Inquérito Violência de Género Estudo realizado em Portugal Continental por SociNova/CesNova Apresentação de resultados Lisboa, 2008 Objectivos do estudo 1. Conhecer a prevalência da violência exercida contra homens e mulheres, com 18 ou mais anos - formas e tipos, locais onde ocorre, reacção das vítimas, autores e dinâmicas socioculturais. 2. Para as mulheres, analisar a evolução nos últimos 12 anos, comparando os resultados dos estudos de 1995 e de 2007. 3. Comparar a violência praticada contra mulheres e homens estudo pioneiro em Portugal e um dos primeiros da Europa. 4. Produzir dados que possam ser objecto de comparações internacionais - conforme recomendações do Conselho da Europa. 5. Produzir indicadores para a avaliação do impacto das políticas adoptadas desde a década de noventa, tanto na protecção das vítimas como da repressão dos agressores – legislação, forças policiais, casas-abrigo, formação de técnicos, planos nacionais. Metodologia • Amostra de 2000 pessoas, estatisticamente significativa para mulheres e homens com 18 ou mais anos - margem de erro inferior a 5% e um nível de confiança de 95%, segundo critérios que permitam a comparação com o estudo de 1995 em relação às mulheres. • A amostra abrange todos os distritos do Continente e tem uma estratificação por dimensão do local e escalão etário das pessoas a inquirir. • Questionários semelhantes para mulheres e homens. • Em cada questionário são abrangidos 62 actos, relativos à violência física, psicológica, sexual e discriminação social, bem como perguntas sobre a percepção de actos considerados como sendo violentos. • O trabalho de campo decorreu no ano de 2007 e foi assegurado por dois grupos de inquiridores - mulheres e homens, conforme a amostra a inquirir -, especificamente formados para aplicar os questionários. Equipa de investigação (SociNova/CesNova) Investigação: • - Manuel Lisboa (coordenação geral, científica e investigação) • - Nelson Lourenço (apoio científico e consultoria) • - Zélia Barroso • - Alexandra Leandro • - Joana Patrício • - Ricardo Santana Consultores: • - Cláudia Garcia Moreno • - António Nóvoa • - Luísa Branco Vicente • - Miguel Vale de Almeida • - Isabel do Carmo • - Pedro Pita Barros • - Rita Garnel • - Conceição Brito Lopes • - Fátima Miguens • - Paula Monteiro Resultados Violência contra as mulheres Violência contra os homens Conclusões Violência contra as mulheres Situação actual e comparação com 1995 • • • • • • Prevalência Tipos e formas de violência Local Reacção das vítimas Causas da violência (percepção das vítimas) Autores da violência Prevalências, 1995 e 2007 Prevalência da vitimação física, psicológica e sexual no último ano ou em anos anteriores estudo de 2007 38,1% Prevalência da vitimação física, psicológica e sexual em 1995 e 2007 1995 48% vítimas não vítimas 61,9% 2007 0% 38,1% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Prevalência em relação ao total das vítimas 2007 Vitimação por tipo de violência sexual 19,1% psicológica 53,9% física 0% 22,6% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Vitimação, acto a acto 2007 Violência psicológica ameaças com armas de fogo/brancas partir objectos para atemorizar comentários negativos para humilhar e afectar a auto-estima ameaças do tipo mato-te controlar a vida social com o objectivo de isolar comportamentos e insultos com o objectivo de humilhar gritos e ameaças para atemorizar 0 20 40 60 80 100 120 140 Vitimação, acto a acto 2007 Violência física socos no peito empurrões pela escada abaixo e contra objectos atirar com objectos para magoar dar sovas bofetadas/murros /pontapés/arranhões /beliscões/mordidelas 0 20 40 60 80 100 Vitimação, acto a acto 2007 Violência sexual tentativa de acto sexual forçado sob ameaça exibição de órgãos sexuais mensagens escritas/telefónicas com o objectivo de assediar tentativa de contacto físico com conotação sexual obscenidades com o objectivo de assediar 0 10 20 30 40 Prevalências, 1995 e 2007 (último ano e actos contemplados simultaneamente nos dois inquéritos) Vitimação por tipo de violência 80% 62,3% 65,7% 1995 60% 37,4% 40% 27,5% 20% 6,8% 8,8% 0% física psicológica sexual 2007 Prevalências, 1995 e 2007 Vitimação em relação ao total de vítimas no último ano (violência física, psicológica e sexual, praticada em casa ou por familiares, de actos contemplados simultaneamente em 1995 e 2007) 1995 55,0% 2007 55,2% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% Vitimação e características socioculturais • Não há um perfil sociocultural da vítima » A vitimação é transversal a todos os estratos socais • O mesmo se passa em relação