4. A segunda fase do Modernismo (1930-1945) AMARAL, Tarsila do. Operários. 1933. Óleo sobre tela, 150x230 cm. 4. A segunda fase do Modernismo (1930-1945): Momento histórico 1929: A diminuição do consumo de café no mercado mundial, provocada pela crise desencadeada pela quebra da bolsa, fez despencar o preço do café brasileiro no mercado internacional. 1937: estava decretado o Estado Novo. Vargas passou a exercer o poder de modo autoritário e centralizador. 1939: início da Segunda Guerra Mundial. Ela nos obrigou a enfrentar a barbárie humana e a reconhecer que o preconceito e o desejo desmedido de poder podem levar à perda de milhões de vidas. 4. A segunda fase do Modernismo (1930-1945): Momento histórico 1945: lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Foi a última fronteira da ética derrubada pela ciência: o ser humano havia descoberto uma forma eficiênte de exterminar a própria raça. Estava criado o contexto para que a arte assumisse uma perspectiva mais intimista e procurasse as respostas para as muitas dúvidas existenciais desencadeadas por todo esse cenário de horror e destruição. 4. A segunda fase do Modernismo (1930-1945): Poesia: misticismo e consciência social Em 1930, a vitória da primeira geração modernista na luta travada contra a cultura acadêmica já estava consolidada. Muitas de suas propostas, comoo verso livre, a afirmação de uma língua brasileira, a priorização da paisagem nacional e a abordagem de temas ligados ao cotidiano, estavam definitivamente consolidadas em nossa literatura. Enquanto a primeira geração modernista experimentou uma grande variedade de temas e técnicas, a segunda geração é caracterizada por uma produção com forte dimensão social. Assim, o contexto sociopolítico define um foco para a poesia desse momento 4. A segunda fase do Modernismo (1930-1945): Poesia: misticismo e consciência social Poesia de questionamento da existência humana. Inquietações sociais, religiosas, filosóficas e amorosas Amadurecimento das conquistas da primeira geração: versos livres e brancos convivem com outros rimados e de métrica fixa. Os poetas submetem à linguagem às suas necessidades, valendo-se de todos os recursos (formais ou não) à sua disposição. Estrutura sintática dos versos é mais elaborada: questionar a realidade exige uma elaboração sintática de complexidade equivalente. 4. A segunda fase do Modernismo (1930-1945): Poesia: misticismo e consciência social Mãos Dadas Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considere a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história. não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela. não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente. Carlos Drummond de Andrade 4.1. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) Considerado o maior poeta brasileiro do século XX Se considerarmos sua carreira poética, podemos perceber que certas temáticas afloram de sua poesia, tais como o fazer poético, a função social do poeta, a dificuldade de compreender os sentimentos, a importância da família e da reflexão. 4.1.1 Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): família e origens: a viagem na memória O tema da família se confunde com o das origens, representadas na poesia de Drummond pelas inúmeras referências à infância, à Itabira e às Minas Gerais. A recordação do passado permite que ele seja reavaliado e que sua importância seja reconhecida no presente. 4.1.2 Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): “ o tempo é a minha matéria presente” Em inúmeros poemas, Drummond aborda a função social do poeta: denunciar a opressão e lutar para a construção de um mundo novo. O presente se torna o grande tema dessa fase A fase social da poesia de Drummond também se manifesta sob a forma de denúncia da alienação da elite. 4.1.3. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): o exercício incansável da reflexão Em sua poesia reflexiva, Drummond define-se por perseguir algumas questões fundamentais para o poeta: que “coisa” é o ser humano? O que significa fazer parte da humanidade? Como combater as injustiças do presente? 4.1.4. