Crit Care Med. 2015 Mar;43(3):574-83 Apresentação: Luciana Meister Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB)/SES/DF Programa de Residência Médica em Terapia Intensiva Pediátrica Brasília, 10 de abril de 2015 www.paulomargotto.com.br Introdução Intubação orotraqueal (IOT) é um dos procedimentos invasivos mais frequentes em UTIs; associa-se a complicações. A mais frequente: hipoxemia grave1,2,3,4,5. A IOT é geralmente precedida por vários minutos de pré- oxigenação através de uma máscara não-reinalante (MNR) para retardar a dessaturação: permite até 9 minutos de apnéia sem dessaturação arterial abaixo de 90% em pacientes saudáveis6.Na UTI, devido à instabilidade cardiorrespitatória do paciente, a pré-oxigenação é muito menos eficiente7. Técnicas alternativas têm sido propostas para reduzir a prevalência de hipoxemia grave durante a IOT. Introdução Um estudo pequeno realizado por Baillard et al8 mostrou de forma convincente que ventilação não-invasiva (VNI) poderia reduzir a prevalência e magnitude da dessaturação durante a IOT, melhorando pré-oxigenação: NO ENTANTO: Não há oxigenação durante apnéia (a oxigenação é interrompida durante a intubação para a realização da laringoscopialaringoscopia) : dessaturação grave ainda pode ocorrer, como é evidenciado por Baillard et al8 em seu estudo. Pacientes com comprometimento neurológico não se beneficiam da VNI, pois exige a aceitação do paciente e cooperação. Apenas um subconjunto de pacientes de UTI com profunda hipoxemia esta técnica foi avaliada. Não foi avaliada em pacientes com hipoxia leve a moderada. Por estas razões tem sido estudada a implementação uma técnica mais fácil e acessível. Introdução Cânula nasal de alto fluxo (CNAF) é um dispositivo que permite a entrega de oxigênio aquecido e umidificado com fluxo de até 60 L / min, com uma concentração inspirada modificável de oxigênio de até 100%. Tornou-se cada vez mais popular na UTI para gerenciar pacientes com insuficiência respiratória aguda hipoxêmica9-12. Outras aplicações: assegurar a oxigenação durante procedimentos invasivos (por exemplo, broncoscopia13,14 ou IOT). Objetivo O objetivo é comparar a oxigenação pré e peri- procedimento com máscara não reinalante (MNR) com a oxigenação com cânula nasal de alto fluxo (CNAF), durante a IOT em pacientes de UTI. Desenho do estudo Estudo prospectivo quase-experimental para determinar se a CNAF é capaz de melhorar a oxigenação e reduzir a prevalência de hipoxemia grave durante a intubação em comparação com MNR. A realização de um estudo randomizado não seria ético, devido à evidente falta de equilíbrio entre a duas técnicas. UTI de 12 leitos clinico-cirúrgicos do Hospital Universitário de Louis Mourier, Colombes, França. Março a Dezembro 2011: Procedimento padrão de pré-oxigenação com MNR (fase de controle) Janeiro a Novembro 2012: Pré-oxigenação com CNAF Aprovado pelo comitê de ética. Dispensa do termo de consentimento livre e esclarecido dos participantes. Desenho do estudo Sequência rápida de intubação: Na ausência de contraindicações Succinilcolina (bloqueador neuromuscular) e etomidato (hipnótico) A primeira laringoscopia era feita pelo médico residente (como parte do seu treinamento15 ). Na ocasião de falha, esta era assumida pelo Staff A ventilação inicial era programada pelo Staff com FiO2 de 1,0 Uma gasometria arterial era colhida em até uma hora após a IOT Fase de controle: a pré-oxigenação era realizada com MNR por pelo menos 3 minutos com fluxo de O2 de 15L/min. A MNR era retirada durante a laringoscopia. Durante o período de apnéia, era ofertado O2 por cateter nasofaríngeo a 6L/min Segunda fase: Pré-oxigenação realizada por CNAF por 3 minutos com fluxo de O2 de 60L/min e FiO2 1,0. O dispositivo era mantido