Romanceiro da
inconfidência
Cecília Meireles
Professora Margarete
Cecília Meireles
• Cecília Meireles nasceu no Rio de
janeiro 1901a 1964
• Concluiu, em 1917, o curso normal,
passou a trabalhar como professora
primária. Dois anos depois publicou
ESPECTROS, seu primeiro livro de
poesia, de tendência parnasiana.
• Seguiram-se NUNCA MAIS...POEMA
DOS POEMAS (1923) e BALADAS
PARA EL-REI (1925), nos quais já
aparecem elementos simbolistas.
• A partir de 1922 aproximou-se das
vanguardas modernistas,
principalmente dos poetas católicos.
• Em 1938 ganhou o Prêmio de
Poesia, concedido pela
Academia Brasileira de Letras,
pelo livro Viagem.
• Nos anos seguintes, conciliou a
produção poética aos trabalhos
de professora universitária,
tradutora, conferencista,
colaboradora em periódicos e
pesquisadora do folclore brasileiro.
• Publicou também poesia infantil. A
Academia Brasileira de Letras
concedeu à Cecília, postumamente,
o prêmio Machado de Assis pelo
conjunto de sua obra, em 1965.
• Destacam-se em sua obra:
• Vaga Música 1942
• Mar Absoluto e Outros Poemas
1945
• Retrato Natural 1949
• Doze Noturnos da Holanda & O
Aeronauta 1952
• Romanceiro da Inconfidência
1953
• Canções 1956
• Metal Rosicler 1960
• Poemas escritos na Índia 1961
• Solombra 1963
• Cecília Meireles é considerada pela
crítica uma poeta pertencente a
segunda geração Modernista. No
entanto, Manuel Bandeira afirmou
que há em sua obra “as claridades
clássicas, as melhores sutilezas do
gongorismo, a nitidez dos metros
dos consoantes parnasianos, os
esfumados de sintaxe e as toantes
dos simbolistas, as aproximações
Inesperadas dos super-realistas.
Tudo bem assimilado e fundido
numa técnica pessoal, segura
de si e do que dizer”.
• No Romanceiro da Inconfidência, a poeta
Cecília Meireles registra a força de certo
vocábulo que, alimentado pelo sonho
humano, “não há ninguém que explique e
ninguém que não entenda.” Por sua
misteriosa força simbólica, a palavra
“liberdade” servirá de mote à homenagem
que a UFMG prestará aos seus movimentos
estudantis, exatamente no ano em que o
golpe militar completou quatro décadas.
• Outro destaque está na montagem
de uma “trilha sonora”, com mais de
cem músicas entoadas pelos
estudantes da época.
• Na coletânea, não faltam ícones do
cancioneiro da resistência, como
Disparada, de Geraldo Vandré, e
Apesar de você, de Chico Buarque.
O livro
• Cecília Meireles inovou, ao
escrever seu Romanceiro da
Inconfidência. Pegou de um
tema abrangente, histórico, até
certo ponto nacional, coisa que
não tinha feito antes.
• É com Romanceiro da Inconfidência
que ela passa a exprimir o drama da
liberdade em sua luta contra os
poderes tirânicos.
• Tudo indica que – aí sim- ela de fato
deu corpo àquele “impulso de
investigação temática” que faltava,
senão no plano da reflexão =
filosofia, pelo menos no plano das
emoções e dos mais altos
sentimentos humanos.
• É verdade que uma investigação
temática (mais mergulho
reflexivo no assunto) pressupõe
igualmente um mergulho da
alma na natureza dos fatos, e,
portanto, uma reflexão sobre
aquilo de que se está falando.
• Cecília fez o Romanceiro da
Inconfidência com a sensibilidade,
com a comoção humana.
• De fato, ela não tinha um pendor,
digamos, um pensamento, como
Fernando Pessoa, Carlos Drummond
de Andrade e outros.
• Porém isso, não é
imprescindível num poeta. Nós
devemos analisar um poeta pelo
que ele tem ou por aquilo que
ainda lhe falte, mas não pelo
que ele absolutamente não tem.
Divisão do Romanceiro
da Inconfidência
• Não é possível estabelecer uma
divisão rigorosa da matéria
tratada por Cecília Meireles. A
razão é que o Romanceiro não
poucas vezes avança ou faz
regredir uma perspectiva. Além
disso, há poemas transitórios,
feitos de considerações de
momento.
