“Se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta freudiana, essa palavra seria incontestavelmente inconsciente” Médico Psiquiatra e Neurologista Vienense que alterou radicalmente o modo de pensar a vida psíquica. Trouxe para o campo da investigação científica os “processos misteriosos” da mente: as fantasias, os sonhos, os esquecimentos e a interioridade do homem. A teoria foi concebida concomitantemente às pesquisas e estudos. Psicanálise se refere tanto a uma teoria, a um método de investigação e a uma forma de prática profissional (atuação). A psicanálise teoria: conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica. Psicanálise método de investigação: método interpretativo que busca através do conteúdo manifesto o conteúdo latente do discurso do sujeito. Usa para tal a interpretação das palavras, a associação livre, a interpretação dos sonhos, etc. Busca de autoconhecimento através da análise. Pode se exercida por psicólogos que aderem à teoria (linha) psicanalítica, ou por profissionais diversos que fazem a formação em psicanálise. Formas: psicanálise clínica, psicanálise aplicada, a psicanálise para a compreensão e estudo de fenômenos sociais. Não há como entender a psicanálise sem compreender o percurso de seu criador: Freud. Ao observar fatos das próprias experiências e se aprofundar nas suas próprias estranhezas; Freud despertou seu olhar para a clínica do “estranho”, do “patológico”, do que era considerado “louco” ou “bobagem”. O trabalho com Charcot, psiquiatra francês, através de uma bolsa de estudos foi de grande influência. Charcot trabalhava com as histéricas (pessoas com distúrbios nervosos) usando a hipnose. Freud ao retornar para Viena usa esta método para a tentativa de eliminação dos sintomas nervosos e nisto começa a ter contato com Breuer, um médico e cientista também muito influente para Freud. Um dos casos mais famosos de Freud, vem de um trabalho realizado com uma paciente de Breuer. Ana era uma jovem que sofria de vários distúrbios somáticos e nervosos, dos quais ela não sabia nada dizer; apenas localizava seu início quando cuidava do pai enfermo. Freud e Breuer fizeram várias sessões de hipnose com Ana e induzira-a a relatar seus sentimentos, pensamentos e sensações ao cuidar do pai. Com os relatos em hipnose, os pesquisadores descobriram as origens dos sintomas. Ela não mais queria cuidar do pai e tinha pensamentos e desejos da morte deste. No entanto, estas sensações e pensamentos eram consideradas pecaminosas e maldosas e por isso, foram bloqueadas, mandadas para algum lugar na mente, represando as reações emotivas e só permitindo aparecer seus substitutos que eram as expressões corporais. Ao relatar em hipnose, todo o conteúdo latente, as reações afetivas ligadas à situação foram liberadas permitindo um afrouxamento dos sintomas somáticos. Este era o Método Catártico. Hipnose Método Catártico Conversas investigativas Perguntas direcionadoras Até a fala desordenada do paciente – Associação Livre Com a clínica, Freud começou a observou esquecimentos freqüentes de situações penosas para o paciente, relações entre sensações e pensamentos que não eram falados e não eram entendimentos; com o aparecimento de sintomas nervosos e somáticos. Expressões anatômicas de sintomas que não tinham compatibilidade com a anatomia normal e outras coisas mais. Freud começou a questionar a existência de um “lugar”, que por “algum motivo”, pensamentos e afetos ligados a determinadas situações eram “barrados”; e enviados para este “tal lugar”. Começou então um processo de nomeação: O lugar = inconsciente A barreira = a resistência O motivo = a repressão A Psicanálise então, passava a ser um método de tratamento e cura que utilizava a associação livre para descobrir na vida daquele indivíduo, quais eram seus conteúdos inconscientes, por que motivos haviam sido reprimidos e então, baixar as barreiras da repressão e devolvê-los a consciência; livrando o paciente dos sintomas nervosos que estavam associados àquele fato, situação, desejo ou afeto. O aparelho psíquico era constituído de três sistemas ou instâncias psíquicas; 1. Inconsciente: conjunto de conteúdos não conhecidos pelo indivíduo. Foram reprimidos, censurados. Podem já ter sido conscientes e ter sido “expulsos”. È atemporal. 2. Pré-consciente: um sistema intermediário. Conteúdos que não estão diretamente nem na consciência e nem no inconsciente. Podese falar de uma transição. 3. Consciente: recebe informações do mundo interior e do mundo exterior. Envolve a percepção, atenção, raciocínio, memória, etc. As descobertas de Freud apontaram que muitos dos conteúdos reprimidos e causadores de sintomas nervosos, estavam relacionados a conflitos de ordem sexual acontecidos na infância. A partir disto, a sexualidade, a formação dela na identidade humana, e as relações da infância; ganham uma importância única na psicanálise. Freud, ao colocar a sexualidade no centro da vida psíquica e apontar a existência do início desta sexualidade na infância; abala as estruturas da sociedade puritana e cheias de regras e tabus da época. A psicanálise é altamente questionada e atacada. Freud lança ao mesmo tempo a teoria de uma sexualidade que se inicia desde o princípio da vida; que a sexualidade é um processo e não só um acontecimento ligado ao ato sexual; e por isso mesmo, o sexo não estava ligado exclusivamente à reprodução. A teoria da libido estava sendo formada – uma energia dos instintos sexuais. A sexualidade é um processo que envolve fases que se relacionam com as faixas etárias e questões psíquicas destas; bem como a maturidade e capacidade corporal. O corpo todo é erotizado e é exatamente a concentração do erotismo em determinadas regiões corporais em determinados momentos que levará a uma maturidade da