durante o período de apnéia. Dispositivos 37°C and containing 44 mg H2O/L. Cateter nasofaríngeo Pacientes Todos pacientes adultos admitidos na UTI que necessitavam de IOT eram elegíveis Excluíram-se: Menores de 18 anos; IOT por parada cardíaca; hipoxemia severa (SatO2< 95% com MRN a 15L/min); uso de CNAF; uso de VNI A decisão final de intubação cabia ao médico assistente, entretanto a Unidade estudada segue as seguintes indicações de IOT: Parada respiratória, pausa respiratória sem perda de consciência, agitação psicomotora que necessite de sedação, instabilidade hemodinâmica a despeito do uso de drogas vasoativas (DVA) com pressão sistólica <70mmHg, PaO2< 45mmHg, perda de consciência ou piora da encefalopatia. Coleta de dados Dados demográficos e clínicos Sinais vitais SatO2: antes e depois da pré-oxigenação, durante todo o procedimento e até 30 minutos após a IOT Gasometria arterial antes e depois da IOT era coletado quando disponível Dificuldade de intubação era medido usando: 17 Score de Comark Duração do procedimento (do momento do início da sequência rápida à conexão ao ventilador) Número de tentativas Necessidade de dispositivos para via aérea difícil Sucesso ou falha da tentativa pelo médico residente. Eventos adversos: Arritmia, parada cardíaca, morte durante ou imediatamente após o procedimento. Radiografia de tórax era feita rotineiramente após a IOT para confirmar o posicionamento adequado do tubo e a presença de distensão gástrica. Desfechos e análise estatística Desfecho primário: a menor SatO2 observada em cada paciente Desfechos secundários Mediana de SatO2 durante o procedimento, depois da pré-oxigenação, e depois da IOT. Prevalência de hipoxemia ameaçadora à vida (SatO2<80%) durante o procedimento Prevalência de eventos adversos graves (Arritmia, parada cardíaca ou instabilidade hemodinâmica) Desfechos e análise estatística Para análise, a principal variável independente foi a participação no grupo (CNAF ou MNR) e foi incluído em vários modelos multivariados. Resultados foram expressos em medianas ou frequência e porcentagens Variáveis categóricas: comparadas com teste chi-quadrado ou Teste exato de Fischer. Variáveis contínuas: comparadas com teste T de student ou de Wilcoxon rank-sum test A diferença entre os grupos com relação a baixa SatO2 foi ajustada para covariáveis que se associavam significativamente a baixa SatO2 (p < 0.2) Baixa SatO2 não apresentaram distribuição normal e foram analisados com Wilcoxon rank-sum test (para comparação de medianas), coeficiente de correlação de Kendall e regreção de quantis da mediana para analise multivariada. Analise multivariada da ocorrência de dessaturação (SatO2<80%) foi realizada usando regressão logística Nível de significância estatística: p < 0,05 Resultados: fluxo de pacientes Resultados: Características básicas dos pacientes Resultados: mudanças na SatO2 durante a intubação Máscara não-reinalante) -Houve menor SatO2 no grupo MNR, mesmo após ajuste -SatO2<80% ocorreu Menos no grupo CNAF Cânula nasal de alto fluxo Resultados: Predicção da SatO2 nos primeiros 5 minutos de intubação Observamos diferença significativa na queda a SaTO2 entre as duas técnicas (queda maior com a técnica MNR) Resultados:fatores de risco para severa hipoxemia (SatO2<80mmHg) na análise uni e multivariada Na análise multivariada -a pré-oxigenação com CNAF foi fator de proteção independente para ocorrência de hipoxemia severa (OR: 0,14; IC 95%, 0,01-0,9; p=0,037) -Níveis de SatO2 ao final da pré-oxigenação se correlacionaram com níveis menores de SatO2 atingidos ao fim do procedimento de IOT ((r = 0.38; p < 0.0001) Discussão Os resultados deste estudo sugerem fortemente que Cânula nasal de alto fluxo (CNAF) melhorou significativamente a