Uma visão do futuro dos bancos regionais
Knowledge@Wharton: Bem, nos falamos de muitas coisas diferentes aqui: reforma regulamentar financeira,
gerenciamento de risco, crescimento e derivativos. Há muitas peças por ai afora, um bocado de incerteza, e
isso tudo poderia até ser visto como um quebra-cabeça, porque com toda a incerteza ninguém realmente sabe
exatamente como as peças vão se encaixar. Mas eu vou pedir que vocês tentem dar uma visão geral, de apenas
um ou dois minutos para cada um de vocês, de como vocês acham que tudo isso devera se encaixar, digamos,
a curto e médio prazo, e de qual será o clima em que os bancos provavelmente deverão estar operando? Então,
Ian, podemos começar com você?
Ian Baggs: O começo disso tudo era mesmo como um quebra-cabeça gigante. A gente não tinha todas as pecas.
E não tínhamos uma figura de onde copiar para saber como encaixar as peças. Fica muito complicado para as
organizações que são realmente globais por natureza ou que cobrem uma grande região poderem colocar as
peças todas no lugar. Eu acho que o que temos visto, a medida em que as empresas tomam bastante tempo
tentando e pensando em como fazer isso, e que elas bolaram algo agora sobre quais produtos e quais linhas de
negócios nos quais eles acham que querem investir ou que seu regulador vai permitir que invistam para obter um
retorno razoável. Então acho que essa parte se tornou um pouco mais clara para elas.
Eu também acho que algumas das preocupações sobre o modelo de contratação da entidade legal e um dos
desafios dos bancos globais é que eles tenderam a contratar em vários países para trabalho em um certo local
e isso causou vários tipos de problemas. Agora, eu acho que o desafio tem sido mais, como fazer isso quando
você não sabe como os reguladores de países diferentes vão reagir? Eu acho que algumas das empresas
estão começando a resolver isso e estão dizendo, ao invés de nos preocuparmos demais com isso, sabemos
que queremos estar presentes nos principais locais financeiros onde achamos que compreendemos bem a
regulamentação que rege os nossos negócios e onde os nossos empregadoras se sentirão bem nos contratando.
E então vamos contratar os nossos serviços a uma entidade em tal local e vamos lidar com o seu regulador.
Eu acho que parte do que temos visto acontecer com Dodd-Frank e o que está acontecendo com relação a
derivativos OTC também está forçando essa mudança. Assim, isso tem ajudado a esclarecer um pouco a maneira
das pessoas pensarem. Mas isso ainda não acabou. E eu acho que uma das coisas frustrantes para todos os
bancos e que eles não entendem bem como parte da regulamentação será aplicada. Talvez 2011 seja o ano em que
isso vai se tornar mais claro para eles.
Knowledge@Wharton: Marcel, na Europa, porque há algumas instituições européias que tentam impor um pouco
mais de ordem, há mais clareza sobre, pelo menos, como será o ambiente na Europa?
Marcel van Loo: Bem, eu acho que o mercado bancário na Europa está, na verdade, super-capacitado. Eu também
devo dizer que, com a exceção talvez dos bancos de investimento, não existe isso que se chama de um mercado
bancário europeu como um mercado bancário de varejo. Eu acho que o que eu vejo desenvolvendo desde agora
e nos próximos dois anos é uma espécie de categoria de bancos regionais com um franchise de varejo bem forte
nos vários países, não tanto global, e eu acho que eles se mantem próximos dos clientes. E eu acho que eles
estão bem posicionados para oferecer serviços bancários não somente básicos, mas também de caráter privado
e gerenciamento de bens. Então eu acho que essa seja certamente uma tendência em desenvolvimento. E talvez
eles estejam numa posição bem melhor porque, ao contrario dos bancos globais, eles não precisam satisfazer
todos esses requerimentos de capital adicionais. Então, eu também acho que eles também terão sucesso na
geração de retorno aos seus acionistas.
