Caso clínico Internato em Pediatria-HRAS Marina Mendes Vasco Orientadora: Drª Elisa de Carvalho Escola Superior de Ciências da Saúde(ESCS) Caso clínico Data da história: 22/10/06 Identificação: MDR, feminina, parda, 10 anos, natural e procedente do Piauí, católica. QP: Dores nas costas há 04 dias. Caso clínico HDA: Escolar portadora de anemia falciforme, no 18º DPO (esplenectomia), há 04 dias iniciou dor em região torácica, dorsal, em pontada, associada a dor em QSD, em queimação, de duração variada. Refere respiração superficial na presença da dor. Mãe notou icterícia hoje pela manhã. Nega alterações da urina ou das evacuações. Mãe refere contato da criança com irmã que apresentou hepatite há 03 meses. Nega febre ou infecção. Caso clínico RS: Refere emagrecimento (2kg em 18 dias). Antecedentes Fisiológicos: Mãe não fez pré-natal. Nasceu por parto normal, a termo. Recebeu alta hospitalar em 48h. Calendário vacinal atualizado. História alimentar: LME: 01 mês. LM total: 05 anos. Caso clínico Antecedentes Patológicos: Diagnóstico de anemia falciforme desde 01 ano de idade. Três pneumonias com internação na fase de lactente. Varicela aos 03 anos, sem necessidade de internação. Internações mensais por crises álgicas e fraqueza, com transfusão sangüínea associada. Caso clínico Hábitos de vida: Casa de alvenaria, 04 cômodos, 05 moradores, com rede de esgoto. Consomem água filtrada. Nega animais domésticos. Fumante passiva- amigos fumam. Caso clínico Antecedentes Familiares: Mãe, 48 anos, 1º grau completo, servente em colégio: saudável. Pai, 52 anos, agricultor, tem HAS. 04 irmãos saudáveis. Tio paterno tem retardo mental. Avó materna tem HAS. Caso clínico- Exame Físico Peso: 24 kg Ectoscopia: BEG, acianótica, ictérica (++/4), hipocorada (++/4), afebril, hidratada, ativa, reativa, eupnéica, emagrecida. Oroscopia: língua saburrosa. Ausência de hiperemia ou secreção purulenta nas tonsilas. Dentes em mau estado de conservação. Otoscopia: cerúmen bilateral. Membranas timpânicas com brilho característico. Pele: equimoses em porção medial do antebraço e braço E. Cicatrizes hipercrômicas em MMII. Caso clínico- Exame Físico AR: MV rude, sem RA. Ausência de tiragem ou batimento de asa de nariz. FR: 24 irpm. ACV: RCR, 2T, BNF, com SS (++/6) em BEEB, predominantemente em áreas mitral e tricúspide. FC:92 bpm. Abdome: plano, flácido, indolor, peristalse presente, fígado ao nível do RCD, cicatriz cirúrgica em hipocôndrio D sem sinais flogísticos. Sinal de piparote ausente. Sinais de Giordano ausente bilateralmente. SNC: orientada, fásica, sem sinais meníngeos. Reflexos presentes. Cognição preservada. Força muscular sem alterações. Caso clínico- Exame Físico Extremidades: simétricas, bem perfundidas e aquecidas. Ap. osteoarticular: sem limitações funcionais ou sinais flogísticos. Evolução clínica (23/10/06): A paciente apresentou colúria ? Caso clínico Exames complementares 22/10 26/10 Ht 30,6 29,6 Hb 10,6 10,7 Leuc 14000 15400 Seg 72 56 Bast 02 0 Linf 20 33 Mo 05 08 Eos 01 02 Caso clínico Exames complementares 22/10 23/10 26/10 22/10 26/10 Uréia 22,7 Creat 0,2 BT 20,4 9,3 BD 11,8 BI 8,6 Na+ 137 4,6 K+ 4,4 5,7 2,3 Cl- 99 3,6 2,3 Prot.T 8,9 TGO 208 64 Albumina 5,1 TGP 282 140 Globulina 3,8 FA 541 520 GGT 213 173 Caso clínico Exames complementares EAS: 22/10 23/10 Dens 1010 FR pH 5,0 FR Bilirrubinas +++ Urobilinogênio ++ CED 01 p/c 02 p/c Leuc 03 p/c 01 p/c Hm - - Cilindros - - Flora bact. escassa ++ Muco - + Nitrito Negat - Caso clínico Exames complementares Rx de tórax (22/10/06): Normal TAP: 20,2” → 48,5% INR:1,77 3 doses de vit K →100% TAP: 13” INR:1,00 USG abdominal (24/10/06): Esplenectomia, barro biliar e hepatomegalia leve. Veia porta de aspecto normal. AF + Dor abdominal + ↑ Transaminases + ↑ Bilirrubinas Crise Falciforme hepática aguda Crise de seqüestro hepático Colestase intra-hepática Colelitíase Hepatopatia por múltiplas transfusões Caso clínico Alterações hepáticas relacionadas à AF O envolvimento hepático é comum e, em geral, assintomático. Os testes de função hepática são comumente alterados. ↑ da BI é universal (hemólise), assim como da AST. A FA está ↑, principalmente nas crises dolorosas, a custa da