Racismo e Etnocentrismo Texto “Raça e História” (1952) de Claude Lévi-Strauss Antropólogo, já foi professor da USP. Tem hoje 98 anos. “Raça e Cultura” – Lévi-Strauss • Documento elaborado para a UNESCO • Contexto: pós-guerra; necessidade de fundamentar as discussões sobre racismo, cultura e direitos humanos. “Raça e Cultura” – Lévi-Strauss • Lévi-Strauss refuta as concepções que vêem a história como um movimento linear e progressivo. Crítica também as teorias evolucionistas e, em especial, o determinismo biológico. • A idéia de raça é falsa, como já mostraram as pesquisas genéticas. Não há relações entre “raças” com aptidões distintas com a constituição anatômica e fisiológica dos indivíduos com diferentes fenótipos. • Se considerarmos raças as diferenças fenotípicas, assim mesmo estas se contam em unidades, enquanto as culturas se contam aos milhares. • A desigualdades das raças foi um artifício usado para justificar teorias e ideologias. A diversidade intelectual, estética ou social não tem qualquer relação de causa e efeito no plano biológico. “Raça e Cultura” – Lévi-Strauss • A história das culturas humanas é muito difícil de ser reconstruída. Dependemos de uma reconstrução histórica ou arqueológica para isso, que nem sempre possível. • A maioria das civilizações já desapareceu e não deixou vestígios (segundo Lévi-Strauss, cerca de 90-99% delas). A diversidade das culturas é dificilmente avaliável. • Não existem culturas “estacionárias”. Estas são dinâmicas, estão em constante transformação. Inclusive, as mesmas são o resultado de transformações e interações históricas dificilmente mensuráveis. Os homens elaboram suas culturas a partir das condições geográficas e do contato com outros povos (Lévi-Strauss não acredita que exista um isolamento absoluto). Etnocentrismo É o repúdio a outras formas culturais – morais, religiosas, sociais e estéticas – mais afastadas daquelas com as quais nos identificamos (p. 236). É comum a associação do outro com a idéia do bárbaro, do selvagem. Nós somos a “gente”, o “povo”, os “homens”. O “outro” fica fora dessa qualificação. Exemplos: • Ianomâmis – “nossa gente” • Cherokees – “povo real” ou “principal” Etnocentrismo • Mapuches – “homens da terra” • Bantu – “pessoas”, é o plural de muntu. Etnocentrismo: exemplos do “outro” • Caiapó significa "como um macaco". Seus inimigos assim o chamava esse grupo porque estes se pintavam de negro para guerrear. Eles chamam a si próprios de mebemgokrê, ou “povo do buraco d'água”. É uma referência à lenda que diz que eles vieram do céu e ao cair avistaram imensos rios. • Navajo (“campo grande”). Eles se chamam de Dineh, que significa “povo da terra santa”. Etnocentrismo: exemplos do “outro” • Esquimós (significa “comedores de carne crua”) . O povo se chama Inuit (“o povo”) ou inuik (“pessoa”). Etnocentrismo: exemplos do “outro” • Os Europeus questionavam se os índios tinham alma ou se seriam animais, o que justificava a escravidão e outras “barbaridades” (séc. XVI). Etnocentrismo: exemplos do “outro” • Nas Exposições Universais, levavam negros e indígenas • Na Europa, fazia-se a mesma coisa nos zôos (como o Völkerschau, na Alermanha). Cultura e Etnocentrismo • Metáfora do trem. Vemos os outros povos de forma muito particular. O ambiente, as visões de mundo, os juízos de valor, nossas referências, as instituições tudo isso penetra em nós. A velocidade dos outros trens depende para onde eles deslocam, seu comprimento, o sentido. Somos como observadores que nos sentamos na janela. • O autor quer dizer que tudo é arrastado conosco ou faz parte de “nosso cenário” referencial. Pode ser inconsciente. O trem vai em uma única direção. • Não existe cultura inerte ou estacionária. Essa visão pode ser resultado da ignorância de quem observa (p. 249). • A noção de humanidade para englobar todas as formas da espécie humana apareceu muito tardiamente (p. 237) A Humanidade como abstração • A igualdade entre os homens é uma abstração (p. 238), contém algo de enganoso, pois fazemos vista grossa á diversidade. • A declaração dos direitos humanos é um ideal, a diversidade se impõe. Tenta-se negar a diferença. A Idéia do Progresso • Metáfora do cavalo do xadrez. O progresso não é como uma escada... (p. 245). O progresso se dá por saltos (o autor observa que a humanidade permaneceu 90% do tempo “estacionária”). • A originalidade da cultura reside na forma como estas resolvem seus problemas (cada uma com sua linguagem, técnica, arte, conhecimento científico, etc.). • As descobertas de tecnologias (escrita, metalurgia, medicina, formas de cultivo, democracia representativa), não nos habilita a falar em desenvolvimento linear, avanços acontecem por necessidades da sociedade e pelo contato com outras culturas. • Em geral, as conseqüências desses avanços são impredizíveis. A Idéia do Progresso • O progresso se dá pelo contato. • Metáfora dos “jogadores”. A probabilidade de alcançar um certo resultado depende do número de jogadores e da possibilidade destes compartilharem seus resultados. Conclusões • Lévi-Strauss faz dezenas de perguntas ao longo do texto. Ele procura muito mais levantar questões do que encontrar respostas para as mesmas. • Não há nada pior a uma cultura que estar só (p. 263 ). A colaboração entre as culturas é vista como algo positivo. O progresso cultural é função de uma coalizão das culturas (p. 266). • Somos tributários de todas as civilizações e culturas passadas que nos “formam” (greco-romana, árabe, germânica...). As “vantagens” decorrem do intercâmbio e acumulação do conhecimento . Atividade Questões: a) Dê alguns exemplos de etnocentrismo. b) Procure exemplos de transformação cultural na sociedade brasileira, associando-os com as idéia de “coalizão cultural” de Lévi-Strauss.