VIII ENCONTRO DA SOCIEDADE DE ECONOMIA ECOLOGICA – ECOECO Capital Social e Redes Sociais no associativismo de áreas protegidas na região sul do Estado do Amapá – Amazônia/Brasil Adalberto Carvalho Ribeiro CUIABA – MATO GROSSO 05, 06 E 07 DE AGOSTO DE 2009 Objetivo: O artigo procura responder como se articulam duas organizações sociais agroextrativistas de natureza associativista, ASTEX/MA e ASTEX/CA, em suas respectivas redes sociais. As unidades espaciais de referências são o Assentamento Agroextrativista do Maracá e a Reserva Extrativista do Rio Cajari, áreas ambientais protegidas, situadas na região Sul do Estado do Amapá – Brasil. -Até 1980 relação parcial com o mercado e aviamento clássico com pequenas mudanças. -Estado a partir dos 1990 com o associativismo e cooperativismo: ASTEX/MA e ASTEX/CA. Famílias têm características específicas quanto ao modo de racionalizar sua economia (COSTA, 1994). A alternatividade entre autoconsumo e mercado torna o modu economicus dessas unidades familiares muito flexível e adaptável às situações mais diversas. Problema: Como se articulam a Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Assentamento Maracá (ASTEX/MA) e Associação dos Trabalhadores Extrativistas da Reserva Extrativista do Rio Cajari (ASTEX/CA) nas suas respectivas redes de relações sociais ? Estudos de redes sociais têm apontado o conceito de capital social como um suporte teórico importante para a compreensão dessa problemática (FONTES; EICHNER, 2004;MARTELETO,2001). A construção teórica da categoria capital social tem apresentado duas principais vertentes: 1) Uma denominada de foco político porque desvenda as assimetrias existentes na obtenção dos recursos sociais (BOURDIEU, 2004a); 2) a outra, chamada de foco utilitarista que parte do pressuposto de que relações de troca simétricas permitem a obtenção de recursos presentes nas estruturas de relação social (COLEMAM,1988a). Os estudos sobre capital social apontam vários pesquisadores se dedicando ao tema e enfrentando questões, por exemplo, relacionadas à pobreza nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento (WOOLCOKC;NARAYAN, 1998), desempenho institucional de regiões (PUTNAM, 2002), analises de caráter macro para paises (FUKUYAMA, 1996), relações com o conceito de ação coletiva (OSTROM;AHN, 2003) e estudos no campo do campesinato(DURSTON,1999b;2000b). Para a melhor compreensão das relações sociais da ASTEX/MA e ASTEX/CA foi admitido o conceito de capital social individual a partir dos estudos de Durston (2000c). A vantagem deste conceito é que permite comunicação com a compreensão de Bourdieu, bem como possibilita verificar relações assimétricas existentes nas redes ego-centradas dos atores pesquisados. Uma das formas de manifestação de capital social individual é quando laços sociais se baseiam na cooperação, confiança e reciprocidade podendo surgir a partir daí trocas que melhorem a vida das pessoas/atores (físicas ou jurídicas). “A confiança, a reciprocidade e a cooperação, em redes de relações, constituem as instituições sociais do capital social, recursos que podem contribuir para o desenvolvimento produtivo e para o fortalecimento da democracia de determinada região, comunidade ou agrupamento social”. (RIBEIRO, 2008a) METODOLOGIA Foi composta pela seguinte ferramenta de investigação: Análise de Redes Sociais – ARS, com a utilização do soft UCINET(BORGATTI; EVERETT; FREMAN, 2002) que gerou os dois sociogramas. O ponto de partida identificação de organizações sociais agroextrativistas ASTEX/MA e ASTEX/CA; O passo seguinte identificar um rol de organizações que, nos últimos 04 anos, estiveram ou estivessem ainda envolvidas, direta ou indiretamente, com ASTEX/MA e ASTEX/CA. Uma lista geral contendo 44 organizações. Formulários detectaram as redes “redes ego-centradas” (assim chamadas exatamente pelo fato de terem sido constituídas a partir da declaração dos seus dirigentes). A ASTEX/MA indicou 19 (dezenove) organizações e a ASTEX/CA relacionou 13 (treze) da lista de 44 que lhes foi apresentada. A abordagem etnográfica também foi utilizada. Como se mostrará serão caracterizados três tipos de capital social: 1) o capital social de ligação baseado na rede interna das organizações agroextrativistas, 2) o capital social de ponte que pode, dependendo do caso, ser relacionado tanto a rede interna quanto externa, e 3) o de conexão com base na rede externa das organizações. REDES SOCIAIS – RESULTADOS Rede social da ASTEX/MA e suas conexões Diagrama 1 – Sociograma - Rede Social da ASTEX/MA. Fonte: Ribeiro (2008) Pouca capacidade estrutural - , os atores externos, de governo, tem tido baixas condições efetivas de contribuir para projetos produtivos. Não há atores da iniciativa privada com capacidade. Em relação à diversidade dos participantes nota-se pouco dinamismo. O raio de ação está circunscrito ao Estado do Amapá. O tamanho da rede não pode ser considerado pequeno. Problemas internos e externos de credibilidade, as relações têm se dado num formato em que as autoridades públicas tratam as comunidades e a própria associação como agentes passivos do processo. Níveis de capital humano muito baixos e com implicações jurídicas (dívidas judiciais) pelas quais passa a associação, a tendência são as unidades familiares esperarem, de bom grado, por quaisquer ações de governo. Verifica-se também que não