• Alguns desses poemas não
recebem o título de “romance”.
De qualquer forma, é possível
ver um plano geral de
composição, que resumimos da
seguinte maneira:
Ambiente e Contexto
Romances I-XXIII
• Caracterização do bom
minerador, seu papel social e
histórico, suas figuras humanas
e social, suas crenças e
expectativas. Elementos ligados
à tradição lendária (o caçador
que embrenha na mata,
o caso da donzela assassinada
pelo próprio pai, o cantar do
negro nas catas, a que se
podem associar o romance Do
Chico – Rei e o De Vira-e-Saí ou
à tradição histórica( Ouro dos
Tolos), o requesto promovido
pelo ouvidor Bacelar,
a provocante história de Chica da
Silva, amante de João
Fernandes, a cobiça do conde
de Valadares, que desgraçou a
ambos, o adensar-se da
ambição de posse e das idéias
de libertação, mais pronunciado
nos três últimos romances
desta primeira parte.
• Toda essa primeira parte está
governada por um princípio de
reorganização lendária e
folclórica da realidade histórica,
com intensa participação da
atmosfera de estribilho popular
(dialogismo, provérbios,
exclamações) e sugestão de
coral trágico.
Articulação e Fracasso
(Romances XXIV-XLV)
• Começa propriamente a articulação
do movimento rebelde contra a
opressão lusitana:
• Atrás de portas fechadas, à luz de
velas acesas, uns sugerem, uns
recusam, uns ouvem, uns
aconselham. Se a derrama for
lançada, há levante com certeza.
• Corre-se por essas ruas? Cortase alguma cabeça? Do cimo de
alguma escada, profere-se
alguma arenga? Que bandeira
se desdobra? Com que figura ou
legenda? Coisas da maçonaria,
do Paganismo ou da Igreja? A
Santíssima Trindade? Um gênio
a quebrar algemas?
• O clima de terror começa com a
chegada de uma carta
misteriosa e ameaçadora:
Veio uma carta de longe.
O que dizia não sei.
Há calúnias, há suspeitas...
(Vede as janelas fechadas!
Contundam! Querem o Rei!)
• Nesse contexto, toma vulto a
agitação preparatória do
movimento, a fermentação das
idéias liberais, a atividade
incansável de Tiradentes, a
carta-denúncia de Joaquim
Silvério e a repressão do
governo central, com a prisão
dos principais envolvidos.
• Poetização da figura de
Tiradentes(a falta dos velhos, a
ironia dos tropeiros, a predição
do cigano, o mistério dos
seguidores encapuzados, as
testemunhas, os delatores –
esses são especialmente
focalizados pela indignação do
poeta.
Morte de Cláudio e
Tiradentes (Romances
XLVIII-LXIV
• As circunstâncias misteriosas
em que se deu a morte de
Cláudio Manuel da Costa
servem de substância para a
divagação de Cecília Meireles.
• A morte de Tiradentes, por sua
vez, é antecipada nas palavras
do carcereiro.
• Focaliza-se também a Tomás
Antonio Gonzaga, suas
angústias e expectativas de
prisioneiro, seus sonhos, suas
fracassadas tentativas de se
libertar por meios judiciários.
Essa parte culmina com o
momento verdadeiramente
trágico de Tiradentes:
seus passos de condenado
rumando à forca, a indiferença
ou o contentamento de uma
parte da população etc.
A infidelidade de Gonzaga
e de Alvarenga Peixoto
LXV-LXXX
• Essa parte abre com um panorama
do ambiente em que Gonzaga vivera
e se tornara magistrado e poeta de
prestígio.
• Depois, vem caindo sobre ele a
ironia trágica, representada nas
murmurações e desconfianças, na
participação do desterro(degredo
para África)
• E, portanto, na perda daquela Manha
bela que ele cantara como Dirceu
apaixonado.
• Há também uma oposição amarga
entre o retrato de Manha e o de
Juliana de Mascarenhas( esta última
conquistará o coração do poeta, já
em seu desterro de Moçambique).
• Há o inconformismo de Manha, que
ficará solteira até o final de sua vida.
• Há também um verdadeiro ciclo da
vida do poeta Alvarenga Peixoto.
Sua mulher, Bárbara Ehiodora, é
focalizada em grande momento lírico
de Cecília Meireles.
• Há também a bela filha de
Alvarenga, Maria Ifigênia (a princesa
do Brasil), que vem a morrer.