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): o fazer poético: ação e transformação O que se observa é que Drummond, mesmo nos textos em que declaradamente trata da criação poética, continua a desenvolver um tema maior: a poesia em busca de si mesma. Essa busca assume duas faces: a “material” (do verso, da escolha das palavras, da rima) e a do conteúdo, que a vincula aos outros eixos temáticos da obra do poeta. 4.1.5. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): A “concha vazia” do amor A obra de Drummond também aborda a necessidade de compreender o sentimento, que se manifesta tanto no nível pessoal quanto no social (o “estar no mundo”). Mais do que registrar emoções, o poeta de Itabira quer compreendê-los, e isso só é possível por meio da análise 4.2. Cecília Meireles (1901-1964): a vida efêmera e transitória Sua poesia, de modo geral, filia- se às tradições da lírica lusobrasileira. Além disso, as obras da poetisa evidenciam uma certa tendência neossimbolista. Do ponto de vista formal, a escritora foi uma das mais habilidosas em nossa poesia moderna, sendo cuidadosa sua seleção vocabular e forte a inclinação para a musicalidade, para o verso curto e para os paralelismos, a exemplo da poesia medieval portuguesa. 4.2.1. Cecília Meireles (1901-1964): o neossimbolismo A frequente presença de elementos como o vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço, a solidão e a música dá à poesia de Cecília Meireles um caráter fluido e etéreo, que confirma a inclinação neossimbolista da autora. O espiritualismo, a musicalidade e o orientalismo, tão prezados pelos simbolistas, também se fazem presentes na obra da poetisa. 4.2.1. Cecília Meireles (1901-1964): o neossimbolismo Raramente a poesia de Cecília Meireles foge à orientação intimista. Um desses momentos é representado por Romanceiro da Inconfidência (1953), que, pelo viés da História, abre importante espaço em sua obra para a reflexão sobre questões de natureza política e social, tais como a liberdade,a justiça, a miséria, a ganância, a traição, o idealismo. O Romanceiro da Inconfidência é uma “narrativa rimada”, segundo a autora, que reconstrói, fundindo história e lenda, os acontecimentos da Vila Rica à época da Inconfidência Mineira (1789) 4.2.2. Cecília Meireles (1901-1964): a efemeridade do tempo Cecília Meireles cultivou uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, que aborda, entre outros, temas como a transitoriedade da vida, o tempo, o amor, o infinito, a natureza, a criação artística. Mas não se deve entender sua atitude reflexiva como uma postura intelectual, racional. Cecília foi antes de tudo uma escritora intuitiva, que sempre procurou questionar e compreender o mundo a partir de suas próprias experiências. Desses temas, os que mais se destacam são a fugacidade do tempo e a efemeridade das coisas. Tal preocupação filosófica dialoga com a tradição, especialmente com o Barroco. 4.2.2. Cecília Meireles (1901-1964): a efemeridade do tempo Ela mesma revelou os objetivos que buscava alcançar por meio da poesia: “Acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhe a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação – mas por uma contemplação poética afetuosa e participante.” 5. A segunda fase do Modernismo (1930-1945): Prosa PORTINARI, Cândido. Criança Morta. 1944.Óleo s/ tela, 176 x 190 cm. 5. A segunda fase do Modernismo (1930-1945): Prosa O projeto literário do romance da geração de 1930 foi claro: revelar como uma determinada realidade socioeconômica, no caso, o subdesenvolvimento brasileiro, influenciava a vida dos seres humanos. Para tratar das questões sociais regionais, os romances escritos a partir de 1930 retomaram dois momentos anteriores da prosa de fição: o regionalismo romântico e o Realismo do século XIX. Do regionalismo romântico, vem o interesse pela relação entre os seres humanos e os espaços que eles habitam, apresentando agora uma perspectiva mais determinista. 5. A segunda fase do Modernismo (1930-1945): Prosa Do Realismo, é recuperado o interesse em estudar as relações sociais O romance de 1930 inova ao abandonar a idealização romântica e a impessoalidade realista para apresentar uma visão crítica das relações sociais e do impacto do meio sobre o indivíduo. Essas raízes literárias fizeram com que os romances escritos nesse período fossem conhecidos como regionalistas ou neorrealistas. Os escritores pretendiam caracterizar a vida sacrificada e desumana do sertanejo e compreender a estrutura socioeconômica que alimentava a política do coronelismo nordestino. Para eles, apontar tais problemas significava ajudar a transformar essa realidade injusta. 