A atividade administrativa está imbuída de processos decisórios, todos na organização tomam decisões e escolhem dentre alternativas, o curso da ação a ser tomada e executada. Alguns autores como Ansoff, Simon e Morgan, afirmam que a essência das atividades administrativas é, fundamentalmente, um processo de tomada de decisão e este, por sua vez, uma atitude eminentemente humana. Segundo Ansoff (1977) e Simon (1979) a avaliação do processo decisório e a tomada de decisão passam pela abordagem idealizada que compara o ideal e o que realmente ocorre, o real. A sobrevivência e a conseqüente prosperidade das organizações empresariais está relacionada com sua capacidade de superar o desafio da busca de uma produtividade capaz de ser maior que a do concorrente e ter um maior valor agregado em seu. A partir da década de 70, o ambiente externo das empresas tornou-se muito mais complexo e turbulento; sendo que para a maioria, ou melhor, para um grande número de empresas, as fronteiras nacionais desapareceram e as necessidades e expectativas dos clientes tornaramse extremamente mais exigentes. Estas mudanças alteraram significativamente o conceito de competitividade, levando empresas e organizações de todo o mundo a fazerem perguntas do tipo: Como entender o conceito de competitividade em um ambiente de mudanças continuas? Como as empresas devem reagir às pressões por meio da formulação de suas estratégias, a fim de responderem de forma ágil e flexível, sustentando uma vantagem competitiva que pode facilmente ser destruída em um contexto de intensa turbulência? Segundo Porter (1986), as organizações devem focar sua atenção em como desenvolver e colocar em prática estratégias competitivas, para tanto, são necessários o emprego de metodologias que permitam aos administradores dimensionarem a real extensão das medidas a serem adotadas para garantir uma posição competitiva sustentável, neste ponto o administrador se depara com uma condição problema, que irá exigir uma tomada de decisão. Da mesma maneira, porém sob uma outra abordagem Chandler (1990), afirma que “as empresas com maior sucesso competitivo são aquelas cujos fundadores e executivos de primeiro escalão entenderam a lógica do empreendimento administrativo”, ou seja, a lógica da dinâmica do crescimento e da concorrência que aciona o moderno capitalismo industrial, também irá exigir a capacidade de responder rapidamente as alterações impostas pelo ambiente competitivo, fazendo com que os gestores lancem mão de ferramentas que permitam a rápida introdução de respostas a dinâmica competitiva, na qual a empresa esteja inserida. No contexto da dimensão administrativa, Balbinotti(2003), fazendo referência a Lichtenberger e Guérin afirma “que a competitividade das empresas e a eficiência das organizações hoje, não mais se resolvem na qualidade da prescrição das tarefas, mas na sua capacidade em desenvolver a iniciativa de seus trabalhadores, permitindo-lhes reapropriar-se de maneira autônoma da densidade do que está em jogo na sua ação”. Dentro deste escopo a busca pela elaboração de soluções pertinentes exige procedimentos e metodologias que sejam capazes de proporcionar ao trabalhador mecanismos para que através de sistematizações na coleta e organização de dados possa transforma-los em informações que acabam por orientar a tomada de decisão, diminuindo a incerteza da decisão tomada. Portanto, a maior parte do trabalho gerencial envolve a necessidade de resolver problemas e tomar decisões. Isto é realçado no processo de planejamento, que consiste basicamente em fazer análises e tomar decisões que afetam o futuro organizacional. É, portanto, uma aplicação específica do processo decisório. O desempenho das demais funções gerenciais é também uma forma de resolver problemas, por meio de decisões apropriadas. Embora possa ser analisado isoladamente, para finalidades didáticas, o processo decisório, na realidade, é um ingrediente substancial e inseparável das tarefas de planejamento, organização, direção e controle. Por causa disso, o estudo do processo decisório e o treinamento em tomada de decisão são maneiras de preparar pessoas para o melhor desempenho das tarefas gerenciais. As pessoas que ocupam posições de chefia, em qualquer nível hierárquico, não apenas são pagas para resolver problemas e tomar decisões, como também essas são prerrogativas suas. Quando coloca alguém num cargo gerencial, esse ocupante passa a ter a obrigação e ao mesmo tempo o direito formal de tomar decisões que afetam a organização e, que muitas vezes, serão executadas ou postas em prática por outros. - A decisão é uma parte do processo decisório, o qual é parte do processo de resolução de problemas. É esse processo que estudaremos neste capítulo, que tem os seguintes tópicos: Problemas Tipos de problemas e decisões O processo de resolução de problemas Estilos de resolução