à idade » A vitimação é transversal a todos os escalões etários 80% sovas 98% arremesso de objectos 100% agressões físicas(bofetadas, torcer o braço, arranhões, pontapés…) controlo social com objectivo de isolar 60% ameaças com armas de fogo/brancas gritos/ ameaças Local, 2007 (actos mais frequentes) Percentagem das ocorrências no espaço da casa 100% 79% 72,5% 60,5% 58,0% 40% 20% 0% Reacção das vítimas • Em 1995 e 2007, a reacção mais frequente das vítimas é “ir calando e não fazer nada”. • Todavia, há um aumento significativo da percentagem de vítimas que participam às forças policiais: estamos já longe de 1% que o fazia em 1995. Quanto mais graves são os actos, maior é a probabilidade de participação à Polícia. Os valores podem variam entre os 21%, nos casos de ameaças com armas de fogo/brancas (valores que em relação ao passado não superavam os 12-13%) e os 2%, no caso do “controlo social com o objectivo de isolar a vítima”. • É ainda de assinalar o papel das redes sociais no apoio quotidiano, dos estabelecimentos de saúde, sobretudo nas agressões físicas de maior gravidade, e o aumento dos divórcios. Reacção das vítimas Controlo social para isolar(%) Várias 16 Outra 2 Divorcia-se 7 Separa-se 2 Contacta Polícia 2 Reage com insultos 16 Desabafa Gritos e ameaças (%) 14 Não faz nada 42 Várias 0 5 10 15 20 25 30 35 40 12 45 Outra 3 Divorcia-se 4 Separa-se 1 Contacta Polícia 6 Contacta estabelecimento de saúde 1 Reage violentamente 2 Reage com insultos 12 Desabafa 17 Não faz nada 42 0 10 20 30 40 50 Reacção das vítimas Agressões físicas (bofetadas, torcer o braço, arranhões, pontapés) (%) Várias 18 Divorcia-se 5 Separa-se 1 Contacta outras entidades 3 Contacta Polícia 14 4 Contacta estabelecimento de saúde Reage violentamente 5 Reage com insultos 5 Sovas (%) 7 Desabafa Várias Não faz nada 9 37 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Divorcia-se 2 Contacta outras entidades 2 Contacta Polícia 13 Contacta estabelecimento de saúde 7 Desabafa 28 Não faz nada 39 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Reacção das vítimas Am eaça de m orte (%) Várias 15 Divorcia-se 4 Contacta Polícia 9 Reage com insultos 15 Desabafa 20 Não faz nada 37 Am eaça com arm a de fogo/branca (%) 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Divorcia-se 7 Separa-se 3 Contacta Polícia Apesar de uma percentagem elevada das vítimas participar à Polícia, 38% ainda “não faz nada”; algumas destas estão em situação de risco 21 Reage violentamente 3 Reage com insultos 3 Desabafa 24 Não faz nada 38 0 5 10 15 20 25 30 35 40 Percepção das causas da violência (vítimas) • “ciúme” e “sentimento de posse” • “mentalidade dos homens em relação às mulheres”, “diferenças de valores, “formação moral” • “consumo de álcool (valor mais elevado se a ameaça é feita com arma de fogo/branca) >> RISCO e PREVENÇÃO Autores Autores da violência física, psicológica e sexual estudo de 2007 26,3% homens mulheres 74,7% Relações de parentesco vítima-agressor • Predominam maridos/companheiros(as) (ou ex), namorados (as). • As excepções dizem respeito aos actos de violência sexual e à discriminação social, particularmente no local de trabalho. Autores da violência exercida contra as mulheres Autores por tipo de acto - estudo de 2007 98,1% 100% 85,7% 80% 70,9% 60% homens 40% 20% 29,1% mulheres 14,3% 1,9% 0% física psicológica sexual Violência contra os homens Comparação com as mulheres 2007 • • • • • • Prevalência Tipos e formas de violência Local Reacção das vítimas Causas da violência (percepção das vítimas) Autores da violência Vitimação dos homens (último ano e anos anteriores) Prevalência da vitim ação dos hom ens com 18 ou m ais anos (física, psicológica e sexual) (2007) 42,5% Não vítimas 57,5% Vítimas Valores semelhantes aos encontrados em estudos de âmbito nacional, nomeadamente na Irlanda e Alemanha. Vitimação de homens e mulheres (praticados no último ano) Actos criminalizáveis como violência doméstica estudo de 2007 mulheres 6,4% homens 2,3% 0% 2% 4% 6% 8% Vitimação de homens e mulheres, por tipos de violência (2007) 80% 60,8% 60% 52,5% 53,9% 41,7% homens 40% 22,6% 19,1% 20% 18,7% 6,0% discriminação sociocultural sexual psicológica física 0% mulheres Local de ocorrência, homens mulheres • Nos homens, os locais mais frequentes são: – locais públicos – rua – local de trabalho • Nas mulheres, o local mais frequente é: – casa Reacção das vítimas, homens e mulheres • Nos homens, as reacções mais frequentes são: – reagir violentamente – contactar as forças policiais Os homens recorrem mais à Polícia do que as mulheres. Nos “gritos e ameaças”, ou nas “ameaças com armas