há, atualmente, nenhuma ONG, nem interna nem externa, presente na rede. O capital social de ligação da ASTEX/MA é pouco significativo uma vez que ela está distante da ASTEX/CA e de outras organizações iguais. Não participa das demais discussões do mundo rural do Estado, embora tenha se reaproximado, ultimamente, do CNS/AP. Sofre com a falta de reconhecimento e prestígio dos atores governamentais públicos o que demonstra seu baixo capital social de ponte. Seu capital social de conexão é inexistente porque não há nenhuma relação com atores externos com características de inovar o comportamento da ASTEX/MA. Rede social da ASTEX/CA e suas conexões Diagrama 2 - Sociograma – Rede Social da ASTEX/CA Fonte: Ribeiro (2008) A característica principal da rede da ASTEX/CA é realizar muitos contatos com poucos órgãos de governo e pouco contato com os atores vinculados à sociedade civil, o que revela um traço singular: há muitas relações clientelistas e semiclientelistas entre os atores de governo e a ASTEX/CA. Não se encontra a presença de ONGs na rede. Pouca diversidade de atores. Não há nenhum ator de fora do Estado do Amapá, por exemplo. Apesar de bom índice de conectividade com 77.47%, o tamanho dela não pode ser considerado significativo. Raio de ação circunscrito ao Estado do Amapá e a institucionalização das normas de decisão passa por ações de natureza clientelista e semiclientelista. O capital social de ligação da ASTEX/CA parece ser baixo, mas plenamente potenciador de realizar relações freqüentes com as 3 outras organizações agroextrativistas constantes de sua rede devido sua participação em várias instâncias deliberativas, o que lhe confere visibilidade e prestígio. O capital social de ponte da associação é significativo na medida em que a ASTEX/CA consegue acessar o CNS/AP facilmente tendo-o como parceiro na maioria dos casos. Estabelece relações com órgãos públicos do âmbito estadual acessando serviços sociais. O capital social de conexão, para fora da região, mas com poder, dependendo do caso, de impactar as ações estruturais da associação, não se tem nenhum relação estabelecida. Por exemplo, não há nenhuma ONG realizando parcerias de impactos com a ASTEX/CA no alto Cajarí. Isto, aliás, foi apontado pelo diretor presidente como a principal dificuldade. CONSIDERAÇÕES FINAIS RESPONDENDO AO PROBLEMA: As evidências com fundamento no conceito de capital social individual revelaram o seguinte: As relações na estrutura da rede social da ASTEX/MA se mostram muito limitadas, com pouca cooperação e dificuldades de gestão; A ASTEX/CA se estrutura numa rede mais cooperativa e de mais fácil gestão. O capital social da ASTEX/CA rende mais ao alto Cajarí do que o capital social da ASTEX/MA ao Assentamento Maracá. - A ASTEX/MA está articulada com vários atores e privilegia aqueles vinculados aos governos no âmbito estadual. Ela procura esses atores, mas não é procurada por todos eles. Na procura há diferenças de intensidade. É um sintoma de que a posição atual da associação do Assentamento Maracá revela-se com pouco prestígio em relação aos demais atores de sua rede. O resultado de uma rede assim são relacionamentos com base em critérios clientelistas que transforma o capital social em receptividade passiva de produtos e cria dependência. A ASTEX/CA valoriza relações que produzem resultados concretos, uma postura bastante instrumental. É procurada pelos atores que procura, isto é, os atores governamentais que fazem parte dessa rede, principalmente SEAF/AP e INCRA/AP, respondem na maioria dos casos aos chamados da associação; Existem diferentes desempenhos; Colemam (1988b) ajuda na explicação desses fenômenos: diferenças de estruturas sociais, necessidades concretas que levam a interação social, existência de fontes alternativas de recursos, grau de afluência dos recursos, capacidade de gestão que pessoas têm para obter ajuda, redes sociais coesas, e logística dinamizadora dos contatos sociais. Todos esses fatores influenciam no ganho de recursos das associações pesquisadas. Bourdieu (2004b) as relações sociais são possibilidades de indivíduos ou grupos obterem recursos. Para ele, as relações podem contribuir mais ou menos dependendo da qualidade e da quantidade desses recursos que portam os atores pertencentes a uma dada rede social; É preciso não esquecer que os recursos da rede estão nos outros, e não no próprio ator, e precisam estar disponíveis; De um modo geral, as estruturas sociais dessas associações demonstraram que elas estão em posição de desvantagem para o atendimento de suas demandas sociais ou produtivas porque nem sempre, apesar de relações estabelecidas (e, às vezes, com muitos contatos), o recurso está disponível. O ator procurado não disponibiliza o ativo social (o capital social) de que dispõe. Talvez porque não tenha interesse, não confie ou não possa disponibilizar porque também tem suas próprias limitações. Para quem eram consideradas INVISÍVEIS... as associações com suas movimentações e quando reunidas condições específicas de forma sinérgica demonstram boas possibilidades para o fortalecimento do associativismo da região dos castanhais do Estado do Amapá. As configurações atuais de suas redes sociais demonstram isso, ainda que haja, para a melhoria da co-gestão nas suas respectivas áreas ambientais protegidas, um longo caminho para percorrer. [email protected]