A fim de se chegar a um mercado bancário europeu mais eficaz, eu acho que devemos examinar basicamente
os políticos, a liderança, e na crise Eurozona em que nos encontramos, eu acho que essa seja a única saída. Eu
prevejo que vai ser necessário uma liderança forte para se sair da crise. Eu não acho que seja realmente uma
crise econômica por si só, mas mais uma crise de liderança e uma reforma da Eurozona para criar um mercado
bancário mais europeu.
Knowledge@Wharton: Então, parece que existem anéis concêntricos de complexidade e incerteza. Desse modo,
se você está operando a âmbito nacional você está um pouco mais em terra firme ou, digamos, na sua filial
nacional você sabe o que está acontecendo e, pelo menos a âmbito regional, você tem um senso melhor. Você
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pode não saber como Dodd-Frank vai afeta-lo mas você sabe que talvez algumas regras da Eurozona vão afeta-lo
de certa forma; um pouco mais de clareza, talvez um pouco menos sobre Basel III. E depois quando você estiver
numa posição de ter que pensar sobre ‘nos estamos operando de forma global, nos estamos na Ásia-Pacífico,
Europa, América Latina e etc’, é aí que... Mauro, eu acho que vou deixar você completar essa parte.
Mauro Guillen: Bem, e verdade. Eu vou apenas falar sobre esse aspecto porque eu acho muito interessante
o seguinte: considerando-se toda essa atmosfera de incerteza, um banco local estaria agora numa melhor
situação do que um banco global? Já entendemos que o clima regulamentar e incerto. Não sabemos como
será implementado, e depois, quando for implementado, não sabemos ate que ponto eles estarão realmente
monitorando suas operações e forçando você a satisfazer quaisquer regulamentos novos que surjam e etc. Mas
deixe que eu diga algo um pouco mais otimista, dirigido aos bancos globais, aqueles que tem negócios em
expansão em diversos países.
E precisamente em tempo de incerteza que estar presente em vários segmentos diferentes de mercado, possuir
diversos negócios em varias áreas geográficas se torna valioso. Essas são opções reais, opções financeiras
em geral são mais valiosas quando há incerteza. Um banco local talvez não tenha que lidar com todas essas
complexidades mas está preso naquele mercado. Se tal mercado não cresce, e há muitos deles na Europa que
não deverão crescer, você está então preso ali e não tem outras opções.
Então, eu gostaria de tocar uma nota realmente otimista aqui para os bancos globais. Eles tem opções. Agora,
como o Ian estava mencionando, eles também precisam tomar decisões: “Eu devo manter esses negócios? Devo
sair? Devo entrar nesse mercado novo? Devo sair? Devo fazer uma aquisição aqui ou lá?” Eles certamente terão
que tomar decisões para ter certeza. Não podem ficar parados. Mas acho que possuem uma gama de opções,
ao passo que um banco estritamente local, que esteja somente em uma linha de negócios e em um pais, mesmo
com varias filiais, e limitado em suas opções. E se esse pais, essa economia, não crescer? Será duro para eles.
Então essa e a minha visão otimista das complexidades que os bancos verdadeiramente globais, diversificados e
complexos enfrentam.
Knowledge@Wharton: Para levar isso para a próxima etapa, isso significa que os bancos que conseguirem tomar
decisões com mais rapidez terão uma vantagem?
Mauro Guillen: Bem, eles terão que fazer isso.
Knowledge@Wharton: Ou todo mundo terá que fazer isso?
Ian Baggs: E ai que você deve perceber oportunidades, e as pessoas que conseguem perceber isso e tomar
decisões, provavelmente não apenas tomar decisões, me parece que seja a rapidez com que chegam ao mercado
que seja bastante crucial. Quer dizer que eles tem conexões e a habilidade de investir rapidamente, com o talento
certo focalizado nas coisas certas naquele local.
Mauro Guillen: E com isso voltamos a tecnologia. A tecnologia pode ajudar nas decisões rápidas. Uma coisa e a
equipe de gerencia superior falar que vamos fazer isso, a outra e a organização poder efetivamente seguir...
Knowledge@Wharton: Você pode executar?
Marcel van Loo: Execução.
Mauro Guillen: Exatamente. Execução rápida.
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