de fogo/brancas”, a probabilidade dos homens recorrerem à Polícia é cinco vezes maior do que nas mulheres. A reacção “não fazer nada” corresponde sobretudo a actos de violência de pais para filhos, ou a alguma violência psicológica e sexual. • Nas mulheres, a reacção mais frequente é: – Não fazer nada e ir calando Percepção das causas da violência, homens e mulheres vítimas • Nos homens, as principais causas apontadas são: – consumo de álcool – mal-entendidos – diferenças de valores (menor grau) • Nas mulheres, as principais causas apontadas são: – sentimento de posse – ciúme – mentalidade dos homens em relação às mulheres – consumo de álcool (menor grau) Autores da violência, homens e mulheres Autores da violência física, psicológica e sexual contra as mulheres - estudo de 2007 Autores da violência física, psicológica e sexual contra os homens - estudo de 2007 22,2% 26,3% homens mulheres mulheres 77,8% homens 74,7% Autores da violência exercida contra os homens Por tipo de violência - estudo de 2007 100% 95,8% 78,2% 80% 60% homens 40% 21,8% 20% mulheres 4,2% 0% física psicológica Na violência sexual, a prevalência da vitimação é muito baixa, o que dificulta os cálculos, no entanto há mais mulheres autoras. Os actos que prevalecem são os de assédio e, nas nossas sociedades, estes são normalmente percepcionados pelos homens como um reforço da sua masculinidade e não como uma agressão. Relação de parentesco vítima-autor, homens e mulheres • Na vitimação dos homens, os autores são sobretudo: – desconhecidos – colegas de trabalho As únicas situações em que os autores fazem parte do universo familiar, dizem respeito a homens vítimas de “pressões no sentido de serem mais ambiciosos” e de agressões físicas através de “sovas”, em que os autores são sobretudo os pais. • Na vitimação das mulheres, os autores são sobretudo: – marido/companheiro/namorado (ou ex) CONCLUSÕES Comparação da vitimação homens-mulheres • A prevalência da violência exercida contra os homens e as mulheres inscreve-se dentro dos padrões internacionais. • A violência exercida contra os homens é de natureza diferente da praticada em relação às mulheres. • Na vitimação das mulheres há uma configuração de desigualdade de género, em que os homens são os principais autores. • A vitimação dos homens inscreve-se na vitimação geral, praticada ao longo das várias etapas de vida. A haver uma componente de género, é no sentido do reforço dos estereótipos masculinos. Nas sociedades modernas, os homens ainda têm uma actividade social mais intensa, estando por isso mais expostos a interacções e a uma conflitualidade social eventualmente portadoras de violência. Vitimação das mulheres (1995 e 2007) • Melhoria global na prevalência da violência, entre 1995 e 2007. • Melhorias significativas, quanto ao recurso das vítimas à participação policial, aos serviços de saúde e às redes sociais de apoio, ou das que optam pelo divórcio. • Todavia, apesar das melhorias, mantêm-se factores estruturais que dificultam a mudança sustentada. Uma parte significativa da violência continua oculta, na esfera da vida privada, mesmo em relação a actos de maior gravidade e hoje já puníveis por lei; as principais causas apontadas decorrem de factores estruturais, de desigualdade de género, associados a valores e mentalidades, de mudança lenta. • Continuam a ser visíveis situações de risco que requerem medidas especiais, havendo mesmo um aumento em alguns actos de maior gravidade. Vitimação das mulheres (1995 e 2007) • Os resultados do inquérito de 1995 constituíram um instrumento importante no apoio à intervenção, ao nível da adopção de medidas conjunturais, e que eram absolutamente necessárias. • Passados 12 anos, o estudo actual mostra claramente que tais medidas foram importantes e devem continuar. Mas é preciso passar para uma nova fase. Intervir mais activamente nos factores estruturais que estão historicamente enraizados na mentalidade e condutas de homens e mulheres, de todas as idades, e que se prendem com a desigualdade de género, onde, manifestamente, a balança tem sido desfavorável ao género feminino. • Torna-se necessário articular medidas de efeito a curto prazo, com uma intervenção a médio e longo prazo, agindo ao nível da Prevenção, mudando mentalidades e condutas, a começar pelos mais jovens, rapazes e raparigas. A Escola pode desempenhar um papel fundamental, como recentemente foi reconhecido nas Recomendações do Conselho da Europa. • A importância de continuar a estudar o fenómeno, monitorizando a evolução nas suas diferentes formas, para o combater de uma forma sustentada e mais eficientemente.