Plano de Pesquisa no GT de Historiografia Lingüística (2012-2014)
CÂNDIDA BARROS (MUSEU GOELDI) E RUTH MONSERRAT (UFRJ)
Estudo sobre um catecismo na língua geral “vulgar” da Amazônia
(1750-1759)
PROJETO
MANUSCRITOS SOBRE A LÍNGUA GERAL DA AMAZÔNIA
ESCRITOS POR JESUÍTAS “TAPUITINGAS ” (1750-1759): EDIÇÃO E
ANÁLISE SOCIOLINGUÍSTICA DE UM CATECISMO ([175-]) E DE
UM DICIONÁRIO (1756) (CNPQ)
Jesuíta “tapuitinga”
Tapui significa bárbaro; por isso se alguém dá tal
nome ao povo daqui, não gostam, embora êles
nos dêem o mesmo nome a nós outros que
somos brancos, mas nao lusitanos: mas
acrescentam ao nome a palavra tinga, que
significa branco, donde tapuitinga, isto é,
bárbaro branco. (David Fay apud Ronai
1944:268)
Grupo de oito jesuítas “tapuitinga” (‘bárbaro
branco’) na década de 50 do século XVIII
• 1750. P. Lourenço Kaulen
P. Antonio Meisterburg
• 1753. P. Martinho Schwartz
P. Anselm Eckart
P. David Fay
P. Henrique Hoffmayer
P. João Nepomuceno Szluha
P. José Kayling (Meier e Aymoré 2005)
Fontes tupi anônimas sem data relacionadas à
jesuítas de língua alemã
1. Doutrina christaã em lingoa geral dos Indios do Estado do Brasil e
Maranhão, composta pelo Philippe Bettendorff traduzida em
lingoa geral irregular, e vulgar uzada nesses tempos
(Biblioteca da Universidade de Coimbra, ms.1089)
2. Vocabulário da língua Brazil
(Biblioteca Nacional de Portugal; códice 3143)
3. Prosódia
(Academia de Ciências de Lisboa)
4. Dicionário de Trier 1756
(Biblioteca Municipal de Trier/Alemanha)
Foto: Stadtbibliothek/Stadtarchiv Trier
[Fólio 45; 2ª coluna]
Ac
1 Abàc. v anherobàc. aierobàc. virarse a
pessoa, canoa para outra parte.
2 Ababàc. estrabuxar pa se soltar.
3 Açàc. arrancarse. N.
4 Acatacatàc. abalarse. a miudo.
5 Acatàc. estar abalado. N. como os dentes.
Xap.Aremonì. Oçái aremonì
6 Açaràc. ser largo como turinos
7 Acepiàc. ver. atopiaki.
8 Aioacamutàc. amarrarē entre si os carneiros.
arietare.
9 Amobàc, v amovàc. virar.a.
10 Amoçàc. arrancar o fingado. Xapì: aticép.
Grupo interdisciplinar para edição do
dicionário de 1756
• Jean Claude Muller: responsável por ter encontrado o
documento em 2012
• Proposta: Edição digital e impressa da transcriçao semidiplomática.
• Transcrição: Gabriel Prudente (IC-CNPq-MPEG)
• Supervisora: Ruth Monserrat (UFRJ)
• Colaboradores: Karl Arenz (UFPA)
Nelson Papavero (USP)
Wolf Dietrich (Universidade de Münster)
Jean-Claude Muller (IEEIL- Luxemburgo)
Cândida Barros (MPEG)
Catecismo: 125 fólios, 6 livros, 74 capítulos, 1.284 turnos de
pergunta e resposta;
Bilíngüe: língua geral “vulgar” e parcialmente latim.