oxigenação durante a intubação e impediu hipoxemia com risco de vida, em comparação com a máscara não-reinalante (MNR) . Dada a elevada taxa de hipoxemia grave durante a intubação na UTI, os resultados apresentados têm importantes conseqüências clínicas, diretamente aplicáveis na UTI em todo o mundo. Discussão Hipoxemia com risco de vida é a complicação mais frequente relatada na intubação na UTI3. Estas dessaturações ocorrem apesar da pré-oxigenação. Inúmeras razões concorrem para limitar a eficiência de oxigenação nos pacientes da UTI: doença subjacente cardiopulmonar, anemia, baixo débito cardíaco, estados hipermetabólicos, ventilação / perfusão incompatibilidade, obesidade, dor, etc6, 7, 20. Finalmente, a taxa de intubação difícil é maior na UTI, e um subconjunto de pacientes necessitam de mais de duas tentativas, prolongando a duração da apnéia e, obviamente, o risco de dessaturação. Discussão Melhorar a pré-oxigenação é uma questão crucial para reduzir a morbidade da intubação traqueal urgente na UTI. Os esforços para melhorar a pré-oxigenação através da oxigenação por máscara facial convencional e ventilação, tem sido apenas marginalmente eficaz para prevenir dessaturação7. Assim, são necessárias outras técnicas de administração oxigenação. Discussão A VNI tem sido bem sucedida, como demonstrado claramente Por Baillard et al8, em seu estudo convincente comparando pré-oxigenação com máscara convencional e VNI. Os autores mostraram que a VNI reduziu a profunda dessaturação (<80%), de 46% para 7%. Apesar destes resultados impressionantes, a VNI não tem sido amplamente adotado como um dispositivo de pré-oxigenação. Estes resultados não foram confirmadas por outros, além do caso particular de intubação de pacientes obesos na sala de cirurgia 21,22. Discussão Na própria UTI dos autores, um estudo posterior indicou que a VNI foi "espontaneamente" usada em apenas 42% dos pacientes que necessitam de intubação urgente 23. A VNI tem limitações inerentes - a principal delas é a aceitação e colaboração do paciente, excluindo todos os pacientes com comprometimento neurológico; -a remoção da pressão positiva para permitir a laringoscopia, evitando assim qualquer oferta de oxigênio durante as tentativas. Discussão Os presentes resultados positivos com CNAF sobre oxigênio convencional são consistentes com os dados reportados em pacientes com insuficiência respiratória hipoxêmica aguda e estão relacionados com a alta FiO2 fornecida com o dispositivo (devido à ausência de diluição de oxigênio), a a lavagem do espaço morto faríngeo, a ótima condição de gases inspirados e uma certa quantidade de pressão positiva10, 11, 24-27. Como a moderada pressão positiva gerada com a CNAF28 contribui significativamente para a melhoria da oxigenação não pode ser avaliada, mas estes níveis moderados de pressão podem resultar no recrutamento alveolar29. Obviamente, esses níveis são muito menores todo que aqueles produzidos durante a VNI (cerca de 12 cm H2O no estudo de Baillard et al 8), mas podem ser suficientes em pacientes menos hipoxêmicos. Discussão Uma característica importante da CNAF e potencial vantagem sobre a VNI é a possibilidade de recorrer a oxigenação durante a laringoscopia, uma técnica conhecida como "oxigenação apneica." Difusão do oxigênio a partir dos alvéolos para os capilares diminui a pressão dos alvéolos, gerando um fluxo de ar a partir da faringe para a via aérea distal. O aumento do conteúdo de oxigênio da faringe, assim, aumenta a oxigenação apneica, que tem sido demonstrada atrasar mais a dessaturação30-32. É claro que as características da CNAF a torna ideal para a oxigenação apneica. A contribuição de cada um destes itens para o efeito benéfico observado no presente estudo é difícil