Estruturalismo Aula 10 Profª Karina Oliveira Bezerra Principal representante: Claude Lévi-Strauss • Nascido na Bélgica, transferiu-se mais tarde para a França, onde passou grande parte de sua vida. • Visitou o Brasil, convidado para lecionar Sociologia na Universidade de São Paulo. Teve oportunidade de contactar com vários grupos tribais do interior do país. • Permaneceu algum tempo nos Estados Unidos. • “ A sua preocupação básica consiste em estabelecer fatos que sejam verdadeiros a respeito de ‘a mente humana’, mais do que apurar a organização de qualquer sociedade ou classe de sociedades.” • É a preocupação subjetiva que permeia as obras de LéviStrauss • Ao apropriar-se do pensamento estruturalista para aplicá-lo à Antropologia, Lévi-Strauss pretende chegar ao modus operandi do espírito humano. No seu entender, deve haver elementos universais na atividade do espírito humano, elementos entendidos como partes irredutíveis e suspensas em relação ao tempo, que perpassariam todo o modo de pensar dos seres humanos. • Nesta linha de pensamento, Lévi-Strauss chega ao par de oposições como elemento fundamental do espírito: todo pensamento humano opera através de pares de oposição. Para defender essa tese, LéviStrauss analisa milhares de mitos nas mais variadas sociedades humanas, encontrando modos de construção análogos em todas. Ou seja, estruturas parecidas em todas • Lévi-Strauss explicou que os antônimos estão na base da estrutura sócio-cultural. Em seus primeiros trabalhos demonstrou que os grupos familiares tribais eram geralmente encontrados em pares, ou em grupos emparelhados nos quais ambos se opunham e se necessitavam ao mesmo tempo. • Na Bacia Amazônica, por exemplo, duas grandes famílias construíam suas casas em dois semi-círculos frente-a-frente, formando um grande círculo. Também mostrou que os mapas cognitivos, as maneiras através das quais os povos categorizavam animais, árvores, e assim por diante, eram baseados em séries de antônimos. • Mais tarde, em seu trabalho mais popular, "O Cru e o Cozido", descreveu contos populares amplamente dispersos da América do Sul tribal como interrelacionados através de uma série de transformações - como um antônimo aqui transformava-se em outro antônimo ali. Por exemplo, como o título indica, Cru torna-se seu oposto, Cozido. Esses antônimos em particular (Cru/Cozido) são simbólicos da própria cultura humana que, por meio do pensamento e do trabalho, transforma matérias-primas em roupas, alimento, armas, arte, idéias. Cultura, explicou Lévi-Strauss, é um processo dialético: tese, antítese, síntese. • Ao fazer estudos em literatura, um crítico estruturalista examinará a relação subjacente dos elementos ('a estrutura') em, por exemplo, uma história, ao invés de focalizar em seu conteúdo. Um exemplo básico são as similaridades entre 'Amor, sublime Amor' e 'Romeu e Julieta' . • Apesar de as duas histórias ocorreram em épocas e lugares diferentes, um estruturalista argumentaria que são a mesma história, devido à estrutura similar: em ambos os casos, uma garota e um garoto se apaixonam (ou, como podemos dizer, são +AMOR) apesar de pertencerem a dois grupos que se odeiam (-AMOR), um conflito que é resolvido por suas mortes. • Consideremos agora a história de duas famílias amigas (+AMOR) que fazem um casamento arranjado entre seus filhos apesar deles se odiarem (-AMOR), e que os filhos resolvem este conflito cometendo suicídio para escapar da união. • Um estruturalista argumentaria que esta segunda história é uma 'inversão' da primeira, porque o relacionamento entre os valores do amor e dos dois grupos envolvidos foi invertido. Adicionalmente, um estruturalista argumentaria que o 'significado' de uma história se encontra em descobrir esta estrutura ao invés de, por exemplo, descobrir a intenção do autor que a escreveu. Estrutura e Relações Sociais • Para Lévi-Strauss a estrutura social não se confunde com a realidade empírica (não é natural). Ela seria sim um modelo de análise construído a partir da observação da realidade social (cultura). • Então, as relações sociais são a matéria-prima empregada para a construção dos modelos que tornam manifesta a própria estrutura social. • A estrutura é um sistema que reflete a realidade social ou cultural, seu funcionamento, as alterações regulares a que está sujeita, e o rumo das transformações provocadas por fatores externos à cultura. • Um estruturalista estuda atividades tão diversas como rituais de preparação e do servir de alimentos, rituais religiosos, jogos, textos (literários e não-literários) e outras formas de entretenimento para descobrir as estruturas profundas pelas quais o significado é produzido e reproduzido em uma cultura. Culturas Simples e Complexas • Ao questionar sobre a intrinsidade das sociedades e culturas humanas e com o objetivo de melhor perceber as estruturas mentais inconscientes básicas, Lévi-Strauss fala em culturas frias e culturas quentes. • Considera sociedades frias as que estão mais próximas do estado de natureza, com contingente populacional restrito, não estáticas, mas com o dinamismo cultural comprometido. São as sociedades simples, aparentemente harmônicas e resistentes a mudanças em suas culturas, oferecendo melhores condições para a identificação das estruturas mentais inconscientes. • As sociedades quentes são as históricas, complexas, industrializadas, todas afetadas pela civilização e progresso. Estão cada vez mais distantes da ordem natural e apresentam aparência de desarmonia e desordem. Modelos Conscientes e Inconscientes • Strauss tenta criar um método adequado para captar os modelos inconscientes que condicionam e explicam os modelos conscientes. • Com efeito, afirma, os modelos conscientes – que se chamam comumente normas – incluem-se entre os mais pobres que existem, em razão de sua função, que é de perpetuar as crenças e usos, mais do que expor-lhes as causas. • O modelo consciente é assim a parte da cultura facilmente observada, seja material ou imaterial, que retém atrás de si o modelo inconsciente que lhe deu origem. Considerando-o em geral deformado, o que vem dificultar a plena compreensão do que ele chama estrutura profunda, ou seja, do modelo inconsciente. Este, por sua vez, é explicativo das causas que determinaram as representações conscientes, concretas de um grupo humano. Crítica ao estruturalismo de Lévi-Strauss • Ao interpretar o pensamento de Lévi-Strauss, Luiz Gonzaga de Mello afirma: • “...a consideração do inconsciente no agir humano é geralmente aceita como dado importante. Como atingir o inconsciente? (...) a objetividade do comportamento humano está em se considerar e levar em conta o inconsciente camuflado; isto contudo pode levar a um outro subjetivismo, o do pesquisador, que ao construir seus modelos de análise pode, simplesmente, fazer uso de seus modelos pré-fabricados pelo próprio inconsciente. Aí está o ponto mais vulnerável do estruturalismo straussiano.