fração óssea. O comprometimento ocorre nos homozigotos e, menos freqüentemente nos heterozigotos, sendo multifatorial. Correlacionam-se aos processos de falcização ou ao tratamento com múltiplas hemotransfusões. Anemia Falciforme Crise falciforme hepática aguda Ocorre em 10% dos casos. QC: dor no hipocôndrio D, náuseas, febre baixa e icterícia. Ex. complementares: ↑ de AST e ALT (até 10x o normal) BT em torno de 15 mg/dl ( BD pode chegar a 10-50 mg/dl) ↑ LDH ( hemólise) TAP normal Bx: obstrução sinusoidal por trombos de Hm falcizadas, hipertrofia de células de Kupffer, necrose centrolobular leve e estase biliar. Anemia Falciforme Crise falciforme hepática aguda O quadro é autolimitado (3-14 dias). Tratamento: HV e analgesia. Anemia Falciforme Crise de Seqüestro hepático Menos freqüente que o acometimento do baço e pulmões. QC: dor no QSD e hepatomegalia. Ex. complementares: ↓ do Ht Poucas alterações nos testes de função hepática Com a resolução do quadro há ↑ do Ht/ Hg pela liberação das Hm sequestradas. Tratamento: exsangüineotransfusão. Anemia Falciforme Colestase intra-hepática- CIH Condição grave decorrente da obstrução sinusoidal com isquemia hepática. A hipóxia promove a balonização dos hepatócitos e a colestase intracanalicular. QC: dor em hipocôndrio D, náusea, vômitos, febre, hepatomegalia dolorosa e leucocitose. A icterícia é importante e pode associar-se à IRA, diátese hemorrágica e encefalopatia. A evolução é grave e, freqüentemente, fatal. Anemia Falciforme Colestase intra-hepática- CIH Ex. complementares: ↑ acentuada de AST, ALT, FA e bilirrubinas. BD > 50% das BT. Alterações do TAP, TTPA ↑ da uréia, creatinina e amônia ↓ do fibrinogênio e das plaquetas. Bx: CIH, com dilatação canalicular e plugs biliares, áreas de necrose anóxica e inflamação. Tratamento: ET e correção da coagulopatia. Acredita-se que há uma forma de CIH benigna, com ↑de bilirrubinas, leve alteração das transaminases e provas de coagulação normais. Anemia Falciforme Colelitíase A colelitíase ocorre em 58% dos pacientes de 10 a 65 anos de idade e a coledocolitíase ocorre em 18% dos casos. Cerca de 72% dos cálculos encontrados em crianças são de pigmento. Quadro clínico: Nas crianças os cálculos podem permanecer assintomáticos por anos. Apresenta-se por dor abdominal intermitente, de leve a marcada intensidade, geralmente no QSD ou epigastro. A dor pode irradiar para o ombro D. Anemia Falciforme Colelitíase Tipicamente a dor é em cólica ou aperto, episódica e dura de 1-3h. Defesa pode ser observada. O exame físico pode ser normal durante a crise. Náuseas e vômitos são comuns,e febre pode ocorrer em < de 15 anos. A intensidade das crises pode variar. Em alguns casos a colecistite pode levar à necrose, perfuração ou empiema. Anemia Falciforme Colelitíase A passagem do cálculo pelo colédoco pode causar obstrução ao fluxo biliar, colangite, pancreatite e, raramente, ruptura da árvore biliar. O quadro clínico é semelhante ao da crise hepática Ex. complementares: Leucocitose, ↑ da FA e GGT. Rx de abdome: mostra o cálculo em 15% dos casos. USG: detecta o cálculo em 75% dos casos. Cintilografia: pode detectar a colecistite crônica. Tratamento: colecistectomia nas crianças sintomáticas. Anemia Falciforme Hepatite A Alta freqüência em nosso meio, com maior prevalência em locais socioeconomicamente desfavorecidos. Altamente contagiosa e a transmissão ocorre pela via fecal-oral, direta ou indiretamente. A eliminação fecal do vírus ocorre, em geral, de 3 dias antes a 2 semanas após o início dos sintomas. Período de incubação: de 15 a 40 dias, média de 28 dias. Anemia Falciforme Hepatite A Há amplo espectro de manifestações clínicas: Assintomática Anictérica Ictérica Polifásica Prolongada Com manifestações extra-hepáticas Fulminante As formas sintomáticas são mais freqüentes quanto > for a idade- 80% em > de 05 anos. Anemia Falciforme Hepatite A Manifestações + comuns: anorexia, artralgia, colúria, diarréia, dor abdominal, hepatoesplenomegalia, exantema, fadiga, febre, hipocolia fecal, mal-estar, mialgia, náuseas, vômitos e prurido. Não evolui para a cronicidade. Ex. complementares: ↑ das transaminases, sendo a ALT >. Ac anti-VHA: IgM- + por 10 a 16 semanas. IgG- + indefinidamente. Tratamento: Medidas de suporte e sintomáticos. Anemia Falciforme Hepatite B A forma de transmissão mais freqüente é a parenteral, podendo também ocorrer a transmissão sexual, por contatos íntimos e vertical. Apresenta diversas formas clínicas: Assintomática Anictérica Ictérica Polifásica Prolongada Com manifestações extra-hepáticas Fulminante Anemia Falciforme Hepatite B Pode-se observar hepatite crônica, cirrose e carcinoma hepatocelular. A idade de aquisição do VHB, a imunidade do paciente e a taxa de replicação viral determinam a forma evolutiva. Os índices de cronicidade são inversamente proporcionais à idade de infecção. A evolução é lenta na infância e a progressão para cirrose é rara. Anemia Falciforme Hepatite B Diagnóstico laboratorial inespecífico: ↑ das transaminases, com ALT> AST TAP é o melhor indicador prognóstico Na fase crônica: USG abdominal e AFP- evolução p/ CHC. Diagnóstico laboratorial específico: Bx: avaliar a severidade e o prognóstico, determinar a necessidade de tratamento e monitorizar a resposta. Marcadores sorológicos. Anemia Falciforme Hepatite B Anemia Falciforme Hepatite B Tratamento: Hepatite crônica em > de 02 anos Objetivo: suprimir a replicação viral, induzir a remissão da doença, prevenir o desenvolvimento de cirrose e CHC. Drogas: Interferon e Lamivudina- efetivas em 25-40% dos pacientes. Anemia Falciforme Hepatite C A transmissão parenteral é a mais eficiente. Diagnóstico Clínico: O período médio de incubação é de 50-71 dias e a hepatite aguda é usualmente subclínica. 20-30% dos pacientes apresentam sintomas → 50% apresentam icterícia. 85% evoluem para a cronicidade. A passagem da fase aguda para a crônica é assintomática e observa-se apenas ↑ persistente das transaminases. Anemia Falciforme Hepatite C A passagem da fase aguda para a crônica é assintomática e observa-se apenas ↑ persistente das transaminases. 20-50% dos portadores crônicos evoluem para cirrose e, desses, 10-20% evoluem para CHC. Ex. complementares: ↑ das transaminases, principalmente ALT ( 8-10X o normal). Podem apresentar caráter flutuante. Ac anti-VHC Pesquisa do RNA do VHC no soro ou tecido hepático (PCR) Bx: avalia o grau de atividade inflamatória e de fibrose, a necessidade de tratamento e a resposta . Anemia Falciforme Hepatite C Tratamento: Pacientes > 03 anos, doença crônica compensada, RNA + , ALT alterada e atividade inflamatória na Bx. Drogas: Interferon e Ribavirina. Anemia Falciforme Trombose de veia Porta-TVP A alteração hemodinâmica do sistema portal com a eliminação do fluxo sangüíneo esplênico pela esplenectomia, a estase condicionada pela desconexão do sistema ázigo-portal e o aumento das células sangüíneas circulantes podem contribuir para o desenvolvimento da trombose do sistema portal no pós-operatório. Anemia Falciforme Trombose de veia Porta Uma das causas possíveis estaria relacionada à a lesão endotelial causada pela secção e ligadura da veia esplênica. A ultra-sonografia com doppler é o método de escolha para a avaliação do sistema portal → é capaz de demonstrar a perviedade da veia porta, a direção do seu fluxo, prover dados anatômicos e fisiológicos (velocidade de fluxo) do sistema venoso portal. USG abdominal: Veia porta de aspecto normal Anemia Falciforme Conclusão AF + Dor abdominal + colestase Crise Falciforme hepática aguda ? Crise de seqüestro hepático ? Colestase intra-hepática Hepatopatia por múltiplas transfusões ? Hepatite A ? Colelitíase Anemia Falciforme Bibliografia Carvalho,E; Ferreira, CT; Silva, LR. Gastroenterologia e Hepatologia em Pediatria. Diagnóstico e Tratamento. MEDSI, 2003. ÍNDICE DE CONGESTÃO PORTAL E A OCORRÊNCIA DE TROMBOSE PORTAL PÓS DAPE. FABIO GONÇALVES FERREIRA, EDUARDO WEI KIN CHIN, MARIA DE FATIMA SANTOS, DARCY LISBÃO MOREIRA DE CARVALHO, ARMANDO DE CAPUA JUNIOR. Marcondes, E. Pediatria Básica. Oitava edição. Volume 2. São Paulo: Sarvier, 1999. Murahovschi, J. Pediatria: diagnóstico + tratamento. Sexta edição. São Paulo: Sarvier, 2003. Rego, CFR; Pires, LAA.. Diarréia aguda. Manual de Gastroenterologia pediátrica, 2002. www.teresina.pi.gov.br/saude/informes/Informe_Epidemiologico_0201.