estabelecer . Discussão A alta FiO2 na máscara não-reinalante (MNR) foi utilizada durante o período de controle porque é o dispositivo utilizado na UTI dos autores por vários anos para fornecer pré-oxigenação. Um estudo recente 33, comparando máscara-bolsaválvula e MNR para pré-oxigenação,relatou que o uso da MNR resultou no mesmo nível de denitrogenização que a máscara-bolsa-válvula. Além disso, foi relatada neste estudo uma maior dificuldade para respirar através da máscara-bolsaválvula do que através da MNR e a ETCO2 no final da pré-oxigenação foi maior com mácara-bolsa-válvula. Discussão O presente estudo tem várias limitações: Em primeiro lugar, não foi um ensaio clínico randomizado (ECR). Os autores acreditam que a escolha deste desenho teria sido questionável por razões éticas. Há evidência de superioridade com o uso da CNAF34 e melhora da oxigenação em relação a MNR 11, 24, 25, 29, 35. Discussão Questionada a relevância clínica das diferenças de SatO2 encontradas, dado que os oxímetros possuem erro de ±2%. A Figura 2 ilustra a previsão de evolução da SatO2 ao longo do tempo nos dois grupos. Embora existam diferenças modestas em Spo2 inicialmente, estas tornam-se considerável ao longo do tempo. Discussão Pontos fortes do presente estudo está no número de pacientes incluídos (o dobro do que no estudo de Baillard et al 8); a captura de cenário da vida real (foram estudados todos os tipos de pacientes, incluindo pacientes com comprometimento neurológico); e o mais importante, o fato de que os autores foram capazes de mostrar uma diminuição importante na prevalência de hipoxemia grave em uma população de pacientes onde os pacientes mais graves não foram incluídos. Intuitivamente, pode-se inferir que esses pacientes se beneficiarão ainda mais a partir dessa técnica. Conclusão O uso da cânula de alto fluxo (CNAF)para pré- oxigenação reduziu significativamente a prevalência de hipoxemia grave durante intubação em comparação com máscara não-reinalante. O uso de CNAF durante a IOT na UTI representa um importante avanço na segurança do paciente durante este procedimento de potencial alto risco. ABSTRACT Nota do Editor do site, Dr. Paulo R. Margotto Consultem também!Aqui e Agora! Sequência rápida de intubação no recém-nascido Como fazemos! Analgesia e sedação no recém-nascido em ventilação sequência rápida de intubação mecânica/ Autor(es): Paulo R. Margotto, Martha David Rocha Moura O termo sequência rápida de intubação (SRI) surgiu na década de 1980 como extensão da seqüência rápida de indução anestésica. Foi observado que o uso de prémedicamentos facilitava e tornava o procedimento mais seguro e com maior índice de sucesso. Em 1990, Yamamoto relatou o uso com sucesso da seqüência rápida de intubação em 19 pacientes pediátricos que necessitaram de intubação traqueal de emergência. PREMEDICAÇÃO PARA INTUBAÇÃO SEMI-ELETIVA OU ELETIVA A intubação é um procedimento potencialmente doloroso, estressante e é associado com efeitos fisiológicos adversos. Muitas intubações na UTI Neonatal continuam serem feitas em estado acordado, isto é, sem analgesia pré-procedimento. Há evidências na literatura que mostram que a intubação realizada com o bebê acordado é associada com aumento da pressão intracraniana (parece ser devido ao aumento do volume sangüíneo cerebral conseqüente à redução da saída do fluxo venoso do crânio), aumento da pressão arterial sistólica (resposta observada em 47% de 10 pré-termos intubados), maior variabilidade da freqüência cardíaca do que os bebês intubados com pré-medicação, além do maior tempo gasto na intubação e o maior número de tentativas de intubação nos RN acordados. As alterações fisiológicas provocada pela intubação em RN acordados são suficientes para produzir