Poesia de 1930 geração de 30 Professora Margarete Poema de sete faces Quando eu nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás das mulheres. À tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode É sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos O homem atrás dos óculos e do bigode. Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução. mundo mundo vasto mundo, mais vasto é o meu coração Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. Carlos Drummond de Andrade Que sentimentos do eu lírico são expressados nesse poema? Carlos Drummond de Andrade Cecília Meireles Murilo Mendes Jorge de Lima Vinícius de Moraes Características da poesia de 30 Após o primeiro momento modernista, em que era necessária a destruição das estruturas artísticas do passado, o movimento iniciou o processo de amadurecimento. A forma de apresentação poética tornou-se independente e com características próprias, uma vez que não havia mais preocupação em chocar o público acostumado a formas tradicionais. Carlos Drummond de Andrade Considerado o maior poeta brasileiro do século XX e para alguns o maior de todos os tempos, Carlos Drummond nasceu em 1902, em Itabira, Minas Gerais. Filho de fazendeiro e farmacêutico de profissão, nunca se adaptou a nenhuma dessas atividades. Lecionou português e geografia, foi redator do Diário de Minas em Belo Horizonte e funcionário público no Rio de Janeiro. Em 1928, publicou o poema No meio do Caminho, objeto de polêmicas e discussões acaloradas em meio a críticas da imprensa. Suas principais obras são: Alguma Poesia 1930, Brejo das Almas 1934, Sentimento do Mundo 1940, José & outros 1948, A Rosa do Povo 1945, Novos Poemas 1948, claro Enigma 1951, Fazendeiro do Ar 1954, A Vida Passada a Limpo 1955, Lição de Coisas 1962, A Paixão Medida 1980, Corpo 1984... Amar se Aprende Amando 1985, Poesia Errante 1988, Farewell 1996. O poeta morreu em 1987, no Rio de Janeiro, deixando algumas obras inéditas. No meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho Tinha uma pedra No meio do caminho tinha uma pedra Nunca me esquecerei desse acontecimento Na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho Tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra. Obra de Carlos Drummond de Andrade - fases Os críticos costumam dividir a obra de Carlos Drummond de Andrade em quatro fases bem distintas: 1- Fase gauche – relacionados à geração modernista de 1922, os poemas dessa fase possuem características como verso livre, coloquialismo, humor e predomínio da subjetividade.também é possível perceber certo isolamento, individualismo e reflexão existencial. 2- Fase social – predomínio de temas sociais, como o Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial. O poeta manifesta interesse por problemas sociais, dos quais se manteve alienado na primeira fase. 3- Fase filosófica – na década de 1950, o poeta mostrou-se desencantado de sua aventura política. Os poemas dessa fase são pessimistas, revelam preocupação com aspectos formais como a regularidade dos versos, e, abarcam temas como a vida, a morte, o tempo, a velhice, o amor, a infância e a própria poesia. 4- Síntese das fases anteriores – na última fase, os poemas de Drummond retomam o humorismo e a ironia da primeira e aprofundam temas que nortearam a vida do escritor: infância em Minas, a família, o amor, a morte, os amigos. Vinícius de Moraes Vinícius nasceu no Rio de Janeiro, numa família de intelectuais. Formou-se em Letras e em Direito, foi representante do Ministério da Cultura junto à Censura Cinematográfica, ingressou na carreira diplomática, atuou no jornalismo como cronista e crítico de cinema e escreveu a peça teatral Orfeu da Conceição, adaptada para cinema. A partir de 1960, dedicou-se cada vez mais à música, compondo e fazendo shows, sempre ao lado de grandes compositores brasileiros, dentre eles, Chico Buarque, Toquinho, Tom Jobim. Vinícius de Moraes é famoso por ter sido um dos maiores compositores de música popular brasileira. É de autoria dele, a música Garota de Ipanema, canção brasileira mais tocada no mundo. Além de compositor popular e fundador, nos anos de 1950, do movimento musical Bossa Nova, ele também foi um dos poetas mais significativos da segunda fase do Modernismo brasileiro. características A poesia de Vinícius apresenta três fases distintas, conforme evolução e maturidade do autor. No início demonstrou forte influência neoparnasiana e neo-simbolista, de fundo místico, religioso. Na segunda fase – preocupação social – própria do segundo tempo do Modernismo. Na terceira- já liberto das influências iniciais, deu vazão ao lirismo, ao erotismo, pelo que se tornou mais conhecido e popular. Principais obras O Caminho para a Distância Ariana, a Mulher Novos Poemas Cinco Elegias Poemas, Sonetos e Baladas Pátria Minha Soneto do amor total Amo-te, meu amor... não cante o humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante numa sempre diversa realidade. Amo-te enfim, de um calmo amor