Requerimentos de reserva de capital de Tier I de acordo com Basel III
Knowledge@Wharton: Os reguladores bancários globais de acordo com Basel III vão tentar agora identificar picos
no crescimento do crédito que possa vir a criar uma bolha, uma bolha de crédito, dentro de apenas um país. Uma
vez descoberto que um país esteja sobre-aquecendo ou que tenha uma bolha em formação, os bancos daquele
país deverão aumentar suas reservas de acordo com o mecanismo Tier I, talvez até mesmo em 2,5 por cento. E os
bancos estrangeiros, e isso é a parte interessante, os bancos estrangeiros operando em tal país deverão também
aumentar suas reservas em alguma porcentagem, que seria proporcional ao volume de negócios que realizaram
no tal país com bolha em formação. Esse foi um item pouco notado originado de Basel III, mas que possui
implicações imensas e me parece bem interessante porque seria, se funcionar, um grande passo em termos de
coordenação entre banqueiros centrais de uma forma que nunca foi feito antes. O que vocês acham disso? E
seria realista achar que isso poderia funcionar na prática?
Mauro Guillen: Eu acho que isso é, em parte, uma tentativa de introduzir a ideia de provisionamento dinâmico nas
regras e regulamentação. Então, quando as coisas estão funcionando bem e você nota essa bolha se formando,
você na verdade pede que os bancos façam mais provisionamento, que separem mais dinheiro porque,
presumivelmente, eles estão obtendo lucros suficientes naquele momento para guardar para os dias de vacas
magras. Desse modo, eu acho que isso seja, em parte, uma tentativa de chamar ou introduzir tal princípio, e eu
acho que faz bastante sentido.
O que eu não estou bem certo é se será possível fazer uma verdadeira coordenação entre as várias autoridades
de supervisão bancária dos diferentes países. Talvez na Europa porque eles se encontram com regularidade, mas
fazer isso de forma global seria muito difícil. Nós já falamos sobre os desafios de se coordenar tudo isso de forma
global, mas o principio em si, já que estamos falando aqui sobre o provisionamento dinâmico, faz sentido e eu
concordo com ele. Eu só acho que vai ser bem duro implementar esse aspecto de coordenação.
Knowledge@Wharton: Você acha que se pode realmente identificar uma bolha?
Mauro Guillen: O problema com bolhas não é tanto a identificação mas a previsão de quando vai estourar, certo?
Então, sabemos quando há uma bolha em formação, mas a hesitação está em “Vamos deixar como está por
mais um ano porque não há razão de nos preocuparmos com isso.” O problema é que, digo, minha opinião é que
tudo depende de achar o momento certo e poder prever quando é cedo demais para tomar uma decisão ou tarde
demais para ativar os mecanismos para tentar controlá-la. Você não quer estourar uma bolha cedo demais, você
quer apreciar a criação da peça. O problema é que precisa-se de finesse.
Marcel van Loo: Ninguém quer estragar a festa.
Mauro Guillen: Exatamente.
Marcel van Loo: Eu continuo a concordar. Francamente, eu fiquei bem impressionado quando a crise estourou
– impressionado pela cooperação internacional quase inédita. E eu gosto deste conceito. Eu acho que a gente
deve ser realista quanto às chances de realmente ver isso posto em prática. Porque eu acho que hoje em dia,
como vocês sabem, há mais dificuldade de conseguir cooperação internacional. Você pode presenciar isso na
Europa, inclusive, mesmo na Europa reguladores locais tentam fazer o seu próprio negócio, o que significa um
grande problema para os nossos bancos globais porque eles não precisam lidar com apenas um regulador mas
50 ou até 100 deles a âmbito global. Eu também acho que, se examinarmos mais a nível global, existe bastante
diferença entre a Europa, os EUA e os mercados emergentes. Essa parece uma boa teoria mas eu não acho que
exista um campo de jogo nivelado, então se você tomar isso como ponto de partida, acho muito difícil que haja
coordenação internacional efetiva.
Knowledge@Wharton: De um ponto de vista global, parece quase como se eles tivessem configurado um
programa de software que esteja sendo executado no pano de fundo com um modelo estatístico que diz: “OK.
Acabamos de identificar uma bolha.” E aí é como se um estabilizador automático supostamente vai ser acionado,
teoricamente, talvez eliminando um pouco de senso humano, o que parece algo questionável. Então, temos toda
essa complexidade até mesmo apenas na Europa e agora, como vocês dizem, que começamos a examinar a nível
global, a situação parece mesmo difícil.
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Ian Baggs: Isso e muito complicado e eu acho, como dizia o Mauro, que do ponto de vista da economia a gente
pode entender o sentido da ideia e o mecanismo. Mas fica difícil imaginar como colocar isso em prática. Quando
examinamos a maneira pela qual Basel II foi implementado por toda a Europa e comparamos com a maneira
em que outras coisas foram implementadas da perspectiva regulamentar, os EUA estabelecem a política mas
cada pais implementa da maneira que desejam e da maneira que pensam que deve ser de acordo com a política.
Assim, há montes de maneiras diferentes disso funcionar. E nos ainda vemos um interesse nacional massivo,
como você estava dizendo. Talvez de volta onde o Mauro começou aqui, qual pais e qual governo será o que vai
levantar a mão e diz: “Sim, aceitamos o que o modelo está dizendo e achamos que seja hora.”
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