lesão de reperfusão e congestão venosa associada com hemorragia intraventricular e leucomalácia periventricular. A extrapolação de informação de adultos e da literatura pediátrica nos sugere que a intubação do neonato acordado é provavelmente inapropriada. Devido à atenuação das respostas fisiológicas, o uso da premedicação na intubação dos RN está indicado, devendo esta premedicação ser administrada por médicos qualificados. é importante lembrar que como a intubação é um processo DOLOROSO, devemos fazer a ANALGESIA e NÃO SEDAÇÃO. A melhora droga no momento é o fentanil(o fentanil é melhor do que a morfina, pois esta leva 10 minutos para ter um bom efeito analgésico). O uso do fentanil (dose de 2,5 µg/kg – 1 a 3µg/kg) não causa produção de histamina, não ocorrendo assim o broncoespasmo. O débito cardíaco, a resistência vascular sistêmica, a resistência vascular pulmonar e a pressão de oclusão da artéria pulmonar são preservadas. Há vantagens em associar ao analgésico um miorrelaxante muscular? Estudos evidenciaram menos episódio de hip0xia, assim como maior sucesso da intubação (menor tempo e menor número de tentativa s de intubação) com esta associação. O midazolam não é um analgésico, é um sedativo e o seu uso está associado com aumento de alguns efeitos adversos sérios durante a intubação: diminui o débito cardíaco, diminui ao velocidade do fluxo sanguíneo, e tem cinética muito variável (tem uma meia vida de 22 horas e nos casos de doses repetidas, até 7 dias!). O uso de midazolam durante a ventilação mecânica está associado com aumento de efeitos adversos neurológicos e não deve ser usado na intubação do neonato. Não usar o “pacotinho” MIDAZOLAM+FENTANIL (descritas síndromes neurológicas, havendo potencialização dos efeitos adversos com mais hipotensão e esta está associada à leucomalácia e óbito) Os procedimentos SRI consistem na utilização da seguinte sequência de ações: Período de oxigenação a 100% :ventilação com pressão positiva sob máscara, Bloqueador neuromuscular de ação rápida e curta (rocurônio:0,5mg/kg ou vecurônio:1mg/kg). seguida por um Analgésico com as mesmas características, (fentanil:2,5µ/kg) Aplicação de pressão na cartilagem cricóide (manobra de Sellick), para realizar rapidamente e nas melhores condições a laringoscopia seguida da intubação orotraqueal Obs: -Alguns tem usado atropina (0,01mg/kg) antes da curarização; outros usam somente fentanil. -Na falta do rocurônio, usar succinilcolina: 1-1,5mg/kg/dose, tendo em mente as complicações que podem ocorrer: Fasciculação muscular, aumento da pressão arterial, intracraniana, hiperpotassemia Uso do Curare na UTI Neonatal Autor(es): Paulo R. Margotto Sobre o Curare na Neonatologia A curarização resulta da ação de drogas (curares) na junção neuromuscular, que, atuando, na maioria das vezes, corno antagonistas competitivos da acetilcolina, impedem a ligação desta aos receptores nicotínicos, localizados na porção pós-sináptica da junção. Clinicamente, se expressa pela paralisia muscular flácida ou pela fraqueza muscular generalizada. Realizamos um estudo de revisão com o objetivo de proporcionar ao neonatologista uma base na compreensão do mecanismo de ação dos diferentes bloqueadores neuromusculares, para que possamos otimizar o seu uso e prevenir os efeitos adversos (em anexo). Existem diferenças na anatomia e bioquímica das junções neuromusculares dos RN, assim como outras diferenças fisiológicas nos compartimentos aquosos do corpo e função renal que podem ter importantes implicações para o uso dos agentes bloqueadores neuromusculares na UTI Neonatal (na ventilação mecânica de pré-termos para diminuir a incidência de hemorragia intraventricular, faltam estudos randomizados e controlados que nos autorizam o