ECONOMIA DA SAÚDE CURSO LIVRE OPTATIVO DE LICENCIATURA DE MEDICINA/CURSO DE MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA Pedro Telhado Pereira Conjunto de possibilidades de produção CPP • Conjunto de produção tecnologicamente realizáveis. Plano de produção • Um plano de produção Y é um elemento do CCP, de dimensão m+n, em que yi > 0 significa o plano produz yi unidades do bem i e yj < 0 significa o plano consome yj unidades do bem i. Axiomas • Axioma 1: O CPP é um conjunto não vazio e fechado. Bens Económicos • Axioma 2: (a tecnologia refere-se a bens económicos) y CPP, então y é limitado superiormente. Disposição livre • Axioma 3: (Livre disposição) Se y CPP e , zy então z CPP Convexidade • Axioma 4: (Convexidade) O CPP é um conjunto convexo. Eficiência tecnológica • y é tecnologicamente eficiente se não existir outro plano z >y e z CPP Produções tecnologicamente eficientes Lucro • O lucro é dado por pelo produto p y Maximização do lucro e eficiência tecnológica • Mostre que o plano que maximiza os lucros é tecnologicamente eficiente (prova por contradição). • Mostre que py 0 ? • O que se pode concluir sobre a procura de um factor quando o preço desse factor aumenta? Função de produção • Existe só um output. • É a fronteira superior do CPP. • Os factores aparecem agora com valores positivos. produção Y C B y(L) A Painel (a) trabalho L(K) produtividade Y/L dY/dL y/L dy/dL Painel (b) L(K) trabalho Função de produção geral com o factor trabalho variável Determinação gráfica da produtividade média e marginal Propriedades: • 1) f(x) > 0 se x > 0 • 2) f(x) real, contínua, crescente com limite superior. • 3) f(x) é côncava (talvez exista uma parte convexa para pequenas quantidades de factor). Produção de cuidados médicos • Noção de eficiência – Exemplo simplificado: Empresa produz um único produto (cuidados de saúde – doentes internados) Utiliza factores produtivos (médicos, enfermeiros, camas, aparelhos, quartos,…). Para fazer uma análise gráfica vamos só considerar dois factores produtivos – médicos e enfermeiros. Quanto é necessário de factores produtivos para produzir um certo montante do produto? A quantidade necessária de factores depende da tecnologia • Suponha que para cada 20 doentes internados precisamos de pelo menos 1 médico e 4 enfermeiros. • Represente num gráfico no espaço enfermeiros/médicos o conjunto que possibilita a “produção” de 100 doentes internados. Gráfico M é d i c o s Conjunto de possibilidades de produção 5 20 Enfermeiros Eficiência tecnológica • Uma combinação produtiva é eficiente tecnologicamente quando não existe outra que permita produzir o mesmo com menor utilização de factores. • Qual a combinação produtiva tecnologicamente eficiente no gráfico anterior? Gráfico onde existe a possibilidade de substituição entre factores M é d i c o s Conjunto de possibilidades de produção 5 20 Enfermeiros Quais as combinações produtivas tecnologicamente eficientes? • Em Economia normalmente relacionamos as combinações produtivas tecnologicamente eficientes com a produção através de uma função de produção • Q = Q (Enfermeiros, Médicos) • Por exemplo: • Q =5* E*M Mas qual a combinação produtiva que leva a um custo mínimo de produzir os 100 doentes internados • Suponha que um médico ganha € 4000 (wm) e um enfermeiro ganha € 1000 (we) por mês. • Qual a combinação e o custo no caso do 1º gráfico? Custo • C = wm x M + we x E – No caso presente C = 3000 x M + 1000 x E • Para um dado Custo qual a relação entre M e E M = C – (we/wm) x E uma recta de inclinação negativa Colocando uma dessas rectas no segundo gráfico M é d i c o s Conjunto de possibilidades de produção Diminuição dos custos 5 isocusto isoquanta 20 Enfermeiros Qual a combinação produtiva tecnicamente eficiente? M é d i c o s Conjunto de possibilidades de produção 5 Mo isocusto isoquanta Eo 20 Enfermeiros Calcule os valores (Eo,Mo) que minizam o custo e verifique quanto é que se poupou em relação à solução (20,5). • Com as combinações produtivas tecnicamente eficientes, podemos construir uma relação entre a quantidade produzida e o custo mínimo – função custo • C = C(Y) Qual a produção óptima? • Relembre a primeira aula e a análise custo-benefício – Benefício marginal – é o preço no mercado de concorrência perfeita – Custo marginal – variação do custo A produção óptima é aquela para a qual o custo marginal é igual ao preço. Substituição entre factores produtivos • Elasticidade de substituição %( x / y ) %(wx / wy ) • Estudo para o Estados Unidos (Jensen e Morrisey, 1986) mostram que existem uma elasticidade de substituição