5. A segunda fase do Modernismo (1930-1945): Prosa • De modo geral, o trabalho com a linguagem realizado pelos autores dessa geração busca trazer para as narratiavas a “cor local”, ou seja, as informações sobre espaços, comportamentos e costumes, que permitem ao leitor reconhecer os aspectos típicos característicos de uma região específica. 5. A segunda fase do Modernismo (1930-1945): Prosa Fragmento de Vidas Secas (…) -Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. (…)E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando: - Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho. capaz de vencer dificuldades. (…) Graciliano Ramos 5.1. Graciliano Ramos (1892-1953): o mestre das palavras secas O cuidado com as palavras é um dos traços mais importantes da prosa de Graciliano Ramos. A economia no uso de adjetivos e advérbios, a escolha cuidadosa de substantivos, todos os aspectos da construção de seus romances colaboram para a criação do “realismo bruto” que define o olhar neorrealista do autor. 5.1. Graciliano Ramos (1892-1953): o mestre das palavras secas Como romancista, Graciliano Ramos alcançou raro equilíbrio ao reunir análise sociológica e psicológica. Como poucos, retratou o universo do sertanejo nordestino, tanto na figura do fazendeiro autoritário quanto do caboclo comum, o homem de inteligência limitada, vítima das condições do meio natural e social, sem iniciativa, sem consciência de classe, passivo diante dos poderosos. 5.1. Graciliano Ramos (1892-1953): o mestre das palavras secas Contudo, em Graciliano Ramos o regional não caminha na direção do específico, do particular ou do pitoresco; ao contrário, as especificidades do regional são um meio de alcançar o universal. Suas personagens, em vez de traduzir experiências isoladas, revelam uma condição coletiva: a do homem explorado socialmente ou brutalizado pelo meio. 5.1. Graciliano Ramos (1892-1953): o mestre das palavras secas O autor de Vidas Secas sobressai entre os demais de sua época, não só pelas qualidades universalistas que apresenta, mas sobretudo pela linguagem enxuta, rigorosa e conscientemente trabalhada, no que se mostra o legítimo continuador de Machado de Assis na trajetória do romance brasileiro. 5.2. Jorge Amado(1912-2001): retrato da diversidade econômica e cultural Um dos escritores brasileiros mais conhecidos e lidos de todos os tempos, Jorge Amado imprimiu um recorte particular ao projeto literário de sua geração: o estudo das relações humanas que levaram à constituição do perfil multirracial que caracteriza o povo brasileiro. 5.2. Jorge Amado(1912-2001): retrato da diversidade econômica e cultural A maior parte das obras do escritor, principalmente as primeiras que publicou, apresenta preocupação político-social, denunciando, num tom direto, lírico e participante, a miséria e a opressão do trabalhador rural e das classes populares. Conforme o autor foi amadurecendo, sua força poética voltou-se para os pobres, para a infância abandonada e delinquente, para a miséria do negro, para o cais e os pescadores da Bahia, para a seca, o cangaço, a exploração do trabalhador urbano e rural e para a denúncia do coronelismo latifundiário. 5.2. Jorge Amado(1912-2001): retrato da diversidade econômica e cultural Autor de obras de cunho regionalista e de denúncia social no início de sua carreira de escritor, Jorge Amado passou por diferentes fases até chegar a última delas, voltada para a crônica de costumes. A partir da publicação de Gabriela, cravo e canela (1958), a ficção de Jorge Amado afasta-se das questões sociais para concentrar-se na construção de tipos humanos, explorando cada vez mais o tema do amor. Essa nova tendência de suas obras garantiu ao autor a continuidade de seu imenso sucesso popular. Referências bibliográficas Passagens integralmente retiradas de: ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela; CESILA, Juliana Sylvestre. O ensino de Literatura. São Paulo: Santillana, 2009. ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2010. CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Conecte: Literatura brasileira. São Paulo: Saraiva, 2011.