Resultados do estudo do catecismo na língua geral
“vulgar” [1750-1759]
Tradução para o português e cotejo com os turnos
correspondentes nos catecismos impressos (Araújo 1618,
Araújo e Leão 1686, Bettendorff 1687 ) de dois capítulos:
- “Sobre o fim da criação, sinal da cruz, e meyos da salvação”
(fls.1-6)
- “De spe et de Pater noster” (fls.48-54)
SOBRE O FIM DA CRIAÇÃO, SINAL DA CRUZ, E MEYOS DO
SALVAÇAÕ
Doutrina [1750-1759]
• P.Abápe erimbäé icõ ára, /:
ybŷ :/ ybŷpóra pabé, paraná; ipóra, ybáka, có aracý, jacý;
jacýtatá, ára, pytúna, ybŷtu,
opacatu mbäé abé omonháng?
• Quem antigamente este
mundo, (a terra) todos os seus
habitantes, os rios; seus
habitantes, o céu, o sol, a lua;
as estrelas, o dia, a noite, o
vento e todas as coisas criou?
Bettendorff 1687:
• Mestre.Abápe erimbäe ico
âra oimonhâng?
• Quem creou este mundo?
“Composta pelo P Philippe Bettendorff ”
“Traduzida m lingoa g irregular, e vulgar uzada nestes
tempos (1750-1759)
Divergências na datação de “nestes
tempos” do título da Doutrina
Frederico Edelweiss (1969)
Interpretação aqui adotada
• “Composta pelo P Philippe
Bettendorff ”
• Período de Bettendorff na
Amazônia: 1660-1698
• “Composta pelo P Philippe
Bettendorff ”
• Período de Bettendorff na
Amazônia: 1660-1698
• “Traduzida em lingoa g
irregular, e vulgar uzada
nestes tempos
• Autoria: Bettendorff
• Período da “tradução”: 1660-1698
• “Traduzida m lingoa g
irregular, e vulgar uzada
nestes tempos
• Autoria: jesuitas “tapuitinga”
• Período da “tradução”: 1750-1759:
As bases da datação de 1750- para a
Doutrina
a) Equivalência das formas usadas na “tradução” e
das referidas como “vulgar” no dicionário de 1756.
Ex:
«Tomarse, agastarse. anhemoyrõ. vulgo.
xepyaiba»( Dic. 1756).
b) O sinal gráfico de parênteses/: : / como marca
de ortografia alemã.
O uso do parêntese /: :/ na Doutrina
[1750-1759]
• Hipóteses iniciais:
a) Marca gráfica idiosincrática do indivíduo;
b) Sequências entre parênteses acrescentadas
na “tradução”.
Os parênteses na ortografia alemã antiga (informação
de Roland Schmidt-Riese e tradução de Sarah Buerk)
• Samuel Walter 1628
“pôr, entre as orações
principais, algo acidental que
pode não pertencer
propriamente ao tema entre
parênteses”
• Notação gráfica
( ) (: :) [: :] [: :] :/: :/:
/: :/
• Freyer Hieronymos
1728
« O signum parentheseos
aplica-se para distinguir o que
não é absolutamente
necessário para entender o
discurso, mas que foi inserido
em favor de uma maior
claridade ou por outras
razões».
• Notação gráfica
()
Questões
• Que função discursiva têm os parênteses?
• Que convenção gráfica orienta seu uso na
Doutrina?
Procedimentos:
a) levantamento quantitativo dos parênteses (38
ocorrências em 1200 turnos de perguntas e
respostas)
b) Tipologia dos usos em relação aos aspectos
semânticos, sintáticos e pragmáticos.
Tipologia de parênteses na
Ocorrências
Numeração dos turnos
Doutrina
Discurso citado
8
4,6,14,16,21,23ª,24,26
Empréstimo do português
3
11,30,31
Ato Exortativo
2
2a,27b
Variedade vulgar
6
1, 15,29ab,23,32
Expressão relativa [- bae]
7
2b,5,7,8,9ª,13,
Expressão temporal [rame]
6
7,8,17,18,20,27b
TOTAL
33
Casos duvidosos
5
Seleção de dois tipos de uso que mostram a
multifuncionalidade dos parênteses:
a) Discurso citado direto com pronomes
deíticos (primeira e segunda pessoa)
b) Inclusão de uma “tradução”na língua geral
vulgar
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