fase genital e adulta normal. Fase oral – zona erógena é a boca. Ligado ao instinto de sobrevivência, o bebê conhece o mundo pela boca. Fase anal – zona erógena é o ânus. Ligado ao primeiro contato de propriedade. Fase fálica – zona erógena é o órgão sexual. Ligada à descoberta dos órgãos sexuais, diferenças e funções e prazeres. Fase de latência – intervalo na evolução da sexualidade. Ligada à necessidade de ligações sociais, fazer adormecer os instintos sexuais e transformá-los, sublimá-los investindo na sociedade e nas relações. Em todas as fases anteriores, o objeto de prazer está ligado ao próprio corpo. A fase genital normal é aquela onde o objeto de erotização não está mais no indivíduo, é externo á ele – é o outro. Está ligado ao auge das funções sexuais maduras e relacionais entre pessoas adultas. Estruturação da personalidade do indivíduo, ocorre concomitantemente à fase fálica (3 a 5 anos) podendo haver variações. Basicamente a mãe é o objeto de desejo do menino e o pai é o rival a ser vencido. Quando ele percebe que o pai é o objeto de desejo da mãe, ele elege o pai seu modelo de comportamento, internalizando as regras e condutas paternas para então, dentro das normas sociais, tentar conquistar a mãe. Com a vivência e o amor sentido pelo pai e vindo do pai, o menino abre mão desta mãe e pode se interessar por outros envolvimentos sociais e buscar outras referências femininas para ser dele. Deixa a mãe para o pai, garantindo o amor dos dois por ele e se projeta para as regras do mundo, já embasado pelas regras paternas. 1. 2. 3. Realidade Objetiva x realidade psíquica Os processos psíquicos são sempre dinâmicos e são concebidos sob 3 pontos de vista: Econômico: existe uma quantidade de energia que alimenta os processos psíquicos Tópico: os sistemas pelos quais são constituídos o aparelho psíquico permite que falemos de um “lugar” psíquico Dinâmico: no interior do psiquismo existem forças que entram em conflito e estão sempre ativas. A origem dessas forças é a pulsão. Um dos conceitos mais importantes da teoria freudiana É um estado de tensão, que busca através de um objeto, a descarga deste estado. Eros é a pulsão de vida: abrange as pulsões sexuais e de autoconservação. Tanatos é a pulsão de morte, pode ser autodestrutiva ou voltar-se para o exterior em forma de agressividade ou destruição. É uma produção ( física ou psíquica) resultante de um conflito entre o desejo e o mecanismo de defesa. É contraditório pois, ao mesmo tempo que sinaliza que algo não está bem, que existe algo a ser descoberto; ele tenta substituir o desejo trazendo satisfação. Os sintomas mudam com a cultura e a forma de sociedade. 1. 2. 3. Remodelagem da primeira teoria Os três sistemas da personalidade: ID – regido pelo princípio do prazer.Contém as pulsões de vida e morte EGO – regido pelo principio da realidade.Instância mediadora entre as exigências do id, as exigências da realidade e as ordens do superego. SUPEREGO – origina-se com o Édipo. É a internalização das regras, proibições, da moral, limites. É dar conta das exigências sociais e culturais. Só abrimos mão dos desejos por causa da culpa que é gerada ao desejar algo proibido pelo outro. O outro como objeto de amor: preciso do apreço do outro e da certeza de que ele não vai me abandonar. Abro mão do desejo para ter o outro, mas continuo a desejar e sinto culpa. A macro visão deste sistema micro gera a internalização da autoridade e faz com que o sujeito passe a se auto-regular e mediar seus desejos e a necessidade de estar em sociedade. Paga-se um preço. Processos realizados pelo ego para uma deformação da realidade. Para Freud, este processo é inconsciente e o ego manda os conteúdos indesejáveis para esta instância, para proteger o aparelho psíquico. O ego, que é a instância regida pelo princípio da realidade, colabora com estes mecanismos ajudando a trazer para o mundo externo, perigos internos, dissimulando a importância ou perigo deste. Recalque – mais radical. Suprime uma parte da realidade, como se ela existisse. Ao “não ouvir” deforma o todo e faz apenas o que quer. Formação reativa – o ego vai na direção contrária do verdadeiro desejo. Conhecer ou lidar com o verdadeiro desejo poderia ser devastador, então,as atitudes são contrárias e exageradas. Regressão – o indivíduo retorna a vários comportamentos ligados a etapas já vivenciadas. É primitivo. Projeção – distorções do mundo interno e externo que faz com que sujeito projete nas pessoas e situações ao redor; características e comportamentos dele mesmo, que ele considera indesejável. Racionalização – construção de argumentações lógicas e aceitáveis socialmente, como forma de não ter que lidar com a situação indesejável (interna ou externa) Todos nós usamos mecanismos de defesa intensamente. O uso deles não é patológico, mas é uma distorção da realidade e quanto mais esta, precisa ser distorcida, mais o indivíduo vive num mundo imaginário. É preciso um ajuste para que os mecanismos de defesa sejam protetores e não isoladores do mundo externo. O trabalho analítico consiste no deciframento do inconsciente e a integração de seus conteúdos na consciência. Isto se justifica pelo simples fato de que a maioria dos processos mentais “expulsos”, são os que direcionam as condutas do indivíduo. A finalidade é o auto-conhecimento, a busca por maneiras mais saudáveis de viver e se relacionar com o mundo externo e interno. Para tal feito,o analista precisa destruir as barreiras da resistência e usar a associação livre, os sonhos, os esquecimentos, chistes e atos falhos (que são os caminhos de acesso ao inconsciente) no seu trabalho investigativo e interpretativo. Sintoma individual e sintoma social : a relação destes para a psicanálise e as mudanças de contexto e aplicação desta teoria.