prestante e te amo além, presente na saudade. Amo-te, enfim, com grande liberdade dentro da eternidade e a cada instante. Amo-te como um bicho, simplesmente, de um amor sem mistério e sem virtude com um desejo maciço e permanente. E de te amar assim, muito e amiúde, é que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude. Vinícius de Moraes Cecília Meireles Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro em 1901. Foi professora e educadora, tendo lutado pela renovação educacional vigente na época. Dedicou-se ao jornalismo, escrevendo crônicas de cunho político, o que lhe gerou perseguições pela ditadura de Getúlio Vargas. Em 1934, inaugurou a primeira biblioteca infantil do país, fechada em seguida por motivos políticos. Lecionou cultura brasileira na Universidade do Texas e tornou-se conferencista mundial. Cecília, aos 18 anos, publicou seu primeiro livro de poemas: Espectros 1919, que marcou o início de uma produção literária fecunda e original. Sua poesia caracteriza-se pelo fundo filosófico, tendência à musicalidade e, no que tange a aspectos formais, mescla liberdade métrica e equilíbrio clássico. Aborda temas como transitoriedade da vida, fugacidade dos bens materiais, solidão, natureza, fazer poético. O verso de Cecília Meireles é fluido, musical, ágil e curto, com uma linguagem que lembra o etéreo, o vago simbolista. Apesar de moderna, não descuidou jamais da forma, destacando ritmo, conservando a métrica e a musicalidade determinadas pela rima e por outros recursos sonoros, como onomatopéias e aliterações. Entre os temas preferidos da autora estão o passado, a solidão, a efemeridade, a transitoriedade das coisas e o mar. Fala também da natureza, que sempre conta com a presença humana. Suas primeiras obras denunciam expressiva influência simbolista no vocabulário, no ritmo e na temática. Espectros Nunca Mais Poemas dos Poemas Baladas para El-Rei A grande revelação de Cecília Meireles começou, de fato, com Viagem 1939. Daí por diante é difícil assinalar sua obra mais importante, tal a homogeneidade, a perfeição e o acabamento. Vaga Música Mar Absoluto Retrato Natural Romanceiro da Inconfidência (UFPR) Canções Solombra (póstumo) Romanceiro da Inconfidência tem sido a obra mais solicitada da autora em vestibulares. Nela, resgata um gênero literário antigo, o romance, uma espécie de narrativa popular em versos – redondilhas. Narra o episódio da Inconfidência Mineira, não se limitando ao fato histórico em si e, sim, buscando o que há de perene no homem: coragem, traição, valentia, covardia, sonho, etc. Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidas, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico. se permaneço ou me desfaço. _ não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno e asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: _ mais nada. Beira – mar Sou moradora das areias de altas espumas: os navios passam pelas minhas janelas como o sangue nas minhas veias, Como os peixinhos nos rios... Não têm velas e têm velas, e o mar tem não tem sereias e eu navego e estou parada, vejo mundos e estou cega, Porque isto é mal de família, ... Além dos três poetas consagrados pela crítica e pelo povo, houve outros de grandes qualidades nesse período: Murilo Mendes, Jorge de Lima. Murilo Mendes Nasceu em Minas, estudou desde a infância no Rio e, a partir de 1953, viveu na Europa. Predomina em sua poesia a influência surrealista, com livre associação de imagens e conceitos. Quanto aos temas contemplou poema-piada, sátira, temas político-sociais e religiosos. Principais obras: Poemas Tempo e Eternidade (em parceria com Jorge de Lima) Jorge de Lima Natural de União dos Palmares, Estado de Alagoas, nasceu num engenho, onde passou parte da infância. Estudou na capital do Estado, depois em Salvador, onde cursou Medicina, completando os estudos no Rio. Dividiu sua carreira entre a medicina e a política. Inicialmente demonstrou grande influência parnasiana, mas evoluiu para os versos livres bem- elaborados. Seus temas seguem uma trajetória: nordestinos (engenhos, negros, etc), sociais (destaca e condena as desigualdades) e religiosos (com imagens bíblicas). Morreu no Rio de Janeiro. Principais obras: XIV Alexandrinos Tempo e Eternidade A Túnica Inconsútil Mira Coeli Invenção de Orfeu (poema épico, de estilo clássico.) Motivo da rosa Vejo-te em seda e nácar e tão de orvalho trêmula, que penso ver, efêmera, toda a Beleza em lágrimas por ser bela e ser frágil. Meus olhos te ofereço: espelho para a face que terás, no meu verso, quando, depois que passes, jamais ninguém te esqueça. Então, de seda e nácar toda de orvalho trêmula, serás eterna. E efêmero o rosto meu, nas lágrimas do teu orvalho... E frágil. A segunda Guerra Mundial, a ditadura no país, as perseguições políticas, entre inúmeros problemas, acentuaram a preocupação com o ser humano, no plano social e individual. Temas principais: preocupação social e política, espiritualidade, metafísica, questionamento existencial.