de problemas Fatores que afetam o processo Métodos de análise Partindo da definição de que problema é a diferença entre o resultado ideal (desejado) e o resultado real (alcançado), podemos afirmar que a tomada de decisão organizacional envolve o processo de identificação e solução de problemas. A decisão certa reside tanto na seleção adequada do problema como na escolha da alternativa correta. Este trabalho tem como proposta analisar o processo decisório dentro de uma linha de tempo, caracterizando cada período, influências recebidas e pensamentos. Cenário: o ambiente externo estável e previsível; preocupação com a produção; o planejamento era de curto prazo, com ênfase na elaboração e acompanhamento orçamentário financeiro; havia controle do lucro, sendo este a curto prazo. 1900 - Taylor: sofre a influência da escola de Descartes (racionalismo), com tônica na ordenação, separação, descrição e prescrição de cada etapa do trabalho; os economistas clássicos são referências (Adam Smith e James Mill) e o consenso é pela escolha da solução que irá maximizar os resultados em termos econômicos. 1916 – Fayol considera a empresa como um sistema racional de regras e autoridade, onde a administração é um processo de planejamento, organização, comando, coordenação e controle, e o trabalho do dirigente consiste em tomar decisões, estabelecer metas, definir diretrizes e atribuir responsabilidades. Final dos anos 30: há grande avanço no desenvolvimento de soluções matemáticas e estatísticas para problemas militares. Após Segunda Guerra Mundial: a abordagem quantitativa contribui de forma mais direta para a tomada de decisão em administração, no planejamento e controle, incluindo aplicações da estatística, dos modelos de otimização, modelos de informação e simulações por computadores; surgem as primeiras equipes de pesquisa operacional; emerge o conceito de Management Science (equipe mista que analisa o problema e propõe uma linha de ação, baseado em modelos matemáticos); nesta época são utilizadas algumas ferramentas e técnicas para planejamento e tomada de decisão tais como: PERT (Program Evaluation and Review Techinique), PL (Programação Linear), Matrizes de Resultados, Árvore de decisão, etc. Cenário: ambiente externo estável, com tendências de evoluções previsíveis, grande mercado disponível e baixo grau de competição; internamente, a ênfase ainda é dada a produção e o planejamento é de médio prazo; há o início da preocupação com o futuro, com prognóstico de vendas baseado na extrapolação de dados do passado. Anos 50 – Movimento da Qualidade Total no Japão: grande influência dos trabalhos de Deming, Juran e Ishikawa. Utilização de ferramentas para a identificação de problemas: diagrama de causa-e-efeito, diagrama de Pareto, matriz de urgência e importância. No final dos anos 50 surge a Teoria de Sistemas que sofre a influência da Gestalt (1912), da Cibernética e da TGS (Teoria Geral de Sistemas – anos 40). A Teoria de Sistemas parte de um pensamento holístico, o foco passa a ser na interação entre os elementos de um sistema, a natureza da interação (causa) e o efeito dessa interação. Os problemas são complexos e tratados a partir da interação de diversos fatores, levando em consideração o ambiente, numa abordagem situacional, o que facilitou o tratamento da questão estratégica. Peter Senge irá resgatar esse pensamento em 1990. Esse período é caracterizada pelo modelo de tomada de decisão racional com os seguintes passos: a) definição do problema; b) identificação dos critérios de decisão; c) determinação dos pesos dos critérios; d) geração de alternativas; e) seleção de uma alternativa e f) implementação da alternativa selecionada. São pressupostos para a tomada de decisão racional: ‣ o problema é claramente definido (não ambíguo); ‣ há um único objetivo a ser atingido; ‣ todas as alternativas e conseqüências são conhecidas; ‣ não há limitação para custo ou tempo; ‣ a escolha final maximiza o retorno econômico. Cenário: o ambiente externo instável devido aos avanços tecnológicos; há redução da taxa de crescimento do mercado e aumento da competição entre as empresas. Internamente há enfoque para a comercialização de produtos e aumento da diversificação das atividades, com planejamento de médio prazo, segmentação de negócios e criação de unidade estratégica de negócio. É o início de conceitos estratégicos visando uma melhor aplicação de recursos. 