de 0,547 entre médicos e enfermeiros nos hospitais sem ensino e de 2,127 entre enfermeiros e internos nos hospitais com ensino. • Comente estes resultados. Gouveia e Pereira (1997) • No estudo “Estratégias de reforma do Estado Providência – Saúde e Pensões de Reforma” mostram que os custos de trabalho no sector de saúde eram cerca de 10% superiores ao nível eficiente em meados da década de 1990. Informação imperfeita (PPBarros – cap. 7) • Assimetrias de informação – Modelo de Akerlof(1970) – Mercado de automóveis usados – O vendedor sabe se o carro é bom ou mau – O comprador só sabe que existe uma percentagem t de carros bons e (1-p) de carros maus – O comprador está disposta a pagar o preço pb mais elevado por um carro bom do que pm por um carro mau – O vendedor venderia o carro bom ao preço pb – Como o comprador não sabe se o carro que vai comprar é bom ou mau então o preço oferecido é p= t x pb + (1-t) x pm – A este preço os vendedores de carros bons não os querem vender e acaba por só haver carros maus no mercado. – Faça uma analogia com os seguros privados de saúde Como ultrapassar este problema • Tornando o seguro obrigatório • Seguro público Outros exemplos de informação imperfeita • Na relação médico-paciente: o médico tem mais informação sobre o estado de saúde do paciente do que o paciente e das necessidades deste. • Na relação hospital-financiador: o hospital tem melhor conhecimento sobre os seus custos do que a entidade financiadora Relação de agência (PPBarros, cap. 8) • Delegação das decisões por parte de um agente num outro agente económico que possui mais informação – O paciente delega a decisão no médico – Mas o que acontece se os interesses do doente e do médico não coincidirem? Exemplo: • A evolução do estado de saúde do paciente depende do esforço do médico e de variáveis aleatórias. • O esforço traz “desutilidade para o médico” • Se o médico tiver um pagamento fixo então fará o menor esforço • Se tiver um pagamento conforme os resultados então fará maior esforço, mas fica sujeito ao risco. Cuyler (1989) apresentou a seguinte proposta: • “O médico é um agente perfeito se realizar a mesma escolha que o doente teria seleccionado se tivesse toda a informação que o médico dispõe à sua disposição” JURAMENTO DE HIPÓCRATES • • " Eu • Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem • • • • • juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinarlhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes. remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução sobretudo longe dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados. Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça." Hospitais – PPBarros, cap. 14 • O que é um hospital? – Presta cuidados de saúde – “instituição onde as pessoas doentes recebem tratamento” • Mas nem todas as instituições onde as pessoas doentes recebem tratamento são hospitais – O hospital presta serviço de saúde com internamento. – Tem tratamento curativo, normalmente de casos agudos – Pode ter outros serviços, por exemplo, ensino. Em Portugal Camas Ocupação Hospitais Centrais 32% 82% Hospitais Distritais 39% 73% Saúde Mental 14% 58% Hospitais Especializados 9% 64% Centro de Cuidados Primários 6% 63% 1ª pergunta: quem decide dentro de um hospital? • Os médicos? • A administração? • O “dono” do hospital? A escolha entre qualidade e quantidade • Será que os hospitais privados prestam um serviço oferecem um serviço com menor qualidade? • Caso em que o administrador tem o poder de controle – U(N,Q) No caso “público” – o orçamento é fixo C=C(N,Q) custo Aumento de N • Benefício U N • Custo C N U C Q Q No equilíbrio U U Q N C C Q N R=C(Q,N) No caso “privado” – R=P(N,Q)xN C=C(N,Q) custo Aumento de N • Benefício U N • Custo P C ( N P) N N U P C ( N ) Q Q Q No equilíbrio U Q ( P C N ) Q Q U N ( P C N P) N N P( N , Q) xN C ( N , Q) Comparação das soluções • A solução privada terá mais qualidade se a procura for muito sensível à qualidade, ou seja se o preço que os doentes estão dispostos a pagar crescer muito com a qualidade do serviço prestado. Caso português • Constrangimentos importantes (Delgado, 1999) – Modelo de financiamento inadequado – pagamento da despesa, sem relação com os resultados produzidos. – Ausência de mecanismos de concorrência – a distribuição dos recursos depende mais dos interesses da oferta do que da livre escolha dos consumidores. – Modelo burocrático de gestão – Acumulação do exercício hospitalar público com a actividade privada – desvio da procura – O peso do serviço de urgência • Transformação dos hospitais em SA – Tribunal de Contas 2006 – Aumento de eficiência nos hospitais SA que não foi acompanhada pelos “públicos” – Aumento da qualidade (medida pelos indicadores do risco de mortalidade) nos SA – Equidade – não apresenta uma variação significativa ente SA e “públicos” Cuidados de Saúde Primários – PPBarros, Cap.15 • Tem por base os clínicos gerais (medicina geral e familiar) – Tratam casos que não exijam elevada tecnologia – Desenvolvem e promovem actividades de prevenção – Referenciar os doentes para outros níveis de cuidados – Relação de longo prazo Problemas de incentivos na referenciação • O centro de saúde tem interesse em enviar os doentes para o hospital, pois gasta menos recursos • O hospital tem interesse em receber os doentes com casos simples, pois aumentam os seus níveis de produtividade • Resolução – integração funcional entre o Centro de Saúde e o Hospital. Análise Custo-Benefício – PPBarros, cap. 21 • Na primeira sessão falámos da análise custobenefício e temos utilizado para as decisões individuais. Vamos agora utilizá-la para as decisões colectivas – avaliação económica das tecnologias ou avaliação económica dos programas de intervenção. • Vamos comparar os benefícios de uma dada decisão com os seus custos. Custos e Benefícios • Os custos não são fáceis de determinar – Custos médicos directos – custos dos prestadores dos serviços de saúde, das análises,… – Custos não médicos directos – transporte, comida especial,… – Custos não médicos indirectos – tempo gasto e o seu valor • Benefícios sociais – Melhor saúde – Mais utilidade – Vida mais longa Valor actual Bt Ct VA t t 1 (1 r ) T VA > 0 deve avançar com a medida proposta. Métodos para avaliar os benefícios • QALY – quality adjusted life years – 0 (zero) – valor da morte – 1 (um) – valor da perfeita saúde – Aumento de utilidade pela melhor saúde vezes o número de anos em que se verifica. • HYE – healthy years equivalent • Este métodos são equivalentes Health Impact Assessment and Health in All Policies - John Kemm in Health in All Policies - Prospects and potentials, edited by Timo Ståhl et al., 2006 • Health impact assessment aspires to describe all health impacts. For example, an HIA might include death, admissions to hospital, loss of sleep, anxiety and selfesteem among the outcomes predicted. However, HIA does not attempt to make value judgements about the relative importance of these different outcomes, since such judgements are properly the preserve of the policymaker. • In avoiding any attempt to combine the different outcomes into a single measure HIA differs from comprehensive risk assessment1 and cost–benefit analysis. The economic consequences of using HIA • Policy-making requires the trade-off of multiple policy outcomes. The policymaker will seek to obtain an optimal mix of economic, social, health and environmental outcomes. The policymaker may well decide that a lesser economic benefit is justified by a greater health or social benefit, thereby choosing to invest in health. HIA is beneficial for health • Health impact assessment has the potential to benefit health in three ways. • First, it describes the consequences of the various policy options and so allows the policymaker to choose that which is most favourable to health. • Second, it includes recommendations as to how positive impacts can be maximized and negative ones avoided or minimized. • Third, it may inform and shape the policy-making environment and so influence future policies. European Policy Health Impact Assessment The main determinants of health • “Some individuals and groups of people experience systematically better, or worse, health than others. This is referred to as health inequalities and reflects the differential exposure across the life span to risks associated with their socio-economic circumstances. The differential exposures can also help to explain health inequalities that exist by ethnicity and gender.” • “EPHIA can make a significant contribution to reducing health inequalities by informing policymakers about the potential impacts of a proposed policy on different population groups.” Caso português – PPBarros, cap. 20 • Simões et al. (2008) concluem que as maiores necessidades de saúde das classes de rendimento mais baixo não se reflectem de igual modo na utilização, pois se estas classes utilizam mais as consultas de clínica geral, esse diferencial não é suficiente para compensar o acréscimo de necessidades de saúde – resulta iniquidade contra quem tem menores rendimentos. • Esta iniquidade ainda é maior no caso das consultas de medicina dentária.