• A imagem final é da octogenária
Manha, indo a caminho da
paróquia de Antonio Dias.
Conclusão de D.Maria
LXXXI-LXXXV
• Esta parte notifica mais a fala
aos inconfidentes mortos.
• É o fechamento do Romanceiro
da Inconfidência, com alguns
poemas de lamento e
dramaticidade, reflexão
dolorida sobre o conjunto da
tragédia mineira.
• Essa parte é curta e D. Maria 1 é
vista vinte anos depois, já no Brasil.
• Sua loucura galopante contempla
agora o que ela mesma havia feito
com poetas, soldados, doutores. Os
remorsos a levam à morte. O livro
encerra-se com a “fala aos
inconfidentes mortos.”
E aqui ficamos
todos contritos
a ouvir na névoa
o desconforme,
submerso curso
dessa torrente
do purgatório...
Quais os que tombam, em crimes
exaustos, quais os que sobem,
purificados?
Uma definição
• Mas o lirismo do Romanceiro da
Inconfidência ainda apresenta um
problema. Um poema lírico costuma
tirar toda a sua substância (seu
conteúdo) do fundo da alma do
poeta. É como esse fundo da alma
fosse uma semente e o poema todo
fosse a planta em que a semente se
transfigurasse. Ora, não é
exatamente isso o que acontece no
Romanceiro da Inconfidência.
• Por quê? Porque a substância
do Romanceiro procede em
grande parte do quadro trágico
da própria história colonial
brasileira. Isso quer dizer que,
de certa forma, a poeta
encontrou um quadro de
sentimentos praticamente
pronto.
• Pelo fato de ter encontrado um
quadro praticamente pronto, Cecília
Meireles teve que ser discreta, não
teve a liberdade de que teve nos
livros anteriores. Então ela vai
aproveitar o sentimento trágico que
já estava inscrito na própria história,
e que já nos emocionava muito antes
mesmo de Cecília ter escrito seu
poema.
• Portanto, a veracidade histórica é
muito importante.
• A realidade histórica se funde com a
imaginação emocionada, e quem
passa a predominar é esta última
(caso contrário o Romanceiro da
Inconfidência não seria um poema,
seria uma história versificada).
• Outro ponto importante está na
reconhecida musicalidade da
poesia. É preciso considerar
duas manifestações dessa
musicalidade, a do verso e a da
palavra. Um verso, uma linha de
palavras, uma linha provida de
melodias...
• Essa melodia costuma ser fácil nos
versos curtos e complexa nos versos
longos. Por quê? Porque a sintaxe
dos versos curtos costuma ser mais
simples, apresentar menos inversões
e um menor acúmulo de elementos.
Um verso curto costuma retomar
uma sintaxe próxima a da fala
cotidiana.
• No Romanceiro da
Inconfidência, nota-se uma bela
variedade de versos curtos,
sobretudo de redondilhas
maiores ou heptassílabos,
embora também apareçam, aqui
e ali, versos de medida maior ou
menor que essa.
Um exemplo
• Romance XXIV ou da Bandeira da
Inconfidência
Através de grossas portas,
sentem-se luzes acesas
e há indagações minuciosas
dentro das casas fronteiras:
olhos colados aos vidros,
mulheres e homens à espreita,
caras disformes de insônia
Vigiando as ações alheias.
Pelas gretas das janelas,
pelas frestas das esteiras,
agudas setas atiram
a inveja e a maledicência.
Palavras conjeturadas
oscilam no ar de surpresas,
como peludas aranhas
na gosma das teias densas,
rápidas e envenenadas,
engenhosas, sorrateiras.
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
brilham fardas e casacas,
junto com batinas pretas.
E há finas mãos pensativas,
entre galões, sedas e rendas,
e há grossas mãos vigorosas,
de unhas fortes, duras veias,
e há mãos de púlpito e altares,
de Evangelhos, cruzes, bênçãos.
Uns são reinóis, uns, mazombos;
e pensam de mil maneiras;
mas citam Vergílio e Horácio,
e refletem, e argumentam,
falam de minas e impostos,
De lavras e de fazendas,
de ministros e rainhas
e das colônias inglesas.
Pessoal, confio em vocês!
O sucesso do vencedor está nas
escolhas por ele feitas no
presente.
Valerá o esforço!!
Um abraço, professora
Margarete.
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Romanceiro da inconfidência