacionada com o exercício e alívio com o repouso Mortalidade por AVC e EAM 3X superior à verificada nos da mesma idade do grupo de controlo1 O prognóstico varia com a presença de múltiplos factores de risco e/ou gravidade da doença Isquemia Crítica Dor permanente em repouso( com ITB<0.40 – não diabéticos) evoluindo frequentemente para gangrena e amputação2 1Dormandy 2European JA et al. J Cardiovasc Surg 1989;30:50–57. Working Group on Critical Leg Ischemia. Circulation 1991;84(Suppl IV):IV1–IV26. Isquemia crónica dos membros inferiores CLASSIFICAÇÃO DE LERICHE-FONTAINE CONSENSO EUROPEU CLAUDICAÇÃO DOR EM REPOUSO GANGRENA Diagnóstico da DAOP -- Inspecção Cor: Palidez Rubor Cianose Temperatura Arrefecimento Alterações tróficas 1Dormandy 2European Queda de pelos Estriação das unhas Micoses cutâneas Úlceras Necrose JA et al. J Cardiovasc Surg 1989;30:50–57. Working Group on Critical Leg Ischemia. Circulation 1991;84(Suppl IV):IV1–IV26. Diagnóstico da DAOP – Exame objectivo Palpação de pulsos arteriais Constitui a etapa fundamental da observação Diagnóstico da DAOP – Palpação de pulsos Escala para traduzir a Amplitude dos Pulsos: +++ - Pulso muito amplo, facilmente detectável; bounding; ++ - Pulso palpável, fraco, mas não detectável com facilidade; + - Pulso dificilmente palpável, quase imperceptível; 0 - Ausência de Pulso; Diagnóstico da DAOP – Pontos de palpação Palpação da artéria pediosa Diagnóstico da DAOP – Pontos de palpação Palpação da artéria temporal superficial Diagnóstico da DAOP – Meios Auxiliares de Diagnóstico 1 - MÉTODOS INDIRECTOS Orientados para a avaliação funcional da repercussão hemodinâmica da doença arterial 2 - MÉTODOS DIRECTOS Possibilitam a visualização das estruturas arteriais e da doença ou o seu efeito sobre a corrente sanguínea Diagnóstico da DAOP – Índice de Pressão Doppler P.M.I. (Tornozelo) P.M.S. (Braço) ≥1 Quociente da Pressão Sistólica distal sobre a Pressão Braquial; Diagnóstico da DAOP Avaliação dos pulsos arteriais dos membros e auscultação de sopros nos trajectos arteriais Determinação do ITB Relação entre a pressão sistólica no tornozelo e no braço Teste de tolerância ao exercício Distância percorrida e intervalo livre de dor Gradiente no ITB após esforço ( claudicação) Weitz JI et al. Circulation 1996;94:3026–3049. Doppler Eco-Doppler Angiografia Terapêutica da DAOP Modificação do estilo de vida Abstenção tabágica Treino de exercício supervisionado Dieta Tratamento farmacológico Antiagregantes plaquetários Controlo dos factores de risco (e.g. hta; diabetes) Vasodilatadores Terapêutica da DAOP – Intervenção Endovascular Revascularização (angioplastia) Colocação de Stent Cirúrgica Endarteriectomia Bypass Amputação Os anti-agregantes plaquetários são a componente principal do tratamento E porquê? A agregação plaquetária, processo fundamental envolvido na aterotrombose, é inibido pelos antiagregantes plaquetários O risco de AVC(i) e EAM é muito superior ao de gangrena e amputação Droga Ticlopidina Clopidogrel Aspirina Modo de acção antagonista recept. ADP antagonista recept. ADP Inibe a síntese de TxA2 indicação na DAOP Sim (alguns países) Sim Não Estudo CAPRIE – Aterosclerose sintomática CAPRIE1 (n = 19.185) D.Cerebrovascular (DCV) 24.6% 3.8% D. Coronária ( DC) 7.3% 3.3% 29.9% 11.9% 19.2% D. Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP) 1CAPRIE Steering Committee. Lancet 1996;348:1329–1339. DAOP- EAM – AVC(i) e Morte Risco de Eventos Cardiovasculares aos 3 anos Estudo CAPRIE Coronários 6 5 4 Cerebrovasculare s 5.2 5.1 4.2 3.6 Clopidogrel 3 Aspirina 2 1 0 Doentes recrutados para o CAPRIE com DAOP Dormandy JA, Creager MA. Cerebrovasc Dis 1999;9(Suppl 1):1–128 (Abstr 4). Estudo CAPRIE 19 185 doentes com AVC(i) recente , EAM recente . ou DAOP diagnosticada Clopidogrel 75 mg o/d versus aspirina 325 mg od Follow-up de 1–3 anos (média 1.91 anos) “End point” primários : AVC(i) , EAM ou morte de causa vascular CAPRIE Steering Committee. Lancet 1996;348:1329–1339. % de Eventos / 1000 doentes / Ano CAPRIE – perfil de eficácia do clopidogrel 160 8.7% redução relativa de risco p = 0.043 120 % eventos CV / Ano 77 58 53 80 19 24 40 0 Placebo3 * 7.7% Aspirina1 5.8% Clopidogrel1 5.3% * Curva extrapolada 3 0 1CAPRIE 3 6 9 12 15 18 21 24 27 Tempo da randomização ( Meses) Steering Committee. Lancet 1996;348:1329–1339. Trialists' Collaboration. BMJ 1994;308:81–106. 3Fisher LD. J Am Coll Cardiol 1998;31(Suppl A):49A. 2Antiplatelet 30 33 36 Baseado no estudo APTC,2 numa população semelhante à do CAPRIE, por cada 1000 doentes tratados por ano a aspirina previne 19 eventos e o clopidogrel 241 CAPRIE – Perfil de segurança do clopidogrel 300 P < 0.05 Número de doentes 250 200 Clopidogrel 104 Aspirina 71 P < 0.05 150 P < 0.01 51 255 100 191 37 50 0 Hemorragia GI Hospitalização por Hemorragia GI Úlcera GI * A proporção de doentes com diarreia, rash e prurido foi superior no grupo Clopidogrel que no da Aspirina 1CAPRIE 3Lok Steering Committee. Lancet 1996;348:1329–1339; 2Bogousslavsky J. Cerebrovasc Dis 1998;8(Suppl 4):43; DJA. Eur Heart J 1998;19(Abstract Suppl):52. Conclusão – 1 A DAOP é um marcador de doença aterosclerótica coronária e cerebrovascular A DAOP está subestimada e subdiagnosticada A determinação do ITB é simples, não-invasiva e é preditivo do risco isquémico nos doentes com DAOP, devendo ser complementada com Eco-Doppler das artérias dos membros Os factores de risco carecem de correcção : Abstenção tabágica, exercício regular Antiagregantes e Estatinas são componentes essenciais do tratamento Conclusão – 2 O Clopidogrel é superior à aspirina na prevenção secundária dos doentes com Claudicação Intermitente. Reduz o risco de eventos major (AVC(i), EAM e Morte de causa vascular) Provoca menos que a aspirina hemorragia GI e é mais bem tolerado