seu uso; entre efeitos colaterais:perda auditiva sensorial, diminuição da oxigenação, contratura nas juntas, fraqueza do recém-nascido, reforçando que o uso concomitante com gentamicina potencializa o seu efeito). Na Neonatologia, temos usado CADA VEZ MAIS RESTRITAMENTE, inclusive nos pós-operatórios. No entanto, tem sido incluído na sequência rápida de intubação, juntamente com o fentanil (2µg/kg em 30 segundos seguido por ventilação com máscara) um curare de ação rápida e curta com o único e exclusivo objetivo de facilitar a intubação ELETIVA (pelo seu efeito miorrelaxante e não como sedativo!) que é o rocurônio na dose de 0,5mg/kg (inicia a ação em média 65 segundos e com duração em média de 16minutos). Há menos episódios de hipoxia durante o processo. Estudo controlado com o rocurônio na SRI mostrou sucesso na primeira intubação com o rocurônio em 80% versos 8% sem o rocurônio ( D M Feltman DM, Weiss MG, P Nicoski ,Sinacore J. Rocuronium for nonemergent intubation of term and preterm infants. J Perinatol 2011 31: 38, 2011) IMPORTANTE: EVITAR O USO DE KETAMINA NA INTUBAÇÃO NA SALA DE PARTO PARA ADMINISTRAR SURFACTANTE, como recomenda estudo francês de 2013!!!!!!! Neurotoxicidade da ketamina Autor(es): Barois J et al; Aydin M; Dong C, Anand KJS; Bai X et al. Realizado por Paulo R. Margotto Barois e Tourneux estudaram 57 RN pré-termos entre 1o de janeiro e 30 de junho de 2012, sendo 15 RN no grupo sem analgesia e 39 no grupo da ketamina. Todos os RN apresentavam idade gestacional <28 semanas e receberam surfactante profilático. Entre 28-26 semanas, usou-se o CPAP nasal e se necessitasse de FiO2 >30% dentro de 5 minutos, eram intubados para receber surfactante. A dose usada de ketamina foi: 1mg/kg com uma dose adicional de 1mg/kg se necessário após esperar de 1 minuto, com dose máxima cumulativa de 5mg/kg, em combinação com atropina (20µ/kg) via linha venosa periférica. Dose média de ketamina foi 1,8±0,9mg/kg (a rota nasal foi usada em 2 RN devido à dificuldade de acesso venoso, com dose média de 4,1±0,1mg/k e a dose retal de 2,2mg/kg foi usada em 1 RN; no entanto, os 3 RN foram excluídos da análise). A laringoscopia foi iniciada após 1 minuto de completa analgesia. Os autores citam que o uso da ketamina e atropina foi efetivo na diminuição da dor e prevenção da bradicardia vagal durante a intubação endotraqueal nos pré-termos na Sala de Parto. A ketamina foi de uso fácil, com início da ação em <1 minuto e não houve grandes efeitos colaterais durante o procedimento ou durante a permanência na UTI Neonatal. Sem diferenças na morbidade entre os dois grupos no que se refere ao escore CRIB II, incidência de canal arterial pérvio, duração da ventilação mecânica e terapia com o oxigênio, displasia broncopulmonar, enterocolite necrosante e hemorragia intraventricular; menos RN do grupo da ketamina necessitou de aminas vasoativas (p<0,005) e sem diferenças quanto à morte entre os grupos. NO ENTANTO ... a ketamina induz morte celular nos cérebros em desenvolvimento a ketamina altera a neurogênese do desenvolvimento neural precoce A ketamina interfere com a proliferação de células tronco neurais (NSCs) e induz apoptose nos neurônios diferenciados das NSCs via espécies reativas de oxigênio (reactive oxygen species-ROS) e via mitocondrial A neurotoxicidade é um sério efeito potencial da ketamina em populações vulneráveis, particularmente os pré-termos e as gestantes, agora, pela primeira vez evidenciado em células neuronais humanas! O uso rotineiro de ketamina para a analgesia nesta população de risco, principalmente para imediata analgesia devido à intubação eletiva de prétermos na Sala de Parto, não está recomendado até que novos estudos demonstrando segurança da ketamina sejam conduzidos.