1960 – Simon acredita que em um processo decisório, o individuo tenha diante de si um conjunto de alternativas, dentre as quais fará sua escolha. Cada alternativa traduzirá de maneira clara a escolha, associada às suas conseqüências: a) na certeza (conhecimento e domínio da decisão tomada); b) no risco (decisão em cima de probabilidades); e c) na incerteza (desconhece as conseqüências). Para Simon existem limitações da racionalidade e, a tarefa de decidir envolve três etapas: prospecção (análise do problema), concepção (criação de alternativas) e decisão (julgamento e escolha da alternativa). É a contraposição entre o homem econômico - que visa maximizar lucro através de um modelo complexo, com controle de muitas variáveis - e o homem administrativo – que admite uma racionalidade limitada, usa modelos mais simples para relatar a realidade e toma decisões satisfatórias. Surge o conceito de decisões estruturadas (programadas) e nãoestruturadas (não programadas); há a inserção explícita do julgamento, intuição e criatividade no processo decisório. Mintzberg – Modelo Genérico de Processo de Tomada de Decisão Estratégica. Ele define decisão como um comprometimento específico para ação, e o processo decisório como um conjunto de ações e fatores dinâmicos que inicia com a identificação do estímulo para a ação e termina com o comprometimento para a ação. Para o autor, o processo decisório é desestruturado e não é uma decisão sob risco ou incerteza, mas a escolha entre alternativas dadas é uma decisão sob ambigüidade. Mintzberg classifica as decisões: * Segundo o estímulo: - decisão de oportunidade; - decisão em situação de crise; - decisão frente a um problema. - - Quanto a determinação da solução: solução totalmente desenvolvida em um único processo; solução desenvolvida no meio ambiente geral; solução sob medida; adaptação de soluções gerais à situação existente. O processo decisório para ele é composto de três fases: identificação da situação, desenvolvimento e seleção. Deste modo, a estratégia é uma forma de pensar no futuro e está integrada ao processo decisório, sendo este um procedimento formalizado e articulador de resultados. 1965 –– Ansoff – Corporate Strategy: Surge uma nova forma de pensar. O Planejamento Estratégico. A estratégia é baseada na análise das ameaças e oportunidades (ambiente) e nos pontos fortes e pontos fracos (organização). A partir da análise dos cenários são elaboradas estratégias para cada cenário, segundo análises probabilísticas destes cenários. Há uma separação clara entre planejamento e ação. Surgem os primeiros conflitos entre o pensamento estratégico e o pensamento lógico. Cenário: ambiente externo turbulento, com redução no crescimento econômico e acirrada competição entre as empresas. Internamente, as empresas estavam focadas na qualidade, produtividade e custos. O planejamento era de médio e longo prazos, com visão estratégica da empresa (níveis hierárquicos de planejamento: corporativo, setorial e funcional). O sistema era fortemente centrado no planejamento, com pouca atenção à implementação, havendo dificuldade de integração. 1972 – Cohen, March e Olsen: modelo da lata de lixo: descreve processos decisórios em organizações altamente orgânicas, num ambiente de mudanças rápidas e em ambiente colegiado, não-burocrático, parecendo um processo quase aleatório; decisões, problemas, idéias e pessoas fluem pela organização e se interagem de várias maneiras, ocorrendo um aprendizado gradual, onde muitos problemas são solucionados e alguns nunca o serão, e a organização manterá ou melhorará seu nível de desempenho. O final dos anos 70 é caracterizado pelo declínio do planejamento estratégico. Cenário: ambiente externo cada vez mais turbulento; há reconhecimento da importância dos processos humanos e o planejamento é visto como um agente de mudança e catalisador de aprendizado. O planejamento é de médio e longo prazos e a ênfase é a integração do planejamento às demais funções administrativas; havendo a preocupação com a implantação do controle de planos, incorporação do fator humano, o que requer atualização e aperfeiçoamento para ajuste a cultura organizacional. 1980 – Competitive Strategy – Porter – Posicionamento: poucas estratégias chaves são desejáveis; 1990 – A Quinta Disciplina – Peter Senge 1992 – Balanced Scorecard: - Focaliza quatro perspectivas importantes do desempenho da empresa - fatores críticos de sucesso. O que podemos observar na evolução do pensamento administrativo em relação a resolução de problemas modelo decisório racional, a partir dos movimentos competitivos globais passa a encontrar ambientes cada vez mais incertos, colocando em cheque o modelo, que passa a aceitar que as decisões podem ocorrer dentro de uma racionalidade limitada e, posteriormente, identificamos a evolução para um modelo mais estratégico. De forma geral, dizemos que são as posturas lógicas para a postura estratégica, na qual os lógicos contribuem com a economia de recursos e com o aproveitamento das vitórias nos enfrentamentos competitivos e os estratégicos contribuem para a competição acelerada e rápida evolução tecnológica (geração de vantagem competitiva). Porém, cabe ressaltar que as formas de pensamento não são excludentes, mas sim complementares, pois toda organização